Autores

Raimondi, A.C. (COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA) ; de Ramos, C. (COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA) ; Campos, P. (COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA)

Resumo

O uso de metodologias ativas no ensino envolvendo as disciplinas de Ciências Naturais mostra-se com um caminho promissor para promover a assimilação de conceitos científicos por vezes considerados abstratos. Tendo a problemática da qualidade da água e do solo em áreas urbanas como norteadora de discussões nas disciplinas de Química, Biologia e Física, foi elaborada uma sequência metodológica para alunos de 2a série do ensino médio. O presente trabalho relata a evolução desta sequência metodológica aplicada nos anos de 2014 a 2016 e, no que tange a Disciplina de Química, a proposta envolveu a investigação experimental de alguns parâmetros de qualidade de água e solo. O sucesso da estratégia se revelou tanto pelo engajamento dos estudantes, quanto pela melhora de desempenho em avaliações.

Palavras chaves

metodologias ativas; educação ambiental; análise de água e solo.

Introdução

O sistema de ensino brasileiro foi historicamente constituído sobre um paradigma em que o professor é o detentor do conhecimento que deve ser transmitido para o aluno aprendiz. Esta premissa, entretanto, tem sido questionada por estudiosos da área de educação do ao redor do mundo, que defende que, na fase da aprendizagem, o estudante tem que ser sujeito ativo do processo (PAIVA, 2016) . No ensino de Ciências Naturais no nível básico da formação escolar, torna-se crucial oferecer temáticas significativas de discussão, atreladas a metodologias que interessantes ao aluno, de forma que a construção do conhecimento técnico-científico ocorra de maneira eficiente. A qualidade de recursos hídricos e do solo em áreas urbanas é um tema com grande potencial problematizador, pois traz situações facilmente contextualizadas e permite trabalhar conceitos como, por exemplo, funções químicas, estequiometria e soluções, por uma vertente de educação ambiental (QUADROS, 2004). Em relação à classificação da água destinada a diversos usos, são avaliados alguns parâmetros (pH, cor, turbidez, cloro, coliformes fecais, nitrito, oxigênio dissolvido, entre outros) (Agência Nacional de Águas, 2014). Estes, são possíveis de serem determinados por ensaios padronizados reprodutíveis em laboratórios escolares. O debate sobre impactos ambientais sobre os nutrientes do solo completa o quadro, com um apelo significativo em relação do ser humano com a terra. A conversa sobre ciência fora da sala de aula, e mediada intencionalmente pelo educador, costuma surtir resultados de aprendizagem muito mais efetivos que o método tradicional de ensino. Desta maneira, constrói-se um enredo de discussões que qualifica o senso comum com os conteúdos curriculares de uma maneira mais atrativa ao aluno (GALIAZZI, 2004).

Material e métodos

A sequência metodológica tem sido aplicada desde 2014 em turmas da 2a série do ensino médio, no Centro de Educação Ambiental (CEA) do Colégio Nossa Senhora Medianeira, uma escola particular em Curitiba. Seguem as descrições de 2014 a 2016. 2014: três turmas foram levadas em um dia e as outras duas foram em um segundo dia, cada uma com cerca de 40 alunos. Os alunos foram divididos em grupos de 6 integrantes cada e dois conjuntos de grupos foram encaminhados às atividades de Química/Biologia e de Física, que ocorriam simultaneamente. Depois de cumprir as atividades de uma disciplina, os grupos se dirigiam às da outra. Na atividade de Química/Biologia, cada dois grupos coletaram 2 litros de amostra de água de um local do CEA: lago ou córrego ou cachoeira. No local, mediram e registraram em roteiros a temperatura e o pH da amostra. Amostras de solo também foram coletadas para observação ao microscópio (no local). Levando a amostra de água de volta ao laboratório do colégio, foi realizado na aula seguinte um experimento para determinar concentração de oxigênio dissolvido, seguindo o procedimento descrito por FERREIRA (2004). Também foi coletada uma amostra de rio poluído, para comparação. Finalizados os resultados de cada grupo, os mesmos foram compartilhados e discutidos em debate com a turma toda. 2015: houve o acréscimo na análise de água em relação aos parâmetros: alcalinidade, amônia, cloro, cloretos, cor, dureza total, turbidez, ferro, oxigênio consumido e pH, por meio de um kit comercial. O experimento de dosagem de C.O.D foi substituído por outro sobre toxicidade de metais em soluções aquosas (PALÁCIO, 2013). 2016: foi acrescentada a análise de solo (amônia, matéria orgânica, nitrito, nitrato, nitrogênio mineral, ortofosfato, fósforo e pH), com roteiro atualizado.

Resultado e discussão

A otimização em relação à dinâmica geral e logística para aplicar a sequência metodológica tem, ano a ano, tornado a estratégia cada vez mais eficiente e de sucesso, a partir da análise de alunos e dos professores envolvidos. Os resultados alcançados em 2014 já foram considerados bastante satisfatórios, pois as discussões acerca das determinações experimentais realizadas nas amostras de água coletadas coincidiram com o momento em que os alunos estavam iniciando o estudo de soluções. Deste modo, puderam perceber que alguns conceitos anteriormente, foram necessários para entender o trabalho experimental como um todo e os significados dos resultados. Como relatado por FERREIRA et al. (2004), a determinação da concentração de oxigênio dissolvido (C.O.D.) em amostras de água, por meio da adição de lã de aço e posterior isolamento e pesagem do óxido férrico formado, é um método simples de ser reproduzido. A ordem crescente de (C.O.D.) a que todos turmas chegaram, cada uma com seus resultados, foi: cascata, córrego, lago, com pequenas oscilações de valores para cada ponto. A discussão conjunta dos dados obtidos, apresentados em uma planilha única projetada em tela para que todos acompanhassem, fomentou um debate muito rico entre os alunos, mediado pelas professoras da disciplina. A partir dos parâmetros medidos em 2015 e 2016 com os kits de análise de água e e de solo, pode-se observar que alguns parâmetros estavam destoantes de valores estabelecidos na literatura, o que deu margem a discussões em torno de concentrações limite e os fatores que as afetam. Ainda foram gerados relatórios em grupo, para avaliar o quanto conseguiram relacionar e articular os resultados com os fundamentos teóricos que embasavam cada conclusão, além de questões correlatas em provas formais.

Conclusões

Com os dados das análises realizadas nos ambientes preservados e o contraponto com os de um rio poluído numa área urbana, os próprios alunos sugeriram a avaliação das condições mais abrangentes de ambientes urbanos para compararem os resultados, numa linha de relatório socioambiental. O conjunto de atividades desenvolvidas se mostrou envolvente, interdisciplinar e com visão de conscientização ambiental. A partir dos resultados encontrados, a curiosidade dos alunos os levou a buscar informações e estabelecer relações para melhor compreensão da problemática o que resultou em maior aprendizagem.

Agradecimentos

Ao Colégio Nossa Senhora Medianeira, por providenciar todas as condições para a concretização de uma proposta inovadora de ensino.

Referências

Agência Nacional de Águas (ANA). Conjuntura dos Recursos Hídrico no Brasil: Informe 2014. Disponível em: < http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh/centrais-de-conteudos/conjuntura-dos-recursos-hidricos/informes2014.pdf> Acesso em: 20 de novembro de 2016.

FERREIRA, L. H.; ABREU, D. G.; IAMAMOTO, Y.; ANDRADE, J. F. Experimentação em sala de aula e meio ambiente: determinação simples de oxigênio dissolvido em água. Química Nova na Escola, no 19, 32-35, 2004.

GALIAZZI, Mª. C., GONÇALVES, F.P., A natureza pedagógica da experimentação: uma pesquisa na licenciatura em Química, Química Nova, v.27, n.2, 2004.

PAIVA, M. R. F; PARENTE, J. R. F.; BRANDÃO, I. R.; QUEIROZ, A. H. B. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem: revisão integrativa. Sanare, Sobral - V.15 no 02, 145-153, 2016.

PALÁCIO, S, M.; CUNHA, M. B.; ESPINOZA-QUINHONES, F. R.; NOGUEIRA, D. A. Toxicidade de metais em soluções aquosas: um bioensaio para a sala de aula. Química Nova na Escola, no 35, 79-83, 2013.

QUADROS, A. L. A água como tema gerador do conhecimento químico. Química Nova na Escola, no 20, 28-31, 2004.