Autores

Santos, K.B. (UEA) ; Cursino, A.S. (UEA) ; Santos, J.S. (UEA) ; Silva, I.A. (UEA) ; Sousa, M.R. (UEA) ; Ribeiro, J.R. (UEA) ; Dutra, R.D.G. (UEA) ; Assis Júnior, P.C. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)

Resumo

Este estudo evidencia informações sobre a fitoterapia e aplicação medicinal da espécie vegetal Himathantus sucuuba (sucuba). A metodologia utilizada para coletar as informações nas comunidades rurais foi denominada de “Diálogos Etnográficos”. Participaram da investigação 3 professores, 5 alunos e 10 comunitários. As informações dos entrevistados foram confirmadas pelos estudos desenvolvidos por Amaral, et al (2007), Costa (2013); Ferreira, et al. (2005) e outros pesquisadores. Os resultados dos diálogos mostraram que o saber popular é tão importante quanto o saber cientifico, por isso, não podem ser ignorados ou silenciados na universidade, nem em outro lugar. Negá-los ou rejeitá-los seria um descaso, tanto para com as populações tradicionais, quanto para os alunos vindos desse contexto.

Palavras chaves

Fitoterapia; Aplicação Medicinal; Saber Popular

Introdução

Este estudo tem como objetivo mostrar a fitoterapia e as aplicações medicinais da espécie Himathantus sucuuba (Apocynaceae) conhecida na região de Parintins-AM como sucuba. Existem informações de que ainda hoje é comum o uso dessa planta nas comunidades tradicionais da Amazônia. De acordo com Veiga Junior, Pinto e Maciel (2005), o uso milenar de plantas medicinais tem mostrado que ao longo dos anos, algumas espécies de plantas apresentam substâncias potencialmente perigosas e agressivas e, por esta razão, devem ser utilizadas com cuidado, considerando os riscos toxicológicos. A Himatanthus sucuuba compõe a flora amazônica, pertence à família Apocynaceae. Trata-se de uma árvore de grande porte, popularmente conhecida pela população indígena, cabocla e ribeirinha como sucuba. De acordo com Ferreira et al. (2005) esta planta, em terra firme se reproduz em áreas que não estão sujeitas a períodos prolongados de saturação de água no solo. Em ambientes alagados, sua ocorrência se dá em regiões de várzea baixa, aonde o alagamento ininterrupto chega a durar cerca de cinco meses todos os anos. Para constatar a veracidade da fitoterapia e aplicação medicinal da Himathantus sucuuba, 5 alunos do Curso de Química se deslocaram para duas comunidades, a Gleba de Vila Amazônia e Comunidade São Pedro do Parananema para entrevistar pessoas que conhecem ou que utilizam essa planta para curar algum tipo de doença. Esta atividade foi denominada de “Diálogos Etnográficos” pelo fato de envolver atores sociais que detém certo tipo de conhecimento passado de geração a geração. Este tipo de atividade privilegia o diálogo, o encontro e considera a subjetividade dos sujeitos investigados.

Material e métodos

Este estudo pautou-se na abordagem qualitativa, amparado pela pesquisa do tipo etnográfica, auxiliada pelas técnicas da observação e entrevista, que serviram para coletar informações a respeito da fitoterapia e aplicações medicinais da espécie Himathantus sucuuba (Apocynaceae). A opção pela pesquisa qualitativa se deu em função desta não se preocupar com a representatividade numérica, nem com a mensuração dos resultados. De acordo com Minayo (2001), este tipo de pesquisa visa compreender e explicar a dinâmica das relações sociais, isto é, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis ou fórmulas. Em relação à pesquisa do tipo etnográfica, Gil (2010) reconhece a sua importância, pois muitos pesquisadores a utilizam para descrever elementos (comportamento, crenças, e valores) de uma cultura específica ou de um grupo. Geralmente, a coleta de dados se dá por meio da técnica da observação participante e entrevistas. Para confirmar as informações a respeito da fitoterapia e aplicações medicinais da espécie Himathantus sucuuba (Apocynaceae), os alunos do Curso de Química se deslocaram para dois lugares: Gleba de Vila Amazônia e Comunidade São Pedro do Parananema. Participaram da investigação 10 pessoas, homens e mulheres, com idade entre 30 e 70 anos, que detinham o conhecimento sobre a planta estudada. A coleta de informações se deu por meio da observação e entrevista. Ressalta-se que a técnica de entrevista se constituiu neste estudo, fio condutor para a promoção dos Diálogos Etnográficos e encontro entre os alunos e atores sociais investigados.

Resultado e discussão

A espécie Himathantus sucuuba foi identificada em áreas de terra firme em duas localidades próximas à cidade de Parintins-AM, confirmando o estudo desenvolvido por Ferreira et al. (2005). Quanto à comprovação das ações fitoterápicas e as aplicações medicinais dessa espécie, 7 entrevistados afirmaram que as partes mais utilizadas da planta são as cascas e o leite e 3 asseguraram que folhas, raízes, flores e frutos são também aproveitadas na preparação de chás, xaropes e emplastos para o tratamento de rasgaduras e inflamações de diversos órgãos. Disseram também que algumas pessoas já foram curadas de câncer, tomando o chá e o leite, e as mulheres tomam os chás para evitar gravidez mas, a ingestão demasiada causa esterilidade. Em relação a essa informação, não foi encontrado nas literaturas consultadas, informações da eficácia da planta como método anticoncepcional. Os fatos descritos pelos entrevistados são corroborados por Amaral et al (2007) que evidencia a ação antitumoral da planta, trata gastrites e artrites, afecções da pele, é anti-helmíntica, alivia coceiras e é antifúngica e antianêmica. Costa (2013) evidencia o uso das cascas para tratamento de úlcera, câncer, gastrite, inflamação uterina e como cicatrizante. O leite é utilizado no tratamento de rasgaduras. Vasquez, Mendonça e Noda (2014) mostram que a casca do caule é utilizada na preparação de chá, asseio para mulher, dor de estomago e urina. Em relação a presença de substâncias químicas Silva et al. (1998) revelam que a espécie Himathantus sucuuba possui presença de depsídeos, terpenos e iridóides, entre os iridóides foram encontradas a fulvoplumierina, isoplumericina e plumericina, de comprovada ação antineoplásica, antiflogística e antimicrobiana.

Conclusões

Estudos desenvolvidos no Brasil e em outros países confirmam o potencial fitoterápico e medicinal da Himathantus sucuuba. A metodologia “diálogos etnográficos” estimulou o interesse dos alunos de Química por estudos de espécies nativas da flora amazônica que fortalece a cultura, resgata e valoriza os saberes que as populações tradicionais detêm sobre as plantas. Esses saberes são tão importantes que não podem ser ignorados ou silenciados na universidade. Negá-los ou rejeitá-los seria um descaso, tanto para com as populações tradicionais, quanto para os alunos vindos desse contexto.

Agradecimentos

Aos moradores da Comunidade de São Pedro do Parananema e da Gleba de Vila Amazônia; aos professores Renner Dutra, Dilce Pio e Manoel Rendeiro pelas valiosas orientaçõ

Referências

AMARAL, Ana Claudia Fernandes et al. Monograph of Himatanthus sucuuba, a plant of Amazonian folk medicine. Pharmacognosy Review, v. 1, n. 2, p. 305313,2007.

COSTA, Rafael de Aguiar. A identidade e o Conhecimento Etnobotânico dos moradores da Floresta Nacional do Amapá. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBIO. Universidade Federal do Amapá. Macapá-AP, 2013.

FERREIRA, Cristiane et al. Tolerância de Himatanthus sucuuba Wood. (Apocynaceae) ao alagamento na Amazônia Central. Acta Bot. Bras. v.19 n.3, São Paulo Juy/Sept. 2005.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar um projeto de pesquisa. 5º edição. São Paulo: Atlas, 2010.

MINAYO, Maria Cecilia de Souza. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.

SILVA, Jefferson Rocha de A. et al. Esteres triterpenicos de Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson. Química Nova, Brasil, v. 21, n.6, p. 702-704, 1998.

VÁSQUEZ, Silvia Patricia Flores; MENDONÇA, Maria Silvia de; NODA, Sandra do Nascimento NODA. Etnobotânica de plantas medicinais em comunidades ribeirinhas do Município de Manacapuru, Amazonas, Brasil. ACTA AMAZONICA, v. 44(4) 2014: 457 – 472.

VEIGA JUNIOR, Valdir F.; PINTO, Ângelo C.; MACIEL, Maria Aparecida M.. Plantas Medicinais: Cura Segura? Quim. Nova, v. 28, n. 3, 519-528, 2005.