Autores

Teixeira da Silva, V. (SEDUC-PA) ; da Costa, E.M.F. (SEDUC-PA)

Resumo

A produção de balas de gengibre na escola Augusto Meira, em Belém do Pará, no projeto Química das Sensações, em uma turma de primeiro ano objetivou: fazer compreender o ciclo produtivo das balas, seu valor socioeconômico e contribuir para o aumento do interesse pela disciplina de química. Os objetivos foram verificados através de questionário aplicado em parte da turma (12 alunos de um total de 26) ao fim do ano letivo de 2016. Os resultados apontaram que 58,3% dos alunos entrevistados compreendeu o ciclo produtivo e o valor socioeconômico das balas de gengibre e percebeu que pode existir relação entre o conteúdo e a sociedade a qual pertence; 75% modificou sua visão acerca da disciplina. Os alunos apontaram ainda que houve um significado relevante na construção do trabalho.

Palavras chaves

ENSINO DE QUÍMICA; GENGIBRE; QUIMICA DAS SENSAÇÕES

Introdução

O ensino de Química deve agregar significados relevantes ao aprendizado do aluno, pois, a Química no Ensino Médio não pode ser ensinada como um fim em si mesma, senão estaremos fugindo do fim maior da Educação básica, que é assegurar a formação que o habilitará a participar como cidadão na vida em sociedade. (SANTOS e SCHNETZELER. 2010, p. 49) Para desenvolver um ensino contextualizado, deve-se levar em consideração a necessidade humana em “conhecer, entender e utilizar o mundo que o cerca”, levando o aluno a desenvolver competências como contextualização sociocultural (BRASIL, 2000) que, neste trabalho, foi especificada na relação entre o conhecimento disciplinar e aspectos socioeconômicos presentes na produção de balas de gengibre. O Projeto Química das Sensações, desde 2012, alcançou resultados significativos em vivências de aprendizagem com os alunos de primeiro ano da escola Augusto Meira. Os alunos são orientados a desenvolver produtos sem componentes agressivos ao meio ambiente e comidas com ingredientes regionais, como o gengibre, um rizoma bem conhecido na região.O gengibre (Zingiber officinale Roscoe) é utilizado há mais de três mil anos, com propriedades antissépticas e antioxidantes que aumenta a imunidade. O gingerol é o composto que confere seu sabor ácido e picante (USP-ESALQ, 2014). Com o gengibre é possível criar várias receitas desde chás terapêuticos a doces. As balas de gengibre são comuns na cidade de Belém, sendo corriqueira a venda em coletivos por pessoas que precisam deste mercado informal para sobreviver. Neste panorama, alunos da turma 1101, em 2016, produziram balas de gengibre para compreender seu ciclo produtivo e aspectos socioecômicos, no intuito de relacionar o aprendizado na escola com a realidade da sociedade da qual eles fazem parte.

Material e métodos

Os vinte e seis (26) alunos da turma 1.101 foram divididos em quatro (4) equipes para melhor orientação no laboratório. Cada equipe utilizou um (1) quilo de açúcar, duzentos (200) gramas de gengibre ralado, cem (100) gramas de margarina, suco de dois (2) limões, chapa aquecedora, papel filme, papel manteiga e sacos de celofane para embalar. Sob a orientação das professoras de química e biologia, os alunos executaram a receita desde a dosagem dos ingredientes até a produção de embalagens e etiqueta de preço, sendo vendida sua produção em exposição feita na escola. O questionário aplicado ao fim das atividades do projeto possui quatro (4) perguntas de múltipla escolha e uma subjetiva numeradas de I a V. Para aplicação, foram selecionados três (3) integrantes de cada equipe, totalizando doze (12) entrevistados. Na questão I, perguntou-se sobre o objetivo alcançado pelo aluno, se ele aprendeu somente a fazer balas; ou se, além disso, compreendeu seu ciclo produtivo; ou se além disso compreendeu o valor socioeconômico que elas possuem ou se não aprendeu a fazer balas e nem compreendeu o objetivo da atividade. Na questão II, perguntou-se se houve mudança na visão sobre a disciplina Química. Na questão III, perguntou-se se o interesse na ciência Química havia aumentado, pois ele percebeu que pode existir alguma relação entre o conteúdo e a vida; ou percebeu que pode existir alguma relação entre o conteúdo e a sociedade a qual pertence; ou não aumentou, pois foi apenas um exemplo ou continuou sem interesse. Na questão IV, usou-se escala hedônica de nove (9) pontos indo de “gostei extremamente” a “desgostei extremamente” e, na questão V, pediu-se que o aluno listasse o que aprendeu com a participação no projeto.

Resultado e discussão

Uma tabela foi montada para as questões I, II III e V, sendo que nesta última realizou-se análise do discurso, listando-se os termos mais citados nas respostas dos alunos. Para a questão IV optou-se por apresentar os resultados em gráfico para a escala hedônica, muito utilizada EM pesquisas de satisfação. As quantidades foram calculadas em porcentagem. Na tabela ilustrada na figura 1, 58,3% aprendeu a fazer as balas, compreendeu o ciclo produtivo delas e o valor socioeconômico que elas representam; 75% mudou sua visão acerca da disciplina de Química, ora como um incentivo para estudar mais, ora por constatar que a Química não existe apenas em sala de aula, mas também fora dela; 58,3% percebeu que pode existir alguma relação entre o conteúdo e a sociedade a qual ele pertence; na análise do discurso sobre o aprendizado com a produção das balas, os alunos apresentaram respostas afins, evidenciando que vão levar este conhecimento para a própria vida e aplicá-lo na sociedade; que aprenderam a trabalhar em equipe superando diferenças e exercitando a solidariedade entre eles; conheceram mais sobre o gengibre e seu valor medicinal e, por fim, conheceram uma forma de renda de baixo investimento e funcional.Na figura 2, a escala hedônica mostra que 58% gostaram muito de participar da produção de balas de gengibre. Os resultados evidenciam o defendido por Santos e Schnetzeler sobre formar um cidadão participativo. Para alcançar este objetivo, o ensino de química deve ter organização prévia onde se leve em conta além do contexto, a sensação de pertencimento do aluno em uma realidade que não deve ser apenas “pano de fundo”. A contextualização sociocultural torna a vivência do projeto produtiva, pois os alunos tornam-se protagonistas de seu aprendizado, tornando-o relevante.

FIGURA 1: TABELA COM QUANTIFICAÇÃO DAS RESPOSTAS EM PORCENTAGEM

A tabela mostra a quantidade das respostas dos alunos em porcentagem.

FIGURA 2: GRÁFICO DE ESCALA HEDÔNICA

A figura ilustra a opinião do aluno sobre a produção de balas de gengibre em escala hedônica de 9 pontos.

Conclusões

O projeto Química das Sensações, ao longo destes anos, tem sido o agente transformador na relação ensino aprendizagem, pois os alunos ao fim das atividades sentem-se protagonistas nessa relação e, como mostrado nos resultados, também mudando sua visão sobre a disciplina e aumentando seu interesse pela ciência Química. A produção de balas de gengibre evidenciou para eles que a química não está apenas “nas fórmulas no quadro”, mas na cozinha de suas casas, fazendo parte do que são. Esta transformação é a base para tornar o ensino de Química relevante para a sociedade.

Agradecimentos

À E.E.E.F.M. AUGUSTO MEIRA. À prof. Lúcia Teixeira. À prof. Rafaela Feliz. Aos meninos da turma 1101.

Referências

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf> Acesso em: 27 jun. 2017.

SANTOS, W.L.P; SCHNETZELER, R.P. Educação em Química: Compromisso com a cidadania. 4 ed. rev. atual. Ijuí: Ed. Unijuí, 2010.

USP – ESALQ. Conheça os benefícios do gengibre para sua saúde. Assessoria de comunicação. 18/01/2014. Disponível em:
<http://www.esalq.usp.br/acom/clipping/arquivos/18-01-14_conheca_os_beneficios_do_gengibre_para_a_sua_saude_m_de_mulher_mdm.pdf> Acesso em: 27 jun. de 2017.