Autores

Ferreira, W.M. (IFS) ; Pitanga, A.F. (IFBA)

Resumo

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida como meio de comunicação e expressão dos surdos por meio da lei 10.436 de 24 de abril de 2012. A partir de então, os surdos puderam exigir que ela estivesse presente nos diversos espaços educacionais para facilitar a aprendizagem. Fato que justifica a análise das publicações apresentadas no Simpósio Brasileiro de Ensino de Química (SIMPEQUI) que discutem questões relacionadas a Libras e ao Ensino de Química. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: levantamento e classificação do material e análise de conteúdo. Verificou-se que apenas 1,4% das publicações correlacionam-se à Libras. Isso demonstra que o quantitativo de pesquisas sobre a temática, no âmbito do SBEQ, apesar de crescente, ainda é embrionário diante de sua importância.

Palavras chaves

Libras; surdo; inclusão

Introdução

A lei 10.436 de 24 de abril de 2012, regulamentada pelo decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, incluiu a Libras na educação básica e na superior (pública e privada), em todas as esferas (municipal, estadual e federal), reconhecendo-a como meio de comunicação e expressão das pessoas surdas (BRASIL, 2012). Essa foi uma importante conquista para a comunidade surda brasileira pois atendeu a uma reivindicação histórica: o uso da língua de sinais não apenas em associações e ambientes informais oportunizando o acesso ao conhecimento do mundo, do outro e de si mesmos. A partir de então, os surdos puderam exigir que a língua de sinais estivesse presente nos diversos espaços educacionais (cursos, palestras, seminários, congressos, etc) e, também, em locais de atendimento ao público (hospitais, repartições públicas, rodoviárias, aeroportos, igrejas, etc), por meio de um intérprete de Libras (ALBRES, 2005). Por outro lado, se os direitos estabelecidos pela lei e referendados pelo decreto não são ofertados à comunidade surda, isso se configura num acobertamento das “grandes desigualdades de nossa sociedade, mantendo um jogo de aparências, sem se aprofundar nas questões fundamentais da realidade social” (ANSAY, 2010; p. 125). Pensando no âmbito educacional, objeto deste estudo, a inserção de um aluno surdo em uma sala de aula com vinte ou mais alunos ouvintes, sem a intermediação de um intérprete, aponta para uma adaptação forçada e uma exclusão disfarçada deixando esse aluno à margem do processo de ensino-aprendizagem que ocorre em outra língua (ANSAY, 2010). Por isso, objetivo do presente estudo é analisar as publicações que discutem questões relacionadas a Libras e ao Ensino de Química, a partir da análise dos resumos expandidos apresentados no SIMPEQUI nos últimos 15 anos.

Material e métodos

A pesquisa foi organizada e realizada em duas etapas: na primeira, levantamento e classificação do material; e, na segunda, análise de conteúdo. A primeira etapa compreendeu a busca de todos os trabalhos relacionados ao assunto no período citado, considerando-se a seguinte base de pesquisa: portal da Associação Brasileira de Química (ABQ). Inicialmente, fez-se uma busca a partir do título do trabalho usando as seguintes palavras-chave: Libras ou língua de sinais, inclusão ou inclusiva, surdo ou surdez e intérprete. A segunda etapa compreendeu a análise dos trabalhos levantados, considerando-se enfoque do estudo. Fez-se, então, a leitura do material para classificação em quatro categorias: sinais para termos químicos; formação inicial dos docentes; intérpretes de Libras; e dificuldade de aprendizagem. Os textos que não apresentaram pelo menos uma das palavras-chave sobreditas e os que, mesmo apresentando, não se alinharam ao objetivo da pesquisa foram excluídos do processo de análise.

Resultado e discussão

Na primeira etapa, considerando-se os arquivos das 10 edições do SIMPEQUI disponíveis no portal da ABQ, foram levantados 1444 títulos. Destes, foram excluídos 1424 títulos (98,6%), pelos seguintes critérios: ausência dos descritores (1417; 99,5%) e descritores desalinhados com a pesquisa (7; 0,5%). Quanto a este último critério, o descritor inclusão relacionava-se à deficiência visual (5) ou tinha significado de inserção (2). Os 20 estudos remanescentes foram classificados em quatro categorias: sinais para termos químicos (4; 20%); formação inicial dos docentes (6; 30%); intérpretes de Libras (4; 20%); e dificuldade de aprendizagem (6; 30%). Alguns trabalhos apresentam baixa qualidade conceitual (uso de expressões como ‘simbologia química’ para referir-se aos sinais em Libras para termos químicos, por exemplo) e metodológica (lacunas na identificação do objeto de pesquisa, conceitos abordados, atividades desenvolvidas, etc). Um dos trabalhos destoa dos demais, trafega na contramão, apresentando uma metodologia de ensino de Química em Libras para alunos ouvintes. Em alguns casos, as conclusões são vagas e/ou errôneas. No entanto, em sua maioria, os textos demonstram a intenção dos pesquisadores em produzir estudos que reflitam as dificuldades de professores, intérpretes e alunos surdos inerentes ao ensino-aprendizagem de conceitos químicos e, ainda, a busca por alternativas que possibilitem a superação desses entraves. Por isso, de acordo com Ferreira, Nascimento e Pitanga (2014), é preciso buscar novas estratégias educacionais, criar grupos de estudos para criação e validação de sinais em Libras para termos químicos, estreitar a relação professor-intérprete, entre outros, com a finalidade de garantir um ensino de Química verdadeiramente inclusivo para os surdos.

Conclusões

Os anais do SIMPEQUI foram investigados, verificando-se que apenas 20 das 1444 publicações, cerca de 1%, correlacionam-se à Libras e aos surdos. Isso demonstra que o quantitativo de pesquisas relativas à temática, pelo menos no domínio do SIMPEQUI, apesar de crescente, é embrionário mesmo considerando que a lei foi sancionada há 15 anos. Como consequência, reforça-se a certeza de que os surdos que ingressam nas escolas continuam a se deparar com despreparo de professores, ausência de intérpretes ou intérpretes não capacitados e parcos materiais didáticos que atendam às suas especificidade.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe Campus Itabaiana.

Referências

ALBRES, N de A. A educação de alunos surdos no Brasil do final da década de 1970 a 2005: análise dos documentos referenciadores. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2005.
ANSAY, Noemi Nascimento. A inclusão de alunos surdo no Ensino Superior. In: Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Musicoterapia, Curitiba v.1, p.1-141, 2010.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a língua brasileira de sinais. Brasília, 2002.
FERREIRA, W. M.; NASCIMENTO, S. P. F.; PITANGA, A. F. Dez Anos da Lei da Libras: Um Conspecto dos Estudos Publicados nos Últimos 10 Anos nos Anais das Reuniões da Sociedade Brasileira de Química. Química Nova na Escola, v. 36(3), p.185-193, 2014.