Autores
Marciniak, A.M. (UFRJ) ; Nascimento, R.C. (UFRJ) ; Schoene, F.A.P. (ISERJ) ; Seidl, P.R. (UFRJ) ; Gomes, L.C.A. (COLÉGIO PEDRO II)
Resumo
A conscientização dos alunos quanto as questões relacionadas à sustentabilidade e o cuidado com meio ambiente é de suma importância, tendo a necessidade da inclusão de temas que abordem aspectos sociais, econômicos e ecológicos, como o tema Química Verde. Muitos desafios são encontrados na educação, sobretudo na área da química em escolas públicas do ensino médio. A falta de laboratórios e recursos para o desenvolvimento de aulas práticas tem dificultado o trabalho experimental e o pouco conhecimento do tema tem sido apontado como um grande desafio. Devido a isso, a Escola Brasileira de Química Verde realizou um encontro com professores de química do ensino médio do estado do Rio de Janeiro, a fim de discutir sobre a estrutura curricular de química, bem como a inserção da química verde.
Palavras chaves
química verde; ensino médio; currículo
Introdução
O papel do professor de química no ensino médio é crucial, pois cabe a ele instigar o aluno, fornecendo dados sobre questões relacionadas à sustentabilidade e preservação do meio-ambiente com o objetivo de formar um pensamento crítico a respeito. Para Chassot (2003), não é possível se falar em educação de qualidade sem interdisciplinaridade, e sem a inclusão de temas sociais. A química verde é uma área voltada para a sustentabilidade, que envolvem as questões ambientais, sociais e econômicas e, tem como principal objetivo conduzir processos químicos, que são classificados como os que mais impactam o meio ambiente, para os tornarem mais ecologicamente corretos (CGEE, 2010). De acordo com Goulart et al. (2017), temas relacionados a química verde são em geral desconhecidos por adolescentes do ensino médio e por isso, se faz necessário estimular a incorporação de debates, com materiais de fácil leitura e ilustrativos, com autorreflexão sobre um mundo mais sustentável. A Escola Brasileira de Química Verde (EBQV), situada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vem desenvolvendo atividades de divulgação dos princípios da química verde, tais como exposições e oficinas, utilizando demonstrações de experimentos simples com materiais acessíveis para difundir os conceitos da química sustentável, em eventos como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) e, visitas guiadas as instalações da Escola de Química da UFRJ, com atividades que buscam mostrar o uso da biomassa na produção de combustíveis e a importância das pesquisas sustentáveis, despertando o interesse dos alunos nesta área para a carreira acadêmica. Em novembro de 2016, foi realizado um Workshop em Belém no Pará, organizado pela ACS Global Innovation Imperatives e pela EBQV com o tema “Green Chemistry Experiments for Remote Locations” que reuniu professores de química e especialistas em educação de química verde do Brasil, EUA e Reino Unido, para discutir sobre um currículo viável, o qual permita que os educadores utilizem atividades relevantes para os contextos locais e o aprendizado dos estudantes. Na condução desse trabalho, foi identificado que na maioria das escolas brasileiras há uma tendência extremamente perigosa em que várias escolas estão fechando seus laboratórios devido aos custos crescentes e limitações no acesso a instalações apropriadas. Tal fato tem sido um problema para o ensino de química, pois o trabalho experimental representa um componente essencial dessa disciplina. Instigada com a problemática do ensino de química nas escolas públicas de ensino médio do estado do Rio de Janeiro e os desafios do ensino de química verde, a EBQV realizou um encontro com professores de química do ensino médio, com objetivo de discutir sobre a estrutura curricular de química na região, bem como a química verde deve ser inserida de forma transversal na disciplina.
Material e métodos
A metodologia do trabalho baseou-se em três etapas: 1) Identificação do problema: formulação de um questionário online enviado a professores de química do ensino médio do estado do Rio de Janeiro relacionando o uso de aulas práticas em sua escola à existência de laboratórios para o desenvolvimento dessas aulas e perguntando se já haviam tido contato com o conceito de química verde; 2) Capacitação de professores com o objetivo de mitigar o problema: foi promovido um encontro abordando o tema “Química verde e o currículo escolar” realizado em dois módulos com palestras e atividades, em que no primeiro módulo foram apresentados os principais conceitos de química verde com realização de experimentos simples e de baixo custo os quais não exigem o uso de laboratórios e no segundo módulo foram apresentados tópicos avançados em química verde através de palestras sobre biorrefinarias e segurança química; Durante o encontro, foi realizada uma mesa redonda abordando o tema de como inserir a química verde no currículo escolar do ensino médio. Em seguida, os professores se reuniram em grupos para elencarem de que forma poderiam inserir esses conceitos em suas aulas; uma vez que cada professor contribuiu expondo suas experiências individuas para o grupo. Ao final, um representante do grupo relatou aos participantes do encontro as experiências consolidadas. 3) Feedback: um novo questionário foi enviado aos professores que haviam participado do encontro para avaliação do mesmo, com questões que envolviam o conhecimento obtido nas palestras sobre o tema.
Resultado e discussão
Em função dos resultados obtidos, a falta de aulas práticas, apontada por 90% dos
entrevistados, é o principal problema enfrentado na atualidade. O pouco
conhecimento sobre química verde foi levantado por 50% dos professores, que
disseram não possuírem informação sobre a mesma. Os demais informaram que sentem
necessidade em aprender sobre práticas relacionadas à química verde.
Devido à problemática da falta de recursos, para o desenvolvimento de aulas
práticas no ensino de química, e objetivando temas relacionados à química verde,
a realização deste encontro, procurou aproximar o professor do tema e disseminar
experimentos simples, seguros e de baixo custo, capazes de engajar alunos do
ensino médio, sem necessidade de um laboratório “ideal”.
Foi levantada a questão de qual ou quais sugestões de práticas poderia contribuir
para a mudança do currículo aplicando a química verde. Alguns professores citaram
a importância da constante conscientização dos estudantes sobre a questão
ambiental; a diminuição do consumo de água nas aulas práticas; realização de
seminários e visitas com os alunos em instituições de pesquisa que trabalham com
química verde; utilizar microanálise ao invés de macroanálise, diminuindo os
rejeitos, entre outros.
Também foi demonstrado que o tema tem sido cobrado no ENEM, o que sugere sua
abordagem em sala de aula, levando o aluno a conscientização de seu significado.
Os professores demonstraram satisfação com o encontro, sobretudo com a troca de
experiências quanto aos conceitos de química verde aplicados em suas práticas
docentes, com a possibilidade de novos contatos e novas ideias que auxiliam em
sala de aula, e a abordagem de experimentos de baixo custo.
Gráficos de resultados obtidos de pesquisas com professores
Troca de experiências realizada entre os participantes do evento
Conclusões
Em função dos resultados obtidos foi possível notar que os desafios encontrados pelos docentes em suas escolas são: a falta de laboratórios e/ou recursos para a realização de aulas práticas, que são importantes no ensino de química e a necessidade em realizar mais eventos com o propósito de capacitar os professores quanto à inserção do tema química verde no currículo escolar do ensino médio, pois alguns não se sentem preparados para aplicar o tema em suas práticas docentes. Sendo assim, concluímos que se faz necessário dar continuidade a este trabalho de divulgação, inclusive em outros estados, de forma que cada vez mais este tema esteja presente nas aulas de química.
Agradecimentos
ABQ – RJ e IFRJ campus Maracanã
Referências
CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Química verde no Brasil 2010 – 2030. Brasília, DF:CGEE 2010. 438 p.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, n. 22, p. 89-100, 2003.
GOULART, A. K.; FIGUEIREDO, A. K. M.; NASCIMENTO, R. C.;. SEIDL, P. R. Ensino em Química Verde. Caderno de Química Verde, ano 2, n.4, p. 10-16, 2017.