Autores

Coutinho, L.C.S. (UERR) ; Sampaio, I.S. (UERR) ; Lima, R.C.P. (UERR) ; Rizzatti, I.M. (UERR)

Resumo

A importância de discutir as nova propostas do Governo Federal que mudam as regras do Ensino Médio se faz necessária em todos os seguimentos da sociedade. Com esse pensamento, este trabalho teve como objetivo discutir, através de um Júri Simulado entre acadêmicos do Curso de Licenciatura Plena em Química da Universidade Estadual-Campus/Rorainópolis, as regras dos chamados Velho Ensino Médio e Novo Ensino Médio, levando em consideração a realidade do município. O empenho dos acadêmicos foi visível e o resultado foi desfavorável as novas propostas, levando em consideração a realidade enfrentada por eles.

Palavras chaves

Ferramenta pedagógica; Velho Ensino Médio; Júri Acadêmico

Introdução

As discussões acerca da reforma do Ensino Médio têm gerado debates acalorados, principalmente entre os profissionais da educação e no âmbito das salas de aulas dos cursos de licenciaturas. Esta reforma refere-se à Medida Provisória nº 746, de 2016 que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Essa MP trata das alterações na estrutura do Ensino Médio, ampliando a carga horária mínima anual de 800 para 1.400 horas, determinando obrigatoriedade de algumas disciplinas e a restrição para outras, fato que está causando divergências na sociedade como um todo. O currículo do Ensino Médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC, um conjunto de orientações que deverá nortear os currículos das escolas, redes públicas e privadas com autonomia aos sistemas de ensino para definir a organização das áreas de conhecimento, as competências, habilidades e expectativas de aprendizagem (BRASIL, 2016). Em face desta mudança, a discussão entre os estudantes, tanto do ensino básico como no superior se torna fundamental para que cada um deles possa, com base nas informações necessárias, formar sua opinião sobre uma grande mudança educacional no país. Nessa perspectiva, ao se fazer a união do conhecimento articulado com a realidade, ele se torna significativo para o aprendizado dos alunos. Na atualidade, as diretrizes curriculares aspiram um Ensino Médio, que possibilite aos estudantes articularem os conceitos científicos às suas experiências cotidianas e a outras áreas do conhecimento. Neste sentido, uma ferramenta pedagógica que vem sendo muito utilizada no ambiente acadêmico é o Júri Simulado que, segundo Araújo, Melo e Silva (2012), desenvolve a habilidade de argumentação, a fim de possibilitar uma educação que valorize a autonomia por meio do diálogo e contribuiu para superação das formas de ensinar e aprender que ainda são marcadas pelas concepções tradicionais, baseadas na memorização dos conteúdos e na desarticulação entre saber científico e a realidade social. O objetivo de utilizar esta metodologia foi incentivar a busca do conhecimento através de um debate sobre esse tema Ensino Médio atual x Novo Ensino Médio, trabalhar a oratória dos acadêmicos e, no fim, apontar um “culpado”, segundo a opinião e a realidade social dos jurados em relação ao município em que vivem. Por ser um tema novo, a literatura ainda não contempla muitos artigos sobre esse conteúdo, encontramos apenas documentos oficiais, porém, existem muitos comentários, contra e a favor deste novo método de ensino, sendo a publicação científica de extrema necessidade para que a população em geral conheça o pensamento dos futuros profissionais da educação básica.

Material e métodos

Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, uma vez que abordagens qualitativas facilitam descrever a complexidade de problemas e hipóteses, pois se considera que há uma relação entre o mundo real e o sujeito, compreendendo e interpretando determinados comportamento, opinião e as expectativas dos indivíduos de uma população. Segundo Minayo (1993, p.23) a abordagem qualitativa favorece uma atividade científica pela qual ressaltamos a diversidade entre fenômenos de aproximações sucessivas da realidade, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. Para Brandão (1984), trata-se de um enfoque de investigação social por meio do qual se busca plena participação da comunidade na análise de sua própria realidade, com objetivo de promover a participação social para beneficio dos participantes da investigação. Esta pesquisa foi desenvolvida com uma turma de 18 acadêmicos do 4º semestre do curso de Licenciatura Plena em Química da Universidade Estadual de Roraima, Campus Rorainópolis-RR, na disciplina de Prática para o Ensino de Química I. A turma foi divida entre a promotoria (03 acadêmicos), advogados de defesa (3 acadêmicos), testemunhas (4 acadêmicos) e jurados (08 acadêmicos), tendo o Novo Ensino Médio como réu. A classe foi disposta na forma de um tribunal de Júri e a professora como a juíza, como mostra a figura 01. A promotoria e defesa tiveram direto as argumentações (15 minutos) direito a testemunhas, à réplica (10 minutos) e a tréplica (5 minutos) e ao fim, os jurados apresentaram um relatório com suas opiniões e seu veredito.

Resultado e discussão

Antes de iniciar o debate, a juíza leu uma reportagem da Revista Exame, publicada em 15/10/ 2016, onde professores e o poder público colocam os prós e os contras desta nova metodologia de ensino com o intuito de introduzir o assunto. Após essa introdução, a promotoria iniciou o debate colocando a possível ineficácia do novo Ensino Médio. Em seguida, os advogados de defesa apresentaram as suas argumentações a cerca dos fatos. Neste momento, cada uma das partes utilizaram suas testemunhas, acrescentando que o debate foi sempre voltado à realidade do município onde moram (Figura 02). O debate foi muito proveitoso, sendo confirmado pelos inúmeros pedidos de falas após as réplicas e as tréplicas. Demonstrando assim, a importância da discussão, o envolvimento e a opinião de cada um. Ao fim, os relatórios apresentados do Júri foram unanimes em apresentar o descontentamento da turma com relação ao novo modelo educacional, devido à falta de estrutura no município. Como mostram as seguintes declarações: “Essa reforma é pra resolver a desigualdade educacional do país, porém, não vejo melhorias devido à diferenciação dos Estados, poderia até dar certo, mas isso vai da estrutura de cada região”. Em outro relatório, o acadêmico deixa claro a sua opinião: “Pelas condições da escola estadual do nosso município, por privar todos os estudantes das disciplinas como artes, sociologia, filosofia e educação física, que são de extrema importância para o crescimento físico e intelectual da pessoa, discordo dessa nova medida. Não será eficaz para o momento que nosso país vive!”. Para acrescentar, outro acadêmico é bem mais direto: “Tenho certeza que esse método não vai revolucionar em nada!” Outra questão discutida no debate foi o aumento da carga horária, tanto do professor e estudante, (tempo integral). “O professor não está preparado para assumir uma carga horária tão alta, precisa de tempo para sua qualificação e para preparar as aulas com maior dedicação”. Já com relação aos estudantes, foi colocado o seguinte comentário: “Sou contra essa reforma, não temos estrutura, a população não está preparada para essa mudança, pois vai sobrecarregar os estudantes que moram nas vicinais, que por muitas vezes não tomam nem café”. Esse mesmo jurado continua afirmando: “Os estudantes voltam para casa em ônibus velhos, quando chegam à suas casas, não dá tempo nem de almoçar, por isso que muitos desistem de estudar” se referindo ao novo horário (tempo integral) adotado pela escola do município. Esses comentários mostraram a insatisfação da turma com a reforma da Educação Básica Brasileira devido à falta de estrutura nas escolas, fato ainda longe de ser resolvido pelo poder público, pois além dos relatórios, foram levados em consideração todos os comentários, mesmo os colocados após a finalização do processo metodológico.

Figura 01:

Disposição das partes em sala de aula.

Figura 02:

Promotoria e defesa interrogando suas testemunhas durante o Júri Simulado.

Conclusões

Durante e após o processo, foi percebido que os estudantes se empenharam em adquirir informações sobre o que está acontecendo sobre essa mudança educacional no país. Para eles, este novo modelo de ensino não será eficaz, não neste momento, levando em consideração a realidade do município em questão. Foi percebido também que a oratória está bem desenvolvida entre os acadêmicos, que o incentivo e a prática fazem com que a transmissão do pensamento e conhecimento seja facilitada. Por fim, o Júri Simulado teve como veredito 7 (sete) votos contra e 1 (um) a favor do Novo Ensino Médio, que nesta ocasião foi considerado culpado pelo tribunal do júri acadêmico.

Agradecimentos

A turma do 4º semestre de Licenciatura Plena em Química da Universidade Estadual de Roraima- UERR- Campus Rorainópolis/RR, pela dedicação, comportamento e empenho dur

Referências

ARAÚJO, A. V. N. S., MELO, A. C. O, SILVA, A. N. B. Júri simulado aplicado ao ensino de química: desenvolvendo a prática da argumentação dos alunos do ensino médio. Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação. CONNEPI, 2012. Disponível em http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/paper/viewFile/2301/1176, acesso 29 abr. 2017.

BRANDÃO,C.R..(Org.). Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BRASIL. Atividade legislativa. Senado Federal. 2016. Disponível em http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/126992, acesso em 29 abr. 2017.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo: Hucitec, 1993.