Autores

Antônio da Silva, A. (UFPE) ; Tatiano da Silva, J. (UFPE) ; Félix de Melo, N. (UFPE) ; Araújo Sá, R. (UFPE)

Resumo

Impulsionados pelas justificativas dadas por grande parte das escolas brasileiras a não utilização de atividades diferenciados no ensino de ciências, tais como os experimentos, devido à falta de recursos e/ou de espaços adequados a tais práticas, propomos a realização de um experimento simples com materiais do cotidiano o qual foi realizado em um ambiente não formal e não habitual a este tipo de atividade, o refeitório da escola. A atividade envolveu 48 alunos do 2° ano do ensino médio de uma escola pública, localizada no município de São Caetano - PE. Nossos resultados demonstraram que o ambiente utilizado é altamente adequado e que a atividade experimental auxiliou na construção e transposição dos conceitos para outros contextos, denotando uma aprendizagem mais significativa.

Palavras chaves

Experimento; materiais do cotidiano; ambientes não formais.

Introdução

Muitos estudantes do ensino fundamental apresentam dificuldade em compreender os fenômenos químicos devido à imaturidade de abstração. A literatura (GILBERT e WATTS, 1983; ZOLLER, 1990; HARRISON e TREAGUST, 1996) tem enfatizado que a efetiva compreensão da química exige que os estudantes transitem entre os três domínios do conhecimento inerente a essa ciência: Macroscópico, microscópico e simbólico, e é essa característica que torna essa ciência difícil na concepção dos estudantes. Neste contexto, não podemos negar que o experimento tem sido um recurso didático onde se pode educar pela pesquisa (DEMO, 1996), pela abordagem sociocultural (WERTSCH, DEL RIO, ALVAREZ, 1998) e pela epistemologia contemporânea (BACHELARD, 1996; KUHN, 1975). Conforme (MALDANER 2003), a maioria dos professores não utiliza a experimentação para facilitar a aprendizagem dos conceitos das ciências, alegando “falta e reforma de laboratório”, carência de pessoal técnico e condições para a realização de atividades experimentais. Para ROSITO (2003, p. 206), muitos professores acreditam que o ensino experimental exige um laboratório montado com materiais e equipamentos sofisticados, situando a falta disto como a mais importante restrição para o desenvolvimento de atividades experimentais. Entretanto é necessário superar a ideia de que a falta de um laboratório equipado e sem reagentes químicos, justifique um ensino fundamentado apenas livresco e decorativo. Assim, neste trabalho, propomos um experimento com materiais alternativos a ser realizado no refeitório de uma escola, como suporte visual e prático na compreensão do tema soluções, especificamente no que diz respeito ao preparo, concentração, diluição de soluções, e aos cálculos de concentração e título envolvidos nesse processo.

Material e métodos

Esta atividade foi desenvolvida com 48 estudantes matriculados no 2º ano do ensino médio de uma escola pública localizada no município de São Caetano - PE. Como instrumento de coleta de dados utilizou um questionário composto por duas questões de cálculo e três questões discursivas. Na análise das respostas optamos por utilizar a análise quantitativa. Trabalhamos uma atividade prática intitulada “Preparando um refresco químico” na qual é evidenciado o caráter colorimétrico de soluções formadas a partir de um soluto sólido colorido (preparo sólidos para refresco) e utilizando-se água como solvente. Foi proposto aos alunos que preparassem uma solução estoque dissolvendo-se o conteúdo de um sache de refresco (3g) em água destilada e aferindo-se o volume em um balão volumétrico de 100 ml. Dessa solução estoque foram retiradas três alíquotas, uma de 10 ml, uma de 20 ml e uma de 40 ml, as quais foram transferidas para balões volumétricos de 100 ml e o volume foi completado com água destilada. Esse balão foram enumeradas respectivamente como 1, 2 e 3. Em seguida, foram retiradas duas alíquotas do balão 3, uma de 25 ml e uma de 50 ml, as quais foram transfiras para balões volumétricos de 100 ml, completando-se o volume com água destilada até atingir o menisco. Essas soluções foram enumeradas respectivamente como 4 e 5. Foi solicitado aos alunos que comparassem a cor das soluções preparadas e que calculassem a concentração comum (g/L) e o título para cada uma das soluções. Por fim os tutores realizaram uma discussão sobre determinação da concentração de solução são que não apresentam cor e realizaram uma demonstração aferindo-se a condutividade de soluções com diferentes concentrações de cloreto de sódio em água.

Resultado e discussão

A realização do experimento no refeitório da escola apresentou-se totalmente adequada e possibilitou maior monitoramento e orientação por parte dos tutores, e comodidade e mobilidade aos alunos. Ao analisar a tabela 1 pode-se observa que os menores percentuais de acertos foram obtidos nas questões onde é necessário realizar cálculos. Esta constatação vai de encontro ao tipo de aspecto (procedimental) normalmente utilizado em sala de aula para abordar o conceito concentração de soluções em turmas de 2º ano do ensino médio. Podemos interpretar este fato pela complexidade da atividade realizada, necessitado que os estudantes realizem uma análise quantitativa das sucessivas diluições e não apenas realizem calculo uma concentração (g/L) a partir quantidades conhecidas do soluto. Nas questões 2, 3 e 4, o percentual de acerto foi um pouco maior em comparação com a primeira questão, este fato está de acordo com o percentual de acertos da questão 1, uma vês que para responde-las é necessário uma compreensão clara é correta sobre as diluições realizadas e a quantidade de soluto resultante em cada uma das soluções. A questão 5 remete a demonstração realizada pelos instrutores sobre concentração de soluções não colorimétricas, é tem como função pedagógica ampliar o entendimento sobre concentração de soluções. Para nossa surpresa, esta questão apresentou o maior percentual de acerto, tendo como algumas das respostas “quanto mais concentrado mais sabor tem o suco” e “se a solução for o suco, posso ver pelo sabor, se não for, tem que ver um aparelho para medir a concentração”. Notamos pelas afirmações que eles transpuseram o conceito para outros contextos nos quais aspectos visuais estão ausentes, o que segundo Moreira (2009) denota uma aprendizagem mais significativa.

Tabela 1: Percentual de acerto por questão



Conclusões

A realização do experimento com matérias alternativos no refeitório apresentou-se extremamente adequada, atendendo aos princípios da química verde e minimiza as chances acidentes, sem afetar a qualidade e riqueza da atividade experimental no ensino-aprendizagem da química. Podemos diz que se obteve um bom resultado, ultrapassando-se 60% de acerto em todas as questões. Esta constatação nos permite concluir que houve compreensão do assunto e que os alunos conseguiram aplicar de modo satisfatório o conceito de concentração, indicando que houve aprendizagem mais efetiva e significativa.

Agradecimentos

Prof° Roberto Araújo Sá, ao Núcleo de Formação docente UFPE/CAA e a PROAES/UFPE.

Referências

BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise doconhecimento. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.

DEMO, P. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho deHabermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

GILBERT, J.; WATTS, D. Concepts, misconceptions, and alternative conceptions: Changing perspectives in science education. Studies in Science Education, v. 10, p. 61–98, 1983

HARRISON, A.G.; TREAGUST, D.F. Secondary students’ mental models of atoms and molecules: Implications for learning chemistry. Science Education, v. 80, n. 5, p. 509-534, 1996

KUHN, T. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975.

MALDANER, O.A. A formação inicial e continuada de professores de Química. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.

MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. 3. Ed. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 2009.

ROSITO, B. A. O ensino de ciências e a experimentação. In Construtivismo eensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

WERTSCH, J.; DEL RIO, P; ALVAREZ, A. Estudos socioculturais: história, ação e mediação. In:Estudos socioculturais da mente. Porto Alegre: Artmed,1998. p.11-38.

ZABALA, Antoni. Como trabalhar os conteúdos procedimentais em aula. Porto Alegre: Artmed, 1999.

ZOLLER, U. Students’ Misunderstandings and Alternative Conceptions in College Freshman Chemistry (General and Organic). Journal of Research in Science Teaching, v. 27, n. 10, p. 1053-1065, 1990.