Autores
Sales, R.S. (SEDUC-PA) ; Santos, D.C. (SEDUC-PA) ; Oliveira Júnior, A.P. (UVA) ; Silva, S.M. (UVA)
Resumo
Muitos assuntos abordados pela química incluem conceitos teóricos, modelos abstratos. Com o intuito de facilitar a compreensão dessas teorias tem-se usado a História da Ciência como mediadora do ensino. O objetivo deste estudo é mostrar como a contextualização histórica pode ser útil e facilitadora no ensino dos modelos atômicos. A metodologia utilizada consistiu de aplicação de questionário e aula numa turma de licenciatura em Química. Os resultados mostram que o uso da história é eficaz para se compreender assuntos abstratos como as teorias atômicas. Muito embora os textos sobre a história da ciência já estejam presentes no diversos livros didáticos, eles tem sido negligenciados pelos professores que fazem uso desses livros, relegando-os a muletas, enquanto deveriam ser colunas, pilares.
Palavras chaves
História da Química; Ensino de Química; Modelos atômicos
Introdução
Ao longo dos últimos 30 anos, muitos pesquisadores, como (RONAN, 1991; BASSALO, 1992; CASTRO & CARVALHO, 1992; CHASSOT, 1994; MACHADO, 1995; BRAGA, 2003; FARIAS, 2007 e 2008; AFONSO et. al, 2012), além de tantos outros têm defendido a proposta de que a História da Ciência é uma ferramenta útil no Ensino. A maioria dos livros didáticos tem apresentado a Ciência de uma forma muito positivista, onde os cientistas têm parecido seres extraterrestres, lunáticos ou marcianos, gênios inalcançáveis, onde o conhecimento científico é a obra-prima, produto final, que surge como que num passe de mágica (MACHADO, 2007). Dois aspectos positivos da abordagem histórica no ensino de ciências incluem: “o 1º aspecto refere-se à contextualização do esforço científico, com vistas a destacar o caráter humano do cientista. O 2º aspecto diz respeito à ruptura com a postura positivista dos livros didáticos, de modo a ultrapassar a visão simplista que surge dessas obras, onde parece que a evolução do conhecimento é perfeitamente linear, racional, inquestionável e previsível.” (BASSALO, 1992). Um questionamento que tem-se feito sobre é: “A história da ciência nos livros de química são muletas ou pilares?” (MACHADO, 1995). O uso da história da ciência, contribui para a compreensão dos principais acontecimentos, de cada período histórico em que a descoberta e os cientistas viveram e, que levaram a formulação das diversas teorias. Conhecendo-se o contexto (social, político, econômico e científico) e, as limitações inerentes à época em que uma teoria foi formulada, pode-se perceber que as teorias ou descobertas não são frutos de um único pesquisador, mas o produto final de um conjunto de informações de diversos cientistas e que culminou com as averiguações de um desses cientistas (JAPIASSU, 1985).
Material e métodos
Esta pesquisa foi realizada com os 23 alunos da turma de Licenciatura em Química do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) da UEPA, em Santarém-Pará, durante o 4º semestre letivo, por ocasião da disciplina História da Ciência. Primeiro aplicou-se um questionário com perguntas sobre a formação dos alunos, sobre o átomo e a história da ciência. O questionário era composto das seguintes perguntas: 1) Você já é licenciado? Em qual curso? 2) Você já atua como professor de Química no Ensino Médio? Em qual série? Já ministrou aula sobre o assunto modelos atômicos? 3) Existe algum equipamento que permite enxergarmos átomos? Qual o seu nome? 4) Você gosta de História da Ciência? Depois que os questionários foram respondidos, ministrou-se uma aula (4h/a) sobre a evolução dos modelos atômicos, sempre fazendo-se referência ao desenvolvimento das teorias e ao contexto histórico das descobertas. Abordou-se os modelos atômicos de Dalton, Thomson, Rutheford, Bohr, Sommerfeld e Modelo Orbital ou Quântico. O objetivo desta pesquisa é mostrar como a História da Ciência pode ser útil e facilitadora na compreensão dos diversos conceitos de modelos atômicos que foram sendo formulados ao longo do desenvolvimento da ciência.
Resultado e discussão
O resultado da 1ª pergunta evidenciou que 95,6% dos alunos já cursaram alguma
licenciatura (Figura 1) e, apenas 1 aluno ainda não era licenciado. Os 14
biólogos e os 5 matemáticos já atuam como professores de Química no Ensino Médio
e, todos os 19 já ministraram em algum momento aulas do assunto Atomística
(modelos atômicos). Para a 3ª pergunta, 91,3% dos alunos responderam que existe
um equipamento no qual é possível enxergarmos os átomos e, apenas 2 alunos
disseram que os átomos não podem ser visualizados, nessa perspectiva a tarefa
dos professores quando se fala de átomos é difícil, pois temos que “fazer
imagens de um mundo quase imaginário.” (CHASSOT, 1994). Os aparelhos mais
citados foram: microscópio atômico e microscópio eletrônico. Mas, na prática
sabemos que não podemos ver os átomos tal como o conceito de enxergar que
conhecemos (SAMPAIO, 2011). Durante a aula expositiva uma aluna perguntou: “Se
não podemos enxergar os átomos, como se sabe que eles são formados por núcleo e
eletrosfera e comportam prótons, nêutrons e elétrons?” Daí explicou-se que os
conceitos sobre átomos são apenas modelos, ou seja, teorias, baseadas em
evidências experimentais, que podem ser compreendidas quando se usam as
experiências históricas usadas pelos cientistas que formularam os modelos. Ao
final da aula, 100% dos alunos compreenderam porque mesmo sem enxergarmos os
átomos, podemos deduzir como eles são. Para a 4ª e última pergunta, 65%
responderam que não gostam e não leem os textos sobre história da ciência dos
livros didáticos. Os outros 35% afirmaram gostar de ler essas seções dos livros
apenas por curiosidade. Por isso esses setores dos livros já foram comparados
com muletas (MACHADO, 1995).
Conclusões
Constatou-se que a contextualização histórica da ciência é extremamente útil no sentido de facilitar a compreensão de conceitos abstratos da química, como as teorias atômicas. Muito embora os textos sobre a história da ciência já estejam presentes no diversos livros didáticos, eles tem sido negligenciados pelos professores que fazem uso desses livros, relegando-os a muletas, enquanto deveriam ser colunas, pilares. E, embora alguns professores já estejam atuando no ensino de química, estes não dominam a contento as teorias ensinadas, resumindo-as a listas de conteúdos.
Agradecimentos
Aos alunos do Curso de Licenciatura em Química (PARFOR) da Universidade do Estado do Pará.
Referências
AFONSO, J. C.; CHEIBUB, A. M. S. S.; SANTOS, Nadja Paraense dos. O 75º Aniversário do III Congresso Sul-Americano de Química: a História da Química no Brasil na Década de 1930 Ilustrada pelas Edições da Revista de Química Industrial. Revista de Química Industrial, v. 735, p. 13-18, 2012.
BASSALO, José Maria. A importância do estudo da história da ciência. Revista da SBHC, São Paulo, n.8, p.57-66, 1992.
BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, José Claudio. Breve História da Ciência Moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Quatro volumes.
CASTRO, Ruth Schmitz de; CARVALHO, Ana Maria Pessoa de. História da Ciência: investigando como usá-la num curso de segundo grau. Cadernos Catarinenses de Ensino de Física. Florianópolis, v.9, n.3: p. 225 - 237, dez 1992.
CHASSOT, Attico Inácio. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994.
FARIAS, Robson Fernandes de. História da Alquimia. Campinas: Editora Átomo, 2007.
FARIAS, Robson Fernandes de & NEVES, Luiz Seixas das. História da química: um livro texto para a graduação. Campinas: Editora Átomo, 2008.
JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1985.
MACHADO, Jorge Ricardo Coutinho. A história da ciência nos livros de química: muletas ou pilares? Belém, NPADC-UFPA (Monografia de especialização), 1995.
MACHADO, Jorge Ricardo Coutinho. Prática Pedagógica em Química I. Belém: EdUFPA, 2007.
RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência. Rio de Janeiro, Zahar, 1991. Quatro volumes.
SAMPAIO, Luiz. Um dia conseguiremos ver um átomo? 2011. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/um-dia-conseguiremos-ver-um-atomo,b108c087e60ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 15 de maio de 2014.