Autores
Nascimento, G.P. (UAB/UFPI) ; Leal, A.S. (UFMA) ; Carvalho, T.A. (UAB/UFPI) ; Nery, G.R.P. (SEDUC-PI)
Resumo
A disciplina de Libras tornou-se obrigatória nos cursos de Licenciaturas para a inclusão do aluno surdo na Educação Básica. Visando a importância do professor de Química na inclusão desse aluno, este trabalho teve como objetivo discutir como a Libras vem sendo abordada no Curso de Química a distância da UAB/UFPI. Os dados foram obtidos a partir da análise da ementa da disciplina de Libras, do material didático, metodologia adotada e entrevista com os tutores a distância. A maioria dos tutores não tem habilitação específica e o material didático não apresenta abordagem dos sinais de Libras específico da química, dificultando o processo ensino-aprendizagem dessa disciplina. Há necessidade de reformulação da ementa, material didático e proposta de novas metodologias de ensino.
Palavras chaves
Libras; formação de professores; Inclusão do aluno surdo.
Introdução
A partir do decreto 5.626/05, a Língua Brasileira de Sinais - Libras deve ser inserida no currículo como obrigatória nos cursos de formação de professores. A importância de uma formação sólida deve propiciar fundamentos científicos e sociais aos futuros professores (BRASIL, 1996). Pois, com a política de inclusão, a diversidade marca cada vez mais a presença na educação básica, exigindo que os cursos de formação de professores tomem novos rumos em busca de novos saberes e práticas de ensino, necessitando-se estudar as ações humanas nos diferentes tempos e espaços, ressaltando mudanças na forma de fazer, pensar, investigar, ensinar e interagir num contexto que engloba inúmeros desafios. (GODOI, 2011). A surdez é a necessidade especial mais prejudicada em termos de aprendizagem, pois o aluno surdo possui uma característica singular às demais necessidades, “a comunicação” que segundo Bakhtin (1999), não há atividade mental sem expressão, mas ao contrário, a expressão organiza a atividade mental. A legislação vigente salienta a importância da Libras como ferramenta inclusiva, contudo surge questionamentos sobre ofertada desta língua aos futuros professores nas Licenciaturas, em especial nos cursos a distancia. Apesar dessa modalidade de ensino apresentar ferramentas tecnológicas que auxiliam na aprendizagem, nota-se fatores que podem contribuir para o surgimento de dificuldades na aprendizagem da Libras. A Química apresenta uma linguagem muito abstrata de difícil compreensão, assim, visando a importância do professor de Química na inclusão do aluno surdo, este trabalho teve como objetivo discutir como Libras vem sendo abordada no Curso de Química a distância da UAB/UFPI.
Material e métodos
A metodologia se dividiu em 03 momentos: 1º - Análise da ementa da disciplina de Libras e do material didático utilizado no UAB1 com 05 polos (Castelo do Piauí, Floriano, Piracuruca, Simplício Mendes e Uruçuí) e UAB2 com 07 polos (Bom Jesus, Luzilândia, Oeiras, Pio IX, Redenção do Gurguéia, União e Valença do Piauí). 2º - Análise da metodologia de ensino trabalhada na disciplina, nos referidos polos. 3º - Entrevista semi-estruturada aos tutores a distância, pois são estes profissionais que ministraram a disciplina de Libras nos polos. A entrevista teve i intuito de investigar se os tutores tinham ou não uma formação em Libras e se tiveram alguma dificuldade ao ministrarem esta disciplina.
Resultado e discussão
Análise da ementa de Libras com 60hs.
Ao confrontar a ementa com o material didático, observa-se incompatibilidade entre eles (Tabela 1). O tópico 1 da ementa não está claro, devendo ser: “Estudo da cultura e identidade do surdo”, pois o futuro professor precisa conhecer quem é este aluno “Surdo” e a importância desta descrição. O tópico 2, é incoerente, transmite a ideia que a Libras é utilizada somente por surdos, que não é uma segunda língua no país. Deveria ser: “Libras como primeira e segunda língua”. A maioria dos graduandos são ouvintes e para estes a Libras é ministrada como segunda Língua (L2). No material didático, o tópico 5 não está direcionado ao curso de Química. Os tópicos 6 e 7 da ementa não condizem com a realidade dos futuros professores, pois estes estão sendo formados para ministrar aulas nas séries do 6º ao 9º anos do ensino fundamental e no ensino médio. A exposição dos conteúdos de Libras ligados ao ensino de Química, não foram inclusos na ementa e no material didático. O futuro professor precisa saber como preparar e ministrar aulas inclusivas, assim, há necessidade da abordagem de planejamentos de aulas dentro do contexto inclusivo para o ensino de Química. Na tabela 2, observa-se que a disciplina de Libras não foi planejada para o curso de Química. Não há atividades práticas e conteúdos específicos de Química, sobretudo, relacionando a química com o cotidiano e questões ambientais. Foram entrevistados 12 tutores a distância, somente 01 possuía formação em Libras e, que os demais tutores não passaram por nenhuma capacitação específica em Libras, só duas reuniões com o coordenador da disciplina. Nas respostas de alguns tutores (Tabela 2), observa-se a insegurança em tirar dúvidas dos alunos, não havendo atividades práticas de Libras.
Tabela 1 - Ementa e conteúdos programáticos da disciplina de Libras no curso de Licenciatura Plena em Química da UAB/UFPI.
Tabela 2 - Metodologia aplicada e na disciplina de Libras e respostas dos tutores a distancia sobre as dificuldades enfrentadas na disciplina.
Conclusões
A Libras no curso de Química a distancia UAB/UFPI não cumpre com seu objetivo de formar professores habilitados para ensinar Química utilizando conhecimentos de Libras e assim incluir o aluno surdo em suas aulas. Sugerimos alteração na ementa, havendo a necessidade de incluir vocabulários de Química em Libras, bem como conteúdos que contemplem a cultura e identidade surda e que viabilize aulas adequadas aos alunos surdos. Sugerimos o aumento no número de encontros presenciais e quanto a formação dos tutores a distancia, estes devem ter formação em Libras.
Agradecimentos
Agradeço a todos os tutores a distancia que participaram da pesquisa, bem como a UAB/UFPI por colaborar na realização da aludida pesquisa.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996.
______. Ministério da Educação. Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Dispõe a regulamentação da Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e do art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2005.
GODOI, Eliamar. Ensino de libras: balanços, reflexões e desafios de uma educação para a diversidade. In: Centro de Estudos Educação e Sociedade - CEDES, Anais. Campinas, 28 ev., 01 e 02 mar. 2011. Ano I / Publicação I.p.731 – 749.