Autores
Sales, R.S. (SEDUC-PA) ; Santos, D.C. (SEDUC-PA) ; Santos, I.P. (SEMEC-MONTE ALEGRE) ; Conceição, J.S. (SEMEC-MONTE ALEGRE) ; Azevedo, A.R.S. (SEMEC-MONTE ALEGRE)
Resumo
Este trabalho teve como objetivo avaliar o uso de ervas medicinais como instrumento de ensino de Química Orgânica. A pesquisa contou com aulas teóricas e aplicação de questionário. Com base nos resultados foi possível observar as dificuldades que muitos discentes tinham inicialmente na compreensão de funções orgânicas, mas foi possível relacionar as fórmulas estruturais dos princípios ativos das ervas medicinais estudadas com as funções, colaborando assim com a importância e verdadeiro significado da educação. 95% dos discentes afirmaram que a estratégia usada facilitou a aprendizagem. Confirmou-se que temas já conhecidos pelos discentes são ótimos instrumentos de motivação escolar e, contribuem para um ensino de qualidade que amplie a visão de mundo e o saber acadêmicos dos educandos.
Palavras chaves
Educação Química; Química Orgânica; Ervas medicinais
Introdução
A maioria dos Educadores Químicos considera que a Química é uma ciência que para ser plenamente compreendida, deve ser estudada em três níveis: macroscópico (observação dos fenômenos do dia a dia, queimar papel, azedar o leite), ultramicroscópico (atômico-molecular) e simbólico (fórmulas, equações) (ATKINS; JONES, 2006). Quando se fala em Educação Química, uma questão a ser destacada são as estratégias de ensino baseadas no cotidiano dos alunos, onde o professor não mais apresenta ideias novas que possam vir a gerar oposição, mas evidencia determinadas semelhanças com o conhecimento preexistente de forma que os alunos possam compreender determinadas situações, sem considerar que seus pensamentos estabelecidos mesmo antes do contato escolar eram errôneos (ROWELL; DAWSON, 1984). A maioria dos professores já perceberam que não é possível tratar isoladamente os conceitos de química, pois os livros ficam reduzidos a resumos de conteúdos, sem explicações das situações da vida real e sem relação entre si, por isso é importante relacionar os conceitos da química com situações do dia a dia (LUFT, 2000). Os PCN citam que os alunos do Ensino Médio já experimentaram e continuam a experimentar os conhecimentos químicos em suas vidas cotidianas a nível macroscópico em muitas situações de suas rotinas (BRASIL, 2002). O Brasil tem uma das mais ricas biodiversidades do planeta, com milhares de espécies em sua flora e fauna. A utilização das plantas não só como alimento, mas como fonte terapêutica começou desde que os primeiros habitantes chegaram ao Brasil, há milhares de anos (LAMEIRA, 2008). O objetivo deste estudo foi analisar como o uso de uma temática que faz parte do conhecimento tradicional dos educandos contribui para o processo de aprendizagem dos conceitos de funções orgânicas
Material e métodos
Esta pesquisa é parte integrante do projeto “Educação Química para a vida Cotidiana” desenvolvido nas escolas de Ensino Médio de Monte Alegre, Pará. Nesta perspectiva, este trabalho buscou desvendar por meio da aplicação de questionários de cunho qualitativo e quantitativo, como a temática Ervas Medicinais facilita a assimilação da teoria. A pesquisa desenvolveu-se no Colégio Estadual de Ensino Médio Presidente Fernando Henrique Cardoso, localizada num bairro afastado do centro da cidade. O grupo de alunos examinados foram todos do 3º ano do Ensino Médio da modalidade Educação de Jovens e Adultos, do período noturno, num total de 30 entrevistados, sendo 24 mulheres e 6 homens, em geral, com baixo poder aquisitivo. A pesquisa foi dividida em 3 momentos. No primeiro momento aplicou-se um questionário com duas perguntas: 1) Com que frequência você usa ervas medicinais? 2) Cite o nome de 5 ervas medicinais. O resultado desse questionário norteou o restante da pesquisa, que no segundo momento deu-se com a ministração de aulas teóricas sobre o assunto funções orgânicas, fazendo uso dos princípios ativos de ervas medicinais. Consultou-se literatura especializada para a elaboração do material didático. No terceiro e último momento da pesquisa aplicou-se outro questionário semiestruturado, de cunho quantitativo. Com as perguntas: 3) Na sala de aula você aluno percebe se os professores abordam temas do cotidiano como as ervas medicinais, independente da disciplina que está sendo estudada? 4) Você acredita que a importância do estudo de ervas medicinais contribuiu para melhoria do ensino de química para vocês? 5) Na sua opinião, o estudo de funções orgânicas através de ervas medicinais é mais proveitoso para vocês alunos?
Resultado e discussão
O resultado da 1ª pergunta (Gráfico1) mostra que apenas 15% não usam ervas
medicinais, enquanto 85% fazem uso delas, logo esse tema pode ser usado como
ferramenta de Educação Química. O preço de fitoterápicos que, é mais acessível
(SOUSA; MIRANDA, 2005) é um fator que contribui para o uso de ervas, por pessoas
de baixa renda. Na 2ª pergunta (Gráfico2) as respostas mais frequentes foram:
capim santo (100%), hortelã (83%), cidreira (67%), arruda (50%) e alecrim (33%).
Na 3ª pergunta: Os professores abordam temas do cotidiano? 70% responderam SIM e
30% NÃO. O que evidencia que a maioria dos professores já fazem uso de temas
transversais e do cotidiano dos alunos. Isso mostrou que os professores já estão
utilizando recursos variados para tornar a aprendizagem mais eficiente (CHASSOT,
1995). Na 4ª pergunta: Estudar ervas medicinais contribuiu para o ensino de
química? 67% se sentiram motivados, como percebe-se da fala de um aluno: “Sim,
pois eu pude ver que aquelas fórmulas químicas existem em alguma coisa da vida
que eu uso, e isso de fato contribuiu para me motivar.” E apenas 33% não se
sentiram motivados a estudar funções. Talvez o desinteresse não esteja no tema,
mas sim na fadiga que os alunos carregam do ensino cristalizado nos livros e
apostilas cheios de conteúdos desconectados da realidade dos educandos, como
evidenciou-se na fala de uma aluna: “Não, pois são muitos difíceis termos aulas
assim, aqui na escola tem dia que vejo algo novo, interessante, depois passo
meses sem ver.” Na 5ª pergunta, 95% disseram ser mais proveitoso estudar química
a partir das ervas e 5% disseram não. É fundamental a escola valorizar o saber
popular como forma de incentivar a participação dos alunos, eles tornam-se mais
seguros com assuntos que fazem parte de seu cotidiano (LUFTI, 2000).
Conclusões
Constatou-se que apesar das dificuldades, é possível a utilização de métodos e ferramentas que facilitem e estimulem a aprendizagem de química. Mas, para que isso ocorra é preciso que os conteúdos sejam abordados de forma que o aluno possa relacionar-se com os saberes já adquiridos e se sinta seguro para questionar o que já aprendeu e está aprendendo. De maneira geral os estudantes envolvidos se sentiram motivados a estudar funções orgânicas, tendo em vista os que foram capazes de responder as questões referentes a funções orgânicas de vários compostos químicos, a partir das ervas medicinais.
Agradecimentos
À Universidade Estadual Vale do Acaraú, financiadora do projeto. Aos discentes do Colégio Fernando Henrique Cardoso.
Referências
ATKINS, P., JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3ª ed. Traduzido por Ricardo Bicca de Alencastro. Porto Alegre: Bookman, 2006.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002
CHASSOT, A. I.; Para Que(m) É Útil o Ensino de Química? Canoas: ed. ULBRA, 1995.
LAMEIRA, Osmar Alves; PINTO, José Eduardo Brasil Pereira (Orgs). Plantas medicinais: do cultivo, manipulação e uso à recomendação popular. Belém: EMBRAPA, 2008.
LUTFI, Mansur. O Cotidiano e o Ensino de Química. Ijuí: UNIJUI, 2000.
ROWELL, J.A. & DAWSON, C. Equilibration, conflict and instruction: A new class-oriented perspective. European Journal of Science Education, 7(3): 331-344, 1984.
SOUSA, J. A.; MIRANDA, E. M. Cultivo e mercado de plantas medicinais. In: SISTEMA BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS. Disque-Tecnologia. São Paulo: CECAE/USP, 2005. Disponível em <http://www2.ibama.gov.br/flora/plantas_medicinais.htm> Acesso em: 18 março. 2014.
STAVY, R. Using analogy to overcome misconceptions about conservation of matter. Journal of Research in Science Teaching, v.28, n. 4, p. 305-313, 1991.