Autores
Rodrigues Leite, L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Gadelha de Lima, J.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
Resumo
Este trabalho objetivou analisar alguns aspectos do processo de ensino e aprendizagem da Química desenvolvido na E.E.M. Maria Vieira de Pinho em Ipaporanga-CE. Para isso, foram aplicados questionários a professores e alunos desta Escola. Pelos resultados obtidos, pôde-se perceber, principalmente no tocante às metodologias desenvolvidas pelos docentes, a existência de algumas divergências entre os discentes do professor A (1° ano) e do professor B (2° e 3° ano), bem como entre os dois professores e alguns dos alunos. Essas observações evidenciam a necessidade de um Ensino de Química com práticas mais estimulantes ao aprendizado dos discentes, além de corroborar a percepção de que a prática do professor influencia, de maneira acentuada, o interesse dos educandos pelo estudo desta disciplina.
Palavras chaves
ensino de Química; ensino e aprendizagem; Educação Básica
Introdução
Segundo os PCN+ (BRASIL, 2002), quando utilizada como forma de interpretar o mundo e de intervir na realidade, a Química pode ser um instrumento de formação humana capaz de ampliar os aspectos culturais e de contribuir para a autonomia do indivíduo no exercício da sua cidadania. Para que isso ocorra, no entanto, é necessário que se desenvolva nas Escolas um Ensino de Química no qual o aluno seja o principal protagonista, deixando de ser um mero receptor de informações para se tornar o construtor de seus próprios conhecimentos, que devem se tornar, necessariamente, relevantes para o aluno (OCEM, 2006). Entretanto, de acordo com Lima (2012), o ensino de Química desenvolvido na sala de aula das Escolas de Ensino Básico insiste na perpetuação de uma metodologia tradicional, dotada de um arcabouço teórico volumoso e voltado para as práticas de memorização de fórmulas, símbolos, leis, etc. Os conteúdos continuam a ser simplesmente ‘transmitidos’ pelos professores de forma completamente desvinculada da realidade dos educandos. Na concepção de Lima e Leite (2012), essa prática escolar, mas não somente ela, tem contribuído de modo exorbitante para a disseminação da ideia de que a Química é uma disciplina cujos conteúdos são difíceis de serem apreendidos, além de seus conhecimentos não fazerem sentido na vida cotidiana do cidadão. A partir dessas conjecturas, o objetivo deste trabalho é apresentar o resultado de uma investigação que buscou analisar o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos da disciplina de Química em uma Escola Pública de Ensino Médio. O intuito maior desta pesquisa foi identificar os fatores que estão permeando, positiva ou negativamente, a efetivação de um Ensino de Química mais significativo para os alunos.
Material e métodos
Tendo como principal proposta de estudo a ampliação do acervo de conhecimentos sobre o assunto estudado, a abordagem metodológica dessa pesquisa caracterizou- se como qualitativo-quantitativa, com seus objetivos voltados ao aspecto exploratório (MALHEIROS, 2011). Para a coleta de dados, foi utilizado o procedimento metodológico fundamentado na técnica de estudo de campo. Essa associação quantitativo-qualitativa permitiu obter dados que possibilitaram conhecer, discutir e compreender algumas concepções que os sujeitos envolvidos têm sobre o processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química. Para isso, um estudo de campo foi desenvolvido com alunos e professores da única Escola Pública de Ensino Médio da cidade de Ipaporanga-CE que atende, aproximadamente, seiscentos alunos, os quais, em sua maioria, prestam vestibular para os cursos de Licenciatura oferecidos pela Faculdade de Educação de Crateús (Pedagogia, Biologia e Química) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Para o desenvolvimento desta pesquisa, durante o trabalho de campo, utilizou-se dois tipos de questionários como instrumentos de coleta. O primeiro foi aplicado com 175 alunos da Escola. Nesse caso, optou-se por realizar a pesquisa com as turmas de 1ª (79 alunos), 2ª (56 alunos) e 3ª (40 alunos) séries vespertinas, haja vista, que neste turno há uma maior heterogeneidade com relação ao nível de aprendizagem dos discentes. O segundo questionário foi aplicado com os dois professores de Química (A e B) desses alunos. As respostas desses sujeitos foram de extrema relevância para a elaboração de um referencial empírico, o qual possibilitou uma reflexão profunda sobre a realidade do ensino de Química que se desenvolve nessa Escola, e que não diverge tão significativamente do restante do país.
Resultado e discussão
Analisando as respostas dos alunos, percebeu-se claramente a existência de duas
opiniões divergentes. A primeira se atribui aos alunos de 1ª série, que estudam
com o professor A. As respostas desses alunos denotam que eles não conseguem
perceber um nível de confiança satisfatório no trabalho do professor. Segundo
eles, este profissional não demonstra aprofundamento nos saberes transmitidos.
Já na segunda opinião, atribuída aos alunos da 2ª e 3ª séries, o professor B
demonstra conhecer com propriedade e sabedoria os conteúdos repassados. Em
relação ao aspecto metodológico, foi possível detectar algumas técnicas usadas
por estes docentes. Da 1ª série, 49 alunos (62%) afirmaram que o professor A
explicava os conteúdos de maneira semelhante àquela apresentada no livro
didático. Analisando respostas a outras questões, pôde-se perceber que a prática
desse profissional se estabelece a partir de um processo em que o docente ‘fala’
e os alunos ‘escutam’ e ‘copiam’. No entanto, 30 alunos (38%) desta mesma série
afirmaram que o professor aborda muitas temáticas não presentes no livro, além
de realizar alguns experimentos. Nas respostas relacionadas ao professor B, 55
alunos (57%) afirmaram que suas aulas eram baseadas numa metodologia
tradicional. No entanto, 41 alunos (43%) salientaram que este profissional
costumava, algumas vezes, desenvolver aulas com metodologias diversificadas. A
análise das respostas aos questionários dos professores denota que estes
profissionais, muitas vezes, fazem uso de metodologias inovadoras e utilizam
diversos outros recursos didáticos (laboratório, retroprojetor, data show,
etc.), além de tratar os conteúdos numa perspectiva voltada para os problemas do
mundo atual. Porém, estas observações não condizem com a opinião da grande
maioria dos alunos.
Conclusões
Evidenciou-se uma contradição nas opiniões dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem da Química nessa Escola: enquanto os docentes disseram buscar inovar sua prática na sala de aula, a maioria dos alunos julgou a metodologia desses professores como tradicional. Constatou-se a necessidade desses docentes adquirirem mais solidez e aprofundamento nos conteúdos a serem trabalhados, de modo a conquistar a confiança dos educandos. É preciso pois, realmente, desenvolver atividades diferenciadas na sala de aula, de modo a tornar o Ensino de Química mais dinâmico e satisfatório.
Agradecimentos
À E.E.M. Maria Vieira de Pinho, em especial aos professores e alunos participantes da pesquisa.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. PCN+ Ensino médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o ensino médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Vol. 2. Brasília: MEC/SEMTEC, 2006.
LIMA, J. O. G.; LEITE, L. R. O processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Química: o caso das escolas do ensino médio de Crateús/Ceará/Brasil. Revista Electrónica de Investigación en Educación en Ciencias, v. 7, n. 2, p. 72-85, 2012.
LIMA, J. O. G. Perspectivas de novas metodologias no ensino de Química. Revista Espaço Acadêmico, v. 12, n. 136, p. 95-101, 2012.
MALHEIROS, B. T. Metodologia da pesquisa em educação. Rio de Janeiro: LTC, 2011.