Autores

Perdigão, C.H.A. (IFPE) ; Santos Junior, O.P. (IFPE) ; Souza, W.G. (IFPE) ; Silva, A.V.S.F.S. (IFPE)

Resumo

O presente trabalho traz o resultado da pesquisa-ação com abordagem qualitativa, realizada no IFPE- CVSA. Um estudo de caso etnográfico em que os sujeitos envolvidos foram 23 alunos integrantes da turma de I ano do Ensino Técnico Integrado ao Médio, habilidade Agropecuária. Utilizou-se a fonografia para a coleta de dados. A partir do diagnóstico de casos de insucesso relacionados a fatores curriculares, objetivou-se observar a resposta que se tem na elaboração de um plano de disciplina de Química, a partir da problematização e da utilização de mapas conceituais. Os alunos participaram de forma efetiva e mostraram-se entusiasmados. A utilização de texto introdutório, de temas geradores e de mapas conceituais constituem boas estratégias para a construção da ementa do Plano de Disciplina.

Palavras chaves

Mapas Conceituais; Ensino de Química; Didática das Ciências

Introdução

Foram diagnosticados muitos casos de insucesso na disciplina Química, em turmas de 1º Ano EM Integrado ao Técnico, do curso de Agropecuária do IFPE- CVSA. Problematiza-se a necessidade de uma atenção especial ao Ensino de Química nesses cursos, pois aspectos teóricos e práticos desta disciplina permeiam as atividades técnicas agrícolas. A apatia dos alunos pela disciplina pode estar relacionada a fatores curriculares. Nesse âmbito, um desafio é a conexão entre os conteúdos das disciplinas propedêuticas os das disciplinas técnicas, sendo necessário também um direcionamento dos conteúdos químicos específicos e essenciais para a formação técnica. Objetivou-se com esse trabalho observar a resposta que se tem na elaboração de um plano de disciplina de Química, a partir da problematização e da utilização de mapas conceituais como ferramenta. A forte relação entre os conteúdos da Química e das áreas agrícolas pode ser o ponto de partida para despertar o interesse dos alunos. Segundo Hengemühle, “não podemos formar pessoas competentes na vida, se na escola não lhes dermos a possibilidade de utilizar os conteúdos para exercitar a compreensão e solução de situações-problemas”. ( HENGEMÜHLE, 2004, p. 72). Assim, torna-se necessária a problematização,em sala de aula. Os conteúdos curriculares devem ser estruturados de forma que possam oferecer inicialmente uma visão geral da disciplina e em seguida estudam-se os tópicos mais específicos(AUSUBEL, 1978). Aqui, discute-se não só esta organização hierárquica do conteúdo, mas também quais conteúdos serão realmente importantes. Pode-se realizar a análise de um currículo em uma perspectiva ausubeliana(MOREIRA,1988), utilizando-se mapas conceituais, esses, são também importantes mecanismos de avaliação da cognição(NOVAK, 1977).

Material e métodos

A pesquisa caracteriza-se como pesquisa-ação com abordagem qualitativa, constituindo-se em um estudo de caso etnográfico, investigando-se o Ensino de Ciências/Química em uma única turma de trinta alunos, trabalhando-se com o detalhamento de relações de aprendizado entre indivíduos, obtendo-se uma “descrição densa, a mais completa possível, sobre o que um grupo particular de pessoas faz e o significado das perspectivas imediatas que eles têm do que eles fazem” (MATTOS, 2001). Os sujeitos envolvidos foram 23 alunos integrantes da turma de 1º ano do Ensino Técnico Integrado ao Médio, habilidade Agropecuária, mais precisamente a turma do 1º H. Para a pesquisa foi utilizada a sala de aula em seus recursos materiais. Utilizou-se a fonografia com a posterior transcrição das falas para análise. Iniciou-se o ano letivo com a leitura coletiva de um texto sobre o solo e sua fertilidade. Solicitou-se que os alunos identificassem e destacassem termos relacionados à Química no referido texto. Os termos foram anotados no quadro pelos docentes e pelo professor. Em seguida, explicou-se e exemplificou-se o que são mapas conceituais, solicitando-se aos alunos como atividade de casa construções de mapas conceituais relativos ao texto lido, como forma de perceber fragmentações/desfragmentações cognitivas. Na aula seguinte, construiu-se coletivamente o mapa conceitual da disciplina Química, localizando-se em quais tópicos encontravam-se aqueles conceitos grifados pelos mesmos durante a leitura do texto de fertilidade do solo e possibilitando o confronto do Mapa Conceitual coletivo, com os individuais. Estes momentos foram de grande riqueza e registrados por fonografia. Em aula posterior, presentou-se e discutiu-se o Plano de Aula da Disciplina.

Resultado e discussão

Após a leitura em grupo, de texto sobre o solo e sua fertilidade, os termos grifados na maioria dos casos foram: elemento, substância, número atômico, tabela periódica, cátions, íons, minerais, pH, reações químicas, alumínio, micronutrientes, macronutrientes, densidade, osmose. Trabalhar com um texto introdutório como tema motivador constituiu uma metodologia importante por possibilitar ao aluno a percepção da Química como uma ferramenta ao uso nas áreas agrícolas. Observou-se isso quando um dos alunos comentou: “professor, o que é pH? Já ouvi falar mais não sei o que é!”. O aprendiz manifestou de forma espontânea a curiosidade em conhecer um termo Químico a partir de um texto introdutório que se relacionava com as áreas agrícolas. Os mapas conceituais solicitados e produzidos pelos alunos, a respeito do texto lido, serviram para indicar o grau de profundidade em Química que os mesmos tinham naquele momento. Elaborar coletivamente o mapa conceitual da disciplina Química tendo-se uma temática agrícola como elemento motivador contribuiu para a assepsia dos conteúdos (CHASSOT, 1995), como também os alunos puderam ter uma visão geral da disciplina para em seguida iniciarem-se os estudos dos tópicos específicos (AUSUBEL,1978), isso fica bem claro na afirmação de um dos alunos ao ver o mapa completo: “professor, a gente vai precisar saber disso tudo para entender a fertilidade do solo?” Isto fez com que os alunos pudessem se situar e organizar cognitivamente os conceitos, fazendo relações entre eles, ou seja, atribuindo-lhes significados. Na discussão deste mapa conceitual os alunos mostraram-se satisfeitos e entusiasmados em saber que eles estariam adquirindo condições de melhor entender e dominar tópicos relacionados à Fertilidade do Solo.

Conclusões

A utilização de texto introdutório, de temas geradores e de mapas conceituais constituem boas estratégias para a definição coletiva dos conteúdos disciplinares a serem ministrados e para a construção da ementa do Plano de Disciplina. A participação efetiva dos alunos nesse processo possibilita um maior potencial de significação da disciplina Química. Esperamos com esse trabalho ter contribuído para o jovem campo da Didática das Ciências e que essas estratégias possam estar presentes mais e mais em nossas realidades escolares.

Agradecimentos

Referências

AUSUBEL, D.P., NOVAK, J.D. and Hanesian, H.. Educational psychology. 6 ed. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1978.
CHASSOT, A. I.. Catalisando transformações na educação. E ed. Ijuí. Ed.INIJUÍ, 1993. 74p.
HENGEMÜHLE, A. Gestão de ensino e práticas pedagógicas. 3 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2004.
MATTOS, C.L.G. A abordagem etnográfica na investigação científica, 2001. Disponível em http://www.ines.gov.br/paginas/revista. Acesso em 12/12/2009.
MOREIRA, M. A. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. Resumo adaptado e atualizado, em 1997, de um trabalho com o mesmo título publicado em O ENSINO, Revista GaláicoPortuguesa de Sócio-Pedagogia e Sócio-Lingüística, Pontevedra/Galícia/Espanha e Braga/Portugal, N° 23 a 28: 87-95, 1988.
NOVAK, J. D. – An alternative do pigetian psychology for Science and mathematics Education. Science Education, 61 (4): 453-477, 1977(a)