Autores

Leão, M.F. (UNEMAT E UNIVATES) ; Oliveira, E.C. (UNIVATES) ; Del Pino, J.C. (UNIVATES) ; Dullius, M.M. (UNIVATES) ; Neide, I.G. (UNIVATES)

Resumo

O estudo teve como objetivo proporcionar reflexão crítica sobre a influência dos avanços científicos e tecnológicos da contemporaneidade na cultura indígena, na educação escolar e na forma de vida das pessoas. Esta intervenção ocorreu na IV etapa do Curso de Ciências da Natureza da Faculdade Indígena da UNEMAT de Barra do Bugres-MT. Participaram 11 professores de diferentes etnias e que atuam na Educação Básica do estado. Destes, 81,8% acessam a internet em suas escolas, porém em apenas 45,5% delas existe laboratório de informática montado.Dos softwares apresentados,animações da PUC/RJ tiveram a maior aceitação.Constatou- se a necessidade de buscar qualificação profissional para que a utilização dos novos recursos possam favorecer o ensino e a aprendizagem, além de preservar a cultura.

Palavras chaves

Nativos digitais; Autonomia; Ensino de Química

Introdução

Na atual conjuntura, observa-se que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia permitiu aos seres humanos ultrapassar os limites impostos pelo espaço-tempo. Na prática pedagógica, essa constatação implica redefinir a formação de professores de forma que estes compreendam a necessidade de viabilizar, por meio de suas práticas, abordagens que evidenciem a dimensão social do desenvolvimento científico e tecnológico. Para que serve um estudante “saber” todas as etapas do ciclo do carbono, por exemplo, mas não relacionar tais conhecimentos com sua prática cotidiana? Ao não perceber a relação entre o tema e a necessidade de consumir energias limpas, ou ainda não se preocupar em utilizar produtos de empresas Carbono Zero, o estudante comprova estar alfabetizado para as provas e não letrado para o mundo. Para Penick (1998), alfabetizar os estudantes em ciência e tecnologia é uma necessidade, uma vez que a aplicação de tais conhecimentos possibilita o desenvolvimento individual e social. A incapacidade de compreender e utilizar os saberes científicos e tecnológicos na vida cotidiana, configura-se em um problema porque inviabiliza os cidadãos de usufruir desse benefício. Segundo Giraffa (2010), são muitos os desafios a serem superados quanto ao uso de novas tecnologias no ensino, pois para haver mudança do analógico para o digital é preciso que o professor modifique sua prática pedagógica e incorpore novos procedimentos em sua atuação docente. Esse relato teve o objetivo de sensibilizar os professores sobre quanto os avanços científicos e tecnológicos influenciam na cultura de um povo e consequentemente no processo educativo. Também serviu para mapear a utilização de ferramentas tecnológicas em escolas indígenas e divulgar novos recursos digitais disponíveis.

Material e métodos

Este estudo relata a experiência ocorrida em janeiro de 2014, durante 4 encontros do Curso de Licenciatura Específica para Indígenas de Ciências da Natureza e Matemática da Faculdade Indígena Intercultural - Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Barra do Bugres-MT. A temática proposta para a IV etapa dos estudos presenciais foi a autonomia. Assim, na disciplina de Química para o Ensino, as formações visaram promover a alfabetização científica e tecnológica, inicialmente dos onze professores (de dez diferentes etnias) e posteriormente com aqueles que atingem em sua atuação profissional. Para iniciar a discussão, foi solicitado uma palavra a cada participante que descreve os estudantes de hoje. Após, foi lido o texto Nativos Digitais, Imigrantes Digitais (PRENSKY, 2001). Foi solicitado que durante a leitura destacassem as palavras que mais lhes chamassem a atenção. Elaborou-se então um mapa conceitual para sistematizar a conjuntura. No laboratório de informática, foram apresentados os softwares: objetos educacionais do MEC, animações de química da PUC do Rio de Janeiro, site do Museu Virtual da UnB e site Feira de Ciências. Em um outro momento, foram apresentadas algumas ferramentas disponíveis no Google, tais como: pesquisa, acadêmico, tradutor, e-mail e Maps.Foi solicitado que pesquisassem algum elemento da cultura indígena que poderá ser utilizado para ensinar química aos estudantes nas escolas onde atuam. No último encontro, foi dado um momento para que as pesquisas fossem apresentadas e socializadas com o grupo. Também foi feito um levantado quais recursos tecnológicos os professores mais gostaram e provavelmente utilizarão em suas aulas. Também verificou-se a forma com que as novas tecnologias estão sendo utilizadas nas escolas indígenas de Mato Grosso.

Resultado e discussão

A construção do mapa conceitual motivou os professores a buscarem formação continuada e utilizar os recursos tecnológicos no contexto educacional. Pelos conhecimentos prévios levantados antes da leitura do texto já se percebe que os estudantes da atualidade possuem características comuns, sejam eles indígenas ou não. As cores no mapa representam diferentes momentos. Em azul estão ideias iniciais, elaboradas a partir de suas experiências profissionais. Já a cor amarela representa as ideias acrescentadas após a leitura de Prensky (2001) e socialização das palavras mais significativas. Ao acessar os softwares educativos com animação gráfica, pode-se perceber um grande interesse pela atividade. Quando questionados sobre qual ou quais softwares mais gostaram de explorar durante a formação e que provavelmente utilizarão em suas aulas, os resultados encontram-se disponíveis no gráfico. Foi constatado que em apenas 45,5% de suas escolas está instalado o laboratório de informática,sendo que em um deles não é disponível acesso a rede. Três respondentes informaram que utilizarão tais objetos educacionais assim que tiverem acesso à internet em suas respectivas escolas. Uma vez solucionado o obstáculo da falta de acesso, outro procedimento necessário ao professor é selecionar quais recursos ofertados pelo ciberespaço melhor se adaptam aos objetivos que o professor determinou alcançar (GIRAFFA, 2010). Sobre em que local acessam a internet, 81,8% dos professores investigados acessam na escola, 18,2% acessam pelo celular, 9,1% em casa, 9,1% na sede da aldeia e 9,1% não tem contato e não acessam a rede. Contudo, para Chassot (2003), a alfabetização científica e tecnológica só será exercida plenamente se o cidadão tiver acesso e fazer uso do conhecimento e não somente das informações.

Mapa Conceitual

Características dos estudantes de hoje.

Escolha dos softwares mais atrativos

Objetos educacionais preferidos e que serão utilizados em suas aulas.

Conclusões

O uso dos avanços da ciência e da tecnológica no ensino, além de tornar as aulas mais atrativas e proporcionar novos conhecimentos, podem ser veículos de divulgação da cultura local bem como meios para preservar as tradições destes povos. Tais recursos favorecem o intercâmbio entre a cultura indígena e científica, colaborando assim para a autonomia destes povos. A intervenção colaborou para desconstruir a ideia de que a tecnologia é restrita a um grupo privilegiado de pessoas, ela comprova que mesmo nos lugares mais distantes e de culturas singulares é possível utilizá-la em favor da educação.

Agradecimentos

À Faculdade Indígena Intercultural da UNEMAT pela oportunidade e ao Centro Universitário UNIVATES pela excelente formação e agradável convívio.

Referências

CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: UNIJUÍ, 2003.
GIRAFFA, L. M. M. . Vamos bloggar professor? Possibilidades, desafios e requisitos para ensinar Matemática no século XXI? Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v.1. n. 2, p. 97-110, julho/dez 2010.
PENICK, J. E. Ensinando “alfabetização científica”. Educar em Revista, Curitiba, n. 14, p.91-113. Editora da UFPR. 1998.
PRENSKY, M. Digital natives, digital immigrants. On the Orizon. Estados Unidos. NcB University Press, v.9, n.5, Oct., 2001. Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/>. Acesso em: 10 jul. 2013.