Autores
Isaac, T. (UERR) ; Rizzatti, I. (UERR)
Resumo
A metodologia de ensino empregado hoje no ensino médio para não indígenas, utilizando apenas os livros didáticos tem dificultado o aprendizado de alunos, principalmente indígenas. Este trabalho teve como objetivo diagnosticar como ocorre o ensino de química na Escola Estadual Indígena Olegário Mariano na comunidade do Pium, Município de Bonfim-RR, com vistas a refletir sobre o ensino de química e propor uma discussão sobre a complementação das aulas de química através da inserção de atividades ou práticas locais que visem relacionar esta disciplina com a realidade local, aproximando assim, o saber tradicional e o conhecimento científico.
Palavras chaves
Aulas de química; Educação indígena; Conhecimento indígena
Introdução
A realidade do ensino nas escolas indígenas não é diferente das demais escolas em todo Estado de Roraima, ou seja, uma metodologia tradicional, onde o aluno apenas copia do quadro o que o professor escreve e baseada no livro didático que muitas vezes está distante da realidade daquele aluno. A falta de material didático voltado principalmente à realidade indígena compromete e muito o aprendizado do aluno, desmotivando-o a aprender diferentes conteúdos de diversas áreas do conhecimento, inclusive o de química. O resgate de costumes, tradições e também das línguas maternas nas comunidades indígenas reforça a nossa ideia de inserir o cotidiano do aluno nas atividades escolares, para tanto é necessário conhecer a realidade do ensino, neste caso, de química nestas comunidades, permitindo refletir sobre o ensino de química e propor uma discussão sobre a complementação das aulas através da inserção de atividades ou práticas locais. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é diagnosticar o nível de conhecimento dos alunos em relação à disciplina de química e o uso da experimentação na Escola Estadual Indígena Olegário Mariano na comunidade do Pium, Município de Bonfim-RR.
Material e métodos
Para obtenção dos dados aplicou-se um questionário para 25 alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Indígena Olegário Mariano, sendo que 8 do 1° ano, 10 do 2º ano e 7 do 3° ano. O questionário continha 13 questões, sendo 8 objetivas e 5 dissertativas, voltadas a realidade do ensino e principalmente para realidade da escola, a metodologia adotada pelo professor em suas aulas e o conhecimento adquirido na própria comunidade. Também se aplicou um questionário, com 29 questões, ao professor para conhecer o seu perfil e se ele já havia trabalhado ensino de química para indígenas.
Resultado e discussão
Foram analisadas apenas as questões objetivas respondidas pelos alunos, e 63%
dos alunos do 1° ano, 30% do 2° ano e 0% do 3° ano consideram que as aulas de
química são ótimas e destes, 13% dos alunos do 1° ano, 10% do 2° ano e 14% do 3°
ano consideram que as aulas são ruins. Em relação às aulas de química, 75% dos
alunos do 1° ano, 60% do 2° ano e 71% do 3° ano afirmaram que as aulas de
química são apenas teóricas e 13% dos alunos do 1° ano, 20% do 2° ano e 14% do
3° ano afirmaram que as aulas são teóricas e sem relação com o cotidiano. Sobre
a realização de atividades experimentais no ensino de química, 50% dos alunos do
1° ano, 50% do 2° ano e 71% do 3° ano afirmam que não são realizadas atividades
experimentais. Na correlação do conteúdo teórico com as atividades
experimentais, 63% dos alunos do 1° ano, 60% do 2° e 29% do 3° ano afirmam que
às vezes são correlacionados com o conteúdo teórico.
Ao analisar o questionário respondido pelo professor foi traçar o perfil deste
profissional. Ele não é formado em licenciatura em química, e sim, em
Licenciatura Intercultural, onde a formação é mais geral e se graduou em 2011. O
docente ministra as disciplinas de química, inglês e a língua materna Wapixana.
Relatou ainda, que não realiza aulas experimentais, tendo em vista que durante
sua formação não teve esta disciplina e que não existe um laboratório de
ciências na escola. O professor também foi questionado se durante sua formação
ele teve orientação de como trabalhar o ensino de química em comunidades
indígenas e ele relatou que: “não, porque em comunidades indígenas você tem que
trabalhar com outras disciplinas”.
Conclusões
A partir dos questionários, percebeu-se que apesar de terem aulas experimentais estas não estão relacionadas com o seu cotidiano. Talvez uma das explicações é que o professor que ministra a disciplina de química é formado em Licenciatura Intercultural, ou seja, mais generalista. Além disso, o livro didático utilizado não apresenta nenhuma relação com a realidade local. Assim, é necessário repensar o ensino de química em comunidades indígenas, complementando as aulas de química através da inserção de atividades ou práticas locais para despertar a curiosidade dos alunos.
Agradecimentos
Escola Estadual Indígena Olegário Mariano, comunidade Pium, Bonfim - RR.
Referências
CLEMENTINA, C. M. A importância do ensino de Química no cotidiano dos alunos do colégio Estadual São Carlos do Ivaí de São Carlos do Ivaí – PR, São Carlos do Ivaí – PR, 2011.
CHASSOT, ATTICO. Pra que é útil o ensino?/ Attico Chassot. - 2.ed-Canoas: Ed. ULBRA, 2004.
LÉVI-STRAUSS, CLAUDE. 1908-Pensamento Selvagem/ Claude Lévi-Strauss; tradução: Tânia Pellegrini – Campinas, SP: Papirus, 1989.