Autores

Freitas Portela, G. (IFRJ/NILÓPOLIS) ; dos Santos Malheiros, G. (IFRJ/NILÓPOLIS) ; Loureiro Silva, W.L. (IFRJ/NILÓPOLIS) ; Cardoso Messeder, J. (IFRJ/NILÓPOLIS)

Resumo

Química Verde não é um termo novo, porém, é pouco difundido em salas de aulas, sendo escassas as publicações científicas dedicadas as correlações dessa terminologia com o Ensino de Ciências. Portanto, realizou-se esta pesquisa com o objetivo de verificar concepções dos professores formadores de Química a respeito da Química Verde. Foram feitos um levantamento sobre o que a literatura de Ensino de Química vem reportando, e uma investigação com professores que atuam no curso de Licenciatura em Química do IFRJ. Os resultados mostraram a dificuldade dos professores em diferenciar Química Ambiental, Educação Ambiental e Química Verde, e ainda os obstáculos para que tal tema seja difundido de forma mais expressiva em sala de aula, principalmente nas licenciaturas em Química espalhadas no país.

Palavras chaves

concepções; professores formadores; Química Verde

Introdução

Devido aos avanços tecnológicos, diversas situações ao nosso redor ficaram insustentáveis, como por exemplo, o ritmo da utilização de recursos essenciais, das reservas de água doce, da produção de resíduos contaminantes, entre outros fatores, se tornando necessários estudos e práticas que ajudem a controlar esta situação, a fim de que não se perca o controle, neste campo temos inserido a Química Verde (VILCHES & PÉREZ, 2013). Com isso,a sustentabilidade ganha destaque, como por exemplo, o Rio de Janeiro foi sede para o Rio+20 em 2012, que foi a Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, cujo objetivo foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. Conforme observado por Cunha e Santana (2012, apud ZANDONAI et al., 2013), “ainda são escassos os relatos de aulas desenvolvidas ou adaptadas para o ensino experimental de Química Verde na graduação”, levando-se a considerar que os trabalhos e pesquisas nessa área de ensino ainda são poucos. De acordo com Bedolla (2013), a estrutura acadêmica ainda está baseada nas especializações, como por exemplo, o curso de Química é dividido em orgânica, inorgânica, físico- química, bioquímica e analítica. E para se ter uma ciência sustentável, que inclui a Química Verde, é necessária uma formação mais abrangente, interdisciplinar, a fim de envolver questões que vão surgindo ao longo do desenvolvimento. Em pesquisa realizada por Castro e Reis (2012), verificou-se que a maioria dos estudantes tinha a concepção de que o termo estava relacionado à química dos vegetais, devido ao termo “verde”. Dada a importância desse tema, a presente pesquisa objetivou levantar concepções de alguns professores formadores a respeito da Química Verde e os desdobramentos em suas aulas num curso de licenciatura.

Material e métodos

Realizou-se, primeiramente, um levantamento teórico através da internet acerca do que há na rede sobre a relação entre Química Verde e ensino. Verificou-se que existem poucos trabalhos publicados no Brasil que tratam sobre esse assunto e que apesar do termo ser antigo e de extrema importância no contexto industrial é pouco difundido em sala de aula. Em um segundo momento, foi realizada uma pesquisa exploratória na qual o pesquisador “[...]tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2002, p.42). O trabalho de pesquisa foi desenvolvido com professores do curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Nilópolis. Foram entrevistados 7 professores que atuam em diferentes áreas da Química. Foi solicitado aos professores que respondessem um questionário (Figura 1) com 6 questões em um prazo máximo de 2 dias. Seguindo as orientações propostas por Castro e Reis (2012), não foi entregue nenhum tipo de texto com embasamento sobre o tema, visto que se trata de uma instituição tradicional na área da Química, e que, supostamente, deve possuir uma preocupação ambiental consistente, assim como os seus professores, que em sua grande maioria são químicos e devem buscar conhecimento de forma atualizada nas questões ambientais. De acordo com Lenardão (2003), ao longo dos anos foi criado um consenso acerca dos 12 princípios básicos da Química Verde e como estes devem ser considerados quando se pretende implementar o tema em uma instituição de ensino na área da Química. Com isso, a análise das respostas consistiu em verificar se os professores conhecem e/ou utilizam os princípios de Química Verde em suas aulas.

Resultado e discussão

Os sete professores que participaram da pesquisa disseram conhecer o tema Química Verde. Do total de professores participantes da pesquisa, 14% apenas tiveram contato com o tema em sua graduação, 57% tiveram na pós-graduação e 29% tiveram seu primeiro contato a partir de outras fontes como, por exemplo, ao estudar para preparar suas aulas, em divulgações em congressos, ou ainda, analisando Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), dos quais eram membros de banca de avaliação. Ao serem questionados em relação à forma como a Química Verde aparece em suas aulas, um dos professores disse não abordar, outro disse que traz como forma de pesquisa para os alunos como, por exemplo, tema sugerido para apresentação de seminários. Três dos professores citaram ações que estão presentes nos doze princípios da Química Verde como, por exemplo, evitar o desperdício de produtos químicos, reduzir resíduos gerados, utilizar solventes menos tóxicos, buscar reações com maiores rendimentos evitando desperdício de energia e tempo. Outro professor fez confusão com o tema quando ressaltou apenas a importância do destino e tratamento de resíduos que são gerados. Com a análise da ultima questão, pode-se perceber que a maioria dos professores somente ouviu falar sobre o tema Química Verde nos cursos de pós-graduação, e mesmo assim grande parte trata o tema como Química Ambiental e/ou Educação Ambiental. Aqueles que registraram o primeiro contato com o termo no curso de graduação, demonstraram que sabem superficialmente acerca da temática. Os cursos de graduação de Química devem desenvolver uma visão integrada da Química com os princípios da Química Verde, e no caso da licenciatura em Química do IFRJ, que atualmente passa por revisão curricular, os resultados da pesquisa corroboram que a Química Verde.

FIGURA 1

Roteiro de perguntas destinadas aos professores formadores

Conclusões

Os resultados mostraram a dificuldade dos professores em diferenciar Química Ambiental, Educação Ambiental e Química Verde, e ainda os obstáculos para que tal tema seja difundido de forma mais expressiva em sala de aula. Portanto, é necessário que haja novas discussões acerca do tema e que mais professores estejam engajados na disseminação da Química Verde. Para isso, é importante que esse tema seja discutido nos cursos de graduação dentro de disciplinas no curso de Química, pois dessa forma os futuros docentes terão contato com um aporte teórico que permita a difusão do termo em suas aulas.

Agradecimentos

Aos professores do IFRJ/campus Nilópolis que contribuíram respondendo ao questionário.

Referências

BEDOLLA, C. A. Durabilidad humana y la educación química. Educación Química, v. 24, n. 2, p. 193-198, 2013.
CASTRO, D. L.; REIS, R. C. Química Verde: uma nova visão da química na opinião de alunos e professores do Ensino Médio. Revista Brasileira de Ensino de Química. v. 7, n. 2, p. 81-94, 2012.
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LENARDÃO, E. J. et al. Green chemistry – os 12 princípios da química verde e sua inserção nas atividades de ensino e pesquisa. Química Nova, v. 26, n. 1, p. 123-129, 2003.
VILCHES, A.; PÉREZ, D. G. Ciencia de la sostenibilidad: Um nuevo campo de conocimientos al que la química y la educación química están contribuyendo. Educación Química, v. 24, n. 2, p. 199-206, 2013.
ZANDONAI, D. P.; SAQUETO, K. C.; ABREU, S. C. S. R.; LOPES, A. P.; ZUIN, V. G. Química Verde e Formação de Profissionais do Campo da Química: Relato de uma Experiência Didática para Além do Laboratório de Ensino. Revista Virtual de Química. v. 6, n. 1, p. 73-84, 2014.