ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Alimentos
Autores
Larrosa, A.P.Q. (FURG) ; Comitre, A.A. (FURG) ; Teixeira, J.F. (FURG) ; da Silva, K.T. (FURG) ; Pinto, L.A.A. (FURG)
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar os compostos antioxidantes da microalga Spirulina sp. em secadores do tipo leito de jorro e de bandeja. A Spirulina sp. LEB-18 foi cedida pelo Laboratório de Engenharia Bioquímica da FURG. A biomassa foi seca a 80°C no leito de jorro, utilizando vazão de alimentação da suspensão de 150 mL/h, e a 55°C em bandeja, com escoamento paralelo do ar a uma velocidade de 2,5 m/s. A análise do infravermelho mostrou os grupamentos característicos de compostos fenólicos nos extratos metanólicos. A secagem em leito de jorro mostrou menor degradação dos compostos fenólicos (43,7%) e maior atividade antioxidante (60,8±4,4% de inibição de DPPH), em relação às amostras secas em bandeja.
Palavras chaves
Desidratação; Fenóis; Microalga
Introdução
O interesse por alimentos funcionais tem aumentado nos últimos anos, devido aos seus efeitos fisiológicos na saúde humana. Esses alimentos são normalmente enriquecidos, ou constituídos, por algum composto que seja capaz de desempenhar uma ação benéfica no organismo (HERRERO et al, 2005). Diante disso, destacam-se as microalgas, as quais são ricas em compostos antioxidantes, que previnem a oxidação das células causadas por espécies reativas de oxigênio, reduzindo a incidência de doenças degenerativas como câncer, doenças cardiovasculares, entre outras. Dentre as microalgas, a Spirulina tem sido amplamente estudada devido à sua rica fonte de proteínas, ácidos graxos poli-insaturados, vitaminas, minerais e aminoácidos essenciais. Além disso, estudos relatam que essa microalga possui propriedades antioxidantes devido à presença de carotenóides, ficocianina e compostos fenólicos (ESTRADA; BESCÓS; VILLAR DEL FRESNO, 2001; KEPEKÇI et al, 2013). Dentre os compostos fenólicos existentes na Spirulina destacam-se os ácidos orgânicos, como os ácidos caféico, clorogênico, salicílico, sináptico e trans-cinâmico, os quais podem agir individualmente ou sinergicamente como compostos antioxidantes (AMBROSI et al, 2008). Por ser uma matéria-prima com elevado teor de umidade, uma alternativa que tem sido utilizada na sua preservação seria a secagem da biomassa. Estudos têm utilizado diferentes métodos de secagem para sua posterior aplicação, seja para fins farmacêuticos ou como suplemento nutricional. Porém, o efeito da secagem nas suas propriedades antioxidantes, tem sido pouco relatado na literatura. Diante disso, este trabalho teve como objetivo de avaliar o efeito da secagem em leito de jorro e em bandeja nos compostos fenólicos e na atividade antioxidante da microalga Spirulina sp.
Material e métodos
A matéria-prima utilizada foi Spirulina sp. LEB-18, cultivada em meio Zarrouk em biorreatores abertos segundo Morais et al, (2008), cedida pelo Laboratório de Engenharia Bioquímica (FURG/RS). Os experimentos de secagem da biomassa foram realizados em dois distintos secadores, leito de jorro e de bandeja. Na secagem em leito de jorro, foram utilizados 500 g de partículas de polietileno, vazão de alimentação da biomassa de 150 mL/h, com concentração de 0,05 g/g de sólidos e temperatura do ar de secagem de 80±2°C. Também foi utilizado um secador de bandejas com escoamento paralelo do ar com temperatura de 55±2°C, espessura da biomassa de 4 mm, velocidade do ar de 2,5 m/s, segundo Oliveira et al. (2010). Os experimentos foram realizados em duplicata. As amostras secas em bandeja tiveram seus tamanhos de partículas uniformizados utilizando um moinho de facas (malha 500 µm) e um moinho de bolas (malha 75 µm), a fim de verificar se o tamanho de partícula também influenciava nos compostos fenólicos e na atividade antioxidante. Os compostos fenólicos foram determinados segundo a metodologia de Oliveira et al, (2007), utilizando o reagente Folin-Ciocalteau e uma curva padrão de ácido gálico. Os resultados foram quantificados em µgEAG/gamostra. A atividade antioxidante foi avaliada pelo método do sequestro do radical estável DPPH (2,2- difenil-1-picrihidrazil), segundo Brand-Williams, Cuvelier e Berset (1995). Os resultados foram avaliados estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Também foi realizada a análise de infravermelho dos extratos metanólicos da amostra seca em leito de jorro e em bandeja (moinho de facas e moinho de bolas), a fim de identificar os grupos funcionais presentes nos compostos fenólicos.
Resultado e discussão
A Tabela 1 apresenta os resultados referentes aos compostos fenólicos e a
atividade antioxidante da biomassa seca em leito de jorro e em bandeja.
Observa-se na Tabela 1 que em relação à amostra in natura, a secagem provocou
perdas nos compostos fenólicos da Spirulina, sendo que a maior degradação
(70,5%) ocorreu na amostra seca em bandeja com maior granulometria (MF). Perdas
de compostos fenólicos, após a secagem, são encontrados na literatura, por serem
termossensíveis e termolábeis (GEORGETTI et al, 2008). Verifica-se ainda que a
amostra seca em leito de jorro e em bandeja (MB) apresentaram valores próximos
de compostos fenólicos, por apresentarem na mesma faixa de granulometria (90-75
µm). Observa-se também que a atividade antioxidante representada pelo sequestro
do radical DPPH mostrou o mesmo comportamento que os compostos fenólicos.
Segundo a literatura, a degradação de fenóis pode ocorrer pela ação de enzimas
que inibem a ação antioxidante da amostra. Diante disso, verifica-se que a
secagem em leito de jorro foi a que provocou menores perdas de compostos
fenólicos, assim como sua atividade antioxidante não apresentou diferença
significativa ao nível de 95% de significância (p<0,05) em relação à amostra in
natura. A análise de infravermelho dos extratos metanólicos, identificou as
seguintes bandas características de compostos fenólicos: 3500/cm que corresponde
ao estiramento de N-H proveniente de proteínas; 3150/cm que corresponde ao
estiramento de O-H; 2750/cm e 2700/cm correspondem ao grupamento de aldeídos;
1700/cm corresponde ao estiramento vibracional C=O; 1300/cm corresponde as
vibrações fenólicas de C-O-H; 1100/cm corresponde ao estiramento de C-O e 800/cm
corresponde à deformação angular de anéis aromáticos (SILVERSTEIN; WEBTER;
KIEMLE, 2005).
Resultados dos compostos fenólicos e atividade antioxidante das amostras secas em leito de jorro e em bandeja.
Conclusões
Neste estudo, foi observado que os compostos fenólicos da microalga Spirulina sp. e sua capacidade antioxidante, foram influenciados significativamente (p<0,05) pelo método de secagem e pela granulometria. A biomassa seca em leito de jorro obteve melhores resultados devido à menor degradação de compostos fenólicos e atividade antioxidante próxima à amostra in natura. O espectro do infravermelho identificou os principais grupamentos característicos dos compostos fenólicos da biomassa de Spirulina sp.
Agradecimentos
Os autores agradecem a Furg, a Capes pelo apoio financeiro e ao Laboratório de Engenharia Bioquímica (LEB) pela matéria-prima.
Referências
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