DETERMINAÇÃO DE CONGÊNERES EM AMOSTRAS DE CACHAÇAS E AGUARDENTES DE CANA PRODUZIDAS NO ESTADO DE MATO GROSSO.

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Alimentos

Autores

Santos, J.M. (IFMT CAMPUS BELA VISTA) ; Masson, J. (IFMT CAMPUS BELA VISTA) ; Oliveira, V.L.N. (IFMT CMPUS BELA VISTA)

Resumo

A cachaça e a aguardente de cana são bebidas alcoólicas muito apreciadas no Brasil e no mundo pelo seu aroma e sabor característico. Em virtude das características do processo produtivo essas bebidas podem apresentar diferenças em sua composição química, sendo necessário o monitoramento de seus principais componentes. O objetivo desse trabalho é avaliar o teor de congêneres de 41 amostras de aguardente de cana e cachaças produzidas no Estado de Mato Grosso. O grau alcoólico real, acidez volátil, ésteres e aldeídos totais foram avaliados segundo metodologia descrita no Manual Operacional de Bebidas e Vinagres e o teor de álcoois superiores via CG-MS. Das amostras analisadas, 78% estão em desacordo com pelo menos um dos PIQ's estabelecidos pela legislação brasileira.

Palavras chaves

congêneres; bebida alcoólica; cana-de-açúcar

Introdução

A cachaça é uma aguardente de cana genuinamente brasileira, ocupando a segunda opção entre as bebidas mais consumidas no País. A produção nacional é de cerca de 1,2 bilhões de litros por ano gerando quase 600 mil empregos diretos e indiretos (SEBRAE, 2012). O estado de Mato Grosso com uma a produção estimada em cerca de 16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2013/14 (CONAB, 2013) possui um grande potencial para produção de aguardentes de cana e cachaças. Primando pela qualidade dessas bebidas, bem como zelando pela segurança de seus consumidores a Instrução Normativa nº 13 do MAPA, estabeleceu o Regulamento Técnico para Fixação dos PIQ’s para aguardentes de cana e para cachaças (BRASIL, 2005a). Além da água e do etanol que são os componentes majoritários, as cachaças e aguardentes são constituídas por uma série de outras substâncias denominadas de componentes secundários ou congêneres que estão presentes em pequenas concentrações e são responsáveis pelo aroma e sabor da bebida, e consequentemente por sua qualidade. Poucos são os dados referentes a qualidade da cachaça e aguardente de cana produzidas em Mato Grosso, portanto esse trabalho visa avaliar os teores dos componentes secundários de amostras de cachaças e aguardentes de cana produzidas no Estado de Mato Grosso, a fim de auxiliar o produtor no processo de produção.

Material e métodos

Foram coletadas somente amostras produzidas no Estado de Mato Grosso em todas as etapas do processo produtivo. Todos os produtores foram visitados e lhes foi aplicado um questionário a fim de levantar os dados referentes a produção e coletados 2 litros da bebida como amostras para as análises. Cada amostra foi identificada, lacrada e armazenada sob refrigeração e ao abrigo de luz até a realização das análises. As análises de grau alcoólico real, acidez volátil, extrato seco, ésteres totais e aldeídos totais foram realizadas no Laboratório de Bromatologia do IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista, seguindo metodologia descrita no Manual Operacional de Bebidas e Vinagres do MAPA (BRASIL, 2005b). Os álcoois superiores isobutílico (2-metilpropan-1-ol), isoamílicos (2-metilbutan-1-ol e 3- metilbutan-1-ol) e n-propílico (propano-1-ol) foram identificados e quantificados por cromatografia gasosa no Laboratório de Análises Físico- Químicas de Aguardente LAFQA/DQI-UFLA usando-se um cromatógrafo Shimadzu CG 17A, com injeção manual, detector de ionização de chama (FID), coluna DB-WAX, conforme metodologia empregada por Vilela et al (2007) e construiu-se curvas analíticas plotando-se a área do cromatograma versus a concentração da solução.

Resultado e discussão

Foram coletadas 41 amostras de cachaças e aguardentes de cana de 23 municípios do estado de Mato Grosso, produzidas por 22 produtores e 8 padronizadores, sendo: 23 cachaças de alambique; 10 cachaças de coluna; 4 aguardentes de alambique e 4 aguardentes de coluna. A graduação alcoólica obtida para as amostras variou de 23,93 a 54,63% (V/V), evidenciando que 43,9% das amostras, apresentaram graduação alcoólica fora do padrão estabelecido pela legislação. Em relação ao teor de ésteres totais os valores obtidos variaram entre 6,65 à 205,54 mg/100 mL a.a., sendo que somente uma amostra apresentou valor acima do máximo permitido que é de 200 mg/100 mL a.a. definidos pela legislação vigente (BRASIL, 2005a). A análise de aldeídos totais mostrou que somente 2 amostras, ou seja 4,9%, apresentaram teor acima dos 30 mg/100 mL a.a. definidos pela legislação vigente. A determinação do teor de álcoois superiores, evidenciou que os valores variaram entre 48,23 e 506,59 mg/100 mL a.a. e 5 amostras, 12,2% do total amostrado, ultrapassaram o valor máximo permitido de 360 mg/100 mL a.a. A IN 13 de 2005 do MAPA determina que os teores de acidez volátil, ésteres totais, aldeídos totais, álcoois superiores e furfural devem ser somados para se obter o coeficiente de congêneres e determina que a soma desses congêneres deverá estar entre 200 à 650 mg/100 mL a.a. Para as 41 amostras analisadas obteve-se valores entre 101,91 e 1098,39 mg/100 mL a.a., sendo que 90,2% das amostras encontram-se dentro dos padrões, 3 amostras apresentaram valores abaixo do mínimo permitido e somente uma amostra apresentou valor acima do máximo definido por lei.

Conclusões

Baseando-se nos dados obtidos no questionário aplicado aos produtores e nos resultados das análises, evidencia-se que muitos produtores de cachaça e de aguardente de cana do Estado de Mato Grosso tem produzido uma bebida de qualidade, porém alguns necessitam corrigir um ou mais parâmetros, a fim de adequar sua bebida aos padrões definidos pela legislação brasileira. O teor de grau alcoólico real foi o parâmetro que apresentou o maior número de amostras em desconformidade.

Agradecimentos

Os autores agradecem a CAPES/CNPq por financiar esse trabalho, ao DQI-UFLA e ao IFMT Campus Cuiabá-Bela Vista por permitir o uso dos Laboratórios.

Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa nº 13, de 29 de junho de 2005a. Aprova o regulamento técnico para fixação dos padrões de identidade e qualidade para aguardente de cana e para cachaça. Diário Oficial [da] União, Brasília, 30 jun. 2005. Seção 1.

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: cana-de-açúcar, segundo levantamento, agosto 2013. Brasília: CONAB, 2013.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Escola superior de propaganda e Marketing (ESPM). Estudo de mercado SEBRAE/ESPM: Cachaça Artesanal. Brasília: SEBRAE, 2013.

VILELA, F. J.; CARDOSO, M. G.; MASSON, J.; ANJOS, J. P. Determinação das composições físico-químicas de cachaças do Sul de Minas Gerais e de suas misturas. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 31, p. 1089-1094, 2007.

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