ISBN 978-85-85905-10-1
Área
Alimentos
Autores
Silva de Carvalho, C. (UFRA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; Carvalho de Souza, L. (SEMEC) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Souza Santa Rosa, R.M. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFRA)
Resumo
O presente trabalho buscou avaliar a qualidade dos méis produzidos no Nordeste Paraense. Foram utilizadas amostras de três espécies (Apis mellifera, Melípona fasciculatae Melipona flovoneata), e para tanto foi realizado testes de adulteração nos méis. A maioria dos méis testados apresentaram boa qualidade, no entanto algumas amostras de Apis mellífera mostram que podem terem sido adulteradas. Foi verificado que o teste de fermentos diastásicos se mostrou ineficaz para avaliar os méis produzidos pelas espécies Melípona fasciculatae e Melipona flovoneata, necessitando assim de melhores estudos que possam sugerir metodologias mais adequadas para estes tipos de méis.
Palavras chaves
testes de adulteração; mel de abelhas nativas; controle de qualidade
Introdução
O mel é um produto específico das abelhas que o elaboram a partir do néctar das flores (mel floral) ou de exsudações sacarínicas de outras partes vivas das plantas (mel de melato), que são coletadas e transformadas através da evaporação da água e da adição de enzimas (SODRÉ et al., 2003). A adulteração dos méis é feita devido ao alto custo do produto, da facilidade de incorporação dos adulterantes, da dificuldade de identificá-los, da dificuldade de identificação dos criminosos e da impunidade no país (VARGAS, 2006). Para Barth et al. (2005) a adulteração do mel pode ser feita por meio da adição de produtos açucarados, ou por superaquecimento do produto. Já Bertoldi, Gonzaga e Reis (2004) ressaltam que pode haver adulteração através do emprego de xarope de milho, de beterraba, e também xarope invertido, o qual é produzido por hidrólise ácida do xarope de beterraba que contém elevados teores de hidroximetilfurfural (HMF). Também pode ser adicionado açúcar comercial, derivados de cana-de-açúcar e de milho (ARAÚJO, SILVA e SOUZA, 2006). O presente estudo objetivou avaliar os méis produzidos no Nordeste do Estado do Pará, produzidas pelas espécies Apis mellifera, Melípona fasciculata (uruçu cinzenta) e Melipona flovoneata (uruçu amarela), usando testes de adulteração.
Material e métodos
Foram coletadas 18 amostras de méis em 7 municípios do nordeste paraense, nos meses de novembro de 2013 a abril de 2014, sendo 6 amostras referentes a espécie Apis melífera (Apis), 6 de Melipona fasciculata (U.C.) e 6 de Melipona flovoneata (U.A.), conforme Tabela 1. Os testes de adulteração utilizados foram o teste de Lugol, teste de Lund, reação de Fiehe e fermentos diastásicos, seguindo as metodologias sugeridas pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 1985). Foi também avaliada a cristalização do mel que consiste na simples observação da cristalização ou não dos méis mantidos sob refrigeração após dois meses da coleta. As análises foram realizadas em triplicata o Laboratório de Físico- Química do Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Todas as amostras forma obtidas diretamente dos produtos, sendo que as amostra de U.C. e U.A. foram coletadas diretamente dos favos de mel pelos autores deste trabalho, sem haver a menor possibilidade de adição de algum adulterante nestes méis. As amostras de Apis foram adquiridas após coleta feita pelos apicultores em momentos anteriores aos das coletas para a pesquisa.
Resultado e discussão
Os resultados dos testes de adulteração são mostrados na Tabela 1. O teste de
Lugol deu positivo para uma amostra, indicando que houve adição de açúcar
comercial. No teste de Lund para se ter um mel puro o resíduo dentro da proveta
deve estar entre 0,6 e 3,0 mL, observa-se que 5 amostras de U.C. e 1 de U.A.
apresentaram valores abaixo de 0,6 mL, como a coleta destes méis foi feita
diretamente dos favos de mel, com seringa, evitando ao máximo a contaminação com
outras partículas do meio, resultando nestes baixos índices obtidos neste teste,
pois estes resultados podem ser atribuídos não a adulteração do mel, mas sim ao
método de coleta que eliminou uma importante fonte proteína, que são os grãos de
pólen. Todavia, 2 amostras de Apis apresentaram valores superiores a 3,0 mL,
sugerindo adição artificial de algum material protéico (RIBEIRO et al., 2009).
Na reação de Fiehe duasamostrasde Apis apresentou coloração vermelha, sendo
indicio forte da presença açúcar invertido, podendo caracterizar fraude (RIBEIRO
et al., 2009). Os fermentos diastásicos deram positivo (adulterado) para todas
as amostras de U.C. e U.A., no entanto como este teste avalia se há ou não a
presença de enzimas diastásicos, e como as amostras foram coletadas diretamente
dos favos e foram armazenadas corretamente, conclui-se que este método não é
eficaz para méis destas espécies. Também 3 amostras deApis apresentaram
resultado positivo para fermentos diastásicos, indicando a presenças destas
enzimas. Todos os méis sob estudo cristalizaram em até 90 dias sob refrigeração,
sendo que a cristalização foi mais rápida nos méis de U.A e U.A do que nos de
Apis.
Conclusões
Conclui-se que os méis do Nordeste Paraense são de boa qualidade, principalmente os de U.C. e de U.A.. Todavia, este estudo sugere que sejam proposta de metodologias mais adequadas para avaliar os fermentos diastásicos Melípona fasciculata e Melipona flovoneata.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CTA e a UFRA pela infraestrutura e A Prefeitura Municipal de São Miguel do Guáma pelas amostras
Referências
ARAÚJO, D. R., SILVA, R.H.D., SOUZA, J.S. Avaliação de qualidade físico-química do mel comercializados na cidade de crato, CE. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 5, nº 1, 2006;
BARTH, M. O. MAIORINO, C., BENATTI, A.P.T., BASTOS, D.H.M. Determinação de Parâmetros Físico-químicos e da Origem Botânica de Méis Indicados Monoflorais do Sudeste do Brasil. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 25, n. 2, p. 229 – 233, abr./jun. 2005;
BERTOLDI, F. C., GONZAGA, L., REIS, V.D.A. Características físico-química de mel de abelhas africanizadas (Apis melífera scutellata), com florada predominante de hortelã-do-campo (Hyptiscrenata) produzido no Pantanal. In: IV Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal, Corumbá/MS – Nov. 2004;
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo, 1985, v. 1;
RIBEIRO, R. O. R., SILVA, C., MONTEIRO, M.L., BAPTISTA, R. F. GUIMARÃES, C. F. MÁRSICO, E. T., MANO, S. B. PARDI, H.S. Avaliação comparativa da qualidade físico-química de méis inspecionados e clandestinos, comercializados no estado do Rio de Janeiro, Brasil. R. Bras. Ci. Vet., v. 16, n. 1, p.3-7, jan-abr. 2009;
SODRÉ, G. S., MARCHINI, L.C., MORETI, A. C. & CARVALHO, C. A. L. Análises multivariadas com base nas características físico-químicas de amostras de méis de Apis melífera L.(Hymenoptera: Apidae) da região litoral norte no estado da Bahia. Arch. Latinoam. Prod. Anim. 11(3): 129-137.20013;
VARGAS, T. Avaliação da Qualidade do Mel Produzido na Região dos Campos Gerais do Paraná. Dissertação (mestrado em Ciência e Tecnologia de alimentos) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2006. 134p.