Autores
Silva, F.C.A. (IFPI) ; Mesquita, J.M. (IFMA) ; Carvalho, R.A.C. (IFPI)
Resumo
O estudo objetivou apresentar uma estratégia didática no Ensino de Química a ser aplicada nas aulas para direcionar o aluno a “pensar quimicamente”. A estratégi consistiu em 2 momentos: registro fotográfico no celular direcionado a química no espaço da escola, explicação escrita e socialização com a turma. A metodologia foi qualitativa e exploratório o trabalho foi aplicado em três turmas médio integrado em administração, informática e agropecuária do Instituto Federal do Piauí. Os resultados mostraram diversas imagens desde cabelos coloridos, bicarbonato de sódio, equipamentos de laboratório de química até máquina forageira. Essa estratégia auxiliou os discentes a apresentar conceitos químicos e facilitou a introdução ao estudo da química e correlação dos fenômenos observados.
Palavras chaves
Ensino de Química; Estratégia de Ensino; Pensar quimicamente
Introdução
No contexto científico e nanotecnológico que vivemos reafirmamos a defesa de Rheinboldt o químico e o professor de química precisam reaprender a “pensar quimicamente” ou a pensar por fenômenos (SENISE, 1994). Assim com as mudanças Química desde o surgimento de novas subáreas como a nanotecnologia, ciência dos materiais até o desenvolvimento de diferentes materiais e substâncias os químicos e professores de química se modificam para acompanhar esse movimento e estabelecer conexões e inter-relações com outras áreas. Frente ao contexto de transformações, para usar termos da química, fica o questionamento quanto tempo leva para as questões da ciência contemporânea chegar aos currículos escolares? Por exemplo, quanto tempo levou para as questões da mecânica quântica, geradas na década de 20, apresentasse impacto no Brasil? Reflexões estas que tem consequência no Ensino de Química nas escolas e no conteúdo abordado direcionado para formar cidadãos críticos com capacidade para se posicionar frente as diversas questões sociais. Destacamos que entre as finalidades da Educação Básica segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB Lei Nº 9.394/96, esta o preparo para o exercício da cidadania (BRASIL, 1996). No contexto do Ensino de Química enfatizamos as pesquisas da comunidade de educadores químicos brasileiros que defendem esta perspectiva alinhada a ciência (química) enfatizando o cuidado com o que realmente precisa ser ensinado para formar um cidadão. Significa apresentar a química e contextualizá-la para o discente a fim de desenvolver a capacidade de compreender os fenômenos, a teoria e a representação (triplete químico) por trás do processo de ensino e aprendizagem (SCHNETZLER; ANTUNES-SOUZA, 2019). Nessa perspectiva, exige-se do cidadão um conhecimento mínimo de química para estar inserido e compreender a sociedade tecnológica. Para Santos e Schnetzler (1996, p.28) "A função do ensino de química deve ser a de desenvolver a capacidade de tomada de decisão, o que implica a necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o contexto social em que o aluno está inserido", ou seja, o Ensino de Química pode contribuir para o desenvolvimento de capacidades de decisões fundamentadas e ponderar as diversas informações que temos acesso diariamente para analisar as consequências dessas ações. É importante que o Ensino de Química aborde conteúdos que possibilite aos professor relacioná-los e contextualizá-los com o cotidiano do aluno. Por isso destacamos a importância de pensar os fenômenos de forma a relacioná-los com os conceitos científicos, ou seja, é necessário refletirmos sobre porquê ou para quê ensinar determinado conteúdo ou conceito na química e como ensinar de forma a atingir a compreensão do aluno. Para entender porque o estudante no Ensino de Química precisa ser direcionado a "pensar quimicamente" é necessário refletirmos e nos questionarmos acerca dos conteúdos e conceitos aprendidos para assim ensiná-los. Concordamos com Santos e Schnetzler (1996; 2003) que os conteúdos e conceitos não podem ter um fim em si mesmos, mas serem trabalhados por meio de ideias gerais dentro de um contexto que leva a reflexão. Conforme Vieira, Melo e Viana (2018), os saberes desenvolvidos no Ensino de Química alinhados a concepção metodológica precisam estar embasados em estratégias didáticas para estimular a curiosidade e a criatividade dos estudantes direcionando assim às capacidades criativas e a percepção da ciência na sua vida mesmo nos fenômenos mais simples. Por isso para estimular a reflexão sobre a ciência pensamos em uma estratégia para o primeiro dia de aula de química do primeiro ano do Ensino Médio momento que muitos alunos estão iniciando o estudo efetivamente da química. Para direcionar os alunos a pensarem sobre os fenômenos químicos utilizando o aparelho celular para registrar imagens da escola dentro do contexto químico utilizando a linguagem química para sua explicação. Esta atividade leva o aluno e o professor a reflexão sobre o que registrar e qual abordagem química será trabalhada a partir da imagem coletada. Schnetzler e Antunes-Souza (2019) ressaltam que é necessários três componentes – fenômeno, linguagem e teoria (o triplete químico de Johstone) estejam presentes igualmente nas interações da sala de aula. Porque na dinâmica das interlocuções concorrem "linguagens e saberes cotidianos e científicos que são capazes de construir o conhecimento químico escolar"(p.951). Em suma, o trabalho objetivou apresentar uma estratégia didática aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio, ou seja, um registro fotográfico que compreendesse o contexto da química com base no triplete fenomenológico, teórico e representacional para direcionar na percepção e reflexão sobre a ciência ao seu redor e no fator formador "pensar quimicamente".
Material e métodos
O trabalho apresentou natureza qualitativa e exploratória (MINAYO, 2020). A estratégia didática de ensino de química foi aplicada em três turmas do Ensino Médio Integrado em Informática, Agropecuária e Administração do Instituto Federal do Piauí compreendendo cerca de 100 alunos. A estratégia didática para o aluno pensar químicamente consistiu em colocá-lo frente a uma situação que o levasse a reflexão sobre os conceitos químicos e os fenômenos no contexto da escola. Assim a estratégia didática apresentada pela professora consistiu em um registro fotográfico no espaço da escola que apresentasse a percepção do aluno sobre a química instigando sua reflexão e percepção da ciência. No segundo momento da aula foi realizado a explicação escrita da química presente na imagem e socializado com a turma. A atividade foi realizada em um tempo de duas horas no primeiro dia de aula da disciplina de química e as turmas eram heterogênea no sentido de que alguns discente estudaram química na série anterior e outro ainda não tinha sidos apresentado à disciplina. A apresentação do registro foi individual seguida da discussão pela turma, porque a partir do olhar do aluno foi possível apresentar alguns conceitos da química presente no contexto registrado. As fotos e os registros escritos foram analisados e estão apresentados no tópico a seguir.
Resultado e discussão
O estudante precisa ser direcionado a pensar quimicamente por meio de
estratégias didáticas porque para além do reconhecimento dos fenômenos as
atividades relacionadas ao tripleto químico podem ter um alcance maior na
formação do aluno, uma vez que podem ser planejadas para proporcionar a reflexão
e direcionar a compreensão de conceitos e desenvolvimento de habilidades
relacionadas ao contexto científico. Por sua vez ao professor cabe pensar e
repensar como ensinar e aprender conceitos científico para orientação do
pensamento do aluno. Isso corrobora com Freire (2011) ao defender que nas
condições de aprendizagem “reais” os estudantes se transformam em sujeitos de
construção e reconstrução do tema ensinado ao lado do professor em um processo
dinâmico.
Na estratégia didática proposta inicialmente os alunos ficaram apreensivos
pensando qual imagem registrar, após um certo período de reflexão e discussão
sobre a atividade e a importância de pensar como a química esta presente no
cotidiano prosseguiram com a atividade. As imagens foram catalogadas e
apresentaram uma diversidade de contextos desde a grama do jardim até os cabelos
coloridos. Em suma, 25% dos alunos registraram o extintor de incêndio que ficava
próxima a sala de aula e tinha o termo na embalagem " pó químico, outro item
mencionado em grande quantidade foi o bebedouro de água, o ar condicionado, o
fermento químico. Apresentamos a seguir alguns relatos dos alunos para elucidar
suas explicações sobre as imagens registradas: aluna (6) " Tiramos essa foto
porque achamos que o extintor é um objeto muito ligado a química, e vemos que a
química está principalmente no gás liberado por ele, além disso o gás é composto
por muitos componentes. O gás presente é o CO2- gás carbônico" Nesse relato
destacamos o fenômeno registrado a explicação téorica do objeto e sua relação
com a química e a representação da principal substância presente no extintor de
incêndio o CO2. Por meio do relato foi possível dialogar com a turma sobre a
presença do CO2 e suas características no cotidiano, por exemplo, o estado
físico da matéria.
A diversidade de registro predominou nas imagens como: o corpo humano, as
flores, água sanitária, tecido, álcool em gel, as plantas dormideiras, sal
(NaCl), entre outros. No contexto do triplete químico as imagens registradas
propiciaram o contexto de fenômenos que viabilizaram a discussão sobre a base
teórica e representacional dos mesmos.
Diante desse contexto o professor precisa questionar as hipóteses propostas
pelos alunos que os levaram ao registro da imagem de forma que não se limitem a
imagem pela imagem, mas consigam correlacioná-la a teoria e conceitos químicos
que já conheciam, ou seja, os conhecimentos prévios. Apresentamos para
exemplificar alguns relatos dos alunos para explicação das imagens feitas: Aluno
do curso de agropecuária (1) o moinho triturador de milho - "equipamento
utilizado para triturar grãos, composto por uma câmara de moagem metálica". A
aluno correlacionou a química e a agricultura ao abordar o processo de separação
de misturas por meio da atividade de moer o milho e separar os componentes
obtidos. Outro aluno da agropecuária registrou e explicou sobre a terra. Aluno
(2) " (...) a terra para servir para o plantio, é necessários produto e
substância química para torna-la mais fértil para o cultivo de árvores,
leguminosas, hortas, jardins e etc. O solo orgânico é composto de matéria
orgânica, ou seja, animais, vegetais e microrganismos em estado de
decomposição". Estes relatos (aluno 1 e 2) apresentam contextos que
possibilitaram discutir a importância da química para a agricultura e os
conceitos científicos relacionados ao cultivo e produção de alimentos.
Como discutido anteriormente, tal compreensão requer mediação, por parte do
professor, que considere as ideias dos alunos, articulação entre os três níveis
do conhecimento químico em um processo de orientar o pensamento deles por meio
das interações discursivas e de certa forma negociação de significados na
interpretação e na explicação da imagem analisada (SCHNETZLER; ANTUNES-SOUZA,
2019). Evidenciando o processo de reflexão e a estrutura e organização
conceitual para tal explicação. Nesse sentido foi discutido o conceito de
substância e mistura, por exemplo, o aluno (3) mencionou também o milho só que
com outra abordagem "ele contém uma substância química que deixa as sementes
mais resistentes a pragas e também faz com que elas aumentem a produção. A
composição do milho é luteína, alfacaroteno e betacaroteno" Essa explicação
possibilitou o direcionamento de muitos conceitos químicos sobre substâncias
presentes no milho e suas características na agricultura moderna.
Outro registro que possibilitou muitas discussões foi da aluna (20) foto do
cabelo, explicação " “A química da estética capilar se refere a beleza das
transformações químicas do cabelo. Todos os procedimentos capilares envolvem a
química desde as mais simples que realizamos cotidianamente como lavar e
condicionar até os mais complexos como alisar e colorir os cabelos" Esta aluna
apresentou também a composição do fio do cabelo e foi possível por meio da sua
explicação discutir sobre os elementos químicos que formam a proteína denominada
queratina, entre outros componentes do cabelo. A química relacionada ao cabelo é
uma temática próxima aos alunos por causa dos produtos que conhecem e utilizam
no cuidado com os cabelos. Esta temática gerou muita discussão e questionamento
que foi direcionado para a relação das substâncias químicas e sua toxidade no
cuidado com os cabelos.
Em suma, essa estratégia didática utilizada no primeiro dia de aula levou os
alunos e a professora há muitas reflexões sobre a presença e importância da
química no cotidiano no âmbito dos fenômenológico, teórico e representacional.
Desta forma a atividade permitiu concluirmos que o processo
de discussão e compreensão de conceitos cientifico não é linear, sendo
necessário a abertura de espaço para possibilitar a discussão de forma livre, os
alunos sejam ouvidos, os significados sejam confrontados e reelaborados. Como
destaca Chassot (2018) as atividades interativas que levam aos alunos a reflexão
podem a longo prazo contribuir par ao processo de alfabetização científica, pois
considera a ciência como uma linguagem que facilita nossa leitura de mundo.
Conclusões
O trabalho buscou discutir o "pensar químicamente" no sentido de apresentar uma estratégia didática que viabilizasse esta discussão baseado no triplete químico com base no aspecto fenomenológico, teórico e representacional. Assim a estratégia didática para o Ensino de Química do registro e discussão de imagens com alunos do primeiro ano do Ensino Médio no primeiro dia de aula possibilitou a apresentação de conceitos científico inseridos em um contexto permitindo pensar e abordar muitos assuntos explorados no estudo da química geral e seus aspectos representacionais de uma forma interativa e discursiva com a turma, por exemplo, substâncias, misturas, elementos químicos, a linguagem química representacional presente na química e sua importância para o estudo dessa ciência. A análise apresentada destaca a necessidade de pensar e repensar estratégias didática que direcionem para a reflexão sobre como ensinar química para formar cidadãos críticos que se envolvam com a ciência e o papel do professor no direcionamento das ações propostas em um processo dinâmico que direcione para a formação científica.
Agradecimentos
Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União. Brasília: 1996.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 8 ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2018.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
MINAYO, M. Pesquisa social qualitativa para compreensão da Covid-19. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 3. doi:https://doi.org/10.21675/2357-707X.2020.v11.n3.4437, 2020.
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SANTOS, W. ;SCHNETZLER, R.P. Educação em Química: Compromisso com a cidadania. 3ª ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
SCHNETZLER, R. P.; ANTUNES-SOUZA,T. Proposições Didáticas para o Formador Químico: A Importância do Triplete Químico, da Linguagem e da Experimentação Investigativa na Formação Docente em Química. Quim. Nova, v. 42, n. 8, 947-954, 2019.
SENISE, Paschoal E. Rheinboldt, o pioneiro. Estudos Avançados, v. 8, n. 22, p. 199–203, 1994. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141994000300020 Acesso em: 12 jul. 2023.
VIEIRA, W. E. S.; MELO, H. D. F.; VIANA, K. D. S. L. Estratégias didáticas no ensino de química: concepções e práticas do profissional da educação e suas relações com a aprendizagem de conceitos. In: V Congresso Nacional de Educação, 2018.