Autores

Santos, M.C.M. (UFPI) ; Silva, F.C.A.S. (IFPI CAMPO MAIOR)

Resumo

O estudo objetivou mostrar conceitos científicos como radioatividades, propriedades dos materiais e energia em obras ficcionais com abordagem na área de ciência em uma exposição em duas escolas. Com Metodologia qualitativa foi feito uma revisão bibliográfica que subsidiaram a construção da exposição organizada com aspectos científicos por trás da caracterização e dos poderes de personagens fictícios, Pantera Negra e The Flash. Realizou-se durante a exposição correlações entre ficção e ciência, promoveu curiosidade e questionamentos acerca dos poderes dos super-heróis. Portanto, a exposição como espaço de discussão científica no Ensino Ciências auxiliou na compreensão da relação entre as propriedades dos materiais, tabela periódica dos elementos e transformações para auxiliar na aprendizage

Palavras chaves

Ensino de Ciências; Super-heróis; Obras ficcionais

Introdução

As áreas científicas e suas subáreas a partir das pesquisas e produção de conhecimento desenvolvem aspectos que permitem subsidiar correlações com a ficção científica voltada ao entretenimento. Aliado a isso estão as obras cinematográficas, que podem desempenhar um papel fundamental na socialização e difusão de conhecimentos nas áreas científicas dos educandos. Na literatura são encontradas produções com essa abordagem Amorim, Silva (2017) pesquisou o filme de Sherlock Homes e seus aspectos fenomenológicos voltados ao Ensino de Química; Kundu (2019) correlacionou os elementos da tabela periódica com o Vibranium e uma possível classificação periódica. Pinto (2020) explorou as super-heroínas no Ensino de Ciências e seus super poderes. O ensino de Ciências, principalmente, química e física utilizando o contexto da ficção permite estabelecer um diálogo com os discentes e promover a discussão de conceitos científicos. Apesar das obras ficcionais da Rede Marvel e DC Comics entre outras não estarem voltadas ao ensino, estas podem ser utilizadas como ferramentas tendo em vista a abordagem científica de algumas cenas. Dessa forma, ao expor trechos específicos presentes em quadrinhos, filmes, desenhos e séries na sala de aula é possível criar um espaço para os discentes correlacionarem determinado conteúdo com o contexto, pode assim haver um maior aproveitamento do assunto trabalhado, promovendo uma análise crítica, investigativa e científica para esses (AMORIM; SILVA, 2017). Destarte, a maioria dos elementos presentes nas obras de ficção, como o Vibranium do filme “Pantera Negra” que possui potenciais de dureza, absorção de energia e suas transformações em vibrações, resistência, propriedades magnéticas entre outras; pode-se comparar com a de elementos presentes na tabela periódica e suas aplicações, como por exemplo o aço e sua dureza, titanium e sua resistência no assunto de propriedade dos materiais, ligações químicas (KUNDU, 2019). Além disso, é importante salientar que o ensino com essa perspectiva auxilia na compreensão dos conteúdos, bem como para um olhar crítico aos cenários que podem aparecer nos filmes de ficção, demonstrando uma análise de correlação com a ciência (SOARES, 2016). Como forma de ressignificar os poderes, elementos e vestimentas tecnológicas dos super-heróis, na exposição científica foi estabelecido correlações de elementos ficcionais, Vibranium (Pantera Negra), Adamantium (Wolverine), Amazonium (Mulher Maravilha) e Dilithium (Star Trek) devido a suas propriedades físicas e químicas na tabela periódica instigando o questionamento dos visitantes. Os elementos ficcionais supracitados, trazem consigo propriedades que chamam bastante atenção, o primeiro elemento tem potencial de absorver ondas e outras vibrações, o segundo de ser indestrutível e quando superaquecido é maleável, o terceiro é extremamente durável e resistente e o quarto é capaz de regular o fluxo de energia e estabilidade da reação de dobra, permitindo viagens espaciais seguras e eficientes, como mostra na série. A partir dessas temáticas é possível estabelecer conexões de maneira interativa com os alunos no ensino de química e física, na qual, possibilita o viés dos estudantes a interagirem e a relacionarem esses assuntos com os conteúdos vistos em sala de aula, motivando a conexão desses com histórias e universos fictícios que eles conhecem e apreciam (AMORIM; SILVA, 2017). Para além dessas obras cinematográficas, os quadrinhos e livros também auxiliam na educação sendo um aliado no Ensino de Ciências, tornando-se um recurso didático e acessível para discussão de conceitos científicos. Nesse sentido para exemplificar uma dessas aplicações destacamos a questão 15 da prova a Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) em 2021 que apresenta uma notícia de jornal eletrônico que relaciona-se com o filme X-Man Origen: Wolverine, cujo personagem principal tem o esqueleto revestido por uma liga metálica indestrutível. A questão explora os conceitos científicos das características do elemento químico mercúrio e da contradição na relação feita pelo rapaz entre o personagem Wolverine e o elemento químico mercúrio. Ao discutir conceitos científicos na sala de aula com essa abordagem é possível explorar a química e a física de certa forma direcionando o olhar crítico dos alunos para situações com a citada anteriormente. Por tanto, o estudo teve o objetivo de expor conceitos científicos como radioatividades, propriedades dos materiais e energia em filmes, desenhos e séries com abordagem na área da química e física em duas feiras de ciências da rede Federal e Estadual, em Campo Maior, Piauí e estabelecer correlações com os conhecimentos dos visitantes sobre a temática para auxiliar no entendimento de conceitos científicos, dentro e fora da sala de aula.

Material e métodos

O trabalho apresentou uma pesquisa qualitativa, na qual, por meio da interpretação dos fenômenos, os autores buscam atribuir significados e contribuições ao objeto de estudo no caso a área de Ensino das ciências a partir da contextualização das obras cinematográficas analisadas (AUGUSTO, et al, 2013). Realizou-se também uma revisão bibliográfica para levantamento da literatura sobre a temática para estabelecer parâmetros no planejamento e construção da exposição. A equipe do projeto constitui-se por três alunos do Ensino Médio Integrado do IFPI, e uma aluna do curso de bacharelado em Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O planejamento e exposição do projeto dividiu-se em 4 etapas: 1°) Estudos de revisão, direcionados para como abordar as obras cinematográficas no Ensino de Ciências e projetá-las para a realidade de alguns conceitos discutidos, radioatividade, energia, transformações, elementos químicos; 2) Escolha e análise dos trechos de filmes, séries e desenhos, que mostram elementos ficcionais e outras propriedades em suas armaduras e poderes. Os filmes e desenhos escolhidos como referência foram: Liga da justiça, Pantera negra, The Flash, Os Simpsons, Harry Potter. 3) Planejamento e construção de um livreto especificamente sobre o Vibranium; 4) Exposição em duas escolas, uma da rede federal a outra estadual. 4.1) Ornamentação do espaço, exposição de cenas dos filmes, visualização do livreto e experimentação com a fluorescência - porque é comum observar super- heróis emitirem luzes que brilham no escuro, como o Vibranium, justificando assim a analogia com a fluorescência. O experimento utilizou lâmpada de luz negra, o preparo de soluções com as tintas presentes no marcador de texto de diversas cores, béquer, erlenmeyer, tubo de ensaio e um ambiente escuro. 4.2) Espaço aberto para discussão sobre o projeto com os visitantes, e como eles poderiam identificar a ciência presente nos elementos expostos e nas obras cinematográficas.Os alunos visitavam o espaço em um grupo de no máximo dez pessoas para facilitar a discussão e o entendimento do objetivo da exposição. Ao final das duas exposições foram aplicadas quatro questões abertas aos alunos da equipe do Ensino Médio Integrado participantes do projeto sobre o planejamento das ações e o momento da exposição. Considerando que estes alunos participaram da fase de planejamento com a leitura de artigos e da construção da exposição momento que possibilitou uma maior integração e interação com a temática abordada. Os dados foram catalogados e analisados e estão apresentados na seção a seguir.

Resultado e discussão

A sala tematizada continha ilustrações de super-heróis voltadas aos cenários científicos presentes nos filmes, séries e outras animações. No momento inicial da exposição foi apresentado por meio de vídeos curtos como já supracitado anteriormente situações onde a ciência estava presente, indagando aos alunos onde eles achavam que tinha química e física nas cenas. O cenário também foi ambientado com a exposição de uma amostra do livreto autoral, desmistificando e mostrando possibilidades de terem outros elementos com propriedades próximas a do Vibranium e se ele poderia existir no contexto real. Os super heróis abordados foram criados e popularizados principalmente pela rede Marvel e DC Comics conhecidos mundialmente como empresas que criam narrativas envolventes com personagens icônicos que são absorvidos pela “cultura pop”, popularização que de certa forma facilita o estabelecimento das correlações entre poderes e conceitos científicos. Pode-se citar como exemplificação o diálogo espontâneo dos alunos ao visualizarem cenas e imagens da liga da justiça na batalha final, corrida do flash na velocidade da luz, radioatividade na Usina Nuclear de Springfield, a luta entre o Capitão américa e o Pantera Negra, demonstrando a nanotecnologia nas vestimentas e a resistência dos materiais. Momentos esses que instigam a curiosidade e a indagação de alguns questionamentos, por exemplo: “Como o flash consegue atravessar paredes apenas vibrando?”; “É possível alguém correr e soltar raios como o flash?”; “Por que as roupas dos super-heróis não se destroem quando estão em batalhas?”; “Por que algumas armaduras emitem luz e parecem ser metálicas?”. Esses questionamentos podem ser pontos iniciais para explicações de conceitos científico nos conteúdos vistos na escola, como a Segunda Lei de Newton e Propriedade dos materiais. O interesse pela temática entre os alunos foi identificado no momento das explicações acerca de diversos conteúdos que eles estudam e que apareciam nas obras fictícias. A partir disso, tem-se o pressuposto de como essas obras podem de maneira indireta serem aliadas e auxiliar no ensino de disciplinas de ciências, em especial para este estudo a química e a física para alunos da educação básica, contextualizando os cenários abordados com a prática ou com conteúdos fundamentais de tais disciplinas (SILVA et al, 2015). Considerando ainda, a perspectiva lúdica do ensino, abrindo espaço para a participação dos estudantes de maneira dinâmica e diversificada, haja vista as interpretações que podem ter das cenas mostradas no momento da apresentação, desenvolvendo a socialização, formação de pensamentos e respostas acerca dos conteúdos e uma visão mais ampla de como a ciência é dinâmica e histórica. Análogo a isso, a ficção científica e o Ensino de Ciências possuem entremeios que podem complementar-se a partir da formação de um dinamismo que possibilita o despertar cognitivo ao mundo, ou seja, haverá uma maior percepção à aprendizagem, com raciocínio, compreensão e analogias do que pretende-se demonstrar (FERREIRA, 2016). Nos trechos de filmes e imagens analisadas foi explorado os conceitos científicos por trás do caráter ficcional. No Quadro 1 encontram-se a obra ficcional e a proposta científica explorada. Em suma, obteve-se observações e diferentes ideias do que os trechos das obras tratavam, por sua vez, algumas cenas não foram compreendidas tão facilmente onde a química ou a física estariam presentes, isso porque ainda não tinham conhecimentos dos conteúdos para tal discernimento. Ao final da exposição foi apresentado o experimento que fez menção ao super-poderes por meio da fluorescência e os alunos foram levados a escreverem em seus braços, com marcador, um super-poder ou um desenho, porém não viam a olho nú, mas quando colocaram sob a luz negra se surpreenderam ao perceberem o que tinham escrito. A figura 1 mostra um desses momentos. Nesse momento foi discutido sobre o modelo quântico associado ao trecho dos filmes abordados anteriormente e explicado sobre os saltos quânticos. Pinto e Soares (2022, p. 29) destaca que as relações dos poderes com os conteúdos de química podem estar ligadas “aos vários processos de transformação da matéria, ao mundo quântico, ao controle dos produtos tóxicos e à presença da água como substância principal de alguns dos poderes citados. ”. Em suma, foi realizado um apanhado geral dos conceitos científicos apresentados com a exposição para uma melhor compreensão do público sobre a importância da ciência e sua presença no cotidiano. Com o entendimento do que foi proposto aos alunos e os objetivos do trabalho, é necessário deixar claro que alguns dos conceitos abordados nessas obras, mesmo com um cunho científico, há também a extrapolação desses, pois buscam chamar atenção do público, crianças e jovens, podendo apenas fazer analogias e não levar como verdade absoluta (FERREIRA, 2016). Nesse sentido para exemplificar uma dessas aplicações retomamos a questão 15 da prova a Olimpíada Brasileira de Química (OBQ, 2021) em 2021 que apresenta uma notícia de jornal eletrônico que relaciona-se com o filme X-Man Origen: Wolverine. Segue o trecho da questão: “Na Índia, um adolescente injetou mercúrio nas veias, inspirado na gênese de Wolverine, em X-men. O rapaz chegou a um hospital com feridas múltiplas, não cicatrizadas, no antebraço esquerdo. O metal teria sido obtido após a quebra de um termômetro e de um medidor de pressão. Ele admitiu ter se inspirado no longa X-Men Origens: Wolverine (2009) (...)”. A questão explora os conceitos científicos das características do elemento químico mercúrio e da contradição na relação feita pelo rapaz entre o personagem Wolverine e o elemento químico mercúrio. Em relação aos alunos que participaram do planejamento e exposição nas escolas, apresentamos trechos de algumas de suas percepções sobre o objetivo do trabalho. Aluno 1 “A química, em especial, está presente em quase tudo. As interações mais curiosas são em relação ao mundo quântico, produtos tóxicos, etc”;“aprendi que devemos ter uma percepção a mais em relação a ciência, como os fenômenos que estão ao nosso redor acontecem” Aluna 2 “(...)um tema aberto ao público, algo que a maioria dos adolescentes/adultos já viram, na qual desperta muita atenção. ” Aluno 3 “Esses tipos de palestras (aulas) são de grande importância, pois leva o aluno a interagir com a química em um mundo onde ele tem domínio. A maioria dos adolescentes e jovens conhecem esse mundo de filmes com super heróis, como a Marvel, DC, entre outros, levar a química a essa realidade aumenta até mesmo o interesse dos alunos sobre essa matéria. ” Os alunos ressaltaram a percepção da química nos fenômenos do cotidiano e sua importância para a formação científica. Considerando que o contexto discutido dos filmes e desenhos está próximo do público jovem, torna-se um espaço propício para iniciar tal abordagem e incentivar o interesse dos alunos pela química e física. As práticas educativas que alinham ciência e entretenimento buscam por meio de um caminho indireto estimular o estudo das disciplinas científicas como as mencionadas.

Figura 1:

Exposição dos superpoderes escolhidos pelos alunos e \r\nescrito com marcador com visualização sendo possível \r\npor meio da luz negra

Quadro 1:

Obra ficcional com o momento a ser analisado e o \r\ntema proposto.

Conclusões

Por tanto, a discussão em torno dos conceitos científicos como radioatividade, propriedades dos materiais e energia em filmes, desenhos e séries com abordagem na área da química e física em duas feiras de ciências da rede Federal e Estadual, na cidade de Campo Maior, Piauí possibilitou um oportunidade para estabelecer correlações com os conhecimentos dos visitantes sobre a temática, e auxiliou no entendimento de conceitos científicos. Desta forma utilizando esta estratégia de Ensino a Ciência e a ficção científica contribuem para a percepção mais crítica de cenas de filmes, trechos de desenhos animados que podem ser discutidos na escola sempre com um olhar atento ao caráter real e ao ficcional. No trabalho foi correlacionado os elementos ficcionais da tabela periódica com os reais para possibilitar um espaço de discussão para o público da exposição. Vale ressaltar que durante a exposição alguns alunos tiveram dificuldades de detectar alguns conceitos e até propriedades químicas, o que foi resolvido a partir de uma nova explicação sobre como algumas situações estavam acontecendo, utilizando analogias. Outro ponto interessante foi a atenção dada por parte dos discentes desde as cenas exibidas, a apresentação, demonstração do livreto até o experimento da fluorescência. Assim, o estudo possibilitou um espaço do ensino de Ciência de maneira integrativa, social e dinâmica. A presença da ficção científica no contexto do Ensino de Ciência já é verificado em questões de olímpiadas e exames vestibulares mostrando a relevância dessa estratégia na sala de aula. Com base na pesquisa realizada destaca-se a necessidade de mais estudos direcionados para aprender ciência utilizando diferentes linguagens e recursos podendo alinhar entretenimento e ciência e não apenas pela reprodução acrítica.

Agradecimentos

Referências

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