Autores
Chagas de Araujo Oliveira, F. (IFCE - CAMPUS BOA VIAGEM) ; Ferreira Soares, R. (IFCE - CAMPUS BOA VIAGEM) ; Silva Santos, J. (IFCE - CAMPUS BOA VIAGEM) ; Carvalho dos Santos, C. (IFCE - CAMPUS BOA VIAGEM)
Resumo
O presente trabalho tem como intuito utilizar a contextualização no processo de ensino e aprendizagem por meio da Química forense. Para isso, utilizou uma metodologia de caráter qualitativo-quantitativo, exploratória e aplicada, por meio da aplicação de questionários online. Dessa forma, a partir dos resultados, verificou-se que 34,3% dos alunos tem conhecimento superficial sobre pericia e Química forense, enquanto 62,5% não possui nenhum conhecimento, além disso 50% dos alunos classificaram o componente curricular como interessante, vale também ressaltar, que alunos se sentiram mais entusiasmados em estudar Química a partir da contextualização com a temática forense com utilização de experimentos, contribuindo de forma relevante para o processo de ensino e aprendizagem de Química.
Palavras chaves
Química forense; Experimentação; Perícia Criminal
Introdução
O componente curricular de Química é conhecido pelos alunos como uma “disciplina complexa”, consequência, muitas vezes, de uma abordagem valorativa que se limita à abrangência de cálculos, fórmulas e leis, isto é, uso de interpelações não subjacentes a prática cotidiana, situação oposta as que são requeridas no âmbito dos documentos oficias e apresentadas em muitos livros didáticos. Neste sentido, infere-se que os processos de ensino e aprendizagem de Química ocorre de forma tradicional e mecanizada, não priorizando a contextualização com o cotidiano do aluno (SILVA, 2013). Mediante isso, deve-se levar em consideração o sistema educacional que os alunos estão inseridos, uma vez que esse passa por constantes dificuldades que reverberam nos aspectos cognitivos e, consequentemente, gera uma rejeição pelo componente curricular de Química. Deste modo, se faz necessário o uso de estratégias e ferramentas para contextualiza o ensino de Química durante o ensino médio. Diante disso, é possível afirmar que uma das formas de mudar esse cenário é utilizar temáticas que despertem a curiosidade e faça uso abrangente do método cientifico, como as que compõem o ramo da Química forense, visto que gera grandes debates entre alunos da educação básica (SANTOS; AMARAL, 2020). Neste contexto, aponta-se a ciência forense como uma área de atuação interdisciplinar, pois envolve temas concernentes a Biologia, Física, Matemática e Química, esta sendo considerada uma ramificação que abrange conceitos químicos para elucidação de crimes contra a pessoa humana, meio ambiente, dentre outros (SILVA; ROSA; GALVAN, 2014). Essa pesquisa se faz oportuna e necessária, pois pode despertar no aluno o instinto investigativo e científico, podendo contextualizar essa temática com o seu cotidiano, visto que o nosso país vive, nos últimos anos, um crescente aumento de crimes, já que no ano de 2019 foram registradas cerca de 47. 742 mortes, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as quais podem ser classificadas como violentas ou intencionais (CERQUEIRA et al., 2021). Dessa forma, a polícia civil necessita de um ramo mais específico da criminalística como a Química forense, que trabalha com investigação de drogas ilícitas e licitas, coleta de impressão digital e de material genético, identificação de mancha de sangue, dentre outros. Vale ressaltar que algumas vertentes investigativas da ciência envolvem conhecimentos de Química básica que podem ser trabalhados em laboratórios das instituições de ensino, trazendo para o referido componente uma segunda opção de aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem, possibilitando a inserção no contexto escolar da subárea de Química forense, que tem como base muitos conteúdos abordados no componente curricular de Química. O presente trabalho tem por objetivo analisar a temática Química forense como uma aplicação contextualizadora no componente curricular de Química no ensino médio, com alinhamento entre teórico, que é abordado em sala de aula, e o prático, que será trabalhado através de experimentos relacionados à referida subárea, além de um paralelo entre realidade e imaginação. Desse modo, serão aplicados dois questionários de caráter qualitativo-quantitativo visando obter os resultados acerca dessa temática abordada.
Material e métodos
Neste artigo a metodologia utilizada é considerada aplicada, de gênero prática baseada em Paiva (2019), em que se utiliza métodos quantitativos-qualitativos para coleta de dados, para melhor conhecer o fenômeno a ser estudado (RICHARDSON, 2012). É uma pesquisa de exploratória, a qual tem a intenção de oferecer uma ampla visão sobre a Química forense na 1ª série, de uma escola pública da Rede Federal de Educação utilizando a contextualização como uma aliada no processo de ensino e aprendizagem, por meio da investigação e experimentação no ramo forense. O presente trabalho está dividido nas seguintes partes: (i) aplicação do questionário de forma presencial e escrito contendo 8 questões objetivas e discursivas , para obter dados sobre o conhecimento prévio dos alunos sobre Química forense; (ii) ministração de uma aula expositiva dialogada sobre pericia forense e seu campo de atuação, além da apresentação da aplicabilidade da subárea de Química forense; (iii) aplicação de uma oficina de cena de crime fictícia por meio da utilização de um roteiro investigativo; (iv) ministração de mais uma aula dialogada para debater as suspeitas preliminares levantadas após análise da cena de crime fictícia; (v) realização de uma aula prática em laboratório com a utilização de algumas técnicas da Química forense; e aplicação do último questionário de forma online contendo 11 questões objetivas e discursivas, aplicado no laboratório de informática por meio da plataforma google forms. As duas aulas teóricas ministradas tiveram, de forma ordinal, o seguinte roteiro: apresentação histórica da pericia forense, atuação e conceitos iniciais da Química forense, sendo montada posteriormente uma cena de crime fictícia que retratava um possível homicídio. Em seguida foi ministrada a segunda aula onde os alunos expuseram suas suspeitas preliminares sobre a cena de crime, com o posterior debate. Para realização da aula prática foram preparados e separados todos os reagentes a serem utilizados, o reagente Kastle-Meyer foi preparado dois dias antes da pesquisa, devido a sua demora, pois necessita de altas temperaturas e depois um resfriamento à temperatura ambiente. Também foi preparada antecipadamente, a solução para a extração do DNA a partir do morango, assim como, os matérias a serem utilizados na coleta de impressão digital, enquanto isso, para cromatografia líquida foram separados os reagentes e vidrarias necessária. Desse modo toda a parte experimental foi realizada no laboratório de Química, sendo importante ressaltar que toda a parte prática foi supervisionada pela pesquisadora como também pela professora regente.
Resultado e discussão
Os resultados foram obtidos por meio de dois questionários, sendo o primeiro
aplicado para obter informações sobre a percepção dos alunos sobre as aulas de
Química. Enquanto isso, o segundo questionário foi aplicado após a parte
procedimental.
4.1 Questionário 01
Através das respostas obtidas na questão 1 sobre a classificação do componente
curricular de Química em que, observa-se de acordo com os resultados
demostrados no gráfico 1, que os alunos à classificaram como: “Interessante”, “
Legal”, “ Complicada”, “Outros” .
Conforme os dados, 50% (16 alunos) dos alunos classificaram o componente
curricular de Química como “Interessante”. Esse fato acontece devido o
componente curricular de Química explicar diversos fenômenos do ponto de vista
científico, sanando, assim, diversas curiosidades como relatam os alunos
identificados pelas letras: A-“ Interessante, tem várias coisas, você descobre
várias curiosidades”; B- “Legal, mas complicada” e C- “ Eu gostei de estudar
sobre a tabela periódica”. Desse modo, percebe-se que os alunos são atraídos
pelo encantamento que a Química propõe, mas também ressalta sua complexidade.
4.1.2 Questionário 02
O questionário 02 é composto por questões objetivas e subjetivas, nas quais os
alunos relataram suas dificuldades e perspectivas após a aula experimental e as
demais atividades que foram desenvolvidas ao longo da pesquisa, como também no
componente curricular de Química. Diante disso a questão 1 buscou identificar as
dificuldades encontradas durante as atividades, onde poderiam assinalar as
seguintes opções: “Sim”; “Em poucos momentos”; Nenhum momento”.
É notório que os alunos desempenharam todas atividades desenvolvidas
com pouca ou nenhuma dificuldade. Mostrando que aulas práticas de cunho
investigativo contribui positivamente para os processos de ensino e
aprendizagem, promovendo a interação entre professor e aluno por meio de uma
metodologia mais ativa (POLETTO, 2017).
Logo, a questão 3 indagou a respeito da contribuição da contextualização no
ensino de Química como meio de assimilação com fatos do cotidiano, com os
resultados que foram obtidos, onde os alunos tinham a opção de marcar as
seguintes afirmativas em relação a contextualização. “Sim”; “Talvez”; “Outros”.
Desse modo, a utilização da temática forense favoreceu a compreensão de alguns
de conceitos químicos que foram abordados durante as aulas tais como: separação
de misturas, funções orgânicas como também podem ser trabalhadas o conteúdo de
oxirredução, tabela periódica, densidade e temas interdisciplinares entre a área
de Química e Biologia. Ademais, a contextualização problematizada estimula os
aspectos cognitivos do aluno por meio do raciocino lógico, compreendendo de
forma científica fatos que são noticiados e vivenciados no cotidiano (COELHO;
LIMA, 2020). No entanto, é necessário que o professor planeje aulas mais
contextualizadas e dinâmicas com base no que norteia os documentos oficiais para
educação como a BNCC .
A questão 4 buscou saber a respeito da motivação dos alunos para estudar Química
após apresentação e abordagem da temática Química forense. Observa-se no
resultado obtido sobre a referida pergunta, que dispunha de opções para serem
assinaladas: “Bastante motivado”; “Motivado”; “Outros”.
A partir disso, os resultados apontam que 62,5% (20 alunos) dos alunos se sentem
bastante motivado em estudar Química por meio da abordagem forense, enquanto
34,4% (11 alunos) estão apenas motivados e 3,1% (1 aluno) apontam outros meios
de motivação para estudar Química. Mediante isso, quando os alunos conhecem
novas abordagens sendo forense ou não para o ensino e aprendizagem de Química
ficam mais motivados, visto que a Química é uma área extremamente vasta.
Desse modo, para motivar cada vez mais o aluno é necessário utilizar estratégias
pedagógicas, por meio da inclusão das Tics, oficinas e aulas práticas em
laboratório, onde a Química possa ser estudada de forma desmitificada e
contextualizada com o cotidiano do aluno, não levando apenas em consideração o
conteúdo didático, mas também o ambiente sociocultural que o aluno está inserido
(SANTOS; SILVA; LIMA, 2013; CHAVES; MEOTTI, 2019).
É importante ressaltar, que aplicação de oficina temática onde os alunos foram
protagonistas e puderam ser “peritos por um dia” como também as aulas práticas
em laboratório, contribuíram positivamente para a construção de saberes
científicos, pois eles vivenciaram na prática, técnicas para coleta de
impressões digitais, identificação de mancha de sangue, cromatografia forense e
extração do DNA.
Adicionalmente, as questões 8 ,9 e 10 buscaram saber a opinião dos alunos sobre
alguns experimentos realizados no laboratório de Química. Pormenorizando, a
questão 8 buscou conhecer a opinião dos alunos para o experimento de coleta de
impressão digital por meio da utilização do carvão em pó. Os alunos
identificados pelas letras A- “Achei muito interessante, não imaginava que a
prática seria daquela maneira, me surpreendeu achei muito legal”. B- É bem
interessante, eu sempre tive curiosidade de fazer essa prática.”
A questão 9 buscou saber as considerações dos alunos a respeito da prática
sobre a extração do DNA a partir do morango. O aluno A – mencionou: “Gostei
bastante, a forma que podemos ver a mistura heterogênea, o DNA do morango na
espuma e suas cores vibrantes”; o aluno B- afirmou: “Foi surreal, nunca tinha
visto um experimento assim tão de perto, me fez querer aprender mais sobre
separação de células e testar mas, seria muito legal se cada aluno trouxesse
para o laboratório o que queria testar, pois o diálogo também ajuda muito na
nossa aprendizagem”.
Já a questão 10 buscou verificar a opinião dos alunos sobre a prática de
cromatografia liquida para o aluno A- “Foi bem interessante, e despertou
interesse em aprender mais sobre”; enquanto isso para o B- “ Foi algo novo,
saber que de uma cor, originou várias outras.”
Portanto, aulas práticas em laboratório é um meio de motivar e incentivar o
aluno para o estudo de ciências despertando seu interesse através da
curiosidade.
De forma abrangente, a questão 11 condensa o que foi discutido nas 7, 8, 9 e 10,
sobre a contribuição da experimentação por meio da Química forense para o
processo de ensino e aprendizagem. Desse modo verifica-se onde os alunos
responderam “Sim sempre que possível”; “Não” “ Sim, mas raramente” para
utilização dessas metodologias.
De acordo com os resultados, 93,8% (30 alunos) dos alunos preferem que sempre
que possível sejam ministradas aulas de forma experimentais, visto que na
perspectiva deles são mais proveitosas e dinâmicas para os processos de
aprendizagem, no entanto 6,3% (2 alunos) acham que aulas práticas em laboratório
devem ser ministradas para que possam ser intercaladas com outras metodologias,
como aulas de campos, vistas técnicas entre outras.
Desse modo, a experimentação como também outras metodologias citadas
anteriormente, podem se tornar uma aliada nos processos de ensino e
aprendizagem, uma vez que essas atividades não se limita apenas ao laboratório e
ao preparo de soluções, mas também estimula a curiosidade do aluno, podendo ser
dividida em três eixos: a experimentação show, que tem foco principal em atrair
atenção do aluno; ilustrativa, que visa mostrar na prática conceitos estudados
em aula; e a experimentação investigativa, sendo desenvolvida pelo aluno onde
ele possa atribuir um significado para atividade e o professor irá atuar apenas
como um mediador do conhecimento (TAHA et al., 2016). Portanto, a Química é uma
ciência contemplativa, onde possibilita trabalhar diversos conteúdos de formas
variadas e atrativas além da experimentação e a utilização do laboratório.
Conclusões
Destarte, a presença da Química forense no cotidiano do aluno, mesmo que de forma indireta, pode gerar uma inquietude e fazer com o que o mesmo busque saber mais sobre esse ramo, e assim despertar um interesse não somente pela Química forense como também pelo componente curricular. Além disso, por meio da oferta de oficina e atividade experimental e aulas expositivas e dialogadas foi possível desmitificar a percepção enfadonha do componente curricular de Química. Desse modo, a contextualização aliada a uma temática que favoreça a promoção de debates, investigações e a fatos do cotidiano, promove um ensino de Química mais atrativo e dinâmico relacionados aos conteúdos abordados em sala de aula. Além disto, com base nos dados que foram obtidos e discutidos os alunos nas suas repostas manifestaram que aulas contextualizadas e experimentais contribuem de forma positiva para seu processo de aprendizagem.
Agradecimentos
IFCE - Campus Boa Viagem
Referências
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