Autores

Lopes, C.C. (UEMA) ; Khan, A. (UEMA) ; Fernandes, R.M.T. (UEMA)

Resumo

O uso e a importância dos medicamentos têm aumentado na sociedade atual, tornando crucial a abordagem dos impactos desses na natureza, dentro das escolas. Embora sejam importantes, jogá-los no lixo ou no sistema de esgoto pode contaminar o solo e todo o meio aquático.Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a percepção dos alunos de uma escola em Apicum-Açu/MA sobre o destino dos fármacos, e sensibilizá-los quanto à importância do descarte correto. Aplicou-se um questionário e realizou-se palestras sobre os males decorrentes do descarte incorreto, incentivando-os a multiplicarem essas informações em suas casas e meio social. Por fim, este estudo propiciou conhecimentos conceituais e práticos em Educação Ambiental, despertando interesse na difusão das informações adquiridas.

Palavras chaves

Sensibilização ; Educação Ambiental; Conhecimento

Introdução

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), medicamento é qualquer produto farmacêutico adquirido ou elaborado para uso preventivo, terapêutico, paliativo ou para fins diagnósticos (BRASIL, 2004). Vital, De Araújo e De Carvalho Abreu (2022) relatam que estudos apontam o Brasil estando entre os países que mais consomem medicamentos no mundo, porém, nem os consumidores e muito menos os responsáveis pela produção e distribuição dessas substâncias, têm obedecido a legislação acerca dos limites e obrigações para a dispensação correta. Silva et al. (2023) e Ferreira, Abreu e Rapado (2019) estimam que cerca de 30 mil toneladas desses resíduos sejam descartadas anualmente no País, sendo esses vencidos, em desuso ou impróprios para consumo. Esse alto número de descarte é, também, resultado das famosas farmácias caseiras, que a cultura de automedicação instalou nas residências nacionais. Essa prática, faz com que medicamentos se acumulem e, uma vez tendo como fins a rede de esgoto e lixo doméstico, contaminem o solo, os rios, lagos e os lençóis freáticos, onde tornam-se substâncias tóxicas e impactam diretamente o meio ambiente, cadeias alimentares e ciclos biogeoquímicos (ALENCAR et al, 2014). Sendo provenientes dos medicamentos descartados, esses componentes químicos expõem potencialmente a natureza a riscos, como o desequilíbrio da fauna e da flora, devido a quantidade e ações dessas substâncias (VITAL, DE ARAÚJO e DE CARVALHO ABREU, 2022; FERREIRA, SILVA e PAULA, 2005). Um sério problema existe devido à falta de conhecimento da população e à ausência de orientação sobre a destinação adequada dos medicamentos, bem como os potenciais problemas que surgem quando essa destinação é feita de maneira incorreta. Miranda et al., (2018) destacam “[...] o descarte inadequado é feito pela maioria das pessoas por falta de informação e divulgação sobre os danos causados pelos medicamentos ao meio ambiente e por carência de postos de coleta”. Quanto às principais vias de entrada desses agentes contaminantes no ambiente e a forma que acontecem, Miranda et al., (2018) ainda ressaltam que “[...] a principal forma de entrada de resíduo de medicamentos no meio ambiente é por meio do lançamento direto de medicamentos na rede de esgotos domésticos tratados ou não em cursos de água”. Assim, a educação ambiental tem um papel importante na construção de uma sociedade sustentável e, para que o descarte correto de medicamentos ocorra, além das leis relacionadas a essa questão ambiental, é necessária uma sensibilização da população de modo geral desenvolvendo a consciência ecológica nas crianças, jovens e adultos (MELLO; TRAJBER, 2007). Ela também busca primordialmente desenvolver cidadãos atuantes, capazes de reconhecer os desafios ambientais e engajar-se de forma efetiva em sua resolução e prevenção, para que, em consequência, esses cidadãos contribuam para a conservação do nosso patrimônio comum, abrangendo tanto os aspectos naturais quanto culturais. Além disso, espera-se que eles ajam, se organizem e lutem por melhorias que promovam a sobrevivência das gerações presentes e futuras, aspirando a um mundo mais justo, saudável e agradável do que o atual (MELO, 2007). No entanto, para que essa sensibilização tenha sucesso, é primordial traçarmos o perfil da população e seus conhecimentos em relação ao problema. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo fazer um levantamento do perfil do conhecimento prévio de alunos do Ensino Médio da rede pública, no que se refere ao descarte final de medicamentos domiciliares e seus efeitos quando realizado de forma inadequada.

Material e métodos

Utilizando metodologia quantitativa, visando atingir o objetivo deste trabalho, elaborou- se um estudo descritivo e como procedimento técnico, fez-se um levantamento amostral mediante a aplicação de um questionário composto por três perguntas simples, mas imprescindíveis para o desenvolvimento do estudo. A amostra foi constituída de alunos residentes de vários bairros no município, sendo o período de coleta dos dados entre os dias 15 e 18 de agosto de 2022, em Apicum-Açu – MA. O local de realização da pesquisa foi a única escola da rede estadual de ensino, localizada no centro da cidade, por nome Centro de Ensino Amado Joaquim, e os alunos participantes da pesquisa são todos pertencentes ao Ensino Médio dessa instituição. Aplicou-se o questionário em sala de aula e posteriormente, foram realizadas palestras com o intuito de apresentar os problemas ambientais decorrentes do descarte inadequado de medicamentos, sendo os alunos, mobilizados a disseminar essas informações em seus lares e espaços sociais que frequentam. Adicionalmente, foram promovidas rodas de conversa como oportunidades para discussão e reflexão sobre o tema, permitindo que os discentes expressassem suas opiniões e esclarecessem eventuais dúvidas. Quanto às perguntas, tiveram como objetivo identificar o conhecimento da população escolhida quanto as formas de dispensação, os riscos desses resíduos ao meio ambiente e o motivo do descarte incorreto. Foi estipulado o tempo de um minuto para cada participante e as listas eram recolhidas após o término das aulas, no mesmo dia.

Resultado e discussão

Quanto à aplicação do questionário, teve- se participação de 300 alunos, do total de 654 alunos do ensino regular (sem considerar a Educação de Jovens e Adultos – EJA), entre 14 e 19 anos, pertencentes aos três anos do Ensino Médio, que dispuseram tempo e aceitaram responder às perguntas. Esses alunos, quando questionados sobre a forma de descarte de medicamentos feita em suas casas, 60% (n = 180) disseram jogar no lixo comum, 22% (n = 66) jogam no vaso sanitário, 12% (n = 36) levam para farmácias e afins, o que é correto conforme a RDC – Resolução da Diretoria Colegiada n. 44 – 2009 que institui quais os estabelecimentos que podem participar de coleta seletiva de fármacos vencidos (BRASIL, 2009), e 6% (n = 18) descartam em pias e de outras formas. Quando questionadas sobre o conhecimento dos riscos que essa prática traz à saúde e ao meio ambiente, 55% (n = 165) afirmaram saber/imaginar os riscos e 45% (n = 135) disseram não ter conhecimento algum sobre o assunto. Esse resultado evidencia que pouco mais da metade dos entrevistados têm consciência que o descarte incorreto pode ocasionar impactos negativos ao ambiente, e ainda complementaram com algumas falas importantes, como as citadas a seguir: “as substâncias químicas dos remédios pode contaminar o meio ambiente”; “os medicamentos podem intoxicar os animais”; “se jogar no lixo e depois alguém mexer, pode passar mal”; “contaminam os animais que nos alimentamos”; “contaminam a água e o solo”. Já para a terceira pergunta, quanto à razão da dispensação, 58% (n = 174) alegaram não saber a forma ambientalmente correta de descarte, 25% (n = 75) responderam que não descartam corretamente por que moram distante dos locais em que poderiam devolver, 12% (n = 36) afirmaram levar para farmácias por saberem que é o mais apropriado e 5% (n = 15) falaram que seus medicamentos não chegam a passar da validade, pois compartilham com familiares e vizinhos. Novamente um dado preocupante, pois fica evidente que a carência de informação continua sendo um forte agente contrário ao descarte ambientalmente correto desses resíduos. Corroborando com esses resultados, Tavera et al. (2017) em um de seus estudos, mostraram que os alunos entrevistados em totalidade, consideraram importante que essa dispensação de fármacos seja feita em locais apropriados, mas desses, 80% (n = 24 alunos) não tinham conhecimento de ambientes que recebessem esses resíduos. Pinto et al. (2014) salientam em seu estudo que 92% (n = 564) das pessoas entrevistadas não possuem conhecimento dos estabelecimentos de recolhimento dos resíduos farmacêuticos, reforçando que a população efetua o descarte inadequadamente por falta de informação. Com dados semelhantes, as pesquisas de Almeida, Holanda e Chaves, (2014) e Pinto et al. (2014) demonstram a predominância de pessoas (66% e 91%, respectivamente), que descartam os medicamentos no lixo comum e 21%, na pesquisa do primeiro autor, dispensa no vaso sanitário, já uma pequena parcela (4%) informaram outras formas de descarte. Ainda nessa linha, entrevistados do estudo realizado por Tavera et al. (2017), afirmam que 70% rejeitam seus medicamentos em suas residências de forma incorreta, citando lixo comum, e outros 23% destinam a uma instituição de saúde. Indo de encontro com o presente estudo, ainda Tavera et al. (2017), trazem a maioria dos entrevistados em sua pesquisa (63%) declarando conhecer como consequência da dispensação incorreta, a contaminação do meio ambiente e a intoxicação de animais e pessoas quando encontram esses resíduos no lixo, além da resistência de micro- organismos. Com base nas respostas do questionário, obtivemos uma visão abrangente das informações que os alunos possuem acerca do descarte de medicamentos. Conforme previsto, a maioria dos discentes têm contato regular com medicamentos no seu dia a dia, porém, demonstraram falta de conhecimento sobre a forma correta de descartá-los. Por isso faz-se tão necessária a sensibilização da população em relação ao descarte dessas substâncias, pois poucas são as opções de pontos de coleta na cidade. E essa falta de informação anteriormente citada, quanto à forma e locais corretos de dispensação, estão diretamente ligadas a fatores socioeconômicos e, também, culturais (SOUSA et al., 2020). Por fim, no decorrer do tempo em sala de aula com os alunos, pôde- se fazer um breve momento de mobilização sobre a correta forma de dispensação dos medicamentos vencidos ou em desuso e, após o término da pesquisa, foram feitas algumas sugestões de lugares para o descarte desses fármacos na cidade de Apicum-Açu – MA. No mais, foram distribuídos folders educativos e figuras de estações coletoras participantes de iniciativas e projetos que contribuíam para a sustentabilidade do planeta.

Conclusões

A realização do presente estudo permitiu que os alunos tivessem acesso a conhecimentos sobre conceitos e práticas em Educação Ambiental, despertando neles o interesse e a motivação para compartilhar as informações adquiridas. Quanto aos resultados, esses comprovam que os estudantes da instituição têm práticas errôneas se tratando do descarte de medicamentos em suas residências , apesar de demonstrarem conhecimento em relação às consequências do descarte indevido. Além disso, foi mostrado aos participantes que os fármacos podem trazer danos à saúde pública, sob certas condições, justamente por serem considerados resíduos perigosos, e permitiu, mesmo em meio aos desafios socioeconômicos e à falta de materiais educativos apropriados em relação à educação ambiental nas escolas, assim como projetos que visem sensibilizar sobre a importância do descarte adequado de medicamentos, os alunos desenvolver uma visão crítica sobre seu próprio comportamento em relação ao meio ambiente. Os dados obtidos mostram que 88% das pessoas erram a forma de descarte, mas 42% têm consciência desse erro, não sabendo onde e nem como dispensar corretamente. Nessa pesquisa pode-se, também, proporcionar uma pequena mobilização e sensibilização dos alunos sobre o descarte correto de medicamentos vencidos ou em desuso, além de alertá-los sobre os perigos do acúmulo dessas substâncias e da automedicação. Por fim, o resultado das entrevistas permite inferir o desconhecimento da população com o correto descarte de fármacos inutilizados, sendo uma experiência formadora de cidadãos mais conscientes e difusores de boas práticas ambientais.

Agradecimentos

Referências

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