Autores

Silva, A.M. (UECE/UFC)

Resumo

Educação Química é o ramo da educação aplicada à área de Química, e, portanto, quando se está conscientizando quimicamente as pessoas a agirem corretamente, protegerem a saúde, seu bem estar e o do próximo, como também a preservação do meio ambiente, estamos aplicando a educação química. Como exemplos, podemos citar: data de validade de um produto; poluição do ar e das águas; uso adequado do lixo; sustentabilidade; alimentos tratados com agrotóxicos. A Educação Química não acontece somente em sala de aula, mas no meio no qual a comunidade vive. Qualquer trabalho, seja científico, tecnológico ou industrial da área de química, que cumpra esse papel, será tratado como da Educação Química. O objetivo deste trabalho é mostrar como teve início a Educação Química e sua atual evolução no Brasil.

Palavras chaves

Educação Química; Ensino de Química; Livros Didáticos

Introdução

De acordo com Afonso et al. (2019, p. 4), desde o 1º Congresso Brasileiro de Química - CBQ, realizado em novembro de 1922, já existia a preocupação com a educação e o ensino da química no país, com duas finalidades principais: a) para fins de formação de profissionais qualificados, para enfrentar os desafios causados pelo atraso do setor industrial químico nacional; b) para dar à química ministrada nos ensinos técnico e secundário (atual ensino médio) uma sintonia com a evolução dos avanços tecnológicos verificados, especialmente, a partir do final do século XIX. A criação dos cursos de licenciatura em química, na década de 30 do século XX, decorreu de necessidades formativas de profissionais que viessem atender ao projeto educacional do Brasil urbano-industrial, em que segmentos da sociedade civil reivindicavam a expansão das oportunidades educacionais. O número de estudantes que optavam pela carreira de professores do ensino secundário não era expressivo, frente às necessidades que se instalavam no contexto de expansão educacional da época. Levantamento realizado por Beisiegel citado por Schnetzler (2002), aponta que no período de 1937 até 1965, somente 38 dos 316 alunos formados pelo Departamento de Química da USP neste período fizeram opção profissional pelo magistério secundário. Antes da década de 70 do século XX, poucos docentes se preocupavam com o Ensino de Química, principalmente com pesquisa nesta área. Existiam poucos livros de química de autores brasileiros, que eram elaborados praticamente com conteúdo teórico e exercícios. Os professores de química transmitiam os conteúdos dos livros, havendo pouca associação com o dia-a-dia. O Ensino de Química tem evoluído nas últimas décadas. Os anos de 60 e 70 do século passado presenciaram muitas mudanças nos cursos de química, tanto em termos de conteúdo como de metodologia que podem ser comprovadas pelos inúmeros projetos inovadores de ensino surgidos nos Estados Unidos e Reino Unido, principalmente trazendo propostas de novas abordagens metodológicas e dando o grande tributo de atualizar os conteúdos transmitidos na escola de 2o Grau (CHRISPINO, 1989, p. 17). Por volta dos anos 60, foram introduzidos no Brasil através da Universidade de Brasília – UnB, livros de ciências, de origem americana, tais como: Química CBA – Sistemas Químicos (Chemical Bond Approach Project), figura 1, e Química – uma ciência experimental (CHEMS - Chemical Education Material Study), figura 2, logo assimilados e adotados nas universidades brasileiras. Esses livros destacavam três temas fundamentais: estruturas, ligações químicas e energia, assuntos até então destacados precariamente nos livros brasileiros. Introduziam a linguagem dos gráficos e alguns procedimentos de laboratório que visavam fazer do estudante um verdadeiro investigador, descobrindo informações, planejando experiências para a solução de um problema e, até mesmo, ampliando suas investigações além da fronteira da química atual. Na década de 70 do século passado, iniciaram-se melhorias no ensino de química nas universidades, com grupos de professores preocupados em propor mudanças na metodologia utilizada pelo professor na transmissão dos conteúdos para os alunos. Na época se destacaram os grupos formados nas Universidades do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e Unicamp. No final do século XX novos grupos foram consolidados em várias IES do país. Destacam-se pesquisas em educação química nas Universidades, Institutos Federais, Escolas de Ensino Fundamental e Médio e Centros de Pesquisa com o objetivo de tornar o ensino de química mais compreensível e atraente para os alunos. Os trabalhos relacionados com a Educação Química são divulgados nas revistas, congressos e feiras de ciências. Existem também outros eventos relacionados com a química, com destaque para as Olimpíadas e Maratonas de Química. Outros trabalhos são: Teses de Doutorado, Dissertações de Mestrado, Monografias e TCCs. É importante ressaltar o fato de que a década de 80 do século XX se constituiu como um marco para a área de educação química, tanto por mostrar-se fecunda em relação à organização da área constituída quanto em relação à "nova" liberdade de expressão de ideias, considerando-se o momento de transição política de ditadura para democracia. Tal liberdade possibilitou à área influenciar políticas públicas educacionais com mais ênfase que no período de vigência do Regime Militar (MESQUITA e SOARES, 2011). A partir dos anos 80 um novo campo de pesquisa vem se destacando no Brasil: a área de pesquisa em Ensino de Química, como marcos iniciais, a realização do 1o Encontro de Debates sobre o Ensino de Química – EDEQ, organizado em 1980 por Áttico Chassot, no Rio Grande do Sul e, em 1982, o 1o Encontro Nacional de Ensino de Química – ENEQ, realizado no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (FRANCISCO, 2006, p. 14).

Material e métodos

Para a realização deste trabalho fez-se pesquisa em material impresso e da internet, desde 1808, quando da chegada no Brasil da família real. Com as atividades das disciplinas de química, nas aulas que começaram a ser ministradas na Academia Real Militar, em 23/04/1811, nas Escolas de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro (ALMEIDA e PINTO, 2011), tem se início esta pesquisa. Um fator que contribuiu muito com o desenvolvimento da educação química foi a publicação dos livros didáticos de química para os ensinos fundamental e médio. Neste trabalho fez-se um levantamento dos principais, de 1922 a 1987.

Resultado e discussão

Dados do Censo da Educação Superior de 2019 mostram que dos docentes de Química que lecionam no ensino médio, 60,4% possuem licenciatura ou bacharelado em Química, com curso de complementação pedagógica concluída; 2,8% possuem bacharelado em Química, mas sem licenciatura ou complementação pedagógica; 26,7% possuem licenciatura em área diferente de Química, ou bacharelado nas disciplinas da base curricular comum e complementação pedagógica concluída em área diferente da Química; 7,2% possuem outra formação superior e 2,9% não possui curso superior completo. Como se observa destes dados, em torno de 40% do ensino médio fica comprometido em química (CENSO, 2020). Os educadores de química, que atuam nas IES, normalmente são disponibilizados para atuarem nas seguintes situações: a) Nos Cursos de Licenciatura e/ou Bacharelado em Química; b) Nas disciplinas de formação do professor, tais como: Prática de Ensino em Química; Estágio Supervisionado em Química; Metodologias; c) Orientações de Monografias, TCCs, Dissertações e Teses, em que o foco é o ensino de química; d) Nos Cursos de Especialização; e) Nas Pesquisas em Educação Química. Atualmente existem no Brasil uma classe numerosa de professores(as) que se dedicam a Educação Química, sendo bastante atuante em suas respectivas instituições de ensino. Fica impossível citar neste trabalho a grande maioria, quanto mais todos os educadores de química. Para relatar o desenvolvimento da educação química no Brasil, temos que focalizar os livros didáticos de química. O primeiro livro de química impresso no Brasil foi escrito por Daniel Gardner (1785-1831) intitulado Syllabus, ou Compendio das Lições de Chymica, pela Impressão Régia, em 1810 (GARDNER, 1810), considerado um programa descritivo de seu curso na Academia Real Militar (SANTOS E FILGUEIRAS, 2011). Em 1816, a obra “Filosofia Química” de Antoine François de Fourcroy (1755-1809), traduzida para o português por Manoel Joaquim Henriques de Paiva (1752-1829) em 1801, é considerada o primeiro compêndio adotado oficialmente num curso regular de Química no Brasil (SANTOS E FILGUEIRAS, 2011). Em 1875, foi publicado no Brasil o primeiro livro didático de Química para o nível médio. Na época, os ensinos secundário e superior de Química se baseavam inicialmente nos compêndios franceses, mas, aos poucos passaram a recomendar e orientar-se por livros escritos por brasileiros e publicados em editoras como a Imprensa Nacional e a Francisco Alves, sempre em língua portuguesa. Com o passar das décadas, esta produção foi se avolumando, estando preservada em inúmeros acervos pessoais a públicos, e disponível para o exame de historiadores, educadores e químicos. A tabela 1 lista os livros didáticos de Química publicados no período de 1922-1929. As reformas de educação de Francisco Campos, em 1932, e de Gustavo Capanema, em 1943, estimularam a elaboração e a divulgação de livros didáticos que foram produzidos de acordo com os programas de ensino expedidos pelo Ministério da Educação e Saúde Pública. Estes trabalhos, reflexo das reformas nacionais, seriam adotados por um grande número de escolas secundárias em todo o país (LORENZ, 1994). A partir de 1932, na área de Ciências, surgiram novos livros que podiam ser adotados nas escolas, destacando o livro de Química, “Introdução à Química” (1936), de Sebastião Lobo. Também os livros de Química de Decourt, em 1945 e o de M. Marciano, em 1946, e ainda os livros-texto publicados pela editora FTD (Frère Thóphane Durand). Da década de 30 até 1960 surgiram vários livros de química, mantendo grande homogeneidade entre eles, fruto da existência de programas oficiais seguidos à risca. A década de 60 do século passado apresenta a maior quantidade de livros com abordagens e conteúdos diversos, de acordo com o espírito liberalizante e descentralizador da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 (MORTIMER, 1988). Conforme estudo sobre a evolução dos livros didáticos de Química destinados ao ensino secundário, realizado por Mortimer (1988), para o período de 1930 a 1987, as relações, em ordem cronológico de tempo da publicação, e não por ordem alfabética, estão distribuídas nos quadros 1, 2 e 3. De 1987 até 2023, uma quantidade enorme de autores elaboraram livros didáticos de química para os ensinos: fundamental, médio e superior. São inúmeros, de tal forma que fica impossível elaborar neste trabalho uma relação, mas podemos afirmar que é com satisfação observar que os autores não levam mais em conta somente o conteúdo teórico dos assuntos de química, mas procuram associar os conteúdos com o dia a dia (cotidiano), contextualizando e apresentando o lado prático de como realmente a química se apresenta como ciência, com introdução de experiências químicas. A parte relacionada com o meio ambiente e sustentabilidade são abordados por vários autores. Também há a preocupação com a focalização de metodologias alternativas, principalmente as relacionadas com o lúdico, através de jogos didáticos, referentes a determinados assuntos da química.



















Conclusões

Procurou-se descrever neste trabalho, os principais fatos e acontecimentos referentes à evolução da Educação Química no Brasil, no período de 1922-2023. Como se trata de um longo período, é humanamente impossível registrar tudo, mas este autor buscou relatar os principais e mais significativos. Este trabalho pretendeu, ainda, enaltecer a iniciativa, por parte dos educadores de química, que na década de 80 do século XX, formaram os primeiros grupos com o objetivo de debater o Ensino de Química, visando sua melhoria. Atualmente são mais de 400 grupos de pesquisa na área de Educação Química, registrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Enalteceu também neste trabalho os autores de livros de química pela grande colaboração no desenvolvimento da educação química no Brasil. Os professores de química do ensino básico têm colaborados primordialmente para a melhoria do ensino de química, com aplicações de metodologias variadas e atraentes, e, mesmo enfrentando uma série de obstáculos, conseguem superar algumas desvantagens e conduzem os estudantes a se motivarem a estudar química, o que pode ser observado nas atividades de competitividade, como são as olimpíadas e maratonas de química.

Agradecimentos

A todos os autores que diretamente ou indiretamente colaboraram com este trabalho, dedicando-se em seus artigos, pesquisas relacionadas com o desenvolvimento da educação química no Brasil

Referências

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