Autores

Pereira Junior, L.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Silva, M.G.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados obtidos na utilização de um jogo didático lúdico e inclusivo denominado "Tabuleiro Periódico", como objetivo facilitar a compreensão no ensino de Ciências, com ênfase em Química sobre o conteúdo Tabela Periódica. Foi aplicado para 33 (trinta e três) alunos, incluindo 2 (dois) com Transtorno do Espectro Autista (TEA), matriculados no 9° ano do Ensino Fundamental de uma escola pública de Fortaleza-CE. Considera-se um recurso pedagógico de baixo custo e fácil produção. Apresenta uma abordagem qualitativa do tipo exploratória, com observação sobre elaboração e aplicação do jogo. Quanto à análise, a proposta auxiliou significativamente na aprendizagem dos alunos com ou sem TEA, corroborando para melhoria cognitiva, da socialização e das práticas inclusivas.

Palavras chaves

Ensino de Ciência-Química; Inclusão; Jogo de Tabuleiro

Introdução

Os jogos são atividades que despertam nos alunos o interesse pela disciplina e conteúdos. Atividades lúdicas são importantes para a formação da criança e, na escola, proporcionam a inclusão social (SOARES, 2020). Os documentos norteadores de Ciências do Ensino Fundamental, orientam que os jogos são valiosos no processo de apropriação do conhecimento. Permitem o desenvolvimento de competências, relações interpessoais e contextos formativos (BRASIL, 2018). As escolas enfrentam, atualmente, desafios na inclusão (MIGUEL; SANTANA, 2020). Nesses últimos anos, há um aumento de matrículas escolares de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na interação social e comunicação, comportamentos repetitivos e estereotipados. O aluno autista enfrenta desafios na inclusão escolar como: falta de ambiente adequado e formação especializada docente. Além disso, componentes curriculares complexos, na área de Ciências, como a Química, os alunos têm dificuldade de aprendê-la. D'Ambrósio (1998) define Ciências como corpus de conhecimentos organizados, hierarquizados conforme graduação de complexidade para ampliar saberes e percepções acerca da aprendizagem significativa do conhecimento. Para Ausubel (1982), os docentes devem criar situações didáticas para descobrir conhecimentos, mesmos os designados prévios pelos estudantes. Os docentes precisam inovar métodos pedagógicos para fortalecer o conhecimento, usando jogos educacionais (PEREIRA, 2013). Nesse contexto, este trabalho utilizou o jogo "Tabuleiro Periódico" para facilitar a compreensão no ensino de Ciências, com ênfase em Química, sobre Tabela Periódica para alunos com TEA e demais alunos do 9º ano de forma criativa, lúdica e inclusiva.

Material e métodos

Esta pesquisa apresenta abordagem qualitativa (BODGAN; BIKLEN, 1994) do tipo estudo de caso, com observação (MARCONI; LARKATOS, 1991) e ideias participativas (GIL, 2002). Os sujeitos envolvidos foram 33 (trinta e três) alunos, incluindo 2 (dois) com TEA matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental (EF) de uma escola pública de Fortaleza-CE. Primeiramente, os alunos tiveram aulas expositivas-dialogadas e resoluções de questões sobre Tabela Periódica. Após, construíram o jogo "Tabuleiro Periódico" com materiais de baixo custo. Utilizou-se: cartolina, papelão, papel A4, cola, régua, canetinha, lápis de cor, 1 (um) dado de 6 (seis) faces e 4 (quatro) pinos de cores vermelho, verde, azul e amarelo. Escolheu-se cores primárias, pois (CAMINHA, 2018) alerta que alunos autistas apresentam desconforto com cores fortes. o layout foi em trilhas. Em seguida, aplicou-se o jogo em 2 (dois) momentos: na sala de aula e Feira de Ciências realizada em 17 de junho de 2023. Dividiu-se a turma em 4 (quatro) grupos de 8 (oito) alunos e um mediador. Partiram da casa Início. A cada jogada ao parar nas casas de cores vermelho, verde, azul e amarelo, o grupo escolhia uma carta de cor correspondente, nela havia uma pergunta de nível fácil, médio ou difícil que foi lida pelo mediador. A equipe que acertou a resposta ganhou uma carta contendo elemento químico. Caso não soubesse ou errasse permanecia na mesma casa. o cair na casa Entrada de Aprisionamento Químico pulava a vez. Em Saída de Aprisionamento Químico matinha no jogo. Ao parar em Perigo perdia uma carta. Teve vantagem ao Avançar Duas Casas e desvantagem ao Voltar. Venceu o grupo que chegou à casa Fim e com maior número de cartas. Na última fase, analisou-se o envolvimento dos alunos com e sem TEA, percebeu-se o prazer de aprender brincando.

Resultado e discussão

A proposta mostrou a possibilidade de inovar as práticas diversificadas no Ensino de Ciências ao utilizar um jogo feito de materiais simples que, na maioria das vezes, estão disponíveis na escola e proporcionam atender às necessidades para aprendizagem dos estudantes. Visou analisar os objetivos propostos pelo jogo lúdico e inclusivo. Optou-se por análise exploratória, ao observar os participantes nos momentos da elaboração e do uso do jogo de tabuleiro. A maneira de como o recurso didático foi utilizado para facilitar a aprendizagem sobre o conteúdo da Tabela Periódica aos estudantes com TEA e demais alunos, mostrou o importante papel do professor no processo de inclusão. Com o jogo Tabuleiro Periódico, como mostra Figura 1, as peças (52 (cinquenta e duas) cartas, 4 (quatro) pinos e 1 (um) dado de 6 (seis) faces), conforme mostra Figura 2 e os exemplos de cartas com as perguntas símbolos químicos, na Figura 3, foi possível observar que os estudantes, tiveram oportunidade de comunicar com os alunos de sua equipe, ter mais atenção, de serem questionados sobre as respostas que seu grupo deveria responder das perguntas disparadoras, além de conhecer outros alunos que fazem parte da turma. A análise dos resultados permitiu observar que o jogo apresentou como excelente estratégia de ensino de maneira a identificar pontos a serem desenvolvidos em uma pessoa com TEA que é comunicação, comportamento e imaginação ao propiciar momentos divertidos e possibilitar aos estudantes com essa especificidade, evoluções cognitivas e socioemocionais, corroborando com (Fialho, 2013, p.119- 120) que os jogos de tabuleiro são excelentes recursos par otimizar a concentração e despertar a curiosidade.

Figuras 1 e 2 - Jogo Tabuleiro Periódico e peças



Figura 3 - Exemplo de cartas com perguntas e símbolos químicos



Conclusões

Conclui-se que o objetivo da pesquisa foi criar e aplicar um jogo que desenvolvesse competências em alunos com TEA e demais estudantes matriculados em uma turma de 9º ano de uma escola municipal de Fortaleza que oferta o Ensino Fundamental regular. O jogo Tabuleiro Periódico possibilitou o uso de metodologias ativas, em que a aprendizagem se deu por meio de ação prática e desafios a serem superados. Com isso, observou-se que a utilização do lúdico através do jogo de tabuleiro, tornou o ensino de Ciências, com ênfase em Química, mais significativo e com novo olhar para educação inclusiva.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-Graduação em Rede Nordeste de Ensino (RENOEN) polo Universidade Federal do Ceará (UFC). À Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza (SME-Fortaleza).

Referências

AUSUBEL. D. P. A aprendizagem significativa: A teoria de David Ausubel, São Paulo: Moraes, 1982.

BOGDAN, R; BIKLEN. S. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Tradução: Maria João Alvez; Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista. Porto Editora, 1994.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a Base. Brasília: Ministério da Educação/ Secretaria da Educação Básica, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 18 mai. 2023.

CAMINHA, R.C. Autismo: um transtorno de natureza sensorial? Dissertação (Mestrado em Psicologia) - PUC- Rio, Rio de Janeiro, 2008.

D'AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: Arte ou técnica de explicar ou conhecer. 5ª Edição. São Paulo: Ática, 1998. 88 p.

FIALHO. N.N. Jogos no ensino de Química e Biologia. Curitiba: Intersaberes, 2013. 220 p.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo.: Atlas, 2002.

MARCONI, M.A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

MIGUEL, J.A.; SANTANA, T.R. Para além das aparências: desafios para a inclusão do aluno autista. -, 2020. Disponível em: http://repositorio.unis.edu.br/bistream/prefix/1360/1/Momofrafia%20Jaqueline%Aparecida.pdf. Acesso em 15 mai. 2023.

PEREIRA A. L. L. A utilização do jogo como recurso de motivação e aprendizagem. Dissertação/ Relatório Faculdade de Letras Universidade do Porto. 2013. Disponível em: https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/71590/2/28409.pdf. Acesso em: 15 abr. 2023.

SOARES, E. M. A ludicidade no processo de inclusão de alunos especiais no ambiente educacional. Rio de Janeiro. f. 33. 2010. Disponível em: www.ffp.uerj.br/arquivos/dedu/monografias/EMS.2.2010.pdf. Acesso em: 20 mai. 2023.