Autores

Sousa, G.C.S. (UNIFESSPA) ; Espirito Santo, M.V.C. (UNIFESSPA) ; Souza, A.D.V. (UNIFESSPA) ; Emidio-silva, C. (UNIFESSPA)

Resumo

O ensino de química orgânica ainda traz diversos desafios ao professor, pois muitos alunos a consideram chata e sem relação com o nosso cotidiano, e além disto, muitos professores não buscam alternativas metodológicas para trazer motivação aos alunos e auxiliá-los no ensino-aprendizagem. Assim, esta pesquisa tem como objetivo analisar as dificuldades que os discentes trazem da educação básica para o ensino superior sobre este conteúdo, e observar como estes reagem a utilização desse recurso em sala de aula. Os resultados foram como o almejado, pois de acordo com os questionários, muitos alunos conseguiram absorver o conteúdo e também relacionar o assunto com o cotidiano, o que antes não conseguiam, comprovando assim a eficácia da utilização desse recurso didático: o jogo didático-lúdico

Palavras chaves

Ensino de Ciências-Químic; Funções Orgânicas; Ludicidade

Introdução

Ensino de química no Brasil O ensino de Química é algo muito discutido nas instituições de ensino superior e nas pesquisas. Observamos que o fato dos alunos não conseguirem entender a relação entre a química e o cotidiano e também dos professores se concentrarem apenas na parte teórica do assunto, faz com que muitos alunos percam o interesse nas aulas (LIMA, 2012). Farias e Ferreira (2012) afirmam que o aprendizado dos alunos se baseia no planejamento didático do professor e que este deve ser guiado por sugestões que permitam uma renovação metodológica, de modo que os conteúdos da química estejam relacionados às experiências dos alunos na vida cotidiana. Portanto, é de suma importância que o professor busque maneiras lúdicas que possam influenciar o aluno a querer aprender Química e entenda que esta não é tão complexa quanto parece. Dificuldades dos alunos na química orgânica e o uso de materiais didáticos. As dificuldades que os alunos da educação básica possuem em química, e especificamente na Química Orgânica, são evidentes quando chegam ao ensino superior, resultando em diversas reprovações e consequentemente na evasão desses alunos. Desta forma, é de suma importância encontrar estratégias que busquem diminuir esses problemas (ALVES, SANGIOGO e PASTORIZA, 2021). Para superar essas dificuldades os professores propõem a utilização de leitura de artigos científicos da área, o uso das TIC's (Tecnologias da Informação e da Comunicação) e também de materiais didáticos lúdicos. Esses métodos facilitam a contextualização do assunto e também proporcionam uma aula mais atrativa e dinâmica (GIL, 2011). Para Soares, Okumura e Cavalheiro (2003): O uso de jogos didáticos tem sido proposto ao longo dos últimos anos, e vários autores têm apresentado seus trabalhos com jogos destacando o interesse dos alunos, a despeito da complexidade envolvida no assunto trabalhado. Tal interesse surge da diversão proporcionada pelos jogos e tem efeito positivo no aspecto disciplinar. Assim, o uso dos jogos didáticos proporcionam aos alunos uma maior capacidade de raciocínio aumentando seu conhecimento cognitivo, psicomotor e social, o que auxilia os alunos a entender melhor o conteúdo que está sendo aplicado, além de tirar a aula do seu usual, ou seja, somente professor e quadro (FIALHO, 2013). Este artigo, apresenta e discute resultados obtidos a partir da utilização de jogo didático, como alternativa de metodologia lúdica no ensino de Química. Esse foi o recurso escolhido para auxiliar na recapitulação e fixação do conteúdo de Química Orgânica, com o intuito não somente de facilitar no entendimento do mesmo, como também promover uma familiaridade do assunto com os discentes, resultando no domínio do conteúdo em relação aos termos utilizados na Química Orgânica por parte dos estudantes. Este trabalho foi desenvolvido a partir da análise sobre o nível de dificuldade que os alunos chegam ao ensino superior, especialmente no conteúdo de Química Orgânica. Por esse motivo, foi pensado e construído o jogo cara a cara das funções orgânicas, que contribuirá de forma significativa para a análise do professor a respeito do nível de conhecimento que os alunos possuem, sendo assim, o docente observa quais as dificuldades da turma e de que forma deve-se tratá- las. O desenvolvimento e aplicação desse jogo didático, tem os objetivos de auxiliar o professor a observar qual o nível de conhecimento que os alunos têm no conteúdo de Química Orgânica, adquiridos no terceiro ano do ensino médio, ajudando os discentes na recapitulação do mesmo, gerando familiaridade com as nomenclaturas e estruturas na Química Orgânica, o que facilita o domínio desses assuntos de uma forma lúdica, gerando mais interesse nos estudantes para a disciplina. O jogo desenvolvido foi aplicado em uma turma de Licenciatura em Química, do turno vespertino, em um total de 20 alunos, do primeiro período da Faculdade de Química, do Instituto de Ciências Exatas, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), localizada no município de Marabá - Pará, Amazônia Oriental.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido a partir de análises qualitativas, realizadas a partir da observação feita durante a aplicação do jogo em sala de aula e as respostas dos alunos nos questionários aplicados antes e depois da prática, que teve como objetivo observar o desempenho dos alunos no decorrer do jogo didático e auxiliar na melhor fixação dos conteúdos sobre química orgânica pelos discentes. O jogo didático foi utilizado como uma estratégia lúdica para observar e exercitar os conhecimentos a respeito do conteúdo de Química Orgânica que os alunos possuem desde as aulas do ensino médio, levando-se em consideração as dificuldades dos discentes neste assunto. Então elaborou-se um questionário para ser aplicado antes do desenvolvimento do jogo. É preciso registrar que essa turma são alunos que recém terminaram o ensino médio em sua maioria e são frutos de dois anos de Pandemia do Covid-19, tendo raras oportunidades de contato com os conteúdos de química propriamente dito. Na elaboração do jogo, foram construídas duas tabelas iguais com 15 cartas de funções orgânicas, mostradas na parte A da imagem 1. É para ser jogado em dupla, e possui 32 cartas com dicas, apresentadas na parte B da imagem 1, onde cada aluno ficará com 16 dicas, as dicas não são iguais para os alunos, então cada aluno possui dicas diferentes do outro. Para a construção foram utilizados materiais de fácil acesso, como: isopor, papel cartão, velcro e folhas de cartolina. Regras do jogo: A dupla tirará ímpar-par para saber quem começa, o vencedor irá pegar uma carta e fazer a pergunta ao outro; O que recebeu a pergunta deverá responder olhando para a sua tabela que contém as cartas das funções; Cada aluno na sua vez tem duas chances para acertar; Se o aluno acertar, vai pontuar; Se o aluno errar, não vai pontuar; Independente se acertar ou errar, irá ser destacada da tabela a carta da função; Após o desenvolvimento do jogo didático, levou-se para sala de aula, para ser realizada a sua aplicação, onde foi explicado as regras para os estudantes e observado como os alunos estavam interagindo durante a prática. As professoras ficaram à disposição para tirar dúvidas que surgissem e fornecer auxílio para que todos os alunos pudessem fazer parte desse momento de forma satisfatória. Ao término do jogo, aplicou-se um questionário para os discentes responderem sobre sua experiência com essa utilização de metodologia lúdica onde eles pontuaram qual a opinião dessa prática. Então a partir desses dados coletados tanto na observação quanto nas respostas dos questionários, foram realizadas as análises qualitativas para obtenção dos resultados do presente trabalho

Resultado e discussão

Inicialmente aplicou-se um questionário aos alunos sobre suas experiências no ensino médio e os conhecimentos prévios de Química Orgânica adquiridos no mesmo. A partir das respostas, observou-se que a turma possui discentes na faixa etária de 17-23 anos e 50% destes finalizaram o ensino médio e prontamente ingressaram no ensino superior, sendo que, também, 95% vieram de escola pública. A partir desses dados esperava-se que os mesmos ainda recordassem do assunto de Química Orgânica, porém de acordo com as respostas dos alunos sobre os seus conhecimentos em Química Orgânica, 40% responderam que possuem um baixo nível de conhecimento, 30% muito baixo e 30% razoável. Boa parte dos alunos alegaram não ter visto química orgânica em seu ensino médio, o que se torna preocupante desde que é um assunto de suma importância quando se ingressa no ensino superior. Segundo Saravali (2015), o ensino precário das escolas públicas causam lacunas nos conhecimentos dos alunos, o que dificulta a aprendizagem destes quando entram no ensino superior, e que a universidade e os professores universitários precisam encontrar maneiras para que esse aluno permaneça no curso para que eles tenham uma formação plena, em todos os quesitos. Também perguntou-se aos alunos se algum professor utilizou recursos didáticos, como jogos, atividades lúdicas, experimentos, entre outros, em seu ensino médio e somente um deles respondeu que sim, alegando que o professor utilizou jujubas e palitos de dente para fazer cadeias orgânicas e também líquidos para a realização de reações químicas. Através dessa amostra, que apesar de pequena é representativa da cidade, percebe-se que os professores do ensino básico carecem da utilização desses recursos didáticos em sala de aula, o que pode explicar o baixo nível de conhecimento dos alunos no que diz respeito ao conceito de química orgânica. Para Castoldi e Polinarski (2009), os recursos didáticos visam preencher as lacunas do ensino tradicional e fazem com que os alunos fiquem mais participativos do ensino aprendizagem. Assim, é de suma importância a utilização desses recursos didáticos e experimentação no ensino de química, pois motiva os alunos e também ampliarem o seu conhecimento sobre o assunto em seu cotidiano. Durante a aplicação do jogo, observou-se o desempenho dos estudantes no decorrer da atividade, sanando as dúvidas recorrentes, onde, percebeu-se que eles estavam bem entusiasmados com a ideia de usar seus conhecimentos científicos em uma atividade lúdica. A imagem 2 apresenta a reação dos alunos durante a execução do jogo. Uma das questões do segundo questionário era “O que você achou do recurso didático utilizado?” e 100% dos discentes responderam que foram excelentes e com objetivos claros, assim como afirma Ferreira (2010) ao ressaltar a importância de estratégias pedagógicas que além de transmitir conhecimento, também aflora a criatividade e intuição dos estudantes, gerando emoção, prazer e imaginação, resultando em uma boa aprendizagem. Na pergunta “Qual o nível de dificuldade que você achou das dicas utilizadas no jogo?” obteve-se as percentagens de 55% razoável, 15% alto, 25% baixo e 5% muito baixo, pois apesar das dicas serem do nível de ensino médio uma parte considerável dos alunos afirmaram que esse foi o primeiro contato com a Química Orgânica, sendo assim, houve muitas dúvidas sobre conceitos básicos do assunto, necessitando de uma atenção especial para explicá-los antes de prosseguir com o jogo. Os dois questionários continham a pergunta “Você consegue relacionar o assunto de Química Orgânica com o seu cotidiano? Onde?”, a fim de realizar comparações sobre a evolução do conhecimento adquirido durante a participação no jogo didático, então obteve-se que antes 80% dos alunos não conseguiam relacionar, enquanto apenas 20% foram capazes, já no último questionário 80% dos discentes responderam ser capazes de relacionar e apenas 20% não conseguiram. Algumas das relações citadas pelos alunos no segundo questionário foram “Sim. Em perfumes, ou até mesmo o álcool”; “Sim, nas produções de certos produtos como por exemplo os farmacêutico”; “Sim. Através do álcool, acetona, e produtos de limpeza”, percebe-se que essas respostas estão presentes nas cartas de dicas do jogo, então assim como Silva, Cordeiro e Kiill (2015) afirmam, os jogos são eficazes no ensino-aprendizagem da Química, pois como é uma ciência que os alunos veem como abstrata, os jogos e a contextualização facilitam o entendimento desses conceitos, tornando-a visível no cotidiano. A última pergunta do questionário é “você adquiriu novos conhecimentos com esse recurso utilizado em sala de aula? Quais?”, como resultado 95% dos alunos responderam que obtiveram novos conhecimentos e somente 5% afirmaram não haver nenhuma evolução. Logo, observa-se a eficácia da utilização de inovações no ensino, assim como ressalta Maceno e Guimarães (2013) ao afirmar que dessa forma é possível atingir o propósito almejado dentro do ensino. Sobre os conhecimentos adquiridos através da utilização dessa metodologia algumas das respostas dos alunos foram: “Sim, relembrei conteúdos nos quais eu não tinha lembranças e aprendi novos conceitos”; “Sim! As estruturas dos compostos orgânicos, as ligações, por exemplo, quando é pi, sigma, etc”; “sim, a utilização do conhecimento adquirido no cotidiano”. Logo é notório que houve resultados significativamente positivos, pois além de relembrarem o conteúdo, também compreenderam a relação da Química com a vida cotidiana

Aplicação do jogo cara a cara das funções orgânicas na turma de Licenc

A figura mostra uma sequencia de 4 imagens de \r\nalunos jogando o jogo cara a cara das funções \r\norgânicas.

Jogo completo cara a cara das funções orgânicas

A figura mostra duas imagens, a primeira a tabela \r\ncom as funções organicas e a segunda as dicas \r\nutilizadas no jogo, todas com cores roxo e branco

Conclusões

A partir dos resultados obtidos, percebe-se a importância da inovação em estratégias metodológicas utilizando a ludicidade no ensino da Química, pois favorece o ensino-aprendizagem em sala de aula, auxiliando no desenvolvimento cognitivo e social dos discentes. Levando em consideração o resultado do questionário sobre o ensino de Química Orgânica apresentando pelos discentes que estão iniciando o curso de Licenciatura em Química e que serão futuros professores na educação básica, devemos nos “assustar” em dois sentidos: 1) primeiramente que não é difícil ensinar química se o professor se mostrar engajada nas novas metodologias de ensino que procura colocar o discente no centro do processo de ensino-aprendizagem e não mais como um sujeito passivo e apenas ouvinte de um discurso totalmente fornecido pelo professor; 2) metodologias que se utilizam de atividades lúdicas e práticas possuem um grande potencial na transformação da escola e do ensino de química; É importante que os professores universitários também busquem alternativas metodológicas para que essas dificuldades não interfiram no desenvolvimento dos estudantes dentro da universidade e que eles possam permanecer no curso até o fim, e que quando voltarem para a sala de aula, como professores, possam replicar essas boas práticas que ele recebeu em sua formação. Conclui-se que o jogo didático utilizado foi importante tanto para a revisão dos conceitos quanto para a construção dos conhecimentos de forma lúdica, facilitando uma melhor compreensão, mesmo que para alguns, esse foi o primeiro contato com as funções orgânicas.

Agradecimentos

Referências

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