Autores

Silva, R.P. (UNIFESSPA) ; Espírito Santo, M.V.C. (UNIFESSPA) ; Sousa, G.C.S. (UNIFESSPA) ; Costa, W.E. (E.E.E.M. DR. GASPAR VIANNA) ; Emidio-silva, C. (UNIFESSPA) ; Souza, A.D.V. (UNIFESSPA)

Resumo

O presente artigo, trata sobre uma pesquisa qualitativa desenvolvida a partir de uma sequência didática organizada no projeto PIBID e aplicada durante o projeto do Residência Pedagógica desenvolvido pela faculdade de Química da UNIFESSPA. A sequência didática (SD) foi organizada para ser trabalhada em 4 aulas com dois horários de 45 minutos cada. Esta SD foi aplicada na Escola Estadual de Ensino Médio Dr Gaspar Vianna, em 4 turmas de 1º ano, cujo foco principal foi avaliar a contribuição do uso de atividades, tais como jogos lúdicos e experimentação propostos na SD no processo de ensino-aprendizagem. Os resultados obtidos foram positivos assim como almejados, a utilização de SD como metodologia lúdica no ensino agregaram para a aprendizagem dos alunos e fixação dos conteúdos trabalhados.

Palavras chaves

Sequência didática; Ensino-aprendizagem; Ensino de química

Introdução

Os professores de química enfrentam diversos desafios durante a docência, seja pela qualidade estrutural das escolas, a falta de laboratórios ou espaços para realizarem diferentes dinâmicas. Além disso, outro fator importante a mencionar, é a ausência de uma cultura científica, algo recorrente na região amazônica. (SOUZA, et al 2022). É perceptível que a maioria dos alunos têm dificuldade em contextualizar e relacionar conhecimentos sobre matéria e substâncias com sua vida cotidiana. Desse modo, segundo Falci e Carvalho (2021) é de grande importância que as instituições de ensino em conjunto com o corpo docente aproveitem de metodologias que desenvolvam o interesse dos educandos a fim de viabilizar uma educação de qualidade e significativa para formação de cidadãos. Por esse motivo elaborou-se uma sequência didática (SD) que possui estratégias com metodologias lúdicas para que haja um melhor ensino-aprendizagem na sala de aula, possibilitando que os alunos além de compreender e interagir na aula de forma positiva, também desenvolvam interesse pela disciplina e observe a química presente em sua vida cotidiana, gerando uma familiaridade dos conteúdos ensinados na escola com as suas experiências cotidianas. De acordo com Santos e Riehl (2021), a SD é uma metodologia interessante, visto que pode abranger temas sociais, além de provocar debates ao confrontar experiências cotidianas com o saber científico. SDs podem ser definidas como uma série, sistemática e organizada, de atividades a respeito de um tema, o qual terá conteúdos desenvolvidos em um período determinado, obedecendo as seguintes etapas de construção: definição do tema, estabelecimento de uma problemática, planejamento do conteúdo e indicação dos objetivos a serem alcançados (SANTOS; RIEHL, 2021). As SD proporcionam infindáveis possibilidades a serem exploradas, devido a versatilidade de implementar outros tipos de metodologias em sua aplicação, como: atividades lúdicas, pesquisa de campo, uso de TICs, metodologias ativas, jogos, atividades inclusivas, experimentação e etc. Para que, assim, seja desenvolvido um ensino onde os alunos possam pensar criticamente, e desenvolver um maior protagonismo em sala de aula (SOUZA, et al, 2022). As aulas expositivas com ausência da participação do aluno, que por sua vez, demandam conclusões precipitadas, pode ser uma das causas do desinteresse do aluno no ensino de química, uma vez que o mesmo não é instigado a fazer questionamentos (BRITO, 2001). Com o objetivo de sobrepujar o ensino tradicional pouco contextualizado, tem-se criado a necessidade de captar a atenção do aluno para gerar uma disposição para o aprendizado. Sendo assim, o tipo de atividade utilizada para contextualização das aulas é de suma importância. Uma destas atividades, que é muito utilizada pelos professores da área de química é a experimentação (GONÇALVES, 2020). De acordo com Oliveira (2010), a experimentação se caracteriza como uma importante ferramenta metodológica, visto que proporciona uma atmosfera favorável para abordagens teóricas, fenomenológicas, e representacionais do conhecimento científico. Para um maior entendimento das Ciências da natureza é preciso que os discentes tenham contato com os conhecimentos químicos, observando e interpretando os fenômenos que ocorrem durante a experimentação, com o entendimento do experimento como contextualização da teoria (NIEZER; SILVEIRA e SAUER, 2011). A utilização de jogos didáticos no ensino de química também é um recurso muito valioso, o qual o aluno se motiva a aprender os conteúdos à medida que se diverte (CARBO, et al, 2019). De acordo com Robaina (2008), o fato de ser possível confeccionar jogos didáticos a partir de itens presentes na sala de aula ou materiais recicláveis torna esse método pedagógico como uma alternativa viável e promissora. Pensando nessas alternativas, o presente trabalho buscou desenvolver e aplicar uma SD para trabalhar o tema matéria e substâncias. Esta, foi construída durante o desenvolvimento do PIBID e sua aplicação foi realizada no decorrer do programa Residência Pedagógica, ambos desenvolvidos na faculdade de química da UNIFESSPA. O foco foi observar e avaliar a utilização deste tipo de metodologia no auxílio do processo de ensino-aprendizagem de química no 1º ano do ensino médio de uma escola pública localizada na cidade de Marabá - PA.

Material e métodos

O presente artigo foi desenvolvido a partir de dados qualitativos coletados na Escola Dr. Gaspar Vianna, localizada na cidade de Marabá - PA, tendo como público alvo 4 turmas do 1º ano do Ensino Médio. A pesquisa teve como objetivo principal o desenvolvimento e aplicação de uma sequência didática (SD) com o tema Matéria e substância como meio de aprimorar o ensino de química. Ao final do processo, foram analisadas as opiniões dos alunos acerca das metodologias alternativas empregadas. O desenvolvimento da sequência didática ocorreu conforme as etapas a seguir: 1ª Etapa: Definição da temática; 2ª Etapa: Determinação dos conceitos a serem trabalhados em sala de aula; 3ª Etapa: Designação dos objetivos almejados durante a aplicação da sequência didática; 4ª Etapa: Distribuição dos conteúdos relacionados ao tema em 4 aulas de dois horários com 45 minutos cada. 5ª Etapa: Construção dos materiais didáticos escolhidos para melhor contextualização e visualização das aulas; 6ª Etapa: Aplicação da sequência didática em sala de aula. Por conseguinte, o conteúdo foi distribuído conforme o quadro 1. No final da aplicação da sequência didática em sala de aula, para fins qualitativos, foi aplicado 1 questionário ao final das 3 primeiras aulas, e 2 questionários com o término da quarta aula, sendo um deles um apanhado geral sobre a opinião dos alunos a respeito desse tipo de proposta metodológica. As aulas foram ministradas a partir de uma exposição dialogada do tema, e para fins demonstrativos foram utilizados experimentos e jogos, concordando com Gonçalves (2020) e Brito (2001). Além disso, usou-se atividades de vestibular, visando a fixação dos conteúdos.

Resultado e discussão

Ao iniciar a aplicação da SD, fez-se o seguinte questionamento aos alunos, “O Ensino Médio foi o primeiro contato de vocês com a disciplina de química?” A maioria respondeu que sim, ou seja, a disciplina de química não foi formalmente apresentada a eles no Ensino Fundamental II. Sabendo disso, priorizou-se a interação com a turma nas aulas, fazendo relação do conteúdo com a realidade cotidiana dos alunos, o que promoveu o diálogo em sala de aula, evidenciando-se o que aborda Falci e Carvalho (2021) e Brito (2001). Na imagem 1, observa-se os materiais didáticos utilizados em sala de aula, onde A) Representa exemplos de fenômenos físicos e químicos, B) Misturas utilizadas para exemplificar misturas homogêneas, heterogêneas e as fases, C) Aparato experimental para explicar separação de misturas e D) Jogo didático aplicado para revisar e fixar os conteúdos ministrados. -AULA 1 Como ilustrado no Quadro 1 a primeira aula foi uma introdução ao vasto conhecimento proporcionado pela Química. Para esta aula, foi proposta uma breve contextualização do conteúdo para, enfim, fazer as demonstrações práticas, como dito por Gonçalves (2020) e Oliveira (2010). Por esse âmbito, para demonstrar as transformações da matéria, selecionou-se os materiais a seguir: 1 prego enferrujado, 1 folha de papel queimado, 1 cubo de gelo, fósforos e 1 folha de papel A4. Mostrou-se esses materiais aos alunos, e fez-se questionamentos sobre qual transformação cada material sofreu, onde obteve-se respostas satisfatórias, comprovando a assimilação do conteúdo pelos discentes, assim como Niezer, Silveira e Sauer (2011) afirmam. Ao final da AULA 1 coletou-se as opiniões de cada aluno, as quais revelaram resultados positivos. Percebeu-se que por mais simples que seja a demonstração, os discentes permanecem cativados, por ser algo diferente da realidade tradicional da sala de aula, pois os conceitos abstratos foram tratados como algo palpável para que a visualização da química fosse algo mais concreto, o que pode ser evidenciado pelos comentários dos alunos: “Foi bom, estava com sono no início, mas logo foi embora.” e “A aula foi muito boa, a explicação teve a opinião dos alunos e teve exemplos com objetos...”. Concordando, assim, com as observações de Gonçalves (2020). -AULA 2 Após a exposição do tema, realizou-se demonstrações de uma série de misturas, as quais os alunos foram questionados sobre suas classificações a respeito do número de fases e homogeneidade. Com esse intuito, utilizou-se leite, açúcar, areia, água e óleo, para constituir as misturas. As opiniões coletadas dos alunos, renderam um resultado positivo, evidenciados por comentários como: “A aula foi muito boa, dá pra entender muita coisa, eu aprendi muitas coisas novas e ainda eles fizeram várias dinâmicas.” e “A aula foi ótima, vários exemplos na prática, ... sempre tirando as dúvidas dos alunos, com preocupação com os alunos, foi uma aula muito boa e animada.”. Demonstrando novamente os pontos ressaltados por Gonçalves (2020) e Niezer, Silveira e Sauer (2011). No entanto, alguns alunos discordaram do uso de alimentos, mesmo que seja para fins educativos: “A aula foi muito boa, gostei muito, aprendi mais sobre química, porém não gostei que estragaram o leite.”. Evitar o desperdício de alimentos é uma alternativa que geralmente não é considerada pelos professores, ainda que esse desperdício seja ofensivo para algumas pessoas. No mais, a aula teve um desempenho apropriado, visto o grau de satisfação dos alunos. -AULA 3 Como material didático, para esta aula, desenvolveu-se aparelhos de separação de misturas com materiais recicláveis, sendo um destilador simples e um decantador. Estes foram apresentados aos alunos, e aberto um momento de conversa, onde os alunos puderam tirar suas dúvidas e relatar suas curiosidades sobre. Com a finalização da aula, aplicou-se um questionário onde os alunos relataram suas opiniões, tais como: “... essa aula me deu mais interesse na matéria... a explicação foi excelente e os exemplos foram muito legais.”; “Acho muito legal quando os professores trazem objetos e experimentos para mostrar. Nós gostamos de aulas diferentes como essa.”; “Esse tipo de aula me fez querer aprender mais sobre química. Amei a nova experiência!”. Além de outros comentários positivos a respeito tanto dos experimentos quanto dos exemplos utilizados durante as explicações. A partir dessas respostas, é perceptível que demonstrações práticas chamativas agradam e prendem a atenção dos alunos, concordando com os argumentos de Gonçalves (2020). Quando questionados sobre qual equipamento chamou mais atenção, os alunos, quase que unanimemente, responderam que o destilador simples foi o experimento que mais agradou. -Aula 4 Com o intuito de finalizar a SD analisando o grau de aprendizagem dos alunos no decorrer das aulas, foi preparado o jogo Trilha da Química, o qual foi utilizado como revisão do conteúdo. Com isso, os alunos foram questionados sobre esse tipo de estratégia metodológica, e assim, obteve-se respostas como: “Consegui testar meus conhecimentos de forma divertida e interativa.”; “Ótimo para melhorar o nosso conhecimento.”; ”Achei ótimo, pois foi uma dinâmica que fugiu das aulas tradicionais e aprendi mais coisas.”. Além de outros comentários positivos indicando que jogos didáticos podem ser utilizados com diversas finalidades, se provando ferramentas metodológicas promissoras, como dito por Carbo, et al (2019). Quando os discentes foram questionados sobre qual foi a aula mais atrativa, obtivemos os seguintes resultados: Turma - A: 4% da primeira aula; 8% da segunda aula; 32% da terceira aula e 56% da quarta aula. Turma - B: 13,3% da primeira aula; 0,7% da segunda aula; 13,3% da terceira aula e 66,7% da quarta aula. Turma - C: 0% da primeira aula; 5% da segunda aula; 25% da terceira aula e 70% da quarta aula. Turma - D: 4,3% da primeira aula; 4,3% da segunda aula; 34,8% da terceira aula e 56,6% da quarta aula. De acordo com os dados acima, a quarta aula despertou maior interesse nos alunos. Os discentes destacaram o fato de ser uma aula dinâmica e diferente, pois nunca haviam revisado o conteúdo daquela forma. Ao fugirem da monotonia da sala de aula tradicional, os educandos demonstraram mais interesse pelo aprendizado e pela disciplina, fato esse que concorda com Carbo et al (2019).

Imagem 1

Estratégias didáticas utilizadas em sala de aula.

Quadro 1

Atividades e conceitos trabalhados no decorrer da \r\nSD.

Conclusões

Com os resultados obtidos, é visível que a utilização de metodologias alternativas aumenta a eficiência das aulas, gerando um aprendizado maior e capturando a atenção dos alunos de forma exitosa. A utilização de jogos didáticos se mostrou como a alternativa mais bem sucedida, uma vez que a maioria dos alunos das turmas participantes do projeto se mostraram mais satisfeitos com o ato de aprender enquanto se divertem. Percebeu-se, então, que uma aula não precisa de instrumentos complexos para ter êxito, estratégias didáticas simples e bem elaboradas podem ser mais promissoras e cativantes.

Agradecimentos

Referências

BRITO, S. L. Um Ambiente Multimediatizado para a construção do Conhecimento em Química. Química Nova na Escola, n. 14, 2001.

CARBO, Leandro; et al. Atividades práticas e jogos didáticos nos conteúdos de química como ferramenta auxiliar no ensino de ciências. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 10, n. 5, p. 53-69, 2019.

FALCI, Patrícia A. CARVALHO, Regina S. A Educação Ambiental no Ensino Médio: desafios e possibilidades a partir da elaboração de uma sequência didática com ênfase nas emissões de CO2 equivalente. Química e Sociedade, 2021. Disponível em:<http://qnesc.sbq.org.br/online/prelo/QS-33-21.pdf>. Acesso em: 28 jun, 2023.

GONÇALVES, Raquel Pereira Neves; GOI, Mara Elisângela Jappe. Experimentação no ensino de química na educação básica: uma revisão de literatura. Revista Debates em ensino de Química, v. 6, n. 1, p. 136-152, 2020.

OLIVEIRA, J. R. S. Contribuições e abordagens das atividades experimentais no ensino de ciências: reunindo elementos para a prática docente. Acta Scientiae, v.12, n.1, p. 139-153, 2010.

NIEZER, T. M.; SILVEIRA, RMCF; SAUER, E. Atividades experimentais no ensino de química avaliando as propriedades físico-químicas do leite: uma abordagem CTS. ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, v. 8, p. 1-12, 2011.

ROBAINA, José Vicente Lima. Química através do lúdico: brincando e aprendendo. Canoas: Ulbra, 2008.

SANTOS, P. E. N; RIEHL, C. A. S. Aplicação de uma Sequência Didática para o Ensino Médio na Temática Drogas através do Arco de Maguerez para a Desmistificação da Ciência. Revista Virtual de Química, 2021. Disponível em: <https://dx.doi.org/10.21577/1984-6835.20210050>. Acesso em: 28 jun, 2023.

SOUZA, A. D. V.; et al. Elaboração de sequências didáticas a partir das vivências em sala de aula como meio facilitador no processo de ensino- aprendizagem de química no município de Marabá, Pará, Amazônia Oriental.
In: CABRAL, G. G. et al (org.). PIBID na formação docente: tecendo saberes e experiências na sala de aula. São Luís: EDUFMA, 2022. p. 175-201.