Autores

Ferraz, J.M.S. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Lima, L.K. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Soares, E.M.C. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Farias, J.S. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Miranda, A.X. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Silva, G.F. (IFPB - JOÃO PESSOA) ; Figueirêdo, A.M.T.A. (IFPB - JOÃO PESSOA)

Resumo

Sabendo que a Química desempenha um papel crucial no desenvolvimento das habilidades dos estudantes, é fundamental que práticas experimentais estejam atreladas à essa disciplina. Assim, levando em consideração a escassez de laboratórios nas escolas, o Programa de Educação Tutorial- PET Química, do Instituto Federal da Paraíba – IFPB, teve como objetivo a aplicação de uma atividade de ensino denominada “Introdução ao Laboratório de Química”, junto a idealização de uma cartilha lúdica, contendo os principais pontos discutidos na atividade. A metodologia aplicada foi de cunho dialógico participante. Para obtenção dos dados, foram coletados depoimentos acerca da atividade realizada. Logo, a ação descrita motivou o engajamento dos alunos e contribuiu para o seu aprendizado de forma efetiva.

Palavras chaves

Práticas Experimentais; Cartilha Lúdica; Laboratório de Química

Introdução

A Química é uma área da Ciências Exatas que deve desempenhar um papel importante no desenvolvimento das habilidades e competências dos discentes, conforme estabelecido na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Tal disciplina é fundamental, pois permite que o aluno compreenda o mundo ao seu redor, como as propriedades, as transformações e as interações da matéria, além de explorar suas aplicações em diversos campos da natureza e da sociedade. No entanto, a abordagem metodológica utilizada na sala de aula é muitas vezes tradicionalista, causando desinteresse dos alunos ao aprender os conceitos químicos (SOUZA; IBIAPINA, 2021). A grande maioria dos discentes, considera a disciplina complexa e temida, acarretando na memorização dos conteúdos e na simples memorização de fórmulas. Isso dificulta a vivência da Química na realidade do alunado. Nesse contexto, se faz necessário a utilização de metodologias inovadoras no âmbito educacional, como a experimentação, pois possibilita a correlação entre a teoria e a prática, tornando o conhecimento mais significativo e acessível (ALMEIDA e MALHEIRO, 2019). Desse modo, a experimentação desempenha uma aula mais motivacional, com o intuito de chamar a atenção e estimular o interesse do aluno em desenvolver o pensamento científico. Sob esse viés, o uso de experimentos no processo de ensino e aprendizagem faz com que os alunos sejam desafiados a formular hipóteses, executar procedimentos da prática, coletar e interpretar dados e tirar conclusões embasadas nas evidências. Portanto, as atividades experimentais estimulam o pensamento crítico, facilitam a compreensão dos fenômenos químicos e a aprendizagem cognitiva, objetivando que o aluno construa o seu aprendizado (ROCHA et al., 2019). Além disso, a utilização de recursos didáticos diferenciados, como a ludicidade, favorece a aprendizagem, uma vez que essa ferramenta serve como complemento para introduzir conceitos e procedimentos de determinado conteúdo (SANTANA; SANTOS, 2019). Nesse sentido, o uso de cartilhas lúdicas propicia a colaboração entre os discentes, auxilia na aprendizagem e prepara uma experiência prática mais interativa e significativa no laboratório de Química. Todavia, ainda existe a escassez dessas ferramentas pedagógicas nos laboratórios, tanto a ausência de experimentos, como a insuficiência de materiais lúdicos, seja pela falta de materiais/vidrarias, bem como pela carência do uso da ludicidade no ensino de Química. No entanto, as atividades experimentais e lúdicas desempenham um papel crucial no processo de ensino e aprendizagem, proporcionando uma variedade de experiências e abordagens educativas, além de uma aprendizagem interativa. Portanto, o Programa de Educação Tutorial - PET Química, do Instituto Federal da Paraíba - IFPB, Campus João Pessoa, teve como objetivo desenvolver uma “Cartilha Lúdica”, a qual teve o intuito de auxiliar a compreensão dos alunos sobre as normas de segurança no laboratório químico, vidrarias e medição de volumes.

Material e métodos

A presente atividade foi embasada na metodologia dialógica participativa que busca construir a interação ativa entre os sujeitos (ROOS; NEUMANN, 2022). Esse tipo de abordagem almeja aproximar os alunos do fenômeno em estudo por meio do diálogo que permite a exploração das dúvidas, aprimorando o aprendizado adquirido dos conteúdos investigados. Nessa conjuntura, os PETianos (bolsistas do grupo PET Química) do IFPB, Campus João Pessoa, ofertaram no primeiro semestre de 2023, uma atividade de ensino denominada "Introdução ao Laboratório de Química" (ILQ), para uma turma de 2º ano do Ensino Médio de uma escola pública com lócus na cidade de João Pessoa, Paraíba. Participaram da atividade 20 (vinte) discentes. Essa proposta consiste em fornecer aos alunos de Ensino Médio de escolas públicas e privadas, a oportunidade de aprender sobre o laboratório químico e conhecer alguns de seus recursos e vidrarias. A atividade ILQ ocorreu no laboratório de Química do IFPB Campus João Pessoa. O percurso metodológico do presente artigo se fundamentou na montagem e aplicação de uma cartilha didática lúdica referente à prática experimental sobre medição de volume dos líquidos, normas de segurança e as principais vidrarias utilizadas no laboratório. Vale salientar que os referidos itens foram apresentados no ILQ, concomitantemente com a distribuição do recurso lúdico supracitado. Consoante a isso, a ação didática ocorreu nos 3 (três) momentos elencados: i) Momento 1: Idealização da cartilha; ii) Momento 2: Criação do protótipo da cartilha; iii) Momento 3: Consideração e participação dos discentes na atividade ILQ. Nesse contexto, o processo de validação do material lúdico pedagógico proposto decorreu de uma análise qualitativa realizada por meio de debates, nos quais os alunos puderam expressar suas percepções e contribuir ativamente para a discussão. Esse momento de interação entre os sujeitos foi registrado pelos pesquisadores e analisado após a finalização da atividade de ensino.

Resultado e discussão

Momento 1: Idealização da cartilha O primeiro momento da atividade se deu pelo planejamento de como seria o material didático, tal ação tinha como objetivo selecionar uma ferramenta que auxiliasse os discentes no processo de aprendizagem de maneira lúdica, tal material foi utilizado durante a realização da atividade e após. Nesse segmento, o material didático selecionado foi uma cartilha educativa, segundo Maia (2019), uma cartilha é uma forma de proporcionar um aprendizado significativo e, assim, realizar a divulgação científica, em um ambiente formal e não formal. Deste modo, a cartilha tem como finalidade apresentar um caráter infográfico. Segundo Módolo (2007, p. 5), “o termo infográfico vem do inglês informational graphics e alia texto e imagem a fim de transmitir uma mensagem visualmente atraente para o leitor, mas com contundência de informação”. Ademais, como é uma atividade de cunho pedagógico, houve a elaboração de um roteiro, com o intuito de articular quais pontos seriam apresentados para manter um equilíbrio entre o lúdico e o educativo. Portanto, a estruturação da cartilha contém os seguintes tópicos: I) Normas de segurança; II) Vidrarias; III) Medição de Volumes; IV) Caça-palavras, respectivamente. Momento 2: Criação do protótipo da cartilha Por conseguinte, no segundo momento, deu-se início a produção da cartilha a qual foi construída pela plataforma Canva. Kiefer e Batista (2020), discutem que o software em questão passou a ser utilizado em grande escala no âmbito acadêmico, em virtude dos amplos recursos disponíveis. Com a finalidade de ter uma cartilha que tivesse o layout em ‘paisagem’ e que tivesse todas as informações em apenas uma folha tamanho A4, optou-se por pegar um modelo de ‘cardápio’ em branco no Canva, para a confecção do material (Figura 1). Logo após, subdividiu-se a folha inserindo cada tópico que seria explanado na aula experimental (Figura 2). Para nortear os discentes durante a leitura do material, houve a criação de personagens por meio do aplicativo Bitmoji (Figura 3), sendo eles avatares dos PETianos que os acompanharia durante a atividade. Dessa forma, cada estudante teria sua própria cartilha com um personagem específico. Na sequência, partiu-se para a penúltima fase da elaboração dos infográficos em que se adicionaram os textos, figurinhas ofertadas pela própria plataforma Canva, e também os avatares como retrata a Figura 4. Vale frisar que, com a finalidade dos estudantes acompanharem as demais atividades ofertadas pelo programa, na cartilha lúdica estava divulgada a rede social (Instagram) do PET Química. No final, visando a obtenção de dados de uma maneira lúdica, foi adicionado um caça-palavras para que os estudantes encontrassem o nome de 4 (quatro) vidrarias apresentadas durante a atividade (Figura 5). Os autores Miranda e Soares (2021), destacam a importância do uso da ludicidade, uma vez que torna o processo de aprendizagem mais eficaz e permite que o discente desenvolva diversas habilidades e competências. Sendo assim, o presente recurso poderá favorecer a aprendizagem dos estudantes pois utiliza uma linguagem acessível e ilustrações relevantes, facilitando a compreensão e absorção do conteúdo de forma efetiva. Momento 3: Consideração e participação dos discentes na atividade ILQ Com a conclusão das etapas de idealização e montagem das cartilhas, no terceiro momento, ocorreu a exploração do recurso didático, que serviu como material complementar a uma atividade de ensino denominada “Introdução ao Laboratório de Química”. este último momento, foi avaliada qualitativamente a contribuição e validação dos estudantes em relação ao ILQ com as cartilhas disponibilizadas durante a aplicação da atividade experimental. Nesse viés, foi verificado que os alunos demonstraram um elevado nível de interesse durante a realização da ação pedagógica, constatando um grande envolvimento tanto nos experimentos, quanto nas discussões acerca das vidrarias utilizadas. O emprego das cartilhas como um recurso guia durante a apresentação dos instrumentos do laboratório de Química foi evidente, refletindo-se na participação ativa dos discentes. Além disso, observou-se uma notável manifestação de entusiasmo no momento da resolução do caça-palavras proposto. Tal empolgação foi tão significativa que, de forma espontânea, os estudantes formaram grupos colaborativos com o intuito de se auxiliarem mutuamente na conclusão bem-sucedida do exercício. Esse engajamento dos estudantes durante o momento experimental é um ponto inerente para que o processo de aprendizagem se desenvolva. Todos os alunos tiveram oportunidade para praticar, manusear, refletir, problematizar no laboratório, uma vez que os bolsistas do PET Química forneciam oportunidades para realizar a prática de maneira segura. Isso motiva a autonomia do estudante e promove sua participação na construção do aprendizado. No final da intervenção didática, foram coletados registros em áudios nos quais os alunos expressaram suas considerações acerca da atividade. Essas gravações capturaram suas opiniões, reflexões e percepções em relação à ação realizada. Notavelmente, muitos dos estudantes afirmaram ter adquirido um maior conhecimento por meio dos materiais do ILQ do que em suas aulas expositivas de Química na escola. Esses dados ressaltam a urgência no desenvolvimento de novas abordagens pedagógicas baseadas em metodologias ativas, a fim de proporcionar um processo de ensino e aprendizagem significativo com a vivência desses discentes (SOARES, 2021). Através dos áudios dos alunos, foi obtida uma ampla variedade de feedbacks que contribuíram para a compreensão da eficácia da abordagem adotada, bem como para a identificação de possíveis melhorias a serem implementadas em futuras ações educacionais.

Figura 1: Construção do material por meio de um cardápio em branco

Construção do material por meio de um cardápio em \r\nbranco

Figura 2: Seleção dos tópicos desenvolvidos

Seleção dos tópicos desenvolvidos

Figura 3: Avatares dos PETianos.

Avatares dos PETianos.

Figura 4: Exemplo de uma das cartilhas com o avatar de uma das PETiana

Exemplo de uma das cartilhas com o avatar de uma das \r\nPETianas.

Figura 5: Incorporação do caça-palavras.

Incorporação do caça-palavras.

Conclusões

Diante da atividade proposta, observa-se que é necessário realizar medidas eficazes para diminuir as dificuldades dos estudantes em assimilar os conteúdos químicos. Dessa forma, a utilização de ferramentas didáticas lúdicas se faz de suma importância para o Ensino de Química, visto que possibilita aos discentes uma melhor compreensão do processo de ensino e aprendizagem. Além disso, a aplicação de uma metodologia ativa, como a metodologia experimental com uso do recurso lúdico, proporciona para os alunos uma edificação dos conceitos químicos de forma mais concreta, fazendo com que eles desenvolvam habilidades científicas essenciais para seu entendimento. Contudo, constata-se uma grande valia na implementação de novas propostas de ensino que busquem modificar o atual cenário tradicional, unindo as perspectivas lúdicas com as dimensões experimentais da mencionada disciplina. Assim, diante desses resultados promissores, a idealização da cartilha visa além beneficiar os participantes da atividade, também motivar a criação de propostas semelhantes e mais abrangentes para o ensino de Química.

Agradecimentos

Referências

ALMEIDA, W. N. C.; MALHEIRO, J. M. S. A experimentação investigativa como possibilidade didática no ensino de matemática: o problema das formas em um clube de ciências. Experiências em Ensino de Ciências, v. 14, n. 1, p. 391-405, 2019

KIEFER, A. P.; BATISTA, N. L. Pensando a sala de aula invertida e o CANVA como ferramentas didáticas para o ensino remoto. Metodologias e Aprendizado, v. 2, p. 143–156, 2020. DOI: 10.21166/metapre.v2i0.1421. Disponível em: https://publicacoes.ifc.edu.br/index.php/metapre/article/view/1421. Acesso em: 22 jun. 2023.

MAIA, Z. C. Plantas medicinais como recurso didático no ensino de química orgânica. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2019

MIRANDA, A. F. S.; SOARES, M. H. F. B. Jogos educativos para o ensino de Química: adultos podem aprender jogando? Debates em Educação, Maceió, v. 12, n. 27, p. 649-666, jun. 2021. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/debateseducacao/article/view/8781/pdf Acesso em: 22 jun. 2023.

MÓDOLO, C. M. Infográficos: características, conceitos e princípios básicos. In. XII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sudeste, Juiz de Fora. 2007.

ROCHA, C. J. T. et al. (Org.). Estudos Antrópicos na Amazônia: entre textos e contextos interdisciplinares. v. 1. p. 245-265. 2019.

SANTANA, J. M.; SANTOS, C. B. O Uso de Modelos Didáticos de Células Eucarióticas como instrumentos facilitadores nas aulas de Citologia do Ensino Fundamental. Revista de Psicologia, v. 13, n. 45, p. 155-166, 2019.

SOARES, R. G. Formação profissional docente e metodologias ativas: uma pesquisa-ação com base na problematização. 116 p. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde) - Universidade Federal do Pampa, Uruguaiana, 2021.