Autores

Santos Araujo, L. (UNIFESSPA) ; Paiva da Silva, R. (UNIFESSPA) ; Damasceno Vieira de Souza, A. (UNIFESSPA) ; Ribeiro Monteiro Marinho, R. (UNIFESSPA) ; Silva, C.E. (UNIFESSPA)

Resumo

No ensino de química há a necessidade de se ter um conhecimento sobre a tabela periódica. Mas, é possível observar que muitos alunos têm uma visão de algo distante e complexo ao se falar dela. Partindo desta problemática, teve-se como objetivo elaborar uma Tabela Periódica Lúdica (TPL) com objetos encontrados no cotidiano dos alunos e de fácil acesso, para que fosse possível relacionar a aplicação dos elementos químicos no seu dia a dia. Assim, foi possível notar uma boa aceitação e interação por parte dos alunos para quem ela foi exposta, onde puderam compreender de forma satisfatória a relação da tabela periódica com o nosso cotidiano. A TPL é um exemplo de materialização da Alfabetização Científica em sala de aula, com possibilidades de aprendizagem e relação com o cotidiano do aluno.

Palavras chaves

Ensino de Ciências-Químic; Tabela Periódica Lúdica; Alfabetização Científica

Introdução

No ensino de química temos a necessidade de ter um conhecimento sobre a tabela periódica. Ainda assim, é possível observar que muitos alunos têm uma visão de algo distante e complexo ao se falar desta tabela. Seja pelo pouco conhecimento ou pela falta de relacionar os elementos presentes com o seu dia a dia e a sua realidade mais próxima. Esta dificuldade por parte dos alunos é notada por grande parte dos professores que ministram a disciplina de Química e com isso há uma falta de interesse por muitos quando o assunto é tabela periódica e assim as aulas acabam ficando monótonas e sem grandes perspectivas (Oliveira, 2010). Para Godoi, Oliveira & Codognoto (2010), um apontamento feito por parte dos professores é que: [...] o assunto tabela periódica e propriedades periódicas é visto pelos alunos simplesmente como uma tabela que traz algumas informações que eles têm que estudar e decorar para tirar a nota do bimestre e, depois, não mais precisarão dela. Com isso se faz necessário buscar alternativas que tornem esse conteúdo, que é tão importante para o ensino de química, ainda mais atrativo para os alunos. Uma maneira bastante indicada é trabalhar de forma lúdica e através de jogos. Além disso, proporcionar uma aplicação mais prática e contextualizada da tabela periódica, em sala de aula, ajuda muito em sua compreensão. O conteúdo de química é vasto e em grande parte possui uma linguagem técnica que remete os alunos a algo complexo e que requer memorização. Isso acaba distanciando os alunos do conteúdo. Segundo Eichler e Del Pino (2000) um marco no desenvolvimento da química foi a descoberta da lei periódica, onde a Tabela Periódica é o instrumento principal e que serve como base para o estudo de diversos outros conteúdos. Ao analisarmos a apresentação do conteúdo de tabela periódica em livros didáticos é possível notar que é algo descritivo e sem relação direta com o contexto histórico dos elementos químicos, e muito menos ainda se estabelece uma relação com o cotidiano do aluno. Isso torna esse conteúdo distante do dia a dia deles e com poucas indicações de aplicações práticas em seu cotidiano. Quando não há práticas voltadas à realidade dos alunos, existe um desinteresse geral pelos conteúdos abordados, pois eles, em sua grande maioria, não se identificam com o que é ensinado. Tendo isso em vista, é importante pensar no ensino de química como parte da educação geral de forma a contribuir com a preparação para a vida (Lima; Barboza, 2005). Em muitos casos, estamos condicionados a lecionar ou propor atividades, deixando de lado outros espaços e/ou perspectivas que podem ser de grande apoio para enriquecer e ampliar o ensino e a aprendizagem dos estudantes de química. Na busca por aulas ainda mais dinâmicas que prendem os alunos e que ainda sejam eficientes para obtenção de conhecimento, os professores estão cada vez mais abertos a novas metodologias usadas em sala de aula. Para isso, as atividades lúdicas e os jogos didáticos têm sido bastante utilizados nas duas primeiras décadas deste século, no ensino de química. Esta metodologia de ensino não é algo tão recente, pois desde o século XVIII já se via o jogo como uma ferramenta que pode ser usada como suporte para o processo de aprendizagem da criança, aprimorando a mente e os sentidos para as relações sociais (ROBAINA, 2008). Aqui no Brasil, esta prática educativa foi alavancada, principalmente a partir do movimento intitulado Manifesto da Escola Nova (1932) este almejava, como um dos pontos de partida, uma escola totalmente pública, que fosse essencialmente gratuita, em que se pudesse garantir uma educação comum para todos. Para Kishimoto (1996) o jogo é uma atividade lúdica com intuito de divertir e ensinar, para isso é essencial que haja equilíbrio. Ainda que o aluno não apresente um desempenho satisfatório é possível notar aprendizagem, pois o aluno se dispõe a errar e com o erro é possível discutir e sanar dúvidas também. Desta forma, podemos afirmar que os jogos pedagógicos são ferramentas imprescindíveis para o desenvolvimento e aprendizagem de conteúdos em variadas temáticas, seja na Química, Física, Biologia entre outros. Neste artigo, apresentaremos uma tabela periódica desenvolvida por alunos da graduação do Curso de Licenciatura em Química, da Faculdade de Química, do Instituto de Ciências Exatas, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA, onde foram utilizados objetos do cotidiano para apresentar os elementos de forma interativa.

Material e métodos

Durante o processo de confecção da tabela periódica foi realizado um levantamento sobre os objetos a serem utilizados, levando em conta os elementos que seriam encontrados com maior facilidade ou percebidos de forma mais clara e direta. Foi montada uma lista com tais objetos e de forma paralela uma lista com os elementos que seriam utilizados, trazendo apenas imagens já impressas na tabela. A Tabela Periódica desenvolvida pelos alunos do Curso de Licenciatura em Química da Unifesspa foi produzida com as dimensões de 2,00 m de comprimento por 1,56 m de largura. Ela consiste em um banner descritivo dos elementos, onde eles são representados por objetos encontrados no cotidiano. Dentre esses, 60 objetos foram colados com auxílio de velcro e os demais elementos são representados por fotos de materiais onde podem ser utilizados ou pelo menos observado no dia a dia. Os elementos foram divididos seguindo uma legenda de cores, que fica na parte superior da tabela indicando a classificação dos gases, metais, não metais e o hidrogênio. Cada elemento foi descrito por nome, sigla e número atômico como apresentado na imagem 1. Para os elementos considerados radioativos foi utilizada uma imagem para identificar. Para alguns elementos, foram colocadas as imagens de objetos em que eles são encontrados. Como foi o caso do Nióbio que é encontrado em ligas para motores a jato e o Molibdênio que pode ser encontrado em lubrificantes, essas representações podem ser observadas na imagem acima. Assim, os alunos ao observarem a tabela poderiam relacionar o elemento descrito e também identificar onde pode ser aplicado. Os elementos em que foram colados com velcro, torna a Tabela Periódica Lúdica ainda mais dinâmica, pois os alunos podem retirar da tabela, com isso é possível haver uma interação maior por parte dos alunos com ela, tornando assim algo mais real para eles. Também o professor pode realizar jogos em que os alunos devem interagir com esses objetos e sua localização exata na tabela periódica.

Resultado e discussão

A Tabela Periódica Lúdica foi apresentada na I Jornada Científica do Instituto de Ciências Exatas, da Unifesspa. Este momento foi pensado para trazer aos alunos do ensino médio materiais didáticos produzidos pelos discentes da graduação do curso de Química, com o intuito de facilitar o ensino-aprendizagem em conteúdos que os alunos demonstram certo grau de dificuldade. São grandes as contribuições da exposição da Tabela Periódica Lúdica com objetos do dia a dia, tornando possível uma relação de estreitamento entre o conteúdo e os alunos. A princípio foi possível notar a grande curiosidade por parte destes quando tiveram um contato inicial com a exposição da tabela. Para muitos, se torna difícil reconhecer a grande maioria dos elementos da tabela periódica e relacionar com suas aplicações no cotidiano, apenas através dos elementos químicos. Porém, a Tabela Periódica Lúdica conta com objetos comuns, como por exemplo, a caneta esferográfica que está no dia a dia dos alunos, entre muitos outros. Durante a exposição da Tabela Periódica Lúdica, houve auxílio de um dos graduandos no curso de Licenciatura em Química para que os alunos pudessem tirar suas dúvidas sobre os materiais expostos, como observamos na imagem 2. Assim, se torna possível para estes compreenderem de forma ainda mais clara como que o elemento químico é aplicado em determinado objeto. Como no caso da caneta esferográfica (a da marca bic, por exemplo) mencionada anteriormente, pois os alunos de forma inicial talvez se questionassem em que parte da caneta o elemento em questão seria aplicado, neste caso o Tungstênio (W), que está na ponta da caneta, por onde a tinta escorre e marca-se o papel nas dimensões de sua espessura. O discente que estava à frente da exposição trouxe esse questionamento aos alunos e em seguida os ajudou a entender o contexto, explicando como funciona a caneta esferográfica e como essa revolucionou a forma anterior de escrita à mão que eram com as canetas tinteiros. A mesma dinâmica se seguiu com os diversos elementos da tabela. Assim, os alunos tiveram a oportunidade de interagir e questionar sobre suas dúvidas e curiosidades dentro do contexto aplicado. Para além da utilização em que foi proposta, a tabela também amplia possibilidades para que os professores possam adequar ao espaço e ao conteúdo a ser abordado. A título de exemplificação, podemos ressaltar que as turmas de 9º ano podem abordar o estudo dos metais enquanto que os alunos do 1º ano do ensino médio podem relacionar um contexto histórico, propriedades periódicas e até mesmo o estudo de períodos e famílias. Também é preciso que o professor, de posse desse material não se limite ao que está exposto, trazendo os alunos para o centro do processo de ensino- aprendizagem, pedindo que estes realizem pesquisas, proponham projetos; participem de jogos avaliativos onde eles devam conhecer os materiais, ver as características dos elementos químicos e entender como os objetos e a matéria estão organizados a partir desses elementos. Essa prática da Tabela Periódica Lúdica pode ser muito bem enquadrada dentro dos preceitos da Alfabetização Científica discutida em Chassot (2003; 2006). Para ele, a Alfabetização Científica implica em ensinar a ler e interpretar, a linguagem construída pelos homens e mulheres para explicar o nosso mundo. Ele ainda ressalta que aquele que é incapaz de fazer uma leitura do universo é um analfabeto científico (Chassot, 2003). É digno de nota que nenhum ser é capaz de dominar todo o conhecimento científico, nem mesmo por anos de pesquisa e estudo, pois a ciência está em constante desenvolvimento. Porém, ser alfabetizado cientificamente envolve ter o mínimo do conhecimento necessário para poder avaliar os avanços da ciência e tecnologia, além de suas implicações na sociedade e ambiente. O que deve ser trabalhado desde as séries iniciais, para que o indivíduo tenha o conhecimento científico mínimo, para entender como a ciência funciona. O que foi possível contemplar por meio da Tabela Periódica Lúdica, ferramenta de facilitação para a alfabetização científica.

Figura 1

Quadro com os elementos; imagem para os elementos \r\nradioativos e exemplos de objetos e materiais de \r\nconhecimento geral.

Figura 2

Tabela Periódica Lúdica, com representações de \r\nobjetos do dia a dia na fotografia da esquerda e na \r\nfotografia da direita alunos do ensino médio em \r\nvisita à universidade tirando dúvidas e \r\ncuriosidades com os graduandos do curso de \r\nLicen

Conclusões

Diante do exposto, é notório a eficácia de uma abordagem interativa da tabela periódica, onde foi possível ver os elementos mais do que apenas símbolos expostos, mas sim como importantes elementos presentes em nosso cotidiano, nos objetos que vemos e utilizamos em nossa casa, em nosso trabalho, na escola e etc. No que se refere a alfabetização científica, podemos ressaltar que a Tabela Periódica Lúdica é uma ferramenta eficaz, logo foi observado por meio do contato dos alunos que é possível transmitir o conhecimento abordado de forma satisfatória. Para tanto, além do material desenvolvido, também é de suma importância que o professor que esteja a frente da atividade seja capaz de fazer com que os alunos se tornem atuantes e interajam, até mesmo compartilhando suas experiências ou dúvidas para contribuir com o assunto abordado.

Agradecimentos

Agradecemos ao curso de Licenciatura em Química e a Faculdade de Química do ICE, Unifesspa, pelo apoio às atividades educativas em geral e em especial a esse projeto.

Referências

CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 4a. ed. Ijuí. Editora Unijuí. 2006. 440 p. (Coleção Educação em Química).
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, Jan/Fev/Mar/Abr, Nº 22. 2003. p.89-100

EICHLER, M.; DEL PINO, J.C. Computadores em educação química: estrutura atômica e tabela periódica. Química Nova, v.23, n. 6. 2000. p.835-840,

GODOI, T. A. F.; OLIVEIRA, H.P.; CODOGNOTO, L. Tabela periódica – um super trunfo para alunos do ensino fundamental e médio. Química Nova na Escola, n. 32, 2010. p. 22-25.

KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo. Cortez. 1996.

LIMA, M. E. C. C.; BARBOZA, L. C. Ideias estruturadoras do pensamento químico: uma contribuição ao debate. Química Nova na Escola, n. 21. 2005. p. 39-43.

OLIVEIRA, L. M. S.; SILVA, O. G.FERREIRA, U. V. da S. Desenvolvendo jogos didáticos para o ensino de química. Holos. vol. 5. 2010. p. 166-175,

ROBAINA, J. V. L. Química através do lúdico: brincando e aprendendo. Canoas. Ed. Ulbra. 2008.