Autores

Oliveira, W.V. (UFPI) ; Ferreira, J.Q. (UFPI) ; Ferreira, L.N.A. (UFPI)

Resumo

O objetivo deste estudo consistiu em analisar a abordagem da temática leitura e escrita no ensino de Química em todas as edições da Revista Química Nova na Escola. Para alcançar esse propósito, realizamos um estudo que envolveu o levantamento e análise de artigos publicados desde a primeira edição (1995) até a vigente (2023). Nessa busca, identificamos um total de 18 artigos direcionados ao tema. De posse dos dados, o levantamento revelou uma quantidade reduzida de publicações o que, a priori, estima ressaltar a necessidade de sanar essa lacuna, em especial, pela relevância que o periódico apresenta frente à comunidade educacional da área.

Palavras chaves

Leitura e escrita; Ensino de química; Revisão

Introdução

Em 2023, a Revista Química Nova na Escola (QNEsc) celebra 29 anos e, desde sua criação em 1994, tem sido de grande importância para professores da área. A QNEsc é produzida por aqueles que ensinam e pesquisam na área e tem contribuído para a melhoria do trabalho de educadores, constituindo-se atualmente um patrimônio dessa comunidade (Ramos et al. 2015). Neste sentido, vale destacar entre os mais variados temas de publicações, a importância da leitura e escrita, visto que, em qualquer campo do conhecimento o aprendizado é inseparável da leitura e da escrita eficientes. Segundo Wenzel e Maldaner (2014), para escrever um texto que utilize as palavras de maneira coerente e faça uso dos significados químicos estabelecidos historicamente requer um nível cognitivo que vai além da simples memorização e abrange diferentes níveis de compreensão conceitual. Na área das Ciências, a prática da escrita já é considerada um objeto de estudo, mesmo que em estágio inicial. Nas escolas, as atividades de escrita frequentemente se limitam a um mero exercício mecânico de ideias, sem promover uma elaboração e reflexão genuínas. Essa situação também se repete nos cursos universitários de Química, nos quais há uma abordagem predominantemente quantitativa, priorizando habilidades de cálculo e resolução de problemas em detrimento de habilidades qualitativas, como a capacidade de argumentação oral e escrita (Cabral e Flor, 2016). Muitos alunos têm dificuldades em compreender textos científicos, o que prejudica o aprendizado. Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar as abordagens da temática de leitura e escrita no ensino de Química em todas as publicações da QNEsc, visando identificar estratégias que possam contribuir para aprimorar o processo de aprendizagem nessa área.

Material e métodos

Para a realização desta pesquisa, conduzimos uma busca direta no site da Revista Química Nova na Escola, com base em dois critérios de inclusão e exclusão. Em primeiro lugar, decidimos analisar todas as edições publicadas pela revista no período de 1995 a 2023. Embora a revista tenha sido idealizada em 1994, o primeiro número foi publicado somente em maio de 1995. Como segundo critério, focamos em artigos científicos que abordassem especificamente a temática da leitura e escrita no contexto do ensino de química. Após a conclusão da busca e quantificação dos artigos, procedemos com uma leitura cuidadosa dos trabalhos selecionados, a fim de analisar as diversas abordagens presentes.

Resultado e discussão

Considerando o total de 930 publicações da revista em análise, somente 18 abordam a temática leitura e escrita, representando apenas 1,93% do total (Gráfico 01). Para Cabral e Flor (2016), a prática da escrita, no contexto do ensino de ciências, é reconhecida como um objeto de estudo, ainda que em estágio inicial. Barbosa et al., 2016 apontam que a leitura no ensino de ciências é um assunto pouco explorado, e ressaltam a importância de explorar pesquisas sobre esse objeto. No Gráfico 02, observa-se que, ao longo dos anos, as publicações não apresentaram aumento significativo, corroborando o apresentado por Silveira Júnior, et al. (2015), os quais afirmam que a leitura e a escrita na educação em ciências têm pouca atenção. Para Wenzel e Maldaner (2014) a leitura e a escrita são práticas fundamentais de aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades de letramento é responsabilidade de todos os professores. Para Francisco Júnior (2010) os principais desafios dos estudantes estão relacionados à pouca capacidade de compreensão, desvalorização da leitura, obstáculos de domínio metacognitivo, desmotivação, inabilidade argumentativa e de escrita. As publicações trazem diferentes abordagens para aprimorar a leitura, destacando-se: programas de formação continuada (Silva e Queiroz, 2021), textos de divulgação científica (Quadros e Miranda, 2009), HQs (Rodrigues e Quadros, 2018), livros variados, análise de rótulos de alimentos (Chassot, et al., 2005), produções escritas (Afonso et al, 2016) e espaços virtuais (Giordan, 1998). Para Lima et al. (2022), é necessário trabalhar com os problemas intrínsecos à leitura e à interpretação de textos. Para isso, a escolha do material a ser lido deve ser cuidadosa, haja vista a influência que possui na leitura (Francisco Júnior, 2010).

Gráfico 01

Frequência de trabalhos sobre leitura e escrita publicados no periódico Química Nova na Escola no período de 1995 a 2023.

Gráfico 02

Quantidade de publicações sobre leitura e escrita publicados no periódico Química Nova na Escola no período de 1995 a 2023 por quinquênio.

Conclusões

A análise revelou que publicações sobre leitura e escrita na QNEsc ainda são incipientes, dada a relevância da temática e da revista para professores da área. Observamos ênfase à importância da leitura e da escrita no ensino de química, pois, desempenham um papel essencial no processo de ensino e aprendizagem e uma função crucial na mediação do conhecimento e formação de leitores críticos. Investir em práticas de leitura e escrita no ensino de química, portanto, é premente, uma vez que favorece o desempenho dos estudantes e contribui para o letramento científico.

Agradecimentos

Agradecemos ao programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Piauí.

Referências

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