Autores

da Silva, F. (UFMA) ; Marques, C. (UFMA)

Resumo

Educação Ambiental tem sido trabalhada na escola, de modo fragmentada, reduzida a projetos pontuais, referentes às datas comemorativas. Este artigo é recorte de pesquisa em desenvolvimento no Mestrado Profissional de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica, da Universidade Federal do Maranhão e aborda o ensino de ciências, currículo e educação ambiental na escola. O objetivo foi verificar a discussão em publicações da última década para a formação de sujeitos ecológicos. Pesquisa qualitativa, tipo bibliográfica. Foram coletados 08 artigos. Resultados revelaram a importância da EA no currículo do ensino de ciências e como está sendo silenciada, reduzida com a implementação da Base Nacional Comum Curricular (2018) com a reformulação tanto no ensino fundamental quanto no médio.

Palavras chaves

Ensino de ciências; Currículo; Educação ambiental.

Introdução

Sabe-se que o currículo, em seu particular, está fortemente relacionado a cultura e à prática docente, porém na ascensão de conhecimentos, o currículo não é um instrumento simplesmente indiferente, que envolve saberes diversos e atemporais, ao contrário, é sempre dinâmico, fruto social desenvolvido e construído na extensão educacional com discussões, interesses, concessões culturais, políticas, sociais e econômicas que apontam como a educação deve ser conduzida, trabalhada (KUSMAN e ROSA, 2013). Quando voltamos olhares para a área de ciências naturais, concordamos com o que Bizzo (1998) afirma, no sentido de entender que ensino de ciências deve ser direcionado para a formação de cidadãos críticos e participativos, buscando desenvolver habilidades que atendam a capacidade de interpretar o mundo e nesse sentido o espaço escolar tem importante função na construção dos saberes necessários para a consolidação dessa formação. E quando se pensa em educação cientifica para cidadania, a educação ambiental faz parte desse arcabouço de saberes necessários para formação de cidadãos reflexivos e participativos. A Educação Ambiental vem permanecendo presente nos últimos anos nas orientações curriculares do sistema de ensino, de caráter transversal, possibilitando inserir situações do dia a dia da rotina escolar para desenvolver habilidades que sejam utilizadas em prol da qualidade de vida. Nesse sentido, é que se faz necessário, a partir das discussões do ensino desenvolvidas no “chão da escola” entendermos o cenário ambiental e a partir dele problematizar no ensino de ciências a realidade social presente nos ambientes em sua dimensão política e cidadã (CARVALHO, 2012). Diante do exposto, nesse artigo, trouxemos os seguintes questionamentos para discutirmos na direção do currículo e da educação ambiental: O que se tem discutido na literatura sobre as relações existentes entre o ensino de ciências, o currículo e a educação ambiental? e como elas podem colaborar na formação de sujeitos que compreendem sua função e busquem ser atores de transformação do cenário social?

Material e métodos

A presente pesquisa apresenta-se sob a abordagem qualitativa, na forma de pesquisa bibliográfica, buscando refletir sobre ensino de ciências, currículo e educação ambiental, analisando as informações da ciência em consonância com aspectos sociais e do ambiente, visando à formação cidadã, atuante e crítica como prática de conhecimento, valorização e pertencimento. Para tanto, foram pesquisados artigos científicos que versassem sobre essa temática, disponíveis nos bancos de dados dos Periódicos Capes e Google Acadêmico, publicados no período de 2012 a 2023, considerados relevantes para a compreensão dos acontecimentos sociais, significado e a intencionalidade. O tratamento dos dados foi realizado pela perspectiva da análise de conteúdo, pontuando as principais discussões contidas nos manuscritos selecionados.

Resultado e discussão

O levantamento de dados foi realizado a partir dos descritores ensino de ciências, currículo, e educação ambiental. Dessa forma, foram identificados 05 (cinco) manuscritos que versavam sobre a questão de pesquisa que orienta esse trabalho. É consenso de que a escola é um dos maiores campos de ação e protagonismo da EA e o ensino de ciências pode oferecer condições de aquisição de conhecimentos específicos além de possibilitar escolhas que estimulem os alunos e todos da comunidade escolar a buscarem percepções e atitudes cidadãs, conscientes de suas responsabilidades e naturalmente, pertencentes ao ambiente ecológico. Os artigos selecionados e explorados para esta pesquisa possibilitaram um panorama do que está sendo pesquisado e como a EA é trabalhada nos currículos das escolas brasileiras. Observou-se que os 05 (cinco) artigos reconhecem que o currículo é compreendido como lugar de debate, formado por diversos interesses corporativos e que o ensino de ciências pode motivar os/as estudantes a desenvolverem competências de cunho ambiental que estão presentes no cotidiano da sociedade. A exemplo, os pesquisadores Kusman e Rosa (2013) e Souza e Santos (2012) planejaram o papel da escola na educação em ciências, em relação a superficialidade e/ou não existência de práticas interdisciplinares, o que prejudica e/ou dificulta a inserção da EA no âmbito escolar. Alertam também que os conteúdos referentes à EA são trabalhados em sala de aula, apenas em ocasiões específicas, como datas comemorativas. Problematizam ainda sobre a fragilidade dos documentos legais atuais, a BNCC, que não fornece de maneira clara e formal subsídios teóricos, nem metodológicos para a inserção do tema nas escolas e assim, a escola não possui obrigatoriedade, através de documentos e orientações oficiais de currículo para que a EA se efetive no contexto escolar. No artigo de Prestes e Marques, (2023), as autoras apresentaram e mostraram que: “[ ...] A EA deve ser compromisso emergente para a formação dos sujeitos ecológicos preparado para interagir e atuar de forma crítica.” (PRESTES, MARQUES, 2023, p.117). Portanto, é lamentável que ainda no século XXI, diante dos avanços em diversas áreas e saberes científicos, a EA, “tropeça” em muitas dificuldades na tentativa de inclusão no currículo escolar do ensino formal. O currículo está sempre em movimento, ele é naturalmente flexivo e dinâmico. Desconstrói as insistentes verdades absolutas, examina as tradicionais práticas de reprodução do corpo docente, lança novos conhecimentos, saberes, novos laços, discussões e debates no ambiente escolar. Ressalto o fato de a Educação Ambiental estar relacionada aos Componentes curriculares Ciências, Biologia e Geografia sob diversos aspectos curriculares (conteúdos e práticas, projetos disciplinares e interdisciplinares/integrados) e teórico- metodológicas aponta para diversas possibilidades de diálogos entre a EA e o EC.

Conclusões

Importante relembrar que os temas transversais, entre eles, a EA apareceram pela primeira vez com os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, porém com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular -BNCC (BRASIL, 2018), foram revisados e alterados os temas transversais, que passaram a apresentar uma nova nomenclatura - Temas Contemporâneos Transversais -TCT (BRASIL, 2019). Muitos autores reconhecem que a EA apresenta uma política própria e, portanto, requer ser amplamente discutida, tanto nos sistemas de ensino, quanto na sociedade. Apesar da Base Nacional Comum Curricular, BNCC (Brasil, 2018) ser superficial em relação a trabalhar a EA nas escolas de forma contínua e sistemática no ensino formal e básico, de maneira transversal e interdisciplinar é relevante e essencial trabalhar este tema tão essencial para a vida de todos e dos diversos ecossistemas. Para as autoras Kistemacher e Costa (2022) “[...] a EA deve ser desenvolvida de modo integral, transversal, interdisciplinar e contextual, tanto na educação formal quanto na não-formal. Excepcionalmente há entendimentos de que a EA deve ser introduzida somente nos componentes curriculares Ciências e Biologia apenas de forma transversal, desqualificando e até mesmo invisibilizando, silenciando outras probabilidades e concepções curriculares. E assim com as diversas e possíveis interversões e diálogos entre a EA e o EC, sinalizo a perspectiva CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) de educação científica como um caminho que aponta para áreas ainda pouco exploradas. A abordagem CTSA apresenta diversos subsídios para a ampliação deste diálogo, na medida em que valoriza e respeita aspectos históricos, sociais e culturais da ciência, do ambiente e suas interconexões. E assim neste espaço de abertura para a inserção de novos conhecimentos com comportamento crítico e reflexivo idealizo uma Educação Ambiental/científica com tendência CTSA na educação básica e superior, valorizadas, que respeite e acolha as diferenças, o ambiente, o conhecimento, os saberes, as tradições a ciência e a democracia.

Agradecimentos

Agradeço ao PPGEEB/UFMA e ao Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências Naturais/GPECN.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em:http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 30 de jun. 2023.
BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf (mec.gov.br). Acesso em 20 jun.2023.
BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 1998.
CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental e formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2012.
KISTEMACHEr, D. & COSTA, M. do C. G. B. (2022). Política de educação ambiental na licenciatura: percepções de discentes em ciências naturais. PESQUISA EM FOCO, 27(1). Acesso em 01 jun 2023.
KUSMAN, R. A. ROSA, M. A. A Educação Ambiental no currículo: percepção dos professores das séries iniciais; 2013: XIV EPEA, 2013. Acesso em 30 jun. 2023.
PRESTES, M. A. C. M.; MARQUES, C. V. V. C. O. A Arte Como Ponte em Química: um olhar para a formação cidadã e ecológica na educação de jovens e adultos. Revista Internacional de Educação de Jovens e Adultos, v. 5, n. 09, p. 106-122, 13 fev. 2023. Acesso em 19 fev. 2023.
SOUZA, R. M, SANTOS, M. M. Análise da prática pedagógica em Educação Ambiental no contexto de escola rural em Itaporanga DÁjuda – SE. Revista Vitas, n. 2, p. 1-17, 2012.