Autores

Barros, P.S. (UNIFESSPA) ; Silva, S.S. (UNIFESSPA) ; Silva, C.E. (UNIFESSPA)

Resumo

A ludicidade é um suporte didático que ajuda no processo de ensino-aprendizagem. Para os professores que lecionam a disciplina de química, as atividades lúdicas e jogos pedagógicos é uma maneira de motivar os alunos nos assuntos que não são digeridos facilmente. Os jogos pedagógicos também servem como meio de avaliação e de fixação de conteúdo. Neste artigo apresentamos o jogo “O caminho químico” que é um jogo lúdico que tem o intuito de ajudar a relembrar os conteúdos relacionados a Tabela Periódica. Os resultados expuseram onde os alunos tinham mais dificuldade, e mesmo com as dificuldades eles tentaram suprir as deficiências no assunto da tabela periódica, participando ativamente do jogo. Conclui-se que os jogos didáticos podem ser um importante aliado do professor de química.

Palavras chaves

Ensino de Ciências-Quím; Ludicidade; Tabela Periódica

Introdução

Atividades e jogos lúdicos servem como auxílio para facilitação do ensino- aprendizagem. Essas dinâmicas que são desenvolvidas em sala de aula têm objetivo de contribuir para uma melhor aprendizagem dos conteúdos a serem abordado. Desta forma, é mais fácil aprofundar os conhecimentos dos educandos de forma a se diferenciar do ensino tradicional. “Os jogos podem ser considerados educativos de desenvolverem habilidades cognitivas importantes para o processo de aprendizagem tais com resoluções de problema, percepção, criatividade, raciocínio rápido, dentre outras. Quando um jogo é elaborado com objetivo de atingir conteúdos específicos para ser utilizados no meio escolar. No entanto, se ele não possuir objetivos pedagógicos claros e se dê ênfases ao entretenimento, então os caracterizamos de entretenimento” (GODOI; OLIVEIRA; CODOGNOTO, 2010). Essa prática, está cada vez mais ganhando espaço nas salas de aulas e o ensino tradicional está sendo deixado de lado, pois com a utilização desses métodos faz com que os estudantes se tornem o protagonista e assim eles adquirem mais interesse e acabam interagindo mais na sala, tanto entre eles, quanto entre eles e o professor e com o conhecimento (LAPA; SANTOS, 2018). De acordo com Almeida (1995) a educação lúdica não é apenas passatempo ou brincadeira superficial, ela é uma ação natural para criança, adolescente, jovem e no adulto e emerge de uma maneira em direção a algum conhecimento, e que redireciona na construção constante do pensamento individual em compartilhamento com pensamentos coletivos. Dessa forma, a ludicidade não é apenas uma brincadeira, e sim um método que faz o indivíduo desenvolver criatividade, funções cognitivas e sociais. Para completar o Santos (1997) afirma que o brincar está cada vez sendo mais empregado na educação, na formação dos pensamentos e em todas as funções cognitivas e que acaba se transformando bastante praticável para a construção do conhecimento. Segundo Neto e Moradillo (2016) o contexto da ludicidade, no ensino de química está na fase de desenvolvimento, pois quando é pensado em jogos e atividades lúdicas no ensino de química, as ideias iniciais sempre é criar um jogo, mas sem uma teoria ou algum objetivo específico, só tem a intuição que essas atividades elaboradas vão de alguma forma ajudar na aprendizagem do aluno. Dessa foram, quando este é aplicado em sala de aula, o potencial deste não é explorado de forma adequada. Neto e Moradillo (2016) ressaltam também que os jogos não devem ser o principal motivo para o aprendizado, pois se o professor focar apenas no jogo como a única solução para o ensino, ele se tornará refém dessas atividades e pensará que suas aulas só são boas com o uso dessa atividade e o ensino de química ficará em segundo plano. Há vários docentes que adotaram a utilização dos jogos didáticos para o ensino de química ou para outras disciplinas. E eles viram que com os usos dos jogos, o nível de aprendizagem foi maior e os alunos interagiam mais na disciplina. A relação de aluno com aluno e aluno com professor também tiveram grande avanços, pois, o jogo ajuda na interação, comunicação e trabalho em grupo. Soares, Okumura & Cavalheiro (2003) dizem “O interesse despertado pelo jogo no aluno, graças ao desafio que este ele impõe, leva a um maior poder de assimilação e consequentemente a um maior grau de aprendizagem”. Então, os jogos fazem como que alunos se sintam estimulados com o grau de dificuldade e estes ficam mais abertos para absorver o conteúdo que precisa ser passado e com isso melhora o seu aprendizado. Cunha (2012) diz que os jogos didáticos é um auxiliar para aprendizagem dos conteúdos de química, no momento em que é proposto o desafio que ajuda os alunos a ganharem interesse. Se o jogo para o aluno é uma forma de construção de pensamento e evolução de conhecimento, o professor ganha o papel de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. A tabela periódica apesar de ser conhecida, os estudantes sentem uma certa dificuldade para entendê-la, como as propriedades que a constituem, a junção das propriedades que formam outras substâncias, a organização dos elementos. Quando não se tem o hábito ou conhecimento, na hora no manuseio desse material se torna um pouco confuso, e uma grande parte dos alunos acham que devem decorar os nomes dos elementos, números atômicos, massa atômica, mas não há necessidade, pois, ela serve como guia ou meio de consulta. Então, o Jogo Caminho Químico que foi baseado em Santana & Kamiski (2016) é um jogo de tabuleiro que vem para auxiliar os estudantes que tem dificuldade nesse conteúdo, já que o conhecimento sobre a tabela periódica serve de base para outros assuntos, tais como equilíbrio químico, química inorgânica etc. A Tabela Periódica é um instrumento importante não só para química como para outras áreas também, ela ajuda a compreender melhor a interação dos elementos, entender que os elementos são organizados de acordo com as suas características em comum.

Material e métodos

Na disciplina de prática pedagógica, uma das atividades previstas era a de se criar um jogo que fosse voltado para 1º ano do ensino médio. Então, foi criado o jogo didático que estava relacionado com o assunto da tabela periódica e foi chamado de “caminho químico”, tanto o tabuleiro quanto as cartas foram todos feitos na plataforma Canva e depois impressos em papel A4 e recortados. O jogo organizado que é aqui apresentado possui dezoito cartas com perguntas simples abordando os conceitos e que estão todos interrelacionados, cinco cartas coringas. O tabuleiro está constituído com trinta e uma casa, sendo que três casas eram de azar e duas casas era de sorte, quatro pinos e um dado. Para a aplicação do jogo, inicialmente foi introduzido o conteúdo teórico da Tabela Periódica, quem foram as pessoas a descobrirem os primeiros elementos, as primeiras organizações da tabela, as famílias e os períodos, o do porquê da ordem dos periódicos ser de acordo com o número atômico que cada elemento pertence e algumas curiosidades sobre alguns elementos. Regras do jogo: 1) Todos os jogadores da equipe devem responder; 2) Utilizar apenas a tabela periódica como recurso; 3) o dado deve ser jogado em uma única tentativa; 4) Deve ser retirada apenas uma carta por rodada;5) As cartas sorteadas não devem ser retiradas novamente. Como jogar: 1) Para início da partida as equipes devem jogar o dado; a equipe que jogar o dado e tiver a numeração maior inicia o jogo; 2) A equipe que está na vez vai retirar a carta e dará a carta para a equipe adversaria ler; 3) A equipe que começar deve jogar o dado e retira uma carta, ao acertar a equipe avança a quantidade que indica o dado e em caso de erro a equipe não avança; 4) Os jogadores que caírem na “casa” vermelha devem voltar de acordo com a quantidade descrita na casa; 5) Os jogadores que caírem na casa rosas devem avançar de acordo com a quantidade descrita na casa; 6) O jogo continua até que uma das equipes chegue ao final do caminho químico, e a mesma se torna a vencedor. Cada grupo jogou o dado e quem tirou o maior número iniciou o jogo, depois disso a ordem de jogada seria de acordo com quem tirou o maior número no dado. Em seguida, o grupo que irá jogar escolherá a carta e dará para o grupo adversário ler, a razão de dar as carpas para o grupo oposto é porque as cartas contêm as respostas. Caso eles não consigam responder as questões, eles podem consultar a tabela periódica, porém nem todas as respostas eles não conseguirão encontrar nela pois algumas perguntas são curiosidade em relação dos elementos ou como esses elementos estão sendo empregados no nosso cotidiano. Se porventura eles errarem eles não poderão avançar e tem a possibilidade de voltar para o início do jogo. Dessa forma, os alunos se sentirão estimulado em querer jogar.

Resultado e discussão

O caminho químico foi elaborado com intuito de relembrarem os conceitos básicos da tabela periódica de uma maneira divertida. Participaram 16 alunos e eles foram divididos em 4 grupos; ficou 4 alunos para cada grupo. O jogo foi aplicado em uma turma do 5º período de Licenciatura em Química, da Faculdade de química, do Instituto de Ciências Exatas, da Universidade Federal Sul e Sudeste do Pará. O jogo foi proposto pelo professor da disciplina de Prática Pedagógica em Química para ser aplicado no 1º ano do ensino médio. Para aplicação do jogo foi feito uma regência simulada na turma do 5º período, já mencionada. Na Figura 1 mostra o tabuleiro e Figura 2 as cartas que foram desenvolvidas. No curso de química, a tabela periódica é vista na maioria das disciplinas, porém onde ela tem mais destaque é na disciplina de inorgânica no 3º período. Com isso os discentes não têm o conteúdo de forma fresca e por isso que o jogo que seria destinado para o ensino médio foi utilizado no ensino superior como uma forma de revisão, para relembrar os assuntos que acabaram sendo esquecidos, com o passar do tempo. De início, foi passado o conteúdo teórico que são as propriedades periódicas e aperiódicas e sua organização. Após a exposição da teoria foi explicado que os jogos ou atividades lúdicas são relevantes para o ensino de química, pois dessa forma, os discentes se sentem estimulados a aprender o conteúdo abordado. Foram repassadas regras e como se joga o caminho químico, que é o jogo de tabuleiro, bastante próximo dos jogos de tabuleiro que são jogados na infância. Por esse motivo muito alunos se sentem, de certa forma, nostálgicos e apresentem uma certa afinidade com o jogo. Quando os alunos foram divididos em equipe, já começaram a ficar empolgados. Antes da iniciação do jogo foi alertado que o importante não seria ganhar, mas sim relembrar o conteúdo. Quando o Grupo (G1) retirou a primeira carta que era a seguinte pergunta: “Qual elemento é necessário para a produção de energia nuclear em reatores e é utilizado em armas nucleares?” eles conseguiram responder rapidamente e assim avançando de casa. O Grupo (G3) e Grupo (G4) tiraram as cartas com questões de conceitos, tais como: “à tabela periódica é dividida em quantas famílias?” e “em qual família o ferro está localizado?”. Eles não conseguiram responder de maneira coerente mesmo consultando a tabela periódica. A segunda pergunta o G4 respondeu que só sabia que era da família dos metais, mas não conseguiam lembrar que na tabela periódica consistiam nos metais representativos que são os elementos que não possui subníveis completo como a família 1A, 2A, 3A, 4A, 5A, 6A, 7A e 8A, e os metais transitivo que são os elementos que ficam entre a família 2A e 3A, eles são elementos que não conseguem fazer a formação de cátion com o orbital completo. Nos quatros grupos foi constatado que tinham dificuldades semelhantes que não conseguiam diferenciar ametais dos semimetais. Eles quase sempre se confundiam. Apesar dos termos serem parecidos eles têm diferenciação como por exemplo os ametais não bons condutores de calor e eletricidades, são opacos não são maleáveis e tem tendencia a ganhar elétrons e se transformam em ânions. Já os semimetais tem propriedades dos metais e ametais, sendo assim ele é uns semicondutores elétricos e semicondutores térmicos. Foi observado que os alunos conseguiam responder com mais facilidades as perguntas relacionadas ao cotidiano do que as perguntas de conceitos. Percebeu- se também que para a utilização da tabela periódica precisava-se de conhecimento prévio, visto que as vezes ela se mostra confusa, complexa e com uma difícil compreensão, e que a deficiência em dominar determinados conteúdos pode acabar prejudicando nas próximas disciplinas que serão estudadas. Se o ensino superior priorizasse as atividades de fixação iria facilitar o ensino aprendizagem do educando. Com a aplicação do jogo foi mostrado que alguns alunos tinham pouco domínio do assunto, mas tentava responder corretamente. Quando se é exposto onde falhamos, acaba se tornando mais fácil para melhorar e com jogo didático pode-se aprender se divertindo, sem muito medo de errar. No decorrer da dinâmica, eles colocaram em práticas o conhecimento que já tinham e aprendiam assuntos que eles não sabiam ou não lembravam e a todo momento eles ficavam fazendo perguntas nos quais eles tinham dúvidas e além disso eles trabalhavam em grupos para conseguir responder as questões. E isso é o objetivo da ludicidade, fazer com que os alunos fiquem abertos ao conhecimento de uma forma mais interativa e divertida, consequente acabam desenvolvendo funções cognitivas e melhorando a aprendizagem e comunicação, no transcorrer da brincadeira os alunos ficaram mais empolgados, e assim eles tinham como meta vencer o jogo, pois essa emoção é um impulso para os alunos se sentam mais “entregues’ na participação da atividade. Então, quando os professores trazem esse recurso metodológico para sala de aula é importante lembrar que ele não será a solução para instigar o educando a interagir ou se interessar nos assuntos que são passados em sala de aula. Por essa razão, é fundamental fazer um bom planejamento e construir objetivos para o desenvolvimentos de ensino aprendizagem do aluno. Dessa forma, os jogos ou atividades lúdicas serão devidamente aproveitadas. Foi aprovado por todos como uma atividade lúdica possível de ser desenvolvida no ensino médio, especialmente para o início do primeiro ano, onde geralmente se começa o trabalho da química com a tabela periódica. Embora o jogo tenha potencial de ser utilizado nos demais anos como uma forma de revisar os conhecimentos relacionados a Tabela Periódica, é preciso que os professores se debrucem sobre os conteúdos que precisam ser repassados e os organizem de tal forma que possam ser trabalhados no formato de jogo didático.

Figura 1: Tabuleiro

O caminho químico consiste em trinta e uma casas, \r\nsendo que três casas são de azar e duas casas são de \r\nsorte.

Figura 2: Cartas

São dezoito cartas de perguntas e respostas e cinco \r\ncartas coringa

Conclusões

A atividade lúdica promove comunicação e trabalho em grupo, facilitação da aprendizagem, interações positivas entre educandos e entre estes e o professor, além de colocá-los no centro do processo de ensino e da aprendizagem. Por conta do ensino tradicional, a química tem se constituído em uma disciplina que causa bastante exclusão dos alunos na escola, ou mesmo uma aversão quanto terminam o Ensino Médio. No entanto, ao trazer um jogo lúdico que dialoga com os conteúdos ministrados aos alunos, esses acabam tendo uma nova visão e assim adquirindo interesse sobre a disciplina. Entretanto, a utilização dos jogos didáticos, pura e simplesmente, não é garantia de melhora na aprendizagem do aluno. O jogo deve ser utilizado no momento certo, como um recurso didático bem planejado e bem integrado ao conteúdo de química que se deseja trabalhar. Levando em conta que o jogo foi aplicado no ensino superior onde muitos alunos já apresentavam um conhecimento sólido, e outros, em menor número, não tinham esse entendimento, os objetivos pretendidos foram alcançados. Com o auxílio do jogo didático que foi utilizado em forma de revisão puderam relembrar os conceitos que estavam adormecidos. Na atividade ficou claro que a sala de aula se tornou bem dinâmica com as disputas empregadas sobre o jogo caminho química. Essa dinâmica colaborou para o desenvolvimento do ensino aprendizagem de forma interativa e divertida. O caminho químico seria uma boa opção para ser aplicado no ensino médio, haja vista que esse jogo traz assuntos que normalmente são estudados no 1º ano. A metodologia descrita no artigo pode ajudar muito na maior fixação do conteúdo de química, conforme descrito. É esperado que o caminho químico em sala de aula real trague bons resultado e que realmente facilite o ensino-aprendizagem dos alunos. Novas pesquisas podem ser implementadas, a partir dessa metodologia, para se ampliar o conhecimento sobre o assunto.

Agradecimentos

Agradecemos a turma de 2020 da Licenciatura em Química, da Faculdade de Química - FAQUIM, do Instituto de Ciências Exatas - ICE, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA.

Referências


ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11ª ed. São Paulo: Loyola. 1995. 12 p.

CUNHA, M. B. da. Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua Utilização em Sala de Aula. São Paulo. Química Nova na Escola, v 34, n 2. 2012. p 1-7.

GODOI, T. A. de F.; OLIVEIRA, H. P. M.; CODOGNOTO, L. Tabela Periódica: Um super trunfo para alunos do ensino fundamental e médio. São Paulo. Química Nova na Escola, v 32, n 1. 2010. p. 1-4.

LAPA, W. de F. M.; SANTOS, W. P. dos. Os jogos e outras atividades lúdicas no contexto educacional: o que é preciso para proporcionar atividades que tenham rigor educativo? In: LAPA, W. de F. M.; SILVA, J. da C. S. da. (Orgs.). Jogos no ensino de química: fundamentos aplicações. Curitiba. CRV. 2018. 19-36p.

NETO, H. da S. M.; MORADILLO, E. F. O lúdico no ensino de química: considerações a partir da psicologia histórico-cultural. São Paulo. Química Nova na Escola, v 38, n 4. 2016. p.1-8.

SANTANA, R. L.; KAMISKI, R. C. K. Caminho periódico: jogo didático para o ensino de tabela periódica. Itabaiana. Licenciaturas em química - Departamento de química, Universidade Federal de Sergipe. 2016. 24 p.

SANTOS, S.M.P dos. O lúdico na formação do educador. 6ª Ed. Petrópolis: Vozes, 1997.

SOARES, M. H. F. B.; OKUMURA, F.; CAVALHEIRO, É. T. G. Proposta de um jogo didático para ensino do conceito de equilíbrio químico. Química Nova na Escola, n.18. 2003.