Autores

Silva, V.E.T. (UECE) ; Menezes, J.E.S.A. (UECE)

Resumo

Ensinar química a partir de uma perspectiva inclusiva para surdos é um desafio, pois essa área tem certa dificuldade de ter uma simbologia em Libras. Com isso em mente, o uso de materiais didáticos associados a recursos disponíveis na escola e criatividade no processo de planejamento de aulas, fortalece a compreensão de conteúdos da química. Portanto, este trabalho teve o objetivo de produzir um jogo da memória inclusivo sobre tabela periódica. O jogo contém 14 cartas com os símbolos dos elementos químicos e 14 cartas com características de cada elemento. Resultados demonstraram a relevância que os jogos didáticos trazem para os alunos surdos e ouvintes. Trabalhos já realizados sobre esse assunto, comprovam os avanços no ensino-aprendizagem dos conteúdos de química adaptados.

Palavras chaves

Alunos surdos; Inclusão; Jogo didático

Introdução

A Libras, Língua Brasileira de Sinais, é usada pela maioria dos surdos do Brasil, como língua oficial, sendo a segunda língua oficial o português. É uma língua pronunciada pelo corpo e percebida pela visão (MENEZES e FEITOSA, 2015). Levino et al. (2013), a caracteriza por sua estrutura gramatical própria e todos seus níveis fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. A Lei 10.436/2002 regulamentada pelo decreto 5.626/2005 reforça a adoção do uso da Libras nas instituições de ensino privadas e públicas em todas suas esferas administrativas, assegurando um atendimento especializado aos discentes surdos que deverá comtemplar a Libras como primeira língua do estudante (BRASIL, 2002 e 2005). Entretanto, um dos grandes desafios da atualidade é garantir a inclusão e não apenas a inserção dos alunos com necessidades especiais nas escolas de ensino regular.Percebe-se que esses alunos apenas se fazem presentes na sala de aula e não tem o acesso à informação como recomenda a legislação.Sendo necessário que a escola busque alternativas para evitar que esses sujeitos fiquem as margens dos processos educativos (ROCHA et al., 2019). O uso de jogos didáticos tem sido uma ferramenta muito utilizada pelos professores a fim de possibilitar um processo de ensino mais inclusivo. Rocha et al. (2019), ressalta a importância desses recursos para alunos surdos adquirirem conhecimentos sobre disciplinas básicas,como a química. Este trabalho se justifica pela necessidade de se desenvolver técnicas que proporcionem a interação e introdução de todos os indivíduos no contexto das aulas de química. Diante do exposto,a presente pesquisa teve como objetivo desenvolver um jogo da memória adaptado para inclusão de alunos surdos,trabalhando o conteúdo da tabela periódica, em turmas doEnsino médio.

Material e métodos

O trabalho foi desenvolvido através da proposta feita pela professora da disciplina de Libras, do Curso de Licenciatura em Química, na Universidade Estadual do Ceará (UECE), sendo realizado em duas etapas, a primeira uma pesquisa na literatura sobre materiais pedagógicos e o conteúdo de química para inclusão de alunos surdos e a segunda etapa a produção do jogo da memória inclusivo usando como referência inicial o trabalho com libras da professora Alda Ernerstina dos Santos que desenvolveu uma Tabela Periódica Inclusiva e o trabalho de Romano et al. (2017) sobre um jogo didático que auxilia o ensino de Tabela Periódica e das características dos elementos. Com isso, os elementos utilizados no jogo da memória desenvolvido foram retirados das seguintes famílias (ou grupo): 1A e 2A - metais, 3A, 4A, 5A, 6A e 7A - ametais e dos períodos 1 e 2 da tabela periódica. Para a confecção do jogo foram produzidas um total de 28 cartas. Destas, 14 cartas com o nome do elemento químico em português e o símbolo do elemento na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e 14 cartas com imagens de aplicações e três características referentes a cada elemento. A produção das cartas foi realizada na plataforma de design online, Canva. As regras do jogo são descritas a seguir: para iniciar o jogo, a turma deve ser dividida em grupos de 4 integrantes; cada equipe recebe um jogo com as 28 cartas; em seguida as cartas são embaralhadas com o verso para cima; é realizado um sorteio para saber a ordem de cada jogador; o primeiro jogador vira duas cartas e se as cartas escolhidas tiverem relação o jogador joga novamente; se as cartas não tiverem relação, o jogador vira-as novamente com a face para baixo; segue-se a vez do próximo; o jogador que fizer mais pares vence.

Resultado e discussão

Por meio de pesquisas na literatura sobre o assunto de materiais didáticos inclusivos no ensino de química, foi possível produzir a proposta de um jogo educativo inclusivo (Figura 01) para alunos surdos onde o objetivo é que o aluno consiga identificar o elemento químico através de informações e imagens de suas aplicações. De tal modo, o aluno é então estimulado a se familiarizar com a representação simbólica dos elementos químicos tornando mais efetiva a prática pedagógica, e com a implementação do jogo melhore o rendimento dos alunos surdos, visto que o conteúdo sobre tabela periódica é trabalhado nas turmas do primeiro ano do ensino médio (ROCHA et al., 2019). Com isso, segundo Cunha (2012) pode-se considerar que um jogo didático é educativo, pois envolve ações lúdicas, cognitivas e sociais. No trabalho de Ferreira e Nascimento (2014), o qual teve como objetivo a construção de jogo didático (ludo) visando a avaliar o desempenho e a satisfação dos alunos surdos em relação a forma de avaliar a disciplina de química, os autores ressaltam que o jogo produzido foi um forte indicativo de que pode ser utilizado, como instrumento avaliativo, tanto para alunos surdos quanto para alunos ouvintes, favorecendo de tal modo a fixação dos conteúdos estudados em sala de aula. Nesta ótica, o uso de jogos didáticos no Ensino de Química é tema de trabalhos de vários autores, destacando a eficácia e desenvolvimento dos alunos (SANTOS e MICHEL, 2009). Assim, a produção do jogo inclusivo é importante para promover um ensino mais didático e inclusivo, reforçando a relevância de novos métodos pedagógicos no ambiente escolar, bem como a inclusão dos surdos com a turma e o corpo docente.

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Proposta do jogo da memória inclusivo sobre os \r\nelementos da tabela periódica.

Conclusões

Conclui-se que este trabalho é relevante para o ensino-aprendizagem dos conteúdos da química, na educação de alunos surdos. De tal modo, a proposta do jogo da memória adaptado sobre tabela periódica, também pode ser confeccionado pelos próprios alunos do ensino médio, aumentando a quantidade de cartas, na produção de mais elementos químicos e suas características referente ao conteúdo, trazendo multidisciplinaridade e interação entre jogo e jogador. Dessa forma, espera-se que cada vez mais jogos e metodologias adaptadas sejam desenvolvidos com o viés de abranger todos os alunos.

Agradecimentos

Referências

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