Autores

Oliveira, A.G.B. (UNIFESSPA) ; Silva, T.R. (SEDUC) ; Lima, C.R. (UNIFESSPA) ; Silva, C.E. (UNIFESSPA)

Resumo

A química ensinada de maneira tradicional a torna complexa e difícil de ser entendida. Viver em aulas onde apenas a teoria prevalece não chama mais a atenção do aluno. Neste trabalho trouxemos a proposta de incluir a prática com experimentos de baixo custo, para ficar ao lado da teoria, nas aulas de química dos alunos de ensino médio da rede pública. Descrevemos neste trabalho experimentos simples que podem ser replicados na escola pública. Como resultados observamos que a aplicação desses experimentos simples e de baixo custo possibilitou uma maior dinamização das aulas e uma compreensão melhor da química. Os alunos conseguiram entender melhor as reações químicas tanto de forma prática quanto teórica.

Palavras chaves

Ensino de Química; Experimentação; Funções Inorgânicas

Introdução

A Química é uma ciência abstrata e complexa e na maioria das vezes é ensinada de maneira tradicional, de forma que os alunos não têm muitas dificuldades em compreender seus fundamentos. Os alunos são sobrecarregados de conteúdos (disciplina bastante conteudistas) de forma mecânica e acabam utilizando equações e fórmulas sem mesmo entender seu significado. Muitas vezes os professores não conseguem abordar a disciplina de forma mais dinâmica e lúdica, e por sua vez não conseguem inserir os educandos no processo de ensino- aprendizagem, reproduzindo uma educação bancária, conforme denuncia Freire (1981). Isso gera nos alunos uma aversão pela Química tornando ainda mais difícil seu aprendizado. A pouca aprendizagem do aluno está relacionada a diversos fatores, como falta de conhecimentos prévios sobre os conteúdos de química, a falta de interesse, a falta de condições de trabalho na escola e as metodologias ultrapassadas ou descontextualizadas empregadas pelo professor, entre outras. (BUENO, 2013; SIQUEIRA, SILVA, FELIZARDO JUNIOR, 2011). A ideia da importância da experimentação é predominante entre professores, supervisores de ensino, pais e alunos. No entanto, a maioria das escolas de Ensino Médio não realizam atividades experimentais, mesmo em sala de aula. (SAMPAIO, BASAGLIA, ZIMMERMAN, 2009). São diversos os motivos da falta de atividades práticas nas escolas de Ensino Médio, como a não existência de laboratórios, falta de professores para tal fim, falta de um técnico em ciências para apoiar os professores, falta de apoio da escola quanto a recursos, carga horária curta entre outros. O objetivo deste trabalho é através da utilização de experimentos simples e de baixo custo, proporcionar uma maior aproximação dos estudantes da escola pública a um ensino de química mais dinâmico, divertido e interativo. Com o sucateamento das escolas e o achatamento do salário dos professores, torna-se mais difícil que este execute aulas diferenciadas. Os professores por necessitarem ministrar aulas em muitas escolas não conseguem sistematizar experimentos para serem executados em sala de aula. Assim, quando existe a possibilidade de apoio por parte de estudantes nos estágios supervisionados, nas práticas pedagógicas e em entre os programas da universidade e do governo é importante que haja uma troca entre os professores e os alunos ministrantes. O ensino de química é bastante desafiador, pois é preciso que os educandos aprendam para além do simples aprender e que possam usar o que aprendeu em sua realidade. CARDOSO & COLINVAUX (2000), destacam a importância de o estudo de química ajudar a produzir uma visão crítica do mundo no educando de forma que este possa analisar, compreender e utilizar os conhecimentos que são veiculados na escola em seu cotidiano, podendo ainda, de alguma forma, perceber e interferir em situações que contribuem para qualquer tipo de deterioração em sua qualidade de vida e de sua comunidade. Para Silva, Almeida & Brito, (2011) a aprendizagem de química precisa possibilitar aos alunos a compreensão das transformações químicas que estão presentes em seu cotidiano, no mundo físico, para que estes possam realizar o devido julgamento de suas ações. É preciso que nos afastamos cada vez mais do ensino tradicional de química onde se privilegiava a decoreba, a memorização e nos aproximemos da aprendizagem onde o educando possa compreender melhor o que está a sua volta. Chassot (2001) em seu livro sobre alfabetização científica, discute que o objetivo principal do ensino de química é para que as pessoas ao estudar esta matéria, possam aprender de tal forma que possam intervir da melhor forma possível no mundo, com consciência. O autor combate a educação descontextualizada, que se baseia na decoreba de fórmulas e conceitos e propõe uma forma mais dinâmica e vivencial de se trabalhar os conceitos de química, a partir de uma experiência prática e vivida.

Material e métodos

A metodologia utilizada envolveu uma aula teórica, a realização de experimentos com materiais do cotidiano trazidos pelos alunos e a realização de experimentos com materiais menos comuns. O intuito era de intercalar a teoria e a prática para o melhor entendimento do aluno, onde ele pudesse ver as reações químicas acontecendo e não somente imaginar (de forma abstrata, em fotografias, e/ou desenhos). 1ª etapa: Aula Teórica sobre Funções Inorgânicas: nessa etapa, foi ministrada uma aula teórica aos alunos, abordando os conceitos fundamentais das funções inorgânicas. Foram vistos e discutidos os principais grupos de compostos inorgânicos, incluindo ácidos, bases, sais e óxidos. Os tópicos abordados incluíram a definição de cada função inorgânica, suas propriedades, exemplos e atividades respondidas em sala de aula, nessas atividades continha perguntas sobre compostos inorgânicos e foi notado certa falta de atenção envolvendo essas aulas teóricas. 2ª etapa: Experimentos com Materiais do Dia a Dia: Na segunda etapa, foi solicitado que os alunos formassem grupos de até cinco pessoas, para trazerem experimentos envolvendo materiais do dia a dia relacionados às funções inorgânicas. Cada aluno apresentou seu experimento para a turma, demonstrando a função inorgânica presente no cotidiano e explicando os conceitos envolvidos. Onde foram apresentados os seguintes experimentos: Vulcão caseiro; Reação de neutralização com Bicarbonato de Sódio com limão; Enchendo balão com bicarbonato de sódio e vinagre; Lâmpada de lava; Água sanitária e dipirona; arco-íris de pH. Os materiais foram: Ácidos: Vinagre, limão, comprimido efervescente. Base: Bicarbonato de sódio, comprimido efervescente, soda cáustica, sabão em pó, Sal: Sal de cozinha, Bicarbonato de sódio Óxido: Água sanitária 3ª etapa: Experimentos com Materiais Menos Comuns: Na terceira etapa, foram apresentados aos alunos experimentos envolvendo materiais pouco comuns e não encontrados facilmente no dia a dia. Esses experimentos foram realizados pela primeira autora, aluna de Licenciatura em Química, no seu Estágio Supervisionado III pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - UNIFESSPA, realizado na E.E.E.M O Pequeno Príncipe, nas turmas de 2º ano A e B. Os experimentos realizados foram: a reação de Ácido com Metal onde foi feita a análise de substituição e reatividade do metal; Experimento de Ácido e Base, onde foi discutido a reação de neutralização; Experimento de Ácido e Sal, onde houve a reação de neutralização ácido-base; Experimento de Sal e Base, formação de precipitado; Experimento de Sal e Sal, formação de um precipitado insolúvel. Exemplos: Ácidos: ácido clorídrico 0,1 mol; Bases: Hidróxido de sódio 0,1 mol; Sais: Nitrato de prata, cloreto de sódio; Óxidos: Dióxido de Carbono.

Resultado e discussão

As aulas convencionais de química geralmente são monótonas e não prendem a atenção devida dos alunos. O ensino de química ministrado apenas com aulas teóricas não está conseguindo engajar o aluno no processo de ensino- aprendizagem. Desta forma, estes não absorvem os conteúdos ministrados, na maioria das vezes, e não conseguem relacionar os conteúdos de química com a sua realidade. Diante dessa situação, a inclusão de aulas experimentais é de extrema necessidade. Dessa forma, se permite que o aluno aprenda tanto de forma teórica quanto prática, reforçando e fixando os conteúdos que são apresentados na sala de aula. Nesse processo o ensino-aprendizagem tem mais chance de se efetivar. Além disso, pode-se produzir um maior engajamento dos alunos nas aulas de química, e em alguns casos, despertar um interesse mais profundo sobre a química, podendo inclusive seguir carreira em uma área relacionada. No início da aula não houve um entusiasmo forte por parte dos alunos ao assunto e isso foi confirmado durante a aplicação da atividade escrita onde apenas alguns dos alunos levaram a atividade para correção e os demais esperaram a resposta ser passada no quadro. Mostrar para os alunos que a química está presente no cotidiano, e não apenas na teoria é difícil. Relacionar a teoria com a prática, em aulas mais motivantes, em experimentos simples com materiais utilizados no dia a dia e de baixo custo é uma forma de se conseguir mais efetividade no ensino de química, no ensino médio. A imagem a seguir mostra os vários experimentos, que foram realizados nas aulas de química, durante o projeto desenvolvido em sala de aula de uma escola pública. Entre os experimentos aplicados estão: 1) reação de neutralização com limão e bicarbonato de sódio; 2) arco-íris de pH; 3) reação da água sanitária com dipirona; 4) enchendo o balão com bicarbonato de sódio e vinagre; 5) Lâmpada de lava, e; 6) vulcão caseiro. Imagem: Linha 1 - Reação de neutralização com limão e bicarbonato de sódio; Linha 2 - Arco-íris de pH; Linha 3 - Reação da água sanitária com dipirona e enchendo o balão com bicarbonato de sódio e vinagre; Linha 4 - Lâmpada de lava e Vulcão caseiro. Fonte: Taisnara Rodrigues da Silva, 2023. Na atividade experimental proposta para os alunos obtivemos ótimos resultados. Os experimentos causaram uma admiração entre os alunos e provocaram várias perguntas. Muitos apreciaram os experimentos com entusiasmo e de forma bem efusiva. A ideia geral era fazer uma espécie de apresentação onde os produtos apresentados seriam os diferentes experimentos. Cada grupo ficou responsável em realizar um experimento diferente. Os grupos que apresentaram seus experimentos foram bem concisos, mostraram ter estudado e ficaram bem entusiasmados com suas apresentações e com as dos colegas. Todos os experimentos apresentados prenderam bastante a atenção de todos. O que mais deixou eles surpresos foi o fato de ocorrer esse tipo de reação química com materiais que na maioria das vezes está presente no seu dia a dia. Registramos algumas falas dos alunos como as apresentadas a seguir: “Eu aprendi que a reação química entre a casca do ovo e vinagre que libera gás carbônico, achei interessante, muito interessante” “Em minha opinião, sempre que fosse passado um assunto novo, deveria ter aulas experimentais, pra colocarmos em prática o que aprendemos, sem falar que é algo muito estimulante.” Isso mostra o quanto a inclusão de aulas experimentais, no ensino de química, leva o aluno a ter mais interesse pelo assunto, instiga ele a fazer pesquisa, e a se dedicar à disciplina e a fazer uma boa apresentação, pois se encontra mais engajado nessas atividades lúdicas e práticas. A motivação de realizar esses tipos de experimentos mobiliza muitos fatores como trabalhar em equipe, ter atenção na apresentação dos colegas e fixar melhor o conteúdo passado na teoria. Aula experimental com materiais menos comum Durante as práticas com os experimentos foi realizado com os alunos uma aula experimental onde se mostrava as características de cada função inorgânica, na qual os alunos viram nas aulas teóricas. Foi explicado detalhadamente a reação entre ÁCIDO + METAL, que ocorre uma reação de substituição ou deslocamento único e como o meio do ambiente pode interferir na reação. Neste experimento foi levado ácido clorídrico (HCl) a 0,1 mol e uma folha de papel alumínio e foi demonstrado para eles que em temperatura ambiente o alumínio e o ácido não reagem de maneira rápida; então esquentou-se o tubo de ensaio e a reação aconteceu. Após esse momento de demonstração, com ajuda dos alunos montou-se a equação química dessa reação e eles responderam corretamente quais eram os reagentes e os produtos que foram formados. Durante esse momento de exposição teórica os alunos apresentaram uma grande atenção, entendendo bem o processo da reação. O mesmo aconteceu com os demais experimentos: 1) ácido + base; 2) base + sal; 3) sal + sal; 4) com a formação de óxidos, e; 5) ácido + metal. Durante as atividades os alunos também se propuseram a ajudar a montar as equações das reações químicas que iam sendo apresentadas. Em todas as atividades, tanto nos experimentos quanto na montagem das equações, de forma teórica, observou-se interesse, entusiasmo, interações e questionamentos. Dessa forma, pôde-se constatar que os alunos presenciando a reação química acontecendo de forma observável, eles mesmos ajudavam a montar as equações químicas de cada reação feita, demonstrando a importância da atividade de experimentação no ensino-aprendizagem de química. Após a aplicação das três etapas de aulas teóricas e experimentais para as turmas de 2º ano B, alguns alunos deixaram seus comentários sobre a aula: ALUNO A) “A apresentação foi ótima bem interativa gostei bastante”; ALUNO B) “Amei os experimentos”; ALUNO C) “Muito interessante”; ALUNO D) “Gostei muito”; ALUNO E) “Amei”; ALUNO F) “Foi da hora”; ALUNO G) “Aprendi demais”; ALUNO H) “Gostei bastante”; ALUNO I) “Foi muito legal”. Isso mostra, de uma forma bem geral, que mais pesquisas precisam ser feitas nesta direção. Compreender um ensino de química contextualizado na região amazônica é de fundamental importância para que se melhore o processo de ensino aprendizagem nas escolas públicas, dessa região.

Fonte: Taisnara Rodrigues da Silva, 2023

Imagem: Linha 1 - Reação de neutralização com \r\nlimão e bicarbonato de sódio; Linha 2 - Arco-íris \r\nde pH; Linha 3 - Reação da água sanitária com \r\ndipirona e enchendo o balão com bicarbonato de \r\nsódio e vinagre; Linha 4 - Lâmpada de lava e \r\nV

Conclusões

A inclusão de aulas experimentais no ensino de química proporciona aos alunos uma abordagem mais dinâmica e empolgante. As práticas realizadas e demonstradas neste artigo mostraram para os alunos que a química aprendida em sala de aula está sim ligada a sua vida no cotidiano. E, também que a química não é abstrata e ao ver as reações químicas acontecendo e participar ativamente dos experimentos, os alunos ficam mais motivados, engajados e interessados no assunto. O resultado dos experimentos observados em sala de aula e os comentários feitos pelos alunos mostram que a inclusão de aulas experimentais no ensino de química é muito benéfica. Com materiais comuns, do cotidiano, de baixo custo, é possível realizar muitas práticas eficientes e contextualizadas. Isso torna o processo de ensino-aprendizagem mais eficaz, estimula o interesse dos alunos, aumenta a compreensão dos conceitos de teoria e prática, e permite que os alunos vivenciem a ciência de forma concreta e se tornem mais motivados e engajados no ensino de química. É preciso dizer que os experimentos no ensino de química, mesmos os mais simples, possibilitam que os alunos compreendam melhor a teoria existente por trás dos eventos químicos, no seu cotidiano. É preciso destacar que os experimentos ajudaram os alunos a compreenderem melhor o que lhes era repassado de forma teórica. Apesar da necessidade dos laboratórios multidisciplinares, muitos experimentos não necessitam de sofisticados laboratórios e espaços, bem como de reagentes, soluções e todos os tipos de aparatos de um laboratório típico de química. Com materiais de baixo custo, um pouco de imaginação e muito estudo, alternativas podem ser viáveis para a escola pública. Dessa forma, o professor pode ajudar o aluno a aprender química de forma mais efetiva e assim poder participar de forma crítica em sua sociedade, em sua comunidade, pensando e agindo sobre os problemas de seu tempo.

Agradecimentos

Agradecemos à Escola Estadual de Ensino Médio O Pequeno Príncipe, a turma do Segundo Ano A e B e a professora Taisnara Rodrigues da Silva pela acolhida.

Referências

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 10ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1981. 218 p. (O mundo hoje, v. 21)

BUENO, L. O Ensino de Química por meio das atividades experimentais: a realidade do ensino nas escolas. Universidade Estadual Paulista. Disponível em: http://www.unesp.br/prograd/ENNEP/Trabalhos. Acesso em: julho de 2023.

CARDOSO, Sheila P.; COLINVAUX, Dominique. Explorando A Motivação Para Estudar Química. Química Nova, Nº 23, v. 2. 2000.

CHASSOT, Áttico Inácio. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2001.

SAMPAIO, C. S.; BASAGLIA, A. M.; ZIMMERMANN, A. A importância das atividades experimentais no Ensino de Química. Paraná. CPEQUI- Primeiro Congresso Paranaense de Educação em Química. 26-26 Novembro. 2009. p. 1-7.

SILVA, N.C.; ALMEIDA, A. C. B.; BRITO, A. C. F. Dificuldade em Aprender Química: Uma Questão a ser Abordada no Processo de Ensino. In: 51º Congresso Brasileiro de Química, São Luís - MA, outubro 2011. Disponível em: http://www.abq.org.br/cbq/2011/trabalhos/6/6-265-11151.htm. Acesso em julho de 2023.

SIQUEIRA, R. M.; SILVA, N. S. da; FELIZARDO JÚNIOR, L. C. A Recursividade no Ensino de Química: promoção de Aprendizagem e Desenvolvimento Cognitivo. Química Nova na Escola, v. 33, p. 230-238. 2011.