Autores

Pires, N.R. (UFC) ; Monteiro, G.P.F. (UFC) ; Lima, M.C. (UFC) ; Pereira, E.S. (UFC) ; Santos, A.T. (SEDUCCE) ; Silva, J.M. (UFC) ; Vidal, R.M.B. (UFC)

Resumo

A educação científica aliada à educação ambiental são pilares para uma sociedade mais sustentável e são objetos de destaque nas legislações educacionais, a exemplo da Lei n° 9.795 de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental e apresenta a educação ambiental como uma prática educativa integrada em todos os níveis e modalidades do ensino formal. Nesse contexto, a divulgação científica por meio da rede social Instagram a partir de conteúdos produzidos por alunos de graduação, em uma experiência dialógica entre graduação e comunidade externa mostra-se como uma importante ferramenta para trabalhar a educação ambiental de maneira transversal nos cursos de Química e de demais cursos, bem como lançar mão de metodologias ativas e tecnologias visando a inovação pedagógica.

Palavras chaves

divulgação científica; Instagram; educação ambiental

Introdução

Temas como mudança climática, escassez de alimentos, desnutrição e perda de biodiversidade vêm sendo amplamente discutidos pela ciência e pela sociedade. Para melhor discutir tais questões faz-se necessário o letramento científico que pode ser alcançado por meio da educação científica aliada à educação ambiental, visando ações concretas através da mudança de comportamento (ALPINO et al., 2022; WALS et al., 2014). No Brasil, as legislações educacionais trazem os temas envolvendo questões ambientais em posição de importância. Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de Química (Bacharelado e Licenciatura) (BRASIL, 2021) estabelecem que em relação à aplicação do conhecimento em Química o egresso deve estar apto a avaliar criticamente a aplicação do conhecimento em Química visando diagnóstico e solução de questões sociais e ambientais, além de ser capaz de assessorar no desenvolvimento e implantação de políticas ambientais. No que concerne ao ensino de Química requer-se do egresso, compreensão dos aspectos sociais, tecnológicos, ambientais, políticos e éticos relacionados às aplicações da Química na sociedade. Contudo, no que versa a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n° 9.795, de 27 de abril de1999) (BRASIL, 1999) no caput do Art. 10: “A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.”, e no §1 do mesmo artigo dita que “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.” Dessa forma, torna-se imperioso que em componentes curriculares dos cursos de Química, a educação ambientação seja inserida de maneira transversal dando a devida atenção à compreensão dos alunos aos aspectos químicos e socioambientais (ALVES, 2022). Para isso, as metodologias ativas suportadas pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) tornam-se aliadas no processo de aprendizagem, agora centrada no aluno, tirando- o da passividade e levando-os a desenvolver habilidades de seleção e pesquisa, análise e avaliação, além de trocar experiências e opiniões com seus pares (FERREIRA J. M.; BORDA, 2022). Um exemplo de uso das tecnologias digitais que pode ser utilizada em prol da educação é o Instagram, aplicativo que foi desenvolvido por dois engenheiros de programação, o norte-americano Kevin Systrom e o brasileiro Mike Krieger, e disponibilizado ao público no ano de 2010 (RAMOSA e MARTINS, 2018), sendo atualmente a rede social mais consumida no Brasil, sendo responsável por 14.44 horas mensais de consumo pelo público brasileiro (FORBES, 2023). Na última década várias propostas de utilização da plataforma foram surgindo, dentre elas para fins educacionais, possibilitando a desconstrução dos papéis tradicionalmente atribuídos a professores e alunos, propiciando aos alunos uma maior autonomia na produção de diferentes materiais e implicando maior motivação (SOUZA e FIGUEIREDO, 2021). O presente trabalho justifica-se pela importância de combinar tecnologias digitais com as metodologias ativas para a inovação pedagógica, bem como pela necessidade de avaliar o impacto do material digital produzido pelos alunos de graduação dos cursos de Química por meio das métricas disponibilizadas pelo aplicativo. Sendo a educação ambiental uma prática que deve ser integrada em todos os níveis de ensino, no presente trabalho objetivou- se estabelecer uma experiência dialógica entre alunos de graduação e comunidade externa por meio da rede social Instagram com a temática ambiental.

Material e métodos

O projeto de extensão ComCiência está em execução na Universidade Federal do Ceará desde o ano de 2022, e encontra-se vinculado ao Departamento de Química Analítica e Físico-Química, sob coordenação da Profa. Dra. Ruth Maria Bonfim Vidal, que também coordena o Laboratório de Metodologias de Ensino e Tratamento de Resíduos da Universidade Federal do Ceará (LAMETRE-UFC). A pesquisa caracteriza-se como de abordagem qualiquantitativa, objetivo descritivo e divide-se em duas etapas. A primeira etapa consiste na produção do conteúdo digital para publicação no Instagram e a segunda na análise das publicações produzidas e das métricas do Instagram relacionadas a cada publicação. A produção de conteúdo foi realizada por membros, bolsistas e voluntários do LAMETRE-UFC, e por alunos da turma 2022.1 da disciplina de Química Ambiental ofertada aos cursos de Química-Licenciatura e Química-Bacharelado. Os temas abordados nas publicações foram escolhidos pelos próprios alunos e o conteúdo produzido foi postado no Instagram do LAMETRE, @lametre.ufc, após revisão pelos membros do LAMETRE. Foram analisadas as métricas de 14 publicações que abordaram os temas escolhidos pelos alunos. A análise das publicações foi realizada por meio das métricas designadas pelo aplicativo do Instagram para as publicações no período de 10 de maio de 2022 a 30 de julho de 2022. Foram consideradas informações referentes a: Interações (curtidas, comentários, compartilhamento e marcados como “salvo”); engajamento (número de contas que interagiram com a publicação), alcance (número de contas únicas que viram a publicação pelo menos uma vez) e impressões (O número de vezes que a publicação foi exibida na tela e pode incluir várias visualizações pela mesma conta).

Resultado e discussão

Os conteúdos produzidos pelos alunos contemplaram temáticas diversas, importantes e atuais, apresentadas com os títulos: 1) Lixo, resíduo e rejeito. Você sabe a diferença?; 2) Tratamento de resíduos de ácido e base; 3) Quanto custa 1L de água destilada?; 4) Você sabe como descartar pilhas e baterias?; 5) Como a mudança de pH influencia no meio ambiente; 6) Tem diferença entre água potável, mineral e adicionada de sais?; 7) Descarte de medicamentos; 8) Você sabia que o glitter é insustentável?; 9) Você conhece os impactos ambientais na produção do jeans?; 10) Você conhece as cores do hidrogênio?; 11) Epidemiologia ambiental; 12) Você conhece os impactos ambientais da produção do açúcar?; 13) As bitucas de cigarro são o lixo mais comum nas praias do mundo todo!; 14) Inseticidas: Resíduos perigosos do dia a dia. A Figura 1 apresenta as publicações que tiveram o maior número de marcações do tipo curtir e demais interações, que incluem também, comentários, compartilhamento e marcações como “salvo”.A publicação com maior número de interações, “Quanto custa 1L de água destilada?”, traz informações de custos para a produção de água destilada: Custo com energia elétrica para o funcionamento do destilador e custos com esgoto e água de abastecimento que será destilada e também utilizada para resfriamento do destilador. Ademais, apresenta-se o cálculo para determinar o custo envolvendo o consumo de água destilada para o preparo de soluções e lavagem de vidraria em uma aula prática de preparo de soluções, visando alertar sobre o consumo consciente da água, um recurso não renovável. A segunda temática com maior número de interações, “Você conhece as cores do hidrogênio?”, envolve um tema emergente, a produção de hidrogênio como fonte de energia limpa (LARA e RICHTER, 2023; FORTE e GAZILLO, 2023) para indústria, transporte e outros, visando a mitigação da poluição gerada pela queima de combustíveis fósseis, impactando no desenvolvimento sustentável (RIBEIRO e CORRÊA, 2023). Em terceiro lugar, também em número de marcações “curtir” e outras interações, está a primeira publicação da página, “Lixo, resíduo e rejeito. Você sabe a diferença?”. O texto apresenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nª 12.305, 2010 (BRASIL, 2010), em seguida define resíduo e rejeito, e informa sobre o desuso do termo “lixo”. Por fim, são apresentados tipos de resíduo quanto à origem: resíduo sólido urbano, resíduo de construção civil, resíduo de serviços de saúde, dentre outros. Os dados de data de publicação, engajamento, alcance e impressões para cada uma das 14 publicações analisadas são apresentados na Figura 2. As publicações, “Quanto custa 1L de água destilada?” e “Você conhece as cores do hidrogênio?” discutidas anteriormente por apresentarem maior número de interações também apresentaram maiores números de engajamento, alcance e impressões. O engajamento, que representa o número de contas que interagiram com a postagem, apresenta uma média de 33 contas interagindo por postagem apresentando grande variação entre as postagens (33±13). O alcance (contas únicas que viram a publicação) e impressões (número de vezes que a publicação foi exibida na tela), são mais independentes do tema da postagem, apresentando 206±43 contas únicas e 308±57 exibições em tela, respectivamente. Assim, da média de 308 exibições, que se configuram como possibilidades de interação do usuário com a publicação apenas 47 convertem-se em interação. Essa informação inspira a necessidade de utilizar estratégias visando ampliar a divulgação, alcance e interação com os conteúdos publicados (CRIA UFMG, 2022).

Figura 1

Figura 1 - Publicações com mais interações.

Figura 2

Figura 2- Engajamento, alcance e impressões.

Conclusões

Os temas escolhidos pelos alunos possuem aderência à temática ambiental em uma perspectiva contextualizada e atual. Observou-se interações com as publicações por meio do “curtir” e “salvar”, comentários e compartilhamentos, com destaque para as publicações “Quanto custa 1L de água destilada?” e “Você conhece as cores do hidrogênio?”.

Agradecimentos

Aos alunos da turma de 2022.1 da disciplina de Química Ambiental ofertada pelo Departamento de Química Analítica e Físico Química da UFC.

Referências

ALPINO, T. M. A.; MAZOTO, M. L.; BARROS, D. C.; FREITAS, C. M. Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional: uma revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 27, 2022.
ALVES, S. A. O Químico e o Meio Ambiente: Aspectos Históricos e as Contribuições do Ensino de Gestão Ambiental. Química Nova, v. 45, 2022.
BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional deEducação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 1 jul. 2023.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 out. 2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 3 jul. 2023.
BRASIL. Parecer CNE/CES/1303/2001 - Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Química. Brasília: MEC, 2021. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES1303.pdf. Acesso em: 1 jul. 2021.
CRIA UFMG. 5 dicas de branding para a sua página de divulgação científica. CRIA UFMG: 14 de abr. 2022. Disponível em: https://criaufmg.com.br/2022/
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FERREIRA J. M.; BORDA, C. C. Adaptação de Metodologias Ativas para abordagem de Temas Transversais durante a Pandemia. ACiS, v. 10, 2022.
FORBES TECH. Instagram é a rede mais consumida no Brasil, mas declínio preocupa Big Techs. Forber: 28 mar. 2023. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-tech/2023/03/instagram-segue-na-lideranca-no-brasil-mas-declinio-das-redes-preocupa-big-techs/. Acesso em: 03 jul. 2023.
FORTE, S. H. A. C.; GAZILLO, A. M. Hidrogênio verde como potencializador do comércio internacional no estado do Ceará. Bioenergia em revista: diálogos, v. 13, 2023.
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