Autores
Furtado, N.J.S. (SEDUC-MA) ; Paz, C.C. (UFPI)
Resumo
O trabalho apresenta uma atividade experimental que emprega o sal de perileno para a inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em aulas de química. Para isso, um experimento para o ensino e aprendizagem dos conceitos de misturas, solubilidade e precipitação foi realizado em uma turma regular, que apresentava dois discentes com TEA. A compreensão desses alunos sobre os experimentos e os conceitos foram analisados por meio de suas respostas as perguntas realizadas pelo docente. Os resultados indicaram que as diferentes cores, a temperatura e a formação de precipitado em uma mesma solução facilitaram a compreensão dos conceitos investigados. Portanto, essa metodologia se mostra viável para a inclusão dos estudantes com TEA na aprendizagem de conceitos químicos.
Palavras chaves
Educação Inclusão; Sal de perileno; Atividade experimental
Introdução
A Educação Especial e Inclusiva é uma realidade em nosso país, em que crianças e adolescentes com essas necessidades frequentam classes regulares de ensino, não ficando mais fora da escola ou exclusivamente em escolas especializadas (RETONDO; SILVA, 2008). Todavia, para garantir uma educação inclusiva é necessário conhecer o contexto, as leis que a regem, as deficiências dos educandos e avaliar os cenários para essa inclusão, de modo a prover meios e recursos para as práticas inclusivas (SASSAKI, 2005). Nesse enfoque, pesquisas na área de Ensino de Química têm sido desenvolvidas na perspectiva inclusiva. No entanto, a maioria trata da inclusão de estudantes com deficiência auditiva (FLORENTINO; MIRANDA JUNIOR, 2020) e visual (BENITE et al. 2017), poucos trazem a inclusão de alunos com TEA. Os estudantes com TEA apresentam uma limitação neurológica, que causa defasagens no processo de comunicação e socialização (OLIVEIRA; SERTIÉ, 2017), e dependendo do grau de intensidade influencia no desenvolvimento do discente. Por isso, para superar esses desafios é imprescindível propor atividades experimentais atrativas com substâncias que apresentam cores em solução, possibilitando as aprendizagens de conceitos referentes a conteúdo da disciplina química. O sal de perileno (PTK, do inglês 3,4,9,10-perylene tetracarboxylate tetrapotassium) é uma substância que possui características voltadas ao emprego de experimentos para estudantes com TEA, pois uma solução aquosa de PTK apresenta coloração verde fluorescente, vermelha e incolor (devido a precipitação) a depender do pH do meio (HARIHARAN et al, 2017). Portanto, no presente trabalho desenvolvemos uma atividade experimental que emprega as propriedades químicas do PTK para a inclusão de estudantes com TEA nas aulas de química.
Material e métodos
A pesquisa é de natureza qualitativa, a qual foi desenvolvida com estudantes da 1ª série do Ensino Médio do Centro de Ensino Vereador Neide Costa, localizado em Cana Brava, Água Doce do Maranhão. A turma contava com 40 alunos matriculados, sendo dois com TEA. A atividade experimental foi planejada e executada de acordo com a abordagem demonstrativa-investigativa, permitindo a interação e participação dos estudantes durante a execução do experimento. O experimento consistiu na utilização do PTK para o ensino e aprendizagem de conceitos relacionados a misturas e solubilidade. Cabe destacar, que o PTK foi sintetizado e caracterizado por Furtado e Magalhães (2020). O experimento foi realizado em duas aulas. Na primeira, foi o preparo de uma mistura homogênea (PTK e água) e heterogênea (PTK, água e óleo) para o ensino e aprendizagem de conceitos de misturas. Na segunda, duas soluções aquosas de PTK (1,0 mgmL-1), a 25 °C e 10 °C, foram preparadas para o ensino e aprendizagem do conceito de solubilidade. Posteriormente, os estudantes diferenciaram os conceitos de solubilidade e precipitação, por meio de testes com adição de ácido muriático e soda cáustica à solução aquosa de PTK (2,0 mgmL-1). Para verificar a compreensão dos estudantes com TEA sobre os experimentos e conceitos investigados, após a atividade experimental, foram realizadas oralmente 5 perguntas. Ao estudante foi questionado: O que aconteceu quando o sal de PTK foi colocado na água e no óleo? Que tipo de mistura o PTK formou com água e com óleo? Em qual temperatura o PTK foi mais solúvel, em temperatura baixa (água gelada) ou alta (água quente)? Como ocorreu a precipitação do PTK? Em água o que pode ser feito para transformar o precipitado em PTK (substância solúvel)?
Resultado e discussão
A partir das respostas dos estudantes com TEA, podemos inferir que eles
compreenderam o experimento e os conceitos de mistura homogênea, heterogênea,
bem como, a solubilização e precipitação de uma substância.
Os estudantes diferenciaram a mistura homogênea e heterogênea por meio do
aspecto visual que elas apresentavam. De acordo com as respostas dos discentes,
a mistura homogênea (PTK e água) era àquela que tinha a cor “verde”, porém
quando era adicionado óleo a mistura, a coloração era “verde e transparente”,
identificando a mistura heterogênea. Assim, a cor verde foi atribuída a presença
da solução aquosa de PTK e o transparente ao óleo de soja (Figura 1a).
A influência da temperatura na solubilidade foi evidenciada na preparação da
solução de PTK em água a 25 °C e a 10 °C. Os estudantes relataram que em “água
fria, o verde demorava mais aparecer” e em “água quente, o verde aparecia mais
rápido” (Figura 1b). Desse modo, os educandos compreenderam que a temperatura
afeta diretamente a solubilidade do PTK, como a maioria das substâncias, as
quais sua solubilidade aumenta com a temperatura.
Em relação a precipitação, os estudantes constataram a formação de precipitado
ao adicionar ácido clorídrico à solução aquosa de PTK, eles afirmaram que
“apareceu um sujo meio vermelho, que se juntou com o tempo e depois ficou
embaixo do copo”, complementando que “esse sujo sumiu quando foi adicionado o
sólido presente no recipiente azul (hidróxido de sódio), aparecendo de novo o
verde” (Figura 1c). Assim, a solubilização do PTK ocorreu devido a adição de
base à solução ácida, ocasionando a formação do PTK, evidenciado pelo surgimento
da coloração verde fluorescente na solução.
Fotos dos experimentos: (a) Misturas homogênea e \r\nheterogênea; (b) Solubilidade em diferentes \r\ntemperaturas ; (c) Precipitação
Conclusões
O emprego das propriedades do sal de perileno permitiu a inclusão dos estudantes com TEA em aulas de química. Além disso, as respostas dos discentes mostram que a presença de coloração nas soluções facilita a compreensão de conceitos relacionados a mistura, solubilidade e precipitação. Logo, recomendamos para a inclusão de alunos com TEA em aulas de química, atividades experimentais que utilizam materiais de diferentes cores e formatos, pois desperta a atenção e facilita a aprendizagem, tornando os conceitos químicos mais significativos para esses estudantes.
Agradecimentos
Referências
BENITE, C. R. M.; BENITE, A. M. C.; BONOMO, F. A. F.; VARGAS, G. N. V.; ARAÚJO, R. J. S.; ALVES, D. R. A experimentação no Ensino de Química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, v. 39, n. 3, 245-249, 2017.
FLORENTINO, C. P. A.; MIRANDA JUNIOR, P. Adulteração do leite: uma proposta investigativa vivenciada por um grupo de estudantes surdos na perspectiva bilíngue. Investigações em Ensino de Ciências, v. 25, n. 3, 01-21, 2020.
FURTADO, N. J. S.; MAGALHÃES, J. L. Cobalt ferrite nanoparticles as a source of intrinsic metals for simultaneous electrosynthesis of Prussian blue and cobalt hexacyanoferrate. Journal of Electroanalytical Chemistry, v. 871, 01 -11, 2020.
HARIHARAN, P. S.; et al. A halochromic stimuli-responsive reversible fluorescence switching 3,4,9,10-perylene tetracarboxylic acid dye for fabricating rewritable platform. Optical Materials, vol. 64, 53-57, 2017.
OLIVEIRA, K. G.; SERTIÉ, A. L. Transtornos do espectro autista: um guia atualizado para aconselhamento genético. Einstein, v. 15, n. 2, 233-238, 2017.
RETONDO, C. G.; SILVA, G. M. Ressignificando a Formação de Professores de Química para a Educação Especial e Inclusiva: Uma História de Parcerias. Química Nova na Escola, n. 3, 27-33, 2008.
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