Autores
Oliveira Borges, H. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ) ; Silva, C.E. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ)
Resumo
O presente trabalho é relato de uma experiência desenvolvida por licenciados do ensino superior, com a finalidade de aplicação de um jogo lúdico para a turma de segundo ano do ensino médio de escola pública do município de Marabá-PA. O jogo intitulado “The Wall Químico” teve como objetivo a interação entre os alunos e a fixação do conteúdo de funções inorgânicas após ser ministrado pela professora em sala. O jogo contribuiu para que os alunos tivessem mais percepção sobre o tema, conhecimento do assunto ministrado, desenvolvimento cognitivo, socialização em grupo e observação do cotidiano sobre o tema proposto. Foi observado que a dinâmica teve uma participação efetiva dos alunos. O principal intuito deste trabalho foi abordar a ludicidade como importante fator de fixação e interação.
Palavras chaves
Ensino de Química; Ludicidade; Funções Inorgânicas
Introdução
Os jogos e as brincadeiras vêm ganhando cada vez mais espaço e importância em todas as áreas da educação, sobretudo como recurso pedagógico para o desenvolvimento e a aprendizagem de habilidades cognitivas, sociais, motoras, afetivas e pessoais. O ensino em si requer uma disponibilidade intensa, pois é nele que se encontram as principais mudanças na formação do aluno. Os jogos educativos facilitam a prática docente, visto que auxiliam o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo dos jovens. O lúdico envolve a significação e a atenção do aluno, servindo para a adaptação em grupo e a preparação para as interações sociais. Ele serve como ferramenta de desenvolvimento da linguagem e do imaginário, proporcionando a expressão de habilidades espontâneas e naturais da criança que demonstra sua natureza psicológica. A prática lúdica traz o aprendizado de valores importantes, como a socialização e a construção de conceitos de forma significativa (THUROW, 2021). De uma forma geral, os jogos fazem parte da nossa vida desde os tempos mais remotos, estando presentes não só na infância, mas como em outros momentos. Os jogos podem ser ferramentas instrucionais eficientes, pois eles divertem enquanto motivam, facilitam o aprendizado e aumentam a capacidade de retenção do que foi ensinado, exercitando as funções mentais e intelectuais do jogador (TAROUCO, 2004). O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança, o jovem (e até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre (ANTUNES, 2011). Todavia, é importante ressaltar a ideia de que o uso de recursos tecnológicos, dentre eles o jogo educacional, não pode ser feito sem um conhecimento prévio do mesmo e que esse conhecimento deve estar atrelado a princípios teórico- metodológicos claro e bem fundamentados. Daí a importância dos professores dominarem as tecnologias e fazerem uma análise cuidadosa e criteriosa dos materiais a serem utilizados, tendo em vista os objetivos que se quer alcançar (TAROUCO, 2004). A melhor forma de conduzir a criança à atividade, à auto-expressão, ao conhecimento e à socialização é por meio dos jogos. O jogo por meio do lúdico pode ser desafiador e sempre vai gerar uma aprendizagem que se prolonga fora da sala de aula, fora da escola, pelo cotidiano e acontece de forma interessante e prazerosa. Jogando a criança, o jovem ou mesmo o adulto sempre aprende algo, sejam habilidades, valores ou atitudes. Portanto, pode-se dizer que todo jogo ensina algo (FALKEMBACH,2006). Vários estudos e pesquisas mostram que o Ensino de Química é, em geral, tradicional, centralizando-se na simples memorização e repetição de nomes, fórmulas e cálculos, totalmente desvinculados do dia-a-dia e da realidade em que os alunos se encontram. A Química, nessa situação, torna-se uma matéria maçante e monótona, fazendo com que os próprios estudantes questionem o motivo pelo qual ela lhes é ensinada, pois a química escolar que estudam é apresentada de forma totalmente descontextualizada. Por outro lado, quando o estudo da Química faculta aos alunos o desenvolvimento paulatino de uma visão crítica do mundo que os cerca, seu interesse pelo assunto aumenta, pois lhes são dadas condições de perceber e discutir situações relacionadas a problemas sociais e ambientais do meio em que estão inseridos, contribuindo para a possível intervenção e resolução dos mesmos (SANTANA, 2006). Os jogos são indicados como um recurso didático educativo que podem ser utilizados em momentos distintos, como na apresentação de um conteúdo, ilustração de aspectos relevantes ao conteúdo, como na revisão ou síntese de conceitos importantes e na avaliação de conteúdos já desenvolvidos (CUNHA, 2004).
Material e métodos
No intuito de colaborar na aprendizagem dos alunos de modo mais atrativo para eles, foi elaborado o jogo The Wall Químico. O jogo possibilita o desenvolvimento em qualquer assunto, sendo o escolhido para ser abordado o de Funções Inorgânicas. O jogo foi confeccionado em uma folha de isopor, cola quente, bastões/palitos de madeira, copos descartáveis e cards de perguntas e respostas. Na folha do isopor foram inseridos os bastões de madeira de modo que ficassem aleatórios e separados, para que quando jogassem a bola de EVA ela não ficasse presa entre os bastões e pudesse cair espontaneamente. Os copos foram colados na parte debaixo da folha de isopor com a cola quente, estes devem estar numerados com a pontuação e quando colados no isopor que fiquem alternados os valores. Os cards confeccionados de perguntas e respostas possuem uma certa quantidade de perguntas relacionadas ao determinado assunto referente as aulas que foram ministradas, onde os mesmos possuem níveis de dificuldade variados. A aplicação deste foi feita dentro da instituição de ensino pública “O Pequeno Príncipe”, localizada em Marabá-PA, Amazônia Oriental em uma das turmas de segundo ano do ensino médio, que conta com um total de 48 alunos. O intuito do jogo é abordar um determinado assunto que esteja sendo ministrado pela professora de maneira mais lúdica. Independente de qual conteúdo seja, o jogo pode ser aplicado para beneficiar a fixação do que foi passado para o aluno e assim desenvolver uma maior interação entre o que se aprende e a realidade ou seja seu contexto social. Outro objetivo é estimular a participação em grupo e trabalhar a competitividade cognitiva em sala de aula, pois assim o desenvolvimento pessoal do estudante será aproveitado bem melhor. As perguntas abordadas durante o jogo estavam relacionadas com o cotidiano do aluno, a fim de que ele pudesse perceber e compreender que a química se faz presente em determinados momentos e áreas do convívio social dele. A ludicidade em sala de aula permite que o aluno explore e aprimore seus horizontes, não deixando de lado a parte teórica (livro e quadro), mas aproveitando a subjetividade e cognição de um novo meio para introduzir nas aulas.
Resultado e discussão
O jogo foi aplicado em uma turma do segundo ano do ensino médio. Na Escola, já
mencionada, existem quatro turmas de segundo ano. A aplicação do jogo foi na
turma do segundo ano B. A turma é bem participativa e colaborativa, permitindo
que os aplicadores do jogo ficassem bem à vontade durante a aplicação. A imagem
2, a seguir, mostra alguns momentos da atividade em sala de aula; na linha um
temos momentos da organização das equipes e escolha de quem iria jogar a bolinha
no Muro e na linha 2 momentos de discussões sobre os conceitos trabalhados.O
jogo iniciou às 16:20 e terminou às 17:30, com a participação de todos os jovens
da sala. A idade dos alunos era entre 15 e 17 anos. Nesta fase, os estudantes
apreciam muito as atividades lúdicas, especialmente o jogo.
A professora havia mencionado para eles que haveria uma aula um pouco diferente,
mas não tinha mencionado que seria uma aula prática, com a inclusão de um jogo,
que inicialmente foi visto apenas como uma brincadeira normal, mas que no
decorrer do tempo puderam perceber que era algo bem mais dinâmico.
Na concepção dos alunos seria mais uma aula teórica, no entanto quando foi
explicado que o jogo seria uma disputa entre grupos, eles se animaram, começando
a se agruparem na quantidade necessária para a formação das equipes.
Incrivelmente a turma era muito unida e graças a isso não houve insultos ou
ofensas trocados entre os membros de cada equipe.
Cada equipe se dividiu e se agruparam em um determinado canto da sala em que
estavam, mantendo assim uma certa distância entre os demais. Quando uma pergunta
era feita para uma determinada equipe, a outra equipe adversária ficava atenta
para saber se responderam corretamente, pois quando erravam a resposta, eles
tinham a oportunidade de responder futuramente correto.
Mesmo sendo uma turma bem participativa, tiveram uma rivalidade posta entre as
equipes quando souberam que a equipe campeã receberia uma premiação surpresa.
Depois disso, nenhuma das equipes facilitou em quesito de “colaborar” com a
outra em relação ao tempo para responder as perguntas.
Quando eles erravam a resposta para uma determinada pergunta que eles tinham
convicção de que estavam corretos, partiam para indagar a professora o por que
de estarem errados, sendo que para eles a resposta que tinham dado estava
correta.
Apesar de estarem em uma fase mais “rebelde”, digamos assim, a turma se mostrou
muito interessada, participativa e respeitosa quando se estava fazendo a leitura
das perguntas ou tirando dúvidas que surgiam para os alunos referentes a
palavras que eles não tinham conhecimento, por não serem de seu cotidiano.
Cada equipe possuía uma particularidade própria dentre os alunos, uns mais
tímidos e outros com mais facilidade de se expressarem. Durante a realização do
jogo todos se soltaram e puderam ter uma interação melhor dentro da sala de
aula.
É importante promover jogos lúdicos que permitam uma socialização entre eles,
uma dinâmica que possa construir aptidões entre membros, a fim de fazer com que
o aluno se desenvolva e cresça mentalmente.
Os estudantes puderam ter uma noção melhor sobre a química e as funções
inorgânicas. Vários estudos e pesquisas mostram que o Ensino de Química é, em
geral, tradicional, centralizando-se na simples memorização e repetição de
nomes, fórmulas e cálculos, totalmente desvinculados do dia a dia e da realidade
em que os alunos se encontram. Uma proposta que contribui para a mudança desse
ensino tradicional é a utilização de jogos e atividades lúdicas, como a que aqui
foi apresentada.
Durante todo o jogo a turma se mostrou muito participativa e empenhada,
pois todos estavam atentos às perguntas e as respostas que os colegas davam
durante as rodadas. Os estudantes souberam ser competitivos de maneira que cada
equipe se concentrava para tentar responder corretamente a pergunta direcionada
à eles. Portanto a ludicidade pôde proporcionar uma facilidade no aprendizado e
na absorção do conteúdo, tornando assim mais prazeroso, duradoura e atraente
para os alunos. Os objetivos foram alcançados, pois a turma ao decorrer do jogo
questionava as perguntas e suas respostas, se faziam atentos para não deixar a
equipe adversária tomar vantagem e afins. Dessa forma, mostraram que o
conhecimento da química pode fazer algum sentido. Quando tinham dúvidas,
recorriam à professora, questionando os seus próprios conhecimentos sobre o
assunto, movendo cada vez mais aprendizagens.
Após a aplicação do jogo foi passado um questionário para que os alunos
respondessem, colocando suas respostas e opiniões. Alguns disseram que se
divertiram jogando e puderam olhar para a química de outra forma. Outros
gostaram das atividades em grupo apreciando poder aprender com os demais
colegas. A maioria se referiu ao fato de saírem do livro didático, colocando em
prática as noções teóricas que tinham sobre o assunto. Os alunos sentiram-se bem
com o fato da nova experiência vivida e da maneira de absorver o conteúdo
através das dinâmicas realizadas onde eles podiam interagir entre si, com a
professora, com os aplicadores da dinâmica, com possibilidade de aumentarem o
seu aprendizado sobre o assunto, percebendo a química de forma diferente.
A professora aprovou o método do jogo e sua funcionalidade, pois de acordo
com ela o jogo trouxe mais noção para os alunos sobre o conteúdo que já havia
sido aplicado e uma oportunidade de quebrar a mesmice no uso apenas do quadro e
do livro. Projetar uma aula além do que se tem como padrão, que é o caso do uso
contínuo do quadro e do livro, precisa ter uma dimensão ampla sobre como abordar
os diversos assuntos para não dispensar a concentração e o raciocínio lógico do
aluno. É usar estratégias para fomentar o interesse dos jovens na educação,
visto que estão em uma fase de possíveis decisões futuras relacionadas ao que
almejam ser, incluindo a profissão que poderão seguir.
A figura apresenta o jogo The Wall Químico montado \r\nem sala de aula.
A figura aborda o momento da aplicação do jogo em \r\nsala com os alunos.
Conclusões
Neste artigo fica evidente que a atividade lúdica pode ser potencializadora do ensino de química. Com a experiência aqui relatada foi constatado a utilidade do jogo The Wall Químico, no que diz respeito às Funções Inorgânicas. Mas podemos inferir que devido ao sucesso do jogo, este pode ser modificado para qualquer conteúdo de química. Outro aspecto que precisamos destacar foi quanto a simplicidade do jogo e sua construção com materiais de baixo custo e material reciclado. Assim também constatamos que mesmo na escola pública com baixos recursos orçamentários podem ser implementadas atividades lúdicas, a depender apenas da criatividade e interesse do professor, em procurar modificar suas aulas ou pelo menos intercalar suas aulas teóricas com algumas atividades práticas e lúdicas, movendo o aluno para o centro do processo de ensino-aprendizagem. Ademais, podemos dizer que a atividade lúdica promove uma sensação de participação, facilitação da aprendizagem, interações positivas entre educandos e entre estes e o professor. É de grande relevância o professor despertar um olhar mais crítico dos alunos, fazendo com que eles compreendam a importância da disciplina Química e de seus conteúdos, mas precisa despertar primeiramente o interesse e o engajamento. Quando estes são despertados, os alunos passam a se empenhar em realmente aprender os conteúdos, se esforçam mais, dedicando mais horas de tempo, mesmo fora de sala de aula, para a disciplina. A química tem se constituído em uma disciplina que causa bastante exclusão dos alunos na escola, ou mesmo uma aversão quando terminam o Ensino Médio. No entanto, ao trazer uma atividade lúdica como o jogo, que dialoga com os conteúdos ministrados, causa sempre um espanto e uma oportunidade dos alunos se interessarem por ela. Na atividade ficou claro que a sala de aula se tornou bem dinâmica com as disputas empregadas no jogo The Wall Químico, abrindo caminho para outras possibilidades.
Agradecimentos
Agradeço a Escola Estadual de Ensino Médio O Pequeno Príncipe, a turma do 2º ano B e a professora Taisnara R. da Silva pelo acolhimento.
Referências
ANTUNES, C. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis. Editora Vozes. 2011.
CUNHA, M. B. Jogos de Química: Desenvolvendo habilidades e socializando o grupo. São Paulo. Eneq. 2004.
FALKEMBACH, G. A. M. O lúdico e os jogos educacionais. CINTED-Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação; UFRGS. 2006.
SANTANA, E. M. de. A Influência de atividades lúdicas na aprendizagem de conceitos químicos. São Paulo. Universidade de São Paulo, Instituto de Física; Programa de Pós Graduação Interunidades em Ensino de Ciências. 2006.
TAROUCO, L. M. R.; FABRE, M. C. J. M.; ROLAND, L. C.; KONRATCH, M. L. P. Jogos educacionais. Porto Alegre. RENOTE: revista novas tecnologias na educação, 2004.
THUROW, A. C.; FISCHER, C. H.; FISCHER, D. M. H; SCHNEIDER, J. da S. A importância da atividade lúdica para a prática docente: a construção do conhecimento das crianças. Revista Educação Pública, v. 21, nº 39. 2021.