Autores

Damasceno Vieira de Souza, A. (UNIFESSPA) ; Lima Santos, A. (UNIFESSPA) ; Lisboa Costa, W. (UNIFESSPA) ; Silva, C.E. (UNIFESSPA)

Resumo

O trabalho buscou desenvolver e aplicar uma sequência didática sobre reações químicas, a fim de contribuir para o desenvolvimento do pensamento científico, envolvendo aprendizagens específicas de química, para que possam ser aplicadas em contextos diversos. As atividades e experimentos propostos na sequência didática foram eficazes no processo de ensino-aprendizagem, pois foi possível trabalhar a química de forma contextualizada, fazendo com que os alunos enxergassem a química com outros olhos, permitindo que esses tenham a capacidade de fazer uma relação direta entre os conhecimentos químicos adquiridos e o cotidiano.

Palavras chaves

Ensino de química; Sequências didáticas; Ensino-aprendizagem.

Introdução

A aprendizagem sobre química é fundamental para a formação cidadã, uma vez que seus conhecimentos permeiam a vida de todos. No entanto, ensinar química tem sido um grande desafio para os professores que atuam no ensino médio, da cidade de Marabá e região do sul e sudeste do Pará, Amazônia Oriental. As dificuldades estão relacionadas tanto com a estrutura da escola, quanto com a formação dos professores e as próprias dificuldades dos alunos. Além disso, outros problemas merecem destaque: 1) O uso massificado e grande dependência do livro didático; 2) a questão dos materiais didáticos (ou da falta deles) e dos modelos em química como representação da realidade; 3) A questão da falta de contextualização e do uso das concepções alternativas; 4) A questão do ensino pela pesquisa como metodologia de ensino, que em muitos casos pode ser desconhecida pela maioria dos professores de química; 5) As dificuldades (de professores e estudantes) de usar as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação no ensino-aprendizagem de química e, 6) A maioria de seus conteúdos têm um caráter abstrato, também são bastante complexos e exige conhecimentos básicos de matemática para a resolução de exercícios, fórmulas e equações. Todos esses fatores prejudicam o aprendizado da disciplina de química e dificultam o alcance do seu objetivo: propiciar ao indivíduo a compreensão dos fenômenos de transformações químicas que ocorrem ao seu redor e no mundo, tanto nos processos naturais como tecnológicos em diferentes situações. Sendo assim, é preciso que o aluno seja capaz de compreender o desenvolvimento científico e tecnológico para poder participar ativamente dos acontecimentos do mundo social em que vive e atuar nas decisões do dia-a-dia. Nos dias atuais, é preciso desenvolver uma educação onde permita que os alunos sejam mais integrados, interessados e críticos no ensino juntamente ao professor, buscando sempre os melhores métodos de ensino. Segundo Lev Vygotsky (1934), a relação professor-aluno não pode ser de imposição, e sim de cooperação, respeito, e crescimento para que haja a construção de conhecimento do indivíduo. Contudo, para que isso possa acontecer surge a necessidade de que os alunos assumam um papel de protagonismo maior em sala de aula e diante dos conhecimentos que lhe são apresentados, dessa forma as ações implementadas pelo professor devem estar sempre seguindo nessa mesma direção. Para enfrentarmos as dificuldades mencionadas acima e alcançar maior êxito no ensino, a química deve ser pensada como uma ferramenta que contribui sobremaneira para solucionar problemas, tanto individuais como da sociedade, mas para além disso, deve ajudar as pessoas a compreenderem novas visões de mundo. Desta forma, faz-se necessário criar situações didáticas variadas, em que seja possível retomar os conteúdos abordados em diversas oportunidades. Isso pressupõe um planejamento que contenha diferentes modalidades organizativas: projetos didáticos, atividades permanentes e sequências didáticas contendo diferentes metodologias, incluindo jogos didáticos, atividades experimentais, entre outras (CARVALHO, 2004, DELIZOICOV, 2007, CARBO, 2019). Atualmente, têm-se investido muito no uso de sequências didáticas, com variadas metodologias, como ferramenta para elaborar aulas mais dinâmicas. As sequências didáticas consistem em organização dos conteúdos a serem ensinados em uma dada disciplina. Pressupõem uma organização de atividades que devem ser desenvolvidas durante um determinado tempo, com começo, meio e fim. Normalmente, essas atividades devem ser desenvolvidas em várias aulas, sobre um determinado tema ou problema a ser explorado/resolvido (Oliveira, 2013). São muitas as inter-relações que podemos explorar com a sequência didática a partir de um determinado conteúdo de química (Oliveira, 2013). Neste trabalho, o foco foi especialmente a contextualização (pensar na realidade local da cidade de Marabá - Pará), a problematização (a temática deve ser pensada a partir da realidade e dos aspectos de conflitos que podem gerar e ou compreender, tendo a química como ferramenta de transformação) e as atividades alternativas para o ensino-aprendizagem de química (pensadas nas diversas atividades e práticas que podem ser desenvolvidas em sala de aula como: TIC, experimentos, atividades lúdicas, gincanas, jogos didáticos, modelos, atividades e/ou materiais com vistas à inclusão, metodologias ativas de aprendizagem, entre outros) (Oliveira 2010, Souza, 2022). Nesse sentido, o trabalho em tela buscou desenvolver e aplicar sequências didáticas com a temática reações químicas, a fim de contribuir para o desenvolvimento do pensamento científico, envolvendo aprendizagens específicas de química, para que possam ser aplicadas em contextos diversos, mas especialmente na região amazônica. Os resultados foram materializados através das percepções em sala de aula e registros fotográficos.

Material e métodos

O presente artigo foi desenvolvido a partir de uma base qualitativa, inserido na pesquisa exploratória (DEMO, 2011a; DEMO, 2011b), tendo como objetivo principal o desenvolvimento e aplicação de uma Sequência Didática como estratégia para melhorar a qualidade do ensino de química na Escola Estadual de Ensino Médio Prof. Paulo Freire, localizada no município de Marabá-Pará, Amazônia Oriental. A partir das observações dos momentos em sala de aula foram geradas compreensões e interpretações das atividades desenvolvidas, materializadas como dados do estudo seguindo o que aponta Espinoza (2010) em que “a ideia de sequência se contrapõe àquela da aula que começa e termina nela mesma, a persistência do ensino de determinado tema é indispensável para uma maior proximidade com o conhecimento de uma disciplina”. A Sequência Didática desenvolvida foi organizada seguindo os seguintes passos: 1º Passo: Definição da temática e estudo dos conceitos envolvidos; 2º Passo: Definição dos conceitos a serem desenvolvidos dentro de cada temática; 3º Passo: Definição dos objetivos possíveis de serem elencados para a temática em questão 4º Passo: Distribuição dos conteúdos relacionados à temática em aulas possíveis de serem aplicadas; 5º Passo: Contextualização do tema, pensando em problemas práticos, de nossa região que possam estar relacionados com as temáticas em estudo. O tema escolhido para trabalhar nessa sequência didática foi reações químicas. Após o desenvolvimento da sequência didática, a mesma foi desenvolvida em 4 aulas em uma turma da segunda série do ensino médio, em uma escola pública na cidade de Marabá-PA. De forma geral, a dinâmica usada na aplicação da sequência didática, consistiu nas seguintes etapas: a) Questionamento sobre os conhecimentos prévios dos alunos; b) Aula expositiva sobre o tema; c) Apresentação de exemplos do cotidiano em que as reações químicas estão presentes (Contextualização); d) Resolução de exercícios; c) Aplicação de atividades alternativas e criativas. Uma das atividades alternativas usadas foi a aplicação de um Quiz sobre o assunto abordado durante a aula, com o objetivo de provocar uma discussão entre os alunos. Então, foram elaboradas perguntas relacionadas à temática e essas, foram impressas em papel chamex, recortadas e enroladas para serem sorteadas no momento da dinâmica. Dividiu-se a turma em dois grupos, para cada grupo foi sorteado uma quantidade de perguntas, ganhou a equipe que acertou mais questões. Outra dinâmica usada em uma das aulas foi a experiência de química denominada de “Pasta de dente de elefante”. Nesta experiência abordou-se os conceitos sobre velocidade de uma reação química e utilização de catalisadores. Os materiais utilizados na experimentação foram acessíveis, sendo a maioria deles usados no cotidiano dos alunos. Após a explicação do procedimento experimental, os alunos foram divididos em grupos para que eles mesmos realizassem a prática.

Resultado e discussão

O desenvolvimento das atividades propostas na sequência didática aconteceu nos dias 08 e 09 de novembro de 2022, em uma turma de segunda série do ensino médio na Escola Estadual Professor Paulo Freire no município de Marabá. Inicialmente foi realizado um questionamento sobre os conhecimentos prévios dos alunos e a partir daí iniciou-se uma breve introdução da temática, buscando sempre a contextualização e aproximação com a realidade vivenciada pelos alunos (Figura 1A). O Quadro 1 a seguir mostra os temas trabalhados e os conceitos relacionados, bem como as atividades desenvolvidas na sequência didática. Após a apresentação do tema através de exposição dialogada, foram realizados alguns experimentos. Durante essas demonstrações experimentais foram feitas várias perguntas aos alunos e ao término do experimento eles puderam confirmar ou reformular suas percepções sobre o tema. Por fim, os alunos foram convidados a "pôr a mão na massa”, e realizaram alguns experimentos, seguindo as orientações dos roteiros experimentais, conforme mostra Figura 1B. PERCEPÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO E APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA AULAS REAÇÕES QUÍMICAS MAIS INTERESSANTES E CONTEXTUALIZADAS Sabe-se que colocar o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem, nem sempre é o caminho mais fácil, mas com certeza é o caminho que mais produz autonomia. Nesta seção iremos mostrar as percepções obtidas em relação à construção e aplicação das sequências didáticas de química. Para isto, foram feitos alguns questionamentos: Questão 01: O desenvolvimento das atividades e experimentos propostos na sequência didática configuram técnicas eficazes ao processo de ensino- aprendizagem no nível de ensino básico onde foi aplicado? Descreva as melhorias proporcionadas: Questão 2: O projeto contribuiu para a melhoria do desempenho e ampliação do interesse dos alunos do ensino básico onde foi aplicado? Descreva. Questão 3: Aponte as principais dificuldades encontradas para o desenvolvimento do projeto e as medidas tomadas para superá-las: Diante dos questionamentos apontados, pôde-se fazer as seguintes reflexões: A partir do desenvolvimento desta pesquisa foi possível contribuir significativamente para o aprimoramento das práticas pedagógicas no ensino de reações químicas. O desenvolvimento das atividades e experimentos propostos na sequência didática se mostraram muito eficazes ao processo de ensino- aprendizagem, uma vez que foi possível trabalhar a química de forma contextualizada, fazendo com que os alunos enxergassem a química com outros olhos, permitindo que esses tenham a capacidade de fazer uma relação direta entre os conhecimentos de química adquirido e sua vida cotidiana. Além disso, observou-se um grande envolvimento dos alunos nas atividades propostas, o que indica que foi possível despertar um certo interesse e curiosidade pelo que estava sendo trabalhado. Outro ponto interessante a ser destacado, foi a aplicação de um quiz de perguntas e respostas para introduzir a temática. Essa metodologia mostrou-se bastante eficiente para envolver a turma no processo de ensino aprendizagem, especialmente para revisar alguns conteúdos importantes que serviram de suporte para a temática reações químicas. Nesse momento todos os alunos puderam participar, mostrando suas percepções e principalmente seus questionamentos a respeito da temática. Também foi possível trazer outros temas secundários para a discussão, além de colocar o cotidiano dos alunos no centro do debate. Assim, cada aluno pôde citar exemplos reais de onde é possível aplicar os conhecimentos de química para entender fenômenos ou mesmo solucionar alguns problemas práticos do dia a dia. Em relação às dificuldades encontradas, destaca-se principalmente a construção da sequência didática, pois pensar em metodologias, materiais didáticos, experimentos possíveis de serem realizados, com materiais alternativos e de baixo custo, levando em consideração tempo de aula, quantidade de alunos na turma não é uma tarefa fácil. Mas com dedicação, estudo, planejamento e paciência foi possível organizar uma sequência de ações possíveis de serem executadas. Durante a aplicação das atividades, não houve nenhuma situação que pudesse comprometer o andamento das aulas. Todas as atividades propostas foram realizadas no tempo estipulado e com materiais adequados, de forma a serem gerados diferentes questionamentos a respeito da temática. Ao final das quatro aulas, os alunos demonstraram, através de falas, que ficaram satisfeitos com a metodologia. Disseram que a química ficou mais interessante e atraente quando vista por meio de experimentos e contextualizada com exemplos do cotidiano.

Quadro 1: Atividades e conceitos desenvolvidos nas temáticas aplicadas

Quadro 1: Atividades e conceitos desenvolvidos nas \r\ntemáticas aplicadas na Escola Professor Paulo \r\nFreire.

Figura 1 A e B

A) Alunos e professora debatendo sobre a temática \r\nreações químicas e B) Alunos realizando experimentos \r\nsobre reações químicas.

Conclusões

O presente trabalho buscou organizar uma sequência didática sobre reações químicas, onde fosse possível trabalhar as diferentes temáticas envolvidas através de diferentes metodologias. Depois de organizada, esta sequência didática foi aplicada numa turma de segundo ano do ensino médio de uma escola pública na cidade de Marabá- Pará. As atividades propostas na sequência didática foram executadas com êxito, todos os experimentos foram realizados no tempo estipulado e com materiais adequados. Os alunos mostraram-se interessados nas dinâmicas e foram bastante participativos, além de fazerem muitos questionamentos a respeito do tema. Desta forma, conclui-se que as atividades desenvolvidas na sequência didática foram capazes de despertar o interesse pela disciplina de química, além de motivar o interesse científico e maior participação dos alunos. Para quem desenvolveu o trabalho, foi uma experiência muito enriquecedora, que permitiu fazer uma série de reflexões a respeito da docência. Proporcionou vivências pelas quais jamais imaginou-se viver em um curso de graduação, assim como também, possibilitou aprender e ensinar química de uma forma mais dinâmica, no qual o aluno ficasse no centro do processo de ensino aprendizagem, sendo questionado a cada etapa da aplicação da sequência didática. A perspectiva esperada em relação ao resultado encontrado é que cada vez mais os professores em formação utilizem sequências didáticas para organizarem suas aulas. A tendência é que cada mais as aulas puramente expositivas sejam abandonadas e deem espaço para a inclusão de diferentes metodologias e dinâmicas que são de extrema importância no processo de construção do conhecimento. Certamente, a ampliação da aplicação dessa sequência didática em diferentes turmas, contribuiria para termos uma visão bem mais ampla da sua contribuição no processo de ensino aprendizagem de química.

Agradecimentos

Ao Programa de Apoio a projetos de Intervenção metodológica (Papim) da Unifesspa pela bolsa concedida aos discentes Alciene Lima e Wendel Lisboa.

Referências

CARBO, Leandro; et al. Atividades práticas e jogos didáticos nos conteúdos de química como ferramenta auxiliar no ensino de ciências. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, v. 10, n. 5, p. 53-69, 2019.

CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa e a Prática. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2007.

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VYGOTSKY, L.S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001