Autores

Paz, C.C. (UFPI) ; Ferreira, L.N.A. (UFPI)

Resumo

Pesquisas da área de ensino de química orientam para a utilização de estratégias de ensino e aprendizagem capazes de desenvolver habilidades e competências científicas inerentes à formação acadêmica. Nesse sentido, no presente trabalho foi aplicada uma proposta de ensino de caráter experimental, elaborada conforme os preceitos da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), a fim de investigar as percepções de graduandos em química sobre a proposta de ensino. Para a coleta de dados, um questionário elaborado em escala de cinco pontos foi aplicado. Os resultados obtidos apontaram a boa receptividade dos discentes em relação à proposta, corroborados por suas impressões, os quais reconheceram que atividades experimentais pautadas na ABP oportunizam resultados positivos para a sua aprendizagem.

Palavras chaves

ensino de química; atividades experimentais; problemas

Introdução

O ensino de química tem sido reestruturado para o desenvolvimento de habilidades e competências científicas de modo a orientar os estudantes a tomar decisões usando critérios com base em conhecimentos científicos, para interpretar informações apresentadas sob diferentes formas, como gráficos, tabelas, símbolos, fórmulas e equações químicas (DEL PINO; FRISON, 2011). Para isso, é necessária a utilização de estratégias de ensino capazes de proporcionar aos discentes maior engajamento científico (ANTONIO; MOLINA, 2010; MARLE et al. 2014). Nesse sentido, a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) oportuniza um ambiente de ensino em que “os estudantes aprendem por meio da resolução de cenários investigativos ou situações-problema, atuando em grupos colaborativos e com a ação do professor como um orientador do processo de aprendizagem” (PIERINI et al. 2015, p. 113). Isso colabora para o desenvolvimento de habilidades superiores, como pensamento crítico e comunicação, além de estimular a curiosidade e o engajamento, habilidades necessárias à formação profissional (BERNARDI; PAZINATO, 2022). Face às considerações, partimos da hipótese que atividades experimentais planejadas em conformidade com a ABP podem promover habilidades e competências científicas em graduandos em química em disciplinas de caráter experimental. Mas, como os discentes percebem essa metodologia? Eles reconhecem sua relevância para a aprendizagem? Nessa perspectiva, a presente pesquisa envolveu o desenvolvimento de uma proposta de ensino de química de caráter experimental, elaborada e realizada conforme os preceitos da ABP, sobre a qual investigamos as percepções de graduandos em química.

Material e métodos

A pesquisa é de natureza empírica, a qual foi desenvolvida em uma disciplina de Química Geral Experimental ofertada pelo Departamento de Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI), localizada em Teresina-PI. A disciplina contava com 11 alunos matriculados. Durante o semestre letivo, os graduandos, divididos em três grupos, participaram de atividades experimentais de caráter investigativo realizadas sob os preceitos da ABP. A eles cabia propor soluções para uma situação-problema, de natureza científica ou sóciocientífica, por meio da realização de experimentos. No final do semestre, a fim de investigarmos a receptividade e percepção dos estudantes com relação à proposta de ensino desenvolvida, aplicamos um questionário elaborado em escala de cinco pontos. O questionário foi construído com questões que diziam respeito às opiniões dos estudantes sobre os aspectos pertinentes às atividades experimentais, para as quais eles deveriam expressar suas opiniões por meio da escolha de uma entre cinco opções, distribuídas da seguinte forma: ótimo (5); bom (4); indiferente(3); regular (2) e péssimo (1); e por uma sequência de afirmações relativas à proposta de ensino, para as quais os alunos escolheram, entre cinco níveis de concordância – concordo fortemente (5); concordo (4); indeciso (3); discordo (2) e discordo fortemente (1) –, a alternativa que melhor descrevesse sua opinião.

Resultado e discussão

A partir das respostas fornecidas pelos estudantes ao questionário aplicado, avaliamos as percepções deles sobre a proposta de ensino aplicada. A Figura 1 a seguir representa as respostas dos discentes sobre os aspectos pertinentes às atividades experimentais. Conforme a Figura 1, dentre as categorias mais bem avaliadas, os discentes foram unânimes em classificar entre as opções “bom” e “ótimo”, aquelas relacionadas aos conhecimentos envolvidos, ao cotidiano, à profissão e à relevância para o curso. Os resultados são corroborados por Hicks e Bevsek (2012), os quais relatam que atividades pautadas na ABP oportunizam aos estudantes construir sua compreensão de forma contextualizada sobre o problema. A seguir, na Figura 2, estão as respostas dos discentes para as afirmações de I a VI, concernentes à proposta de ensino aplicada. De acordo com a Figura 2, os estudantes foram unânimes em classificar entre as opções “concordo fortemente” e “concordo” as afirmações I, III e IV, reconhecendo a contribuição das atividades realizadas para a construção de seu conhecimento. Isso ratifica que a construção do conhecimento científico está associada à aprendizagem ao tratamento de problemas (GOMES; BORGES; JUSTI, 2008; SEFERIAN, 2010; LAREDO, 2013). Sobre as afirmações II, V e VI, alguns graduandos dividiram opiniões. Esses resultados não são surpreendentes, especialmente se considerarmos que a experiência vivenciada por eles é diferente do que estão acostumados, especialmente do ponto de vista da necessidade de participação ativa e autonomia. Tais características também evidenciam as deficiências deles em regular seu próprio processo de aprendizagem e construir seus conhecimentos, por esse motivo acabam considerando a atividade e/ou o problema “difíceis”.







Conclusões

A proposta de ensino desenvolvida teve boa receptividade entre os graduandos, com algumas ressalvas devido às dificuldades enfrentadas, especialmente na resolução dos problemas. Acreditamos que seja caminho para superar esses obstáculos ensinar os alunos a analisar e interpretar dados, antes da realização de atividades pautadas na resolução de problemas, pois, a maior dificuldade observada no processo de resolução dos problemas pode ser justificada por uma possível falta de habilidade dos alunos em analisar e interpretar dados para chegarem a possíveis conclusões.

Agradecimentos

Referências

ANTONIO, J.; MOLINA, L. El Aprendizaje basado en problemas como estrategia para el cambio metodológico en los trabajos de laboratorio. Química Nova, v. 33, n. 4, 2010.

DEL PINO, J. C.; FRISON, M. D. Química: um conhecimento científico para a formação do cidadão. Revista de Educação, Ciências e Matemática, v. 1, n. 1, 36-50, 2011.

GOMES, A. D. T.; BORGES, A. T.; JUSTI, R. Processos e conhecimentos envolvidos na realização de atividades práticas: Revisão da literatura e implicações para a pesquisa. Investigações em Ensino de Ciências, v. 13, n. 2, 187-207, 2008.

HICKS, R. W.; BEVSEK, H. M. Utilizing Problem – Based Learning in qualitative analysis lab experiments. Journal of Chemical Education, v. 89, n. 2, 254-257, Nov. 2012.

LAREDO, T. Changing the first-year chemistry laboratory manual to implement a problem-based approach that improves student engagement. Journal of Chemical Education, v. 90, n. 9, 1151-1154, 2013.

MARLE, P. D.; DECKER, L.; TAYLOR, V.; FITZPATRICK, K.; KHALIQI, D.; OWENS, J. E.; HENRY, R. M. CSI-Chocolate Science Investigation and the Case of the Recipe Rip-Off: Using an Extended Problem-Based Scenario to Enhance Science Engagement. Journal of Chemical Education, v. 91, n. 3, 345–350, 2014.

PIERINI, M. F. ROCHA, N. C.; SILVA FILHO, M. V.; CASTRO, H. C.; LOPES, R. M. Aprendizagem Baseada em Casos Investigativos e a Formação de Professores: O Potencial de Uma Aula Prática de Volumetria para Promover o Ensino Interdisciplinar. Química Nova na Escola, v. 37, n. 2, 112-119, 2015.

SEFERIAN, A. E. Situaciones problemáticas de química diseñadas como pequeñas investigaciones en la escuela secundaria desde un encuadre heurístico a partir de uma situación fortuita que involucra reacciones ácido-base. Educación Química, v. 21, n. 3, 254-259, Jul. 2010.