Autores
Almeida, A.S. (IFPI) ; Almeida, B.A.S. (IFPI) ; Araujo, P.C. (IFPI) ; Paz, C.C. (UFPI)
Resumo
O Brasil é destaque no que se refere à automedicação, essa prática tem gerado problemas para a saúde. Nesse contexto, considerando a relevância da discussão sobre a automedicação, a pesquisa objetivou conscientizar estudantes do 9º ano do ensino fundamental sobre os perigos da automedicação e cibercondria para a saúde. Para isso, em aulas de ciências foram realizadas ações de conscientização que envolveram palestras, dinâmicas e aplicação de questionários para investigar as práticas dos estudantes com relação ao tema e suas impressões após as ações. Os resultados indicaram que os discentes compreenderam os perigos da automedicação e cibercondria para a saúde. Assim, eles compreenderam a aplicação dos conhecimentos científicos em seu dia a dia e a relevância da ciência para a sociedade.
Palavras chaves
Automedicação; Cibercondria; Ensino de Ciências
Introdução
O uso de medicamentos tornou-se a causa número um de intoxicação em nosso país, acima dos produtos de limpeza, de agrotóxicos e até mesmo de alimentos danificados (BARBOSA, 2020). Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Hibou em 2014, o Brasil aparece como líder mundial no uso indiscriminado de medicamentos (GUEDES, 2017). De acordo com o Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação, 33% dos internautas já utilizaram sites de busca para procurar informações ligadas à saúde. Mas, tal prática pode provocar doenças cibernéticas como a cibercondria (VASCONCELLOS-SILVA et al, 2010), pois quando o usuário fica pesquisando em diversos sites, o excesso de informação gera dúvidas e incertezas, levando-o ao perigoso autodiagnóstico, isso interfere em sua qualidade de vida (ALVIM, 2019). Nessa perspectiva, os indivíduos precisam ser conscientizados sobre os perigos da automedicação e cibercondria para a saúde, e essa conscientização deve perpetuar-se entre as gerações. Para isso, a temática em pauta precisa ser discutida nas escolas a partir de atividades que envolvam os estudantes. A discussão de tais temáticas no ambiente escolar é respaldada por Lanes e colaboradores (2014, p. 27), os quais apontam para “a necessidade de tratar de temas urgentes – chamados Temas Transversais – no âmbito das diferentes áreas curriculares e no convívio escolar”. Além disso, Guerreiro, Chagas e Lacerda (2020) corroboram que a escola é responsável pela sociedade enquanto possui a função de educar. Face as considerações, a pesquisa envolveu a realização de ações em aulas de ciências oportunizando discussões a respeito da automedicação e cibercondria, a fim de conscientizar estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental sobre os perigos de tais práticas para a saúde.
Material e métodos
A pesquisa-ação foi realizada em uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental, a qual contava com 30 alunos, da Unidade Escolar José Basson situada no município de Cocal-Piauí, com o intuito de modificar práticas nocivas à saúde ocasionada pela automedicação e cibercondria, visando a conscientização dos sujeitos que propagar-se-á para além da comunidade educacional especificada. O desenvolvimento da pesquisa ocorreu em aulas de ciências, envolvendo a realização de palestras, dinâmicas e aplicação de questionários antes e depois das ações de conscientização. Os principais pontos abordados durante as palestras foram o uso demasiado de medicamentos e seus efeitos colaterais no organismo, bem como, os problemas psicológicos advindos da cibercondria. O primeiro questionário consistia em perguntas relacionadas a frequência que os estudantes utilizavam a internet para pesquisar sintomas ou medicamentos, a natureza dos medicamentos usados sem prescrição médica, automedicação e os motivos para tal prática. Enquanto o segundo estava organizado com questionamentos a respeito das ações realizadas (palestras e dinâmicas) e suas contribuições para a promoção da conscientização em relação aos perigos da automedicação e cibercondria. Cabe destacar, que as respostas dadas pelos estudantes ao primeiro questionário, foram apresentadas à comunidade escolar ocasionando uma discussão sobre a temática que envolveu a pesquisa, a fim de oportunizar à luz do conhecimento científico, a conscientização sobre os perigos das práticas de automedicação e cibercondria. O movimento foi amplamente dialógico, no sentido real da comunicação e não da prática extensionista.
Resultado e discussão
A partir das respostas fornecidas pelos estudantes ao primeiro questionário,
verificamos que 53,3% dos discentes costumavam pesquisar na internet sobre
problemas de saúde e medicamentos. De acordo com os resultados, podemos inferir
que isso é consequência da dificuldade de acesso a hospitais públicos. No que se
refere ao acesso, apenas 30% dos discentes afirmaram que conseguiam consulta com
profissionais de saúde sem dificuldade. Desse modo, acreditamos que o alto
índice de pesquisas na internet sobre problemas de saúde e consequentemente a
automedicação, seja proveniente dessa dificuldade de acesso aos serviços
hospitalares.
Em relação a cibercondria, embora 46,6% dos estudantes afirmarem que as
pesquisas na internet sobre possíveis problemas de saúde causavam ansiedade em
relação ao seu estado de saúde, apenas um aluno tinha conhecimento sobre a
cibercondria. No entanto, havia certa conscientização sobre as buscas na
internet causar ansiedade, pois 80% dos discentes responderam que buscas online
relacionadas a saúde poderiam induzir a ansiedade.
Para o segundo questionário, aplicado após as ações para conscientização,
obtivemos respostas positivas dos estudantes. Os resultados indicaram que por
meio das ações desenvolvidas, houve a conscientização da maioria dos discentes
sobre os perigos da automedicação para a sua saúde. Isso é respaldado pelas
respostas às perguntas sobre a mudança de opinião sobre a prática de
automedicação, em que 60% dos alunos responderam que mudaram de ideia, em
relação a consultar um profissional antes de ingerir algum medicamento 56,7%
responderam positivamente a proposta, e 86,7% dos educandos consideram relevante
a palestra, o que foi significativo para a sua formação enquanto cidadão crítico
que busca colaborar para o bem da comunidade.
Conclusões
A partir das ações desenvolvidas, os estudantes compreenderam os perigos da automedicação e cibercondria para a saúde. Os resultados obtidos apontam que as atividades realizadas oportunizaram o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo dos discentes à respeito da temática em pauta, tornando-os capazes de tomar decisão e argumentar sobre os perigos da automedicação e cibercondria para a saúde junto a comunidade escolar, pois eles foram motivados a compartilhar as informações e conhecimento com seus pares e familiares, reconhecendo a relevância da ciência para o bem estar da comunidade.
Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Apoio à Extensão ProAEx/IFPI - PIBEX SUBPROGRAMA ARTE E CULTURA - EDITAL PIBEX Cult 2021.
Referências
ALVIM, J. As consultas com o Dr. Google. Psicoblog, 2019. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/blog/psicoblog/post/consultas-com-o-drgoogle.html>. Acesso em: 05 Jun. 2023.
GUEDES, A. Automedicação pode ter graves consequências. Senado, 2017. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/automedicacao-pode-ter-graves-consequencias>. Acesso em: 05 Jun. 2023.
GUERREIRO, M. G; CHAGAS, A. M.; LACERDA, C. R.. Educação e sociedade: Uma reflexão sobre o caráter de educar em tempos de modernidade líquida. Revista Expressão Católica, v. 9, n.2, 82–93, 2020.
LANES, K. G. et al. O Ensino de Ciências e os Temas Transversais: Sugestões de Eixos Temáticos Para Práticas Pedagógicas no Contexto Escolar. Contexto & Educação, n. 92, 21-51, 2014.
VASCONCELLOS-SILVA, P. R. et al. As novas tecnologias da informação e o consumismo em saúde. Cad. Saúde Pública, v. 26, n. 8, 1473-1482, 2010