Autores

Costa, F.J. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ) ; Silva, M.G.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ)

Resumo

O presente trabalho apresenta o uso do Júri Simulado como estratégia formativa para professores de Química e Artes. No qual foi oferecida uma oficina para 17 professores que atuam em escolas de Ensino Médio da CREDE 3-Acaraú. Após execução da formação, foi aplicado um questionário avaliativo para analisar a motivação dos professores com a referida estratégia e algumas possibilidades de aplicação nas aulas de Química. Os resultados da pesquisa-ação evidenciaram que o uso do Júri Simulado na formação de professores, melhora seu repertório de práticas pedagógicas, o que o motiva para a utilização em sala e, consequentemente, pode tornar as aulas de Química mais dinâmicas e interativas, melhorando a participação, o poder de argumentação, o debate de temas científicos.

Palavras chaves

Formação de Professores; Juri Simulado; Ensino de Química

Introdução

Como educadores, vivenciamos um período de grandes transformações em relação ao modo como desenvolvemos nossas funções em sala de aula, uma vez que a cultura digital tem despontado para um grande desafio: o de desenvolver a comunicação, a argumentação e a discussão compartilhada de temas relacionados ao componente de Química. Vale ressaltar também que o ensino de Química, em nível médio, encontra grandes desafios, em termos de aprendizagem e em termos de métodos de ensino, efetivamente, atrativos e engajadores para os estudantes. Nesse sentido, este trabalho tem o objetivo de demostrar que o uso da estratégia do Júri Simulado Químico, na formação de professores, possibilita que os professores implementem tal estratégia em sala de aula e, desta forma, envolva os estudantes como protagonistas do ensino dos conteúdos de Química, desenvolvendo sua capacidade crítica, reflexiva e argumentativa em torno de temas importantes desse componente curricular. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, “a escola precisa ser reinventada, de forma a desenvolver ações pedagógicas que visem a participação e cooperação dos estudantes nas diversas formas de inserção social, política, cultural, e, ao mesmo tempo, capazes de contribuir em intervenções positivas nas formas de produção” (BRASIL, p. 9, 2011). Os Parâmetros Curriculares Nacionais destacam que dentre os maiores desafios para o aprendizado de Ciência, no Ensino Médio, estão “a formação adequada de professores, a elaboração de materiais instrucionais apropriados e, até mesmo, a modificação do posicionamento e da estrutura da própria escola, relativamente, ao aprendizado individual e coletivo” (BRAZIL, p. 49, 2002). Os baixos índices de aprendizagem dos estudantes em relação aos conteúdos de Química relacionam-se à descontextualização, falta de dinamicidade na aplicação e transmissão de conceitos em linguagem científica sem o devido tratamento didático. O uso da estratégia Júri Simulado, na formação de professores, apresenta-se como uma estratégia positiva, ao passo, que os instrumentaliza para implementação de tal prática em sala de aula. O que vem a gerar em suas práticas pedagógicas novas formas de pensar, novas hipóteses e abordagem dos conhecimentos químicos, tornando-os mais contextualizados e integrados aos discursos químicos vivenciados no cotidiano. “A estratégia de um Júri Simulado leva em consideração a possibilidade de realização de inúmeras operações de pensamento, como defesa de ideias, argumentação, julgamento, tomada de decisão” (ANASTASIOU, ALVES, p. 93, 2005). Sua implementação em sala, pode ainda, fomentar o desenvolvimento de outras operações de pensamento, mobilizando habilidades de interpretação, análise comparativa, proposição de hipóteses e tomada de decisão frente a resolução de problemas científicos. Nesse contexto, esse trabalho apresenta o uso do Júri Simulado Químico como uma estratégia formativa que fora implementada durante a formação de professores de Química e de Arte que lecionam em escolas de ensino médio da regional de educação de Acaraú-CE. A partir da implementação na prática formativa, utilizou- se a avaliação dos professores participantes para análise e contextualização da importância do Júri Simulado no ensino de Química. O uso do Júri Simulado Químico se conecta aos objetivos da educação química, por ser uma estratégia que desenvolve a criticidade, a reflexão, o poder de argumentação e de escolha por determinado conceito científico a ser adotado. Ao passo que tais estratégias se tornam importantes, é necessário preparar os professores para utilização das mesmas, uma vez que o uso de boas estratégias no ensino de ciências deve vir atrelado a uma boa sequência didática a ser aplicada com intencionalidade e uso adequado da técnica. “O ensino de Ciências deve permitir que o estudante compreenda as diferentes visões científicas sobre uma mesma questão, analise os diferentes argumentos usados com base nas evidências científicas disponíveis” (SANTOS, MORTIMER E SCOTT, p. 2, 2011). Desta forma, faz-se necessário o uso de estratégias que possibilitem ao estudante melhorar sua aprendizagem e, a partir das várias fontes de informações e evidências, fazer escolhas e ter pontos de vista alinhados com o desenvolvimento da ciência, sociedade e tecnologia. “No Júri Simulado, o professor atua como mediador da discussão, com possibilidade de rotatividade de papéis enunciativos, nos quais os estudantes ora defendem uma perspectiva, ora argumentam” (BERNARDO, VIEIRA E MELO, p. 204, 2014). A execução da estratégia potencializa o papel formativo da atividade, uma vez que possibilita aos participantes a defesa de um ponto de vista, alinhado com várias percepções sobre o conceito trabalhado, o que torna seu uso muito promissor para o desenvolvimento da empatia e ampliação de seu repertório de conhecimentos a serem aplicados na análise de contextos.

Material e métodos

A metodologia de pesquisa utilizada é do tipo exploratória que visa proporcionar uma maior familiaridade com a temática estudada, também utiliza-se de elementos da pesquisa aplicada por promover novos conhecimentos e análises por meio de uma ação prática (GIL, 2002). Neste estudo, utilizou-se como ação prática a aplicação da estratégia do Júri Simulado, durante a formação dos professores, possibilitando assim, gerar dados sobre determinada atuação prática, o que contextualiza e que fundamenta a discussão em torno da execução da metodologia e avaliação da ação prática desenvolvida. A ação foi executada com 17 professores de Química e Arte de Escolas Estaduais de Ensino Médio da Regional de Educação de Acaraú, no Estado do Ceará. A mesma foi executada como uma oficina da ação formativa desenvolvida na pesquisa de doutorado sobre o uso do teatro científico no ensino de Química. A estruturação da ação relatada deu-se em duas etapas. Na primeira etapa, elaborou-se a estrutura da oficina formativa, com foco no uso do Júri Simulado, visando fortalecer o repertório de estratégia metodológica dos professores, que os possibilite implementar em sala de aula metodologias que desenvolvam o poder de argumentação e participação ativa dos estudantes nas discussões e a comunicações científicas. Desta forma, foi escolhida para discussão a temática “Afinal a Química é boa ou ruim para a sociedade? ”. Na segunda etapa, ocorreu a realização da execução da oficina formativa e aplicação de questionário avaliativo da metodologia, realizado pelos professores participantes. O uso do questionário avaliou a aceitação da estratégia e motivação para utilização nas aulas e foi fundamental para o entendimento de como os professores interagem com novas metodologias, suas dificuldades e pontos positivos, sendo possível destacar sua efetividade como estratégia a ser implementada no ensino de Química. Na análise dos resultados e dados da avaliação, os professores são indicados como “P” e enumerados em ordem crescente, de acordo com a ordem de análise das respostas dos questionários.

Resultado e discussão

Após execução da sequência formativa, aplicou-se um questionário com quatro questões objetivas, das quais duas exigiam justificativas para as respostas, com o intuito de avaliar a percepção e motivação dos professores em relação à estratégia e posterior aplicabilidade do Júri Simulado em sala de aula de ensino médio. Com relação à questão 1, que perguntava sobre o grau de satisfação dos professores em relação à vivência da estratégia do Júri Simulado. Em uma escala de 0-5, na qual 0 para menor satisfação e 5 para maior satisfação. Os professores demonstraram um alto grau de satisfação, com 93,3% e 6,7% atribuindo os valores de 4 e 5 respectivamente. Tais dados demostram um alto nível de aceitação da metodologia. A partir das observações e falas dos professores, durante a execução da metodologia, é possível inferir que o positivo grau de satisfação com a estratégia dar-se-á pelo fato de os mesmos estarem vivenciando de forma prática a mesma, o que possibilita verificar adequações, correções de rotas e readequar o método para posterior aplicação em sala de aula. Destaca-se como evidência a citação de um professor participante ao afirmar que “Ao vivenciar a oficina, a percepção pelo estudo feito faz com que muitas ideias surjam para fortalecer a prática em sala de aula”. O processo de vivência e reflexão de uma atividade pedagógica possibilita que os professores identifiquem possibilidades e dificuldades que poderiam serem enfrentadas dentro de situações reais, de seu dia a dia em sala de aula, relacionando e selecionando as melhores estratégias, fortalecendo assim, sua futura atuação com essa metodologia (GIROTTO, PAULA, MATAZO, p. 45, 2019). Na segunda questão, buscou-se analisar o grau de motivação dos professores para utilizar os conhecimentos obtidos na oficina do Júri Simulado em sua atuação profissional. Os dados apresentados no gráfico 1, a seguir demostram que houve um excelente grau de aceitação e motivação em relação à estratégia vivenciada na oficina. Simulado em sua atuação Observa-se que os professores em sua maioria saíram da oficina formativa muito motivados para utilizarem a estratégia do Júri Simulado nas salas de aula as quais atuam. Quando se analisa as justificativas dos professores para o grau de motivação em relação à estratégia utilizada, observam-se as seguintes falas, Vou procurar utilizar esses conhecimentos e estratégia nas minhas aulas, principalmente porque uniu a teoria com a prática (P1, 2023). A estratégia apresentou uma forma diferente de contextualizar o conhecimento de química (P2, 2023). A oficina mostra que é possível ensinar química além das metodologias tradicionais e que o resultado na aprendizagem é bem mais satisfatório (P3, 2023). Motivada a utilizar da melhor maneira e de forma integrada essa metodologia, e proporcionar um momento lúdico, no qual os discentes podem compreender o conteúdo de forma mais clara e leve, e sanando as dificuldades (P4, 2023). Na terceira questão, foi perguntado sobre o grau de aprendizagem em relação à vivência e posterior utilização da estratégia do Júri Simulado desenvolvida durante a oficina. O resultado demostra que 100% dos professores tiveram novas aprendizagens com a aplicação da metodologia, 60% indicou que houve um excelente nível de aprendizagem e 40% assinalaram que houve um bom nível de aprendizagem. Na quarta questão, buscou-se analisar se os professores pretendem aplicar estratégia do Júri Simulado em suas aulas. As respostas indicaram que 93,% dos professores estão inclinados a aplicar a estratégia em suas rotinas e 6,7%, que corresponde somente a um participante da pesquisa, diz que aplicaria em partes, justificando que, para o cenário da sua escola, teria que fazer muitas adaptações para aplicação, dado o número de alunos nas turmas. Analisando-se as justificativas dos professores que afirmaram que aplicariam a estratégia, elencam-se algumas citações positivas a seguir: É uma ótima estratégia para engajar todos os estudantes na aula (P5, 2023). Já estou combinando em mudar os planos de modo em que em minhas aulas existam espaços para aprendizados por meio de oficinas como a do Júri simulado (P6, 2023). Uma ótima metodologia, principalmente para o público que temos hoje é uma ótima maneira de engajar os mesmos as nossas didáticas (P7, 2023). Aplicarei com certeza, não somente no componente curricular Química, mas em biologia, trilhas e demais eletivas (P8, 2023). Foi possível perceber a possibilidade de aplicação da metodologia não só na Química, mas em muitas disciplinas (P9, 2023). A metodologia em si já torna a aula dinâmica, trabalho em grupo, criatividade é muito atrativo. Os alunos se desenvolvem nas macro competências e ainda aprendem o conhecimento específico (P10, 2023). Aplicaria, porque estaria estimulando a oralidade argumentativa dos participantes (P11, 2023). As citações dos professores evidenciam a viabilidade desse estudo e a importância do uso da estratégia do Júri Simulado para o ensino de Química e também de outras disciplinas, destacando o potencial da estratégia para o engajamento dos participantes, tornando a discussão do conteúdo dinâmica e atrativa para os estudantes. A aceitação dos professores, a estratégia e as justificativas para sua implementação nas aulas corroboram com as ideias de estudos, os quais destacam que o Júri Simulado permite aos professores a utilização de uma ferramenta para a abordagem de questões sociocientíficas de maneira complexa, de modo a estimular o potencial argumentativo e a possibilidade de abordagem de temas e currículos próprios dos componentes curriculares, adequando-os ao ensino de Ciências (TETZNER et al, p. 153, 2020). O estudo também apresentou evidências de que o Júri Simulado desenvolve diversas habilidades voltadas à organização e ao planejamento de ideias e conceitos químicos de forma colaborativa. O uso do Júri Simulado contribui com o desenvolvimento da ampliação de conceitos e o reforço aos conceitos já abordados, baseados no pensamento argumentativo e na discussão de conceitos chaves e também fortalece habilidades relacionadas à organização das ideias, expressão oral e corporal, planejamento e autocontrole (RAMOS, p. 327, 2018). Pode-se observar que o Júri Simulado é uma estratégia positiva, se aplicada de forma prática na formação de professores, uma vez que contribui para ampliação do seu repertório de práticas, tornando-as mais humanizadas no Ensino de Química. O que fortalece uma melhor atuação e engajamento dos professores no planejamento de novas estratégias com foco em desenvolver um trabalho colaborativo e pautado no desenvolvimento de novas ideias, potencializando o poder de argumentação e criticidade dos estudantes durante o estudo dos conteúdos de Química. Desta forma, constata-se que investir em novas estratégias pedagógicas para a formação de professores torna-se um caminho profícuo para se conquistar um Ensino de Química colaborativo, dinâmico e que fortaleça a discussão coletiva de questões científicas e sociais, permitindo assim, que professores e estudantes engajem-se na promoção da aprendizagem no ensino desse componente curricular.

Gráfico 1- Grau de motivação

Percentual de respostas dos professores sobre o \r\nquanto ficaram motivados para o utilizar a \r\nestratégia do júri simulado em suas aulas

Conclusões

Por meio desse estudo sobre aplicação da estratégia do Júri Simulado, na formação de professores, evidenciou-se que a estratégia atrai o interesse dos educadores pelo seu caráter dinâmico e participativo. Também se destaca a importância do Júri Simulado na preparação do professor para desenvolver metodologias mais ativas e interativas em sala de aula no ensino médio, o que vem a desenvolver o poder de argumentação, cooperação e discussão de novas ideias em torno de temáticas de Química. Mediante as evidências e os achados positivos desta pesquisa, espera-se que esse estudo, estimule educadores de Química que atuam no ensino médio a implementarem o uso do Júri Simulado como estratégia em suas aulas, integrando-a ao seu planejamento, de forma sistêmica, inserindo em suas sequências didáticas e fortalecendo, assim, o interesse e o engajamento dos estudantes pelas atividades de Química e, consequentemente, fomentando a aprendizagem dos estudantes e professores através de uma ação metodológica colaborativa.

Agradecimentos

Universidade Federal do Ceará-UFC Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico- FUNCAP Secretaria de Educação do Estado do Ceará-SEDUC-CE

Referências

ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P (Orgs.). Estratégias de ensinagem. In: Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 10 ed. Joenville: Editora Unlville, 2005.

BERNARDO, J. R. R.; VIEIRA, R. D.; MELO, V. F. O júri simulado sobre questões sociocientíficas e a alternância de papéis: contribuições para o desenvolvimento de habilidades argumentativas de professores. In: GALIETA, T.; GIRALDI, P. M. (Org.). Linguagens e Discursos na Educação em Ciências. 1ed. Rio de Janeiro: Multifoco, p. 361-374, 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2011.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GIROTTO JÚNIOR, G.; de PAULA, M. A.; MATAZO, D. R. C. Análise de conhecimento sobre estratégias de ensino de futuros professores de Química: vivência como aluno e reflexão como professor. Góndola, Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias, v. 14, n. 1, p. 35- 50, 2019.

RAMOS, D. K. Interação, autonomia e aprendizagem na educação a distância: júri simulado por videoconferência. Revista Intersaberes, v. 13, n. 29, p. 316 - 329, 2018.

SANTOS, W. L. P. ; MORTIMER, E. F.; SCOTT, P. H. A argumentação em discussões sócio-científicas: reflexões a partir de um estudo de caso. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 1, n. 1, p. 1 -1 3, 2011.

TETZNER, A. F. et al. Considerações sobre o trabalho com o júri simulado em uma questão sócio científica com futuros professores de física. Revista Brasileira de Ensino de Ciências e Tecnologia, v. 13, n. 2, p. 127 - 159, 2020.