Autores

Vargas, G.N. (UFG) ; Rodrigues, W.A. (UFG) ; Rodovalho, F.M. (UFG) ; França, F.A. (UFG) ; Benite, C.R. (UFG)

Resumo

Este estudo retrata uma proposta formativa de professores de Química, que pela pesquisa atuam no âmbito da inclusão escolar a partir da abordagem STEAM. Contendo elementos da Pesquisa Participante, professore em formação inicial e continuada se basearam na Teoria da Atividade para refletirem aulas ministradas a alunos com deficiência visual (DV) identificando as dificuldades enfrentadas em experimento envolvendo medidas de massa. Os resultados ressaltam que a cultura maker viabilizou o design e criação de uma balança semianalítica vocalizada enquanto tecnologia assistiva para auxiliar na participação dos DV no experimento, ao mesmo tempo em que possibilitou a constituição docente no âmbito da inclusão escolar.

Palavras chaves

Ensino de Química; Cultura Maker; Tecnologia Assistiva

Introdução

A pós-modernidade traz consigo a possibilidade de uma Ciência mais próxima da sociedade que “não se limita a respostas à resolução universal de problemas, que tem em conta os contextos em que os problemas são gerados, que dá voz aos cidadãos, que valoriza os conhecimentos empíricos das pessoas afetadas” (SANTOS, 2005, p.145). Mas quais os caminhos formativos ao professor, compatíveis à constituição de um cidadão crítico apto a enfrentar os desafios da pós- modernidade e que exige um profissional criativo, inovador e versátil? No ensino de Química, os experimentos concebem informações que são interpretadas por meio da visão excluindo os alunos com deficiência visual (DV) dessas aulas (BENITE et al., 2017a; 2017b). Mas como inclui-los? Diante deste desafio surge uma proposta de formação que visa a inovação e a integração de áreas do conhecimento com foco na solução de problemas escolares: a formação investigativa com abordagem STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática). Nesta proposta, o professor em formação conta com o auxílio de uma equipe multidisciplinar para a reflexão teórica conjunta de situações vividas na prática escolar, durante o estágio docência ou supervisionado, e de meios técnicos para transformar o problema de investigação em requisitos para caracterização de um produto que deve atender as necessidades e as expectativas dos sujeitos investigados (RUELA et al., 2023). Baseados nos avanços da eletrônica, a interatividade multidisciplinar com o uso de microcontroladores e impressões 3D estimula ações criativas do professor, possibilitando a prototipagem como solução de problemas do cotidiano escolar (SILVEIRA, 2016) que neste estudo objetiva a criação de uma balança semi- analítica vocalizada para a inclusão de DV em aula de pesagem de soluto.

Material e métodos

Com elementos da Pesquisa Participante (LE BOTERF, 1999), este estudo se fundamenta na formação docente em Química pela pesquisa que deflagra num plano de ação para minimizar um problema escolar concomitante a apropriação e construção de conhecimento no âmbito da inclusão. A proposta de formação acontece em parceria com uma instituição de apoio à escola pública regular para DV com aulas semanais ministradas por professores em formação inicial (PFI) e continuada (PFC). O intuito é a constituição do professor que investiga a própria prática pedagógica em busca de estratégias e recursos didáticos que contribuam para a inclusão desses alunos a partir de situações vivenciadas no atendimento educacional especializado. Os recursos didáticos são pensados por PFC e PFI e construídos com o auxílio da equipe multidisciplinar do nosso Laboratório de Pesquisas que é um espaço fundamentado na cultura maker e projetado para prototipagem rápida e de baixo custo (BLIKSTEIN, 2018). Construídos com “placas de circuito impresso e linguagem de programação para viabilizar a comunicação autônoma entre os alunos e as variáveis dos experimentos” (FRANÇA et al., 2022, p.534), esses recursos funcionam como Tecnologia Assistiva (TA) para ampliar a participação dos DV no processo de ensino-aprendizagem. Esta investigação está estruturada nas quatro fases da PP: Elaboração do projeto de pesquisa visando a experimentação inclusiva; Estudo da especificidade dos sujeitos investigados; Reflexão teórica das dificuldades e limitações desses alunos nos experimentos; Elaboração de um plano de ação – o design e construção de TA para a experimentação inclusiva no ensino de Química. Participaram deste estudo uma PFC, três PFI construíram o equipamento para validação pelos DV na instituição de apoio.

Resultado e discussão

Pautados na Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1984), a formação do indivíduo se dá pela apropriação dos resultados de sua objetivação na história social. Concordamos com Duarte (1993) que “essa relação se efetiva sempre no interior de relações concretas com outros indivíduos, que atuam como mediadores entre ele e o mundo humano, o mundo da atividade humana objetivada” (p.47-48). Toda atividade humana se baseia numa necessidade biológica ou cultural em que a relação social dá “sentido às ações individuais e proporciona a separação entre objeto e motivo. O objeto é capaz de sintetizar o motivo da atividade” (CAMILLO e MATTOS, 2014, p.216). Em nossa proposta de formação, aproveitamos de práticas maker para incentivar a criatividade e a interatividade de conhecimentos das áreas de Ciências, Engenharia, Mecatrônica e Programação para incentivar professores, a partir de reflexões da prática, a elaborarem modelos mentais de protótipos que possam minimizar problemas da inclusão escolar (RUELA et al., 2023; SILVEIRA, 2016). Neste estudo, PFC e PFI vislumbraram a participação independente dos DV em experimentos que demandam medidas de massa de solutos (a necessidade) a partir da possibilidade de criação de uma balança semi-analítica vocalizada (Figura 1) que atuasse como tecnologia assistiva (o objeto), fazendo da cultura maker o estímulo para sua prototipagem (a atividade). Com dimensões de 20cmx15cmx5cm e construído por impressão 3D, o protótipo contém duas casas decimais com capacidade de medir até 5kg de massa, possui dois botões de comando, um para tara e outro para vocalização, sendo alimentada pela rede elétrica convencional. Os dados da massa informados no display digital são vocalizados em português por um microcomputador sendo emitido por um autofalante externo.

Balança Semi-analítica Vocalizada

Balança semi-analítica vocalizada

Conclusões

A Química é uma Ciência experimental e um dos objetivos da inclusão é proporcionar condições para a participação dos alunos com ou sem deficiência nas aulas. Neste estudo apresentamos uma proposta de formação em que o professor investiga a prática no atendimento educacional especializado para DV com o intuito de entender as barreiras que dificultam suas participações em experimentos de medida de massa para propor solução em prototipagem. Contendo abordagem STEAM e extensão tecnológica da cultura maker, a equipe multidisciplinar auxiliou na prototipagem possibilitando formação para a inclusão.

Agradecimentos

Ao CNPq

Referências

BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; BONOMO, F.A.F.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. Observação inclusiva: o uso da Tecnologia Assistiva na experimentação no ensino de química. Experiências em Ensino de Ciências, v.12, n.2, 94-103, 2017a.
BENITE, C.R.M.; BENITE, A.M.C.; FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; ARAÚJO, R.J.S. e ALVES, D.R. A experimentação no ensino de química para deficientes visuais com o uso de tecnologia assistiva: o termômetro vocalizado. Química Nova na Escola, v.39, n.3, 245-249 2017b.
BLIKSTEIN, P. Maker Movement in Education: History and Prospects. Handbook of Technology Education, Springer International Handbooks of Education, 2018.
CAMILLO, J. e MATTOS, C. Educação em Ciências e a Teoria da Atividade cultural-histórica: contribuições para a reflexão sobre tensões na prática educativa. Revista Ensaio, v.16, n.1, p.211-230, 2014.
DUARTE, N. A individualidade para si. Campinas, SP: Autores Associados, 1993.
FRANÇA, F.A.; VARGAS, G.N.; BENITE, A.M.C.; BENITE, C.R.M. Viscosidade dos líquidos: o uso de ferramentas culturais para a inclusão de alunos com deficiência visual no ensino de Química. Experiências em Ensino de Ciências, v.17, n.3, p.526-540, 2022.
LE BOTERF, G. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In: BRANDÃO, C.R. (Org.). Repensando a pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999, pp.52-81.
LEONTIEV, A.N. Actividad, consciencia y personalidad. México: Editorial Cartago de México, 1984.
RUELA, B.A.; MATEUS, A.C.R.; MARTINS, M.T.F.; BENITE, C.R.M. O fazer crítico: proposta maker de ensino para a formação inicial de professores de Química. REVASF, v.13, n.30, p.1-31, 2023.
SANTOS, M.E.V.M. Cidadania, conhecimento Ciência e Educação CTS. Rumo a “novas” dimensões epistemológicas. Revista CTS, v.6, n.2, p.137-157, 2005.
SILVEIRA, F. Design & Educação: novas abordagens. In: MEGIDO, V.F. (Org.). A revolução do design: conexões para o século XXI. São Paulo: Editora Gente, 2016, pp.116-131.