Autores

Prestes, M.A.C.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA) ; Marques, C.V.V.C.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA)

Resumo

Este artigo traz a fotografia como dinamizadora na Educação Ambiental em Ciências da Natureza/Química, na Educação de Jovens e Adultos, na perspectiva freiriana. É recorte de pesquisa qualitativa, no âmbito do Programa de Pós- Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica/Universidade Federal do Maranhão, para investigar concepções docentes na articulação do conteúdo científico com fotografias para EA crítica em Química, na EJA em escolas estaduais de Imperatriz/MA. Foi realizada Análise Textual Discursiva em entrevistas com 10 docentes sobre a colaboração de fotografias no aprendizado de Química. Os dados revelaram que os professores consideram as fotografias com potencial para compreensão conceitual/abstrata, motivação e demonstrações alternativas na falta de laboratório de Ciências.

Palavras chaves

EJA; Fotografia e Química; Educação Ambiental

Introdução

Consideramos que ensinar Química na EJA é um grande desafio (BUDEL, 2016), que passa por dificuldades como defasagem idade-série; falta de compreensão do conteúdo; carga horária reduzida; falta de metodologias, materiais, laboratório de Ciências e formação continuada, que, aliadas à memorização de códigos e linguagem científica, tornam essa Ciência desinteressante para os estudantes (FIGUEIRÊDO; SILVA JÚNIOR; SALES; SOUZA, 2017; RAMO, 2019; RODRIGUES; GONÇALVES; TEODORO, 2021). Nessa perspectiva, vislumbramos a arte fotográfica como ponte entre conhecimentos científicos e a realidade socioambiental (PRESTES; MARQUES, 2022), a partir de um olhar investigativo/crítico para situações-problema, na compreensão que a linguagem artística possa colaborar com a linguagem científica (ARGOLO; COUTINHO, 2012; RANGEL; ROJAS, 2014; SILVA; SILVA, 2021) tornando o aprendizado de Química mais significativo. A partir do exposto, levantamos o seguinte problema de pesquisa: a fotografia pode subsidiar o ensino-aprendizagem de Química, na EJA-Ensino Médio, com o conhecimento científico articulado à realidade socioambiental, para formação cidadã e ecológica? À luz desse questionamento, elaboramos o objetivo: investigar as concepções dos docentes de Química, na EJA, em escolas da Rede Estadual, em Imperatriz/MA, sobre o uso de fotografias para articulação de conhecimentos científicos problematizados para EA crítica. Este artigo, que é recorde de pesquisa realizada no âmbito do Mestrado Profissional, pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica (PPGEEB), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), se propõe a fomentar discussões sobre a fotografia no ensino-aprendizagem de Ciências da Natureza/Química, na EJA, com foco na EA crítica, na perspectiva freiriana.

Material e métodos

Esta é uma pesquisa de Intervenção na Educação, inspirada em Pereira (2019), com abordagem qualitativa, participante, fundamentada nas ideias críticas e humanizadoras de Freire (1987). Optamos pelo método de Intervenção na Educação por envolver a pesquisa prática e aplicada (PEREIRA, 2019). Quanto aos objetivos, é exploratória e descritiva ao proporcionar maior intimidade com o problema e fenômeno estudado (GIL, 2017). Na pesquisa exploratória, realizamos levantamentos em instituições participantes e revisão de literatura em livros, artigos, dissertações. Na pesquisa descritiva, optamos pela entrevista semiestruturada, a partir de questões sobre o tema e possibilidades abertas para outros assuntos (PÁDUA, 2003). A pesquisa teve como lócus 10 escolas estaduais com a EJA, localizadas em Imperatriz/MA e como colaboradores 10 docentes de Química, que atuaram nessa modalidade, em 2022. Procedemos convite aos/às docentes e todos/as 10 sinalizaram aceite de livre vontade, com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As visitas às escolas e as entrevistas aconteceram, respectivamente, em agosto e setembro de 2022. A privacidade e anonimato dos/das participantes foram respeitados com utilização de códigos: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10. Para análise de dados, realizamos Análise Textual Discursiva (ATD) por contemplar tanto o discurso quanto o conteúdo, sem intenção de testar hipóteses, mas compreender por reconstrução de conhecimentos as temáticas investigadas (MORAES; GALIAZZI, 2016). No tratamento de dados, obtivemos 87 Unidades Empíricas, 20 Categorias Iniciais, 2 Categorias Intermediárias e 1 Categoria Final.

Resultado e discussão

As fotografias são usadas em aulas de Química, na EJA, para: estudo de fenômenos físicos/químicos (P1, P2, P3, P4, P5, P6, P9, P10), composição material (P4, P5, P8, P9) e conteúdo abstrato/linguagem científica (P4, P5, P6, P7, P8); demonstração/simulações (P4, P5, P10); apoio na leitura textual/contextual (P1, P2, P3, P4 e P7, P8); participação/motivação (P1, P2, P4, P5, P8, P9, P10). As visualizações têm função colaborativa em conteúdo conceitual/abstrato e na transição dos níveis de representação (SILVA; BRAIBANTE; PAZINATO, 2013), amenizando essas dificuldades no ensino de Química. Para a EA, os colaboradores realizaram produções fotográficas sobre poluição em riachos (P5) e aterro sanitário de Imperatriz (P8); e leitura imagética com outros temas sem contexto local (P1, P2, P3, P4, P6, P7, P9, P10). Sabemos que aspectos fenomenológicos locais conferem maior significação aos conhecimentos científicos (MORTIMER; MACHADO; ROMANELLI, 2000), por se aproximarem da realidade dos estudantes. Na visão dos colaboradores, podem ser desenvolvidas, por meio de fotografia, em contexto socioambiental, competências e habilidades para formação cidadã crítica; posturas sustentáveis; comunicação e autoestima; valores coletivos sociais; aplicação do conhecimento científico em análises socioambientais; ética ambiental; a criticidade, todos concordaram ser possível; a ética, apenas P8 considerou impossível interferir nessa dimensão. Não concordamos com a opinião de P8, por não ser pertinente à EA crítica. Conforme Freire (1987), a luta por libertação e redenção na EJA envolve mudanças na percepção de mundo, na ética e no comportamento dos jovens e adultos para o desvelamento da opressão e resgate da humanidade roubada.

Conclusões

Verificamos que os/as professores/as consideram o uso de fotografias em Química na EJA para potencializar compreensão conceitual e abstrata, motivação e demonstrações alternativas na falta de laboratório de Ciências. Cogitamos que temáticas com fotografias tenham foco na abordagem ambiental local, para maior significação da aprendizagem. Sugerimos que a EA crítica seja implementada em Química na EJA para formação cidadã/ecológica, por notoriamente contribuir na postura ético-crítica de estudantes, tendo a fotografia como dinamizadora na construção de conhecimentos e produção de subjetividades.

Agradecimentos

Agradeço ao Governo do Maranhão/SEDUC/Unidade Regional de Educação de Imperatriz/UREI, ao PPGEEB/UFMA e ao Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências Naturais/GPECN.

Referências

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