Autores
Costa, A.N.S. (IFMT CAMPUS CONFRESA) ; Melo, T. (IFMT CAMPUS CONFRESACAMPUS CONFRESA) ; Fernandes, G.S. (IFMT CAMPUS CONFRESACAMPUS CONFRESA) ; Leão, M.F. (IFMT CAMPUS CONFRESA)
Resumo
Esse estudo teve o objetivo de desenvolver e avaliar um jogo didático sobre os Elementos Químicos com o intuito de favorecer a aprendizagem de estudantes da Educação Básica. A atividade ocorreu durante o 1º semestre de 2019. Avaliaram o jogo 35 estudantes de Química Geral do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza com habilitação em Química do IFMT Campus Confresa/MT. Para coletar dados foi utilizado um questionário contendo 3 questões fechadas. O jogo foi considerado por 86 % dos participantes como uma maneira motivadora. Foram 89% que consideraram a atividade dinâmica e criativa e 86% consideraram que o jogo favoreceu a compreensão dos conceitos de Elementos Químicos. Logo, o jogo é uma estratégia de ensino viável, pois envolve os estudantes e favorece a compreensão dos conceitos.
Palavras chaves
Atividades lúdicas; Elementos químicos; Ensino de química
Introdução
Na contemporaneidade são muitos os fatores que influenciam no processo educativo. A sociedade passa por constantes transformações e isso reflete na escola. Segundo Silva (2011), um dos fatores mais preocupantes para os professores de química é a falta de interesse apresentada por boa parte dos estudantes. Assim, para que ocorram aprendizados de conceitos químicos, que são muitas vezes complexos e abstratos, os professores necessitam desenvolver estratégias que motivem os estudantes. Ou seja, é preciso que ocorram, em sala de aula, atividades dinâmicas, criativas e envolventes. Nas palavras de Galiazzi e Gonçalves (2004, p. 328): No discurso atual sobre aprendizagem, é consenso que o aluno aprende a partir daquilo que sabe. A explicitação desse conhecimento é importante para que o professor perceba a forma de pensar do aluno e a ação do professor pode ser conduzida por meio de um questionamento oral sustentado no diálogo ou outros instrumentos que sistematizem o pensamento do aluno. Quando o professor organiza a sala de aula de modo a favorecer a explicitação do conhecimento do grupo por meio do questionamento, está contribuindo para que os alunos rompam com a visão dogmática de ciência. Dentre as diversas possibilidades para proporcionar esse ambiente motivador que favoreça o envolvimento optamos pela utilização dos jogos didáticos. Sales, Martins e Leão (2018), acreditam que as atividades lúdicas possam ser uma alternativa viável ao professor, pois os jogos são atividades que envolvem informação conceitual de maneira que se aprenda brincando. Em outras palavras, os autores defendem que jogos lúdicos contribuem para a construção de aprendizagem com significado. Para Soares (2008), a utilização de jogos didáticos no ensino de química está cada vez mais presente nas salas de aulas das escolas brasileiras, o que está comprovado por meio de vários trabalhos científicos publicados em anais, revistas, entre outros. No entanto, para utilizar um jogo didático em este sala de aula, é preciso “se atentar o verdadeiro significado da didática e conduzir o experimento lúdico de forma construtiva para que não fique preso somente a um conceito de jogo com regras e obstáculos que não promovam o conhecimento intelectual e pessoal do estudante” (SALES; MARTINS; LEÃO, 2018, p. 55). No estudo realizado por Oliveira, Silva e Ferreira (2010), fica claro que os jogos didáticos podem ser utilizados para ensinar quaisquer assuntos da química. Os autores relatam que é possível elaborar diversos jogos didáticos abordando assuntos como a Tabela Periódica dos Elementos Químicos, os modelos atômicos e a distribuição eletrônica, por exemplo. Com o desenvolvimento dessas atividades lúdicas os autores reforçaram a importância dos jogos como recursos pedagógicos no ensino de química, uma vez que os resultados que obtiveram comprovam que a atividade favorece na compreensão dos conceitos estudados em sala de aula. Recentemente Sales, Martins e Leão (2018) desenvolveram um estudo sobre a utilização de um jogo didático no formato de dominó para ensinar a Tabela Periódica dos Elementos Químicos. Como resultados os autores consideraram que o jogo didático é uma atividade dinâmica, que potencializam o ensino de química devido ao caráter dinâmico e criativo dos jogos e que isso contribuiu significativamente para a compreensão de seus principais conceitos que envolvem a Tabela Periódica. Nas palavras dos autores supracitados “O jogar com significados educativos tem a função de promover as interações sociais e de possibilitar o aprendizado melhorando a interpretação, a comunicação entre os seres participantes do processo de construção de ensino e aprendizagem” (SALES; MARTINS; LEÃO, 2018, p. 54). Considerando o exposto, o presente estudo teve como objetivo desenvolver e avaliar um jogo didático sobre os Elementos Químicos da Tabela Periódica com o intuito de favorecer a aprendizagem de estudantes os anos finais do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. Segundo a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) em 2019 comemoramos o aniversário de 150 anos que a Tabela Periódica dos Elementos Químicos foi proposta por Dmitri Ivanovic Mendeleiev. Por isso, justifica-se a escolha por uma temática envolvendo esse importante e indispensável instrumento para a química. Cabe ressaltar que a Tabela Periódica dos Elementos Químicos é um dos instrumentos mais importantes para a compreensão dos conhecimentos químicos, pois esta organização sistemática serve como fonte de informação sobre os elementos que constituem a matéria. “Estas informações são essenciais para a compreensão dos demais conceitos envolvidos no estudo da química, pois trazem as propriedades químicas dos elementos presentes na natureza e, automaticamente, em nosso cotidiano” (SALES; MARTINS; LEÃO, 2018, p. 54).
Material e métodos
O presente estudo configura-se como um relato de experiência, descritivo e exploratório (MEDEIROS, 1997). A realização da elaboração deste jogo didático ocorreu durante o primeiro semestre letivo de 2019, sendo que essa foi uma atividade solicitada na disciplina de Instrumentação para o Ensino de Química, componente curricular do 5º semestre do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza com habilitação em Química do IFMT Campus Confresa/MT. O jogo didático utilizou materiais de papelaria, impressão colorida, e informações básicas dos Elementos Químicos presentes na natureza, que são representados na Tabela Periódica. Como regras do jogo, foi estipulado que a atividade necessita ser desenvolvida por 4 jogadores, sendo duas duplas, ou 2 grupos. Cabe ressaltar que ao jogar em duplas, um dos jogadores sorteia a ficha e fornece a dica para seu companheiro. Quando jogado em grupo, cada rodada alternam os jogadores representantes de cada grupo. Esse representante sorteia a ficha e dá a dica ao seu grupo. Ou seja, quem respondem não tem acesso às informações. ]Ficou disponível aos jogadores, que tiram sorte para saber quem inicia, uma caixinha fechada, contendo as 16 fichas com informações dos Elementos Químicos. Cabe informar que foi fornecido folhas para anotar a pontuação e Tabelas Periódicas para a consulta das equipes. A atividade foi desenvolvida e avaliada por 35 estudantes de Química Geral, componente curricular do 1º semestre do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza com habilitação em Química do IFMT Campus Confresa/MT. A opção por esse público, mesmo o jogo tendo sido elaborado para estudantes os anos finais do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio, foi devido não ser ofertado nessa Instituição nenhum curso noturno com o público mencionado. Assim, o critério de escolha adotado foi que a temática do jogo é amplamente discutida nesta disciplina (Química Geral) de um curso de formação de professores de química. Após o desenvolvimento da atividade, os participantes avaliaram o jogo didático. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário contendo 3 questões fechadas em escala de Likert, de 1 (insatisfatório) a 5 (plenamente satisfatório). Os dados foram analisados tendo como aporte a fundamentação teórica utilizada.
Resultado e discussão
Antes de iniciar o jogo propriamente dito,
foram dadas as seguintes informações
de como jogar: Os jogadores se organizam
individualmente ou por equipes;
Segundo um critério estabelecido entre os
jogadores, seleciona-se a ordem dos
jogadores; As cartas devem ser
embaralhadas na caixa de forma que elas se
misturem; Em ordem pré-estabelecida, o
primeiro jogador (ou equipe) retira a
primeira fixa de dentro da caixinha de
modo que os demais jogadores (ou
equipes) não vejam seu conteúdo: O jogador
vai lendo, de modo pausado, uma dica
de cada vez, de modo que os jogadores, em
sequência horária, tentam acertar o
elemento químico do referido perfil; A
cada 30 segundo é lido à próxima dica,
até que uma equipe acerte o referido
elemento; Se o perfil químico for
descoberto na primeira dica o jogador ou
equipe receberá a 15 pontos, enquanto
os que acertarem na segunda e terceira
dicas receberão 10 e 5 pontos,
respectivamente; Se o perfil do elemento
químico não for adivinhado: A carta
volta para a mesa e a jogada prossegue
dessa maneira. A figura a seguir ilustra
o momento do jogo que ocorreu com a
formação de 2 grupos.
O jogo didático “Que elemento químico eu
sou?” é constituído por 16 fichas. Os
elementos químicos utilizados nesse jogo
didático foram: Sódio (Na), Potássio
(K), Magnésio (Mg), Cálcio (Ca), Ouro
(Au), Cobre (Cu); Neônio (Ne); Alumínio
(Al), Carbono (C), Nitrogênio (N), Fósforo
(P); Oxigênio (O), Cloro (Cl), Flúor
(F); Berílio (Be), Lítio (Li).
A ficha contém o número atômico (Z), o
nome do elemento químico, o símbolo e as
dicas numeradas. Essas fichas são
ilustradas na figura abaixo.
Seguem alguns exemplos das dicas contidas
nas fichas:
1 – Seu nome no latim é Natrium e deu
origem ao símbolo do elemento na tabela
periódica.
2 – É metálico, mole, prateado, reativo e
faz parte do grupo dos metais
alcalinos.
3 – Está presente em quase todas as
cozinhas.
Pelas dicas é possível identificar que o
elemento químico em questão é o Sódio.
Outro exemplo de dicas contidas nas fichas
do jogo:
1 – Pertence à família dos Metais
Alcalino-terrosos, e se localiza no grupo
2 A
da Tabela Periódica dos elementos.;
2 – Na natureza é encontrado de forma
natural na pigmentação verde das plantas
(mais conhecida como clorofila).
3 – É antiácido.
As dicas supracitadas indicam que o
referido elemento químico é o Cloro.
Outro exemplo de dicas contidas nas fichas
do jogo:
1 – É um elemento de origem mineral que
tem entre outras funções, extrema
importância para a alimentação humana.
2 – Sua maior incidência é nas rochas,
sendo o 12º elemento mais abundante na
superfície terrestre.
3 – Está presente em palitos de fósforos.
Pelas dicas é possível identificar que o
elemento químico em questão é o
Fósforo.
Mais um exemplo de dicas contidas nas
fichas do jogo:
1 – Dificilmente sofre oxidação.
2 – É sólido e apresenta coloração amarela
metálica com muito brilho.
3 – É o símbolo de riqueza.
As dicas supracitadas indicam que o
referido elemento químico é o Ouro.
Um último exemplo de dicas do jogo:
1 – É um metal leve, macio, porém
resistente, de aspecto metálico branco.
2 – Na indústria, é usado para fabricar
latarias em geral.
3 – Usado como material estrutural em
aviões, barcos, automóveis, blindagens e
outros.
Pelas dicas é possível identificar que o
elemento químico em questão é o
Alumínio.
Conforme é possível perceber, as fichas do
jogo foram elaboradas de maneira que
as principais características dos
Elementos Químicos se tornem conhecidas
pelos
jogadores. Conforme Sales, Martins e Leão
(2018) alertaram, mesmo sendo uma
atividade lúdica, é preciso ter bem claro
qual é o verdadeiro significado
didático de um jogo, ou seja, antes de
qualquer coisa a atividade precisa ser
instrutiva e favorecer a construção de
aprendizagens com significado.
Após o desenvolvimento da atividade os
estudantes preencheram o questionário
impresso. Ao serem questionados sobre se o
jogo pode ser considerado como uma
estratégia/um recurso pedagógico
motivador, 86 % atribuíram a maior nota
(5),
ou seja, 30 estudantes consideraram que a
motivação proporcionada pelo jogo é
plenamente satisfatória. Outros 4 (que
corresponde a 11%) estudantes atribuíram
nota 4 e apenas um deles atribuiu nota 3
(que corresponde a 3%).
Esses resultados indicam que os jogos
didáticos podem auxiliar na superação
daquelas barreiras indicadas por Silva
(2011). Já afirmavam anteriormente
Galiazzi e Gonçalves (2004), que os
professores de química necessitam
organizar
o espaço educativo e as situações de
aprendizagem de maneira com que a
coletividade, o envolvimento, a troca de
informações e a explicitação dos
conceitos químicos sejam parte integrante
do processo.
Sobre ao critério se o jogo pode ser
considerado dinâmico e criativo, A ampla
maioria, 89% dos participantes (que
corresponde a 31 estudantes), atribuíram
nota 5 (plenamente satisfatório). Também
consideraram a atividade dinâmica e
criativa, porém com nota 4 outros três
estudantes (que corresponde a 9%). Nesse
critério apenas um deles atribuiu nota 3
(que corresponde a 3%).
Cabe retomar o posicionamento de Soares
(2008), que defende a utilização de
jogos didáticos de química em sala de aula
por ser uma atividade dinâmica,
envolvente, lúdica, prazerosa e que
possibilita que os estudantes participem
ativamente e desenvolvam sua criatividade
na construção de significados.
Um último critério avaliado foi se
consideram que o jogo favoreceu a
compreensão dos conceitos de Elementos
Químicos. Foram 86 % dos participantes
que atribuíram a maior nota (5), ou seja,
30 estudantes consideraram plenamente
satisfatório para favorecer a compreensão.
Outros 4 (que corresponde a 11%)
estudantes atribuíram nota 4 e apenas um
deles atribuiu nota 3 (que corresponde
a 3%).
Nenhum estudante atribuiu notas 1 ou 2, o
que mostra que todas as avaliações
foram positivas sobre os critérios
avaliados. De maneira geral, a avaliação
do
jogo didático “Que elemento químico eu
sou?” alcançou resultados significativos
e atingiu seu propósito.
Resultados similares também foram obtidos
por Oliveira, Silva e Ferreira (2010)
e Sales, Martins e Leão (2018) que
utilizaram jogos didáticos de diferentes
tipos para ensinar Tabela Periódica dos
Elementos Químicos. Assim, é possível
considerar que atividades lúdicas no
ensino de química são recursos pedagógicos
viáveis e necessários para dinamizar,
motivar e favorecer o aprendizado dos
conceitos químicos.
Desenvolvimento da atividade lúdica sobre as características dos elementos químicos.
Ilustração das fichas do jogo didático "Que elemento químico eu sou?"
Conclusões
A tendência atual na área da química é tornar o ensino dos conceitos científicos de maneira que seja uma atividade dinâmica, envolvente, instrutiva e eficaz. Uma alternativa que pode contribuir nesse sentido são os jogos didáticos. Com a elaboração e avaliação do jogo didático “Que elemento químico eu sou?”, foi possível proporcionar as principais características de alguns elementos químicos de maneira motivadora, que envolveu uma linguagem prazerosa e proporcionou dinamismo ao ensino de química. Pelos resultados obtidos, considera-se que a utilização desse jogo pode contribuir para a compreensão dos estudantes da Educação Básica sobre os elementos químicos, sua simbologia, suas características e aplicações no cotidiano. Favoreceu também a coletividade e a interação dos estudantes nos grupos que pertenciam. Logo, os jogos didáticos podem ser considerados como uma estratégia de ensino viável, pois envolve os estudantes e favorece a compreensão dos conceitos químicos.
Agradecimentos
Ao IFMT Campus Confresa pela formação inicial que está proporcionando, por proporcionar as condições para a execução da atividade e pelo apoio para participar desse evento científico.
Referências
GALIAZZI, M. do C.; GONÇALVES, F. P. A Natureza Pedagógica da Experimentação: uma pesquisa na licenciatura em química. Química Nova, Vol. 27, Nº 2, 326-331, 2004.
IUPAC. Mendeleev 150: 4Th International Conference on The Periodic Table Endorsed By Iupac. Disponível em https://iupac.org/event/4th-international-conference-on-the-periodic-table-mendeleev-150/ . Acesso em: 25 Jun. 2019.
MEDEIROS, J. B. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 3. ed. São Paulo-SP: Atlas, 1997.
OLIVEIRA, L. M. S.; SILVA, O. G.; FERREIRA, U. V. S. Desenvolvimento de Jogos Didáticos para o Ensino de Química. Holos (Natal. Online), v. 5, p. 166-175, 2010.
SALES, J. M. ; MARTINS, F. F. ; LEÃO, M. F. . Jogo educacional tipo dominó como recurso didático para ensinar Tabela Periódica ao 1º ano do Ensino Médio de uma escola pública de Porto Alegre do Norte/MT. Exatas Online, v. 9, p. 53-65, 2018.
SILVA, A. M. Proposta para Tornar o Ensino de Química mais Atraente. Revista de Química Industrial, n.713, p.7-12, 2011.
SOARES, M. H. F. B. Jogos e Atividades Lúdicas no Ensino de Química: Teoria, Métodos e Aplicações. XIV Encontro Nacional de Ensino de Química. UFPR, Curitiba, 2008.