Autores

Pereira da Silva, M. (IFRJ) ; Lima de Paulo, L. (IFRJ) ; Napoli Barbato, C. (IFRJ) ; Mahomed Gomes Falcao Silva, C. (IFRJ)

Resumo

O presente trabalho visa levantar questões acerca das categorias de gênero e raça nos meios midiáticos por intermédio de um questionário qualitativo a fim de, numa próxima etapa, produzir materiais que atribuam às descobertas e invenções durante a história da ciência, sua real autoria, permitindo que os alunos e alunas conheçam também as mulheres que participaram do processo científico ao longo da história, quebrando um paradigma limitador de que mulheres não têm aptidão para a carreira científica. Quando as alunas, em especial as negras, visualizam outras mulheres em seus jalecos, trabalhando em laboratórios, contribuindo de maneira concreta e intensa no desenvolvimento de projetos, passam a considerar que também elas são capazes, justamente em razão desta representatividade.

Palavras chaves

lei 10.639/2003; cientistas negras; protagonismo negro

Introdução

As mulheres negras são, constantemente, representadas pela mídia por meio de papéis completamente estereotipados como objeto sexual, ou como vítima/ protagonista de ações criminosas - entre outros. A invisibilidade dessa parcela da sociedade - em específico - é reforçada pelas mídias sociais de maneira consciente e perversa, consequência de uma construção social racista e machista (SANTOS et al, 2017). Se, para as mulheres brancas, é complicado atingir certa notoriedade, para a mulher negra a luta é muito maior, mais difícil e bem mais complexa. Raras são as ocasiões em que atingem qualquer protagonismo na construção de saberes/conhecimento - e, quando alcançam o devido patamar, a todo instante há uma necessidade social em descredibilizá-las. Em 2003, foi aprovada uma lei (10.639/2003) que altera o currículo mínimo escolar, tornando obrigatório o ensino de história da África e de cultura afro-brasileira. Oliveira Junior e Lima (2013), revelam a extrema importância de uma educação crítica capaz de reconhecer a importância da cultura africana e a sua influência direta na formação do nosso país, pois educar não é apenas instruir, mas oferecer uma experiência significativa que prepare para a vida. As reflexões realizadas no cotidiano escolar acerca das diversas questões sociais possibilitam que educadores e alunos vivenciem a cidadania, firmando-se como indivíduos que buscam fazer a diferença (THOMAZ; OLIVEIRA, 2010). A invisibilidade da mulher negra, quanto à sua inserção na área da ciência e da pesquisa, constitui a base desta pesquisa, cujo enfoque encontra-se em analisar, quantitativa e qualitativamente, tal referência para os alunos de ensino médio técnico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) - campus Duque de Caxias.

Material e métodos

Buscou-se resgatar a história de cientistas negras em veículos midiáticos. Diante de resultado quase nulo, uma vez que não há citações significativas de cientistas negras, realizaram-se entrevistas com discentes, para medir que conhecimento detinham da presença feminina em diversos campos, entre os quais, a ciência. Esse questionamento se mostrou relevante porque há uma marca patente na sociedade quanto à presença de referenciais majoritariamente masculinos, ocultando conquistas e ações femininas, nas mais diferentes áreas. Observou-se, ainda, que não apenas o gênero era um recorte que revelava apagamento, mas também a raça/ cor. Quando se sobrepõem as categorias gênero e raça, verifica-se que à mulher negra não cabe nenhum espaço de protagonismo, pois sua atuação ou não é registrada ou não é valorizada. Uma prova disso é o número extremamente baixo de pesquisadoras negras no Brasil (FERREIRA, 2018). A fim de elucidar as questões acerca desse padrão, realizou-se uma pesquisa com alunos matriculados entre o primeiro e sexto períodos dos cursos técnicos de Química e de Petróleo e Gás do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) - campus Duque de Caxias, para uma análise quantitativa. Os discentes - que encontram-se numa faixa etária entre 14 e 17 anos - foram convidados a registrar um nome que considerasse de destaque em cada uma das seguintes categorias: Artista, Esportista, Cientista, Jornalista e Youtuber.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos, os quais podem ser observados nos gráficos abaixo (Figuras 1 e 2), levantam alguns questionamento acerca da urgência de se trabalhar a visibilidade da mulher negra, pois acredita-se que o reconhecimento também promova aumento da autoestima da população negra em geral, além de incentivar a entrada de jovens negras nas áreas onde há predominância de homens. Pensar a educação deve ser um processo profundo e amplo, que ultrapassa - e muito - a ementa dos componentes curriculares. Um dos múltiplos aspectos que deve ser considerado é o respeito à diversidade. Dentro desse recorte, é imprescindível que se faça presente, nos espaços escolares, uma visão não mais eurocêntrica, ou redutora das capacidades femininas, por exemplo. Sob este posicionamento, é inegável que, às instituições escolares, cabe um papel de conscientização quanto à real participação dos não-brancos na produção científica e, em especial, ao até agora omitido protagonismo das mulheres nas áreas de pesquisa. Entretanto, esse incentivo não pode se restringir ao gênero, pois observou- se que o apagamento das mulheres, na ciência, é grande; mas o das mulheres negras é muito maior. Urge trazer os rostos das cientistas negras para a sala de aula, para que as alunas negras não tenham seus olhares ainda mais colonizados, pois já basta viver num mundo em que a mídia oculta ou inferioriza negras. A escola detém essa tarefa de abrir horizontes, favorecendo uma atuação das alunas que não seja contida em função de sua cor de pele. A autoestima das alunas pode ser fortalecida quando lhes são apresentadas as cientistas e todo o protagonismo que lutaram por alcançar - e essa autoestima se refletirá em mais dedicação aos estudos, melhor desempenho, menos evasão.

Figura 1:

Representações gráficas dos dados obtidos com a pesquisa nas categorias: Artistas, Esportistas e Cientistas.

Figura 2:

Representações gráficas dos dados obtidos pela pesquisas nas categorias: Jornalistas e Youtubers.

Conclusões

Nos resultados preliminares desta pesquisa, ainda em andamento, ficou evidente a lacuna existente quanto à divulgação da contribuição negra e feminina nas áreas científicas, principalmente nas chamadas Áreas Exatas. Resgatar as histórias das conquistas dessas cientistas é urgente e, apesar de ser um processo lento, deve ser tarefa de quaisquer docentes, pois o conhecimento transmitido em sala de aula não pode ser aprendido como tendo autogênese ou como tendo nascido de um estereótipo de cientista homem-branco-de jaleco.

Agradecimentos

Ao Prociência/IFRJ pela disponibilidade de recursos, por acolher o projeto e à professora doutora Lucineide de Paulo por todo o suporte na construção desta pesquisa.

Referências

FERREIRA, Lola. Menos de 3% entre docentes da pós-graduação, doutoras negras desafiam racismo na academia. Página jornalística Gênero e Número – GN. 20 DE JUNHO DE 2018. Disponível em http://www.generonumero.media/menos-de-3-entre-docentes-doutoras-negras-desafiam-racismo-na-academia/ . Acesso em 28 jun. 2019.

OLIVEIRA JUNIOR, A. ; LIMA, V. C. A. Violência letal no Brasil e vitimização da população negra: qual tem sido o papel das polícias e do Estado?. In: SILVA, Tatiana Dias; GOES, Fernanda Lira (organizadoras). Igualdade racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes. Brasília: Ipea, 2013. p. 121-134. Disponível em http://www.ipea.gov.br/igualdaderacial/images/stories/pdf/livro_igualdade_racialbrasil01.pdf. Acesso em 26 jun. 2019.

SANTOS, Manuela Pinheiro et al. A Invisibilidade da Mulher Negra na Mídia. V Seminário Internacional Enlaçando Sexualidades, 2017, Bahia. Anais. p. 1 - 9. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlacando/trabalhos/TRABALHO_EV072_MD1_SA30_ID122_19062017214709.pdf. Acesso em: 24 jun. 2019.

THOMAZ, Lurdes; OLIVEIRA, Rita de Cássia. A Educação e a Formação do Cidadão Crítico, Autônomo e Participativo. Paraná, 2010. Disponível em : http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1709-8.pdf. Acesso em 26 jun. 2019.