Autores

Correa, S.V. (UEL) ; Cirino, M.M. (UEL)

Resumo

Procuramos identificar relações possíveis entre os Estilos de Aprendizagem e a abordagem didática baseada na utilização das NTIC (Novas Tecnologias de informação e Comunicação). Para isso, identificamos os Estilos de Aprendizagem dos sujeitos envolvidos na investigação, alunos do segundo ano do Ensino Médio de uma escola da rede privada. A análise posterior e seus desdobramentos foram baseadas nos estudos de Kolb (1976), Alonso e Galego (2002) e Moreira (2010). Nas etapas seguintes, utilizamos o software Reações e Taxas e aplicamos questionários, com o intuito de identificar possíveis relações entre os Estilos de Aprendizagem e as NTIC. Os resultados apontam para uma relação direta entre uso de Tecnologias Digitais e os Estilos de Aprendizagem no contexto de uma aprendizagem significativa.

Palavras chaves

Estilos de Aprendizagem; NTIC; Teoria de Ausubel

Introdução

As transformações digitais estão acontecendo de modo acelerado, trazendo em seu bojo mudanças significativas no contexto educacional. Elas surgiram como forma de agregar e transformar o processo de ensino e aprendizagem às plataformas virtuais. É importante destacar que no contexto social e atual, as novas mídias e as novas tecnologias proporcionam a possibilidade de novos conhecimentos e oportunidades de aprendizado, trazendo mudanças nas práticas pedagógicas, por isso o surgimento dos ambientes virtuais de ensino e aprendizagem tornaram-se ferramentas de fácil acesso e desenvolvimento de trabalhos científicos. Nessa pesquisa, trabalhamos com estudantes do segundo ano do Ensino Médio, na disciplina de Química, numa escola da rede particular de ensino, localizada no município de Londrina, Paraná. Na primeira fase da pesquisa, aplicamos o questionário de Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem (CHAEA). Na segunda e terceira fases introduzimos o conteúdo de Cinética Química e fizemos uso do simulador PhET (Reações e Taxas). A turma era composta por 34 alunos, dos quais 28 estiveram presentes em todas as fases. Deste total, 10 alunos foram selecionados para a investigação. Os participantes escolhidos foram os de melhor desempenho escolar, baseado em seus aproveitamentos até o terceiro bimestre. O interesse em aprofundar o estudo sobre as diferenças individuais dos estudantes determinou, como objetivo geral desta investigação, identificar as articulações possíveis entre a utilização de softwares para o ensino de Química e os estilos de aprendizagem, qual(is) dos estilos melhor se adapta(m) a este tipo de abordagem didática?

Material e métodos

Como ponto de partida, procuramos identificar os estilos de aprendizagem dos sujeitos participantes da investigação. Não é tão fácil definir Estilos de Aprendizagem. Várias pesquisas surgiram para tentar conceituar essa teoria, assim como seus principais pressupostos e modelos existentes. Segundo David Kolb, fatores hereditários, experiências passadas e demandas do ambiente fazem com que as pessoas deem preferência a certos estilos em detrimento de outros. Esta é a base da sua Teoria de Aprendizagem Experiencial (DEBELLO, 1990; CERQUEIRA, 2000; KOLB, 1981). Kolb e Kolb (2005) relatam ainda que os Estilos de Aprendizagem seriam as diferenças individuais na aprendizagem de cada indivíduo, com base na preferência de gerenciamento do aluno para trabalhar nas diferentes fases do ciclo de aprendizagem. São quatros os estilos descritos nestas teorias: o ativo, o reflexivo, o teórico e o pragmático, cada um com suas características próprias. Na proposta de articular os estilos de cada sujeito com a abordagem didática utilizando as TIC, fizemos uso do Simulador Reações e Taxas para a aprendizagem dos conteúdos de Cinética Química, particularmente da Teoria das Colisões em reações químicas bimoleculares. Esse software, produzido em linguagem java e de código aberto, está disponível, em português, na página do projeto Phet da Universidade do Colorado Boulder. O uso do Simulador ficou articulado à introdução da teoria sobre Cinética Química em sala de aula pelo professor da disciplina, em parceria com os pesquisadores. Para Cirino (2007), investigando sobre a representação submicroscópica do modelo cinético, o ensino desse tema no nível médio focaliza essencialmente o motivo de diferentes reações ocorrerem com velocidades distintas, assim como a razão pela qual alguns fatores podem alterar a velocidade das reações químicas e a forma como isso acontece. Para muitos pesquisadores, a grande maioria dos alunos apresenta ideias confusas a respeito do que é e de como se processa uma reação. Muitas dessas ideias se resumem a descrições macroscópicas do fenômeno ou são fundamentadas em uma concepção contínua da matéria. Por fim, para a interpretação dos questionários, após a intervenção com o Simulador, utilizamos a Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel (2003). A aprendizagem significativa é uma tentativa de fornecer sentido ou estabelecer relações de modo não arbitrário e substancial entre os novos conhecimentos e os conceitos que existem no estudante. Em contraponto à aprendizagem significativa, tem-se a aprendizagem mecânica que, para Ausubel, Novak e Hanesian (1980), ocorre quando o estudante é apresentado a um novo conhecimento e este, por motivos variados, não o relaciona com algum conceito já existente em sua mente incorporando-o à sua estrutura cognitiva. Pivatto et al (2014), relatam que a teoria ausubeliana apresenta três formas de aprendizagem significativa, segundo a teoria da assimilação: a subordinada, a superordenada e a combinatória.

Resultado e discussão

Com relação ao software utilizado, Reações e Taxas, está disponível em: https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulation/legacy/reactions-and- rates. Uma de suas telas, de inicio, pode ser vista na figura 01, a seguir. Quanto à pesquisa, foram aplicados vinte e oito questionários a fim de caracterizar os Estilos de Aprendizagem dos estudantes como estilos Ativo, Pragmático, Reflexivo e Teórico, segundo os pesquisadores Alonso, Gallego e Honey (2002), por seus trabalhos se relacionarem com a metodologia utilizada nesta investigação. Os estudantes responderam ao questionário, composto por oitenta questões, para se determinar o Estilo de Aprendizagem predominante dos mesmos. De acordo com os dados levantados, a maioria dos vinte e oito alunos apresentou o “Estilo Reflexivo” como predominante. Pode-se dizer que a maior parte dos estudantes gosta de considerar a experiência e observá-la sob diferentes perspectivas. Reúnem dados, analisando-os com detalhes antes de chegar a uma certa conclusão. Ainda de acordo com os dados coletados, o segundo estilo predominante dos alunos investigados foi o “Estilo Ativo”. Gostam de novas experiências, são de mente aberta e entusiastas de tarefas novas. Propusemos então 5 categorias, com base nas falas, nas possíveis unitarizações das respostas dos alunos e no questionário sobre a relação entre a Teoria das Colisões e o uso do Simulador Reações e Taxas. A primeira categoria, cuja sigla identificamos por DPR, é a dos alunos que dominam parcialmente o conceito, a ideia ou a noção do assunto e que o relacionam com a Teoria das Colisões. A segunda categoria, cuja a sigla é DTR é a dos estudantes que dominam totalmente o conceito e conseguem relacioná-lo com a Teoria das Colisões e no uso do simulador Reações e Taxas. A terceira categoria, RCJC, enquadrou os alunos com resposta correta e justificativa correta, caracterizando um domínio total. A quarta categoria RCJI, englobou aqueles cuja resposta é correta e a justificativa incorreta, não desenvolvendo o conceito. E a quinta categoria, identificada pela sigla ND, enquadrou os alunos que não dominam ou não têm a noção do assunto bem desenvolvida e, portanto, elaboram estimativas, previsões e interpretações equivocadas ao utilizarem os conceitos sobre o tema. É importante destacar que o DTR = domínio total, equivale à presença da Aprendizagem Significativa Subordinada (Diferenciação Progressiva), ou seja, processo de atribuição de novos significados a um dado subsunçor (um conceito ou uma proposição por exemplo) resultante da sucessiva utilização desse subsunçor para dar significado a novos conhecimentos, e também, da Aprendizagem Significativa Superordenada (Reconciliação Integradora), ou seja, processo da dinâmica da estrutura cognitiva, simultâneo ou da diferenciação progressiva, que consiste em eliminar diferenças aparentes, resolver inconsistências, integrar significados, fazer superordenações. A categoria DPR = domínio parcial, equivale a presença de uma dessas premissas. A título de exemplo mostramos, a seguir, a questão 1 do questionário aplicado na terceira etapa, exibindo a interpretação da resposta de cada aluno referente a questão, tendo por base as 5 categorias de análise. Questão 01: A teoria das colisões procura explicar, numa perspectiva submicroscópica, como ocorrem as reações químicas. Não basta necessariamente que as partículas reagentes colidam para que uma reação ocorra. Se por ventura, adicionarmos um gás inerte (não reage com nenhum dos reagentes) na reação, a colisão seria mais rápida? Explique Tabela 1 – Análise das respostas dos estudantes referente a Questão 1.

Tabela 01

Tabela com as analises e categorizações acerca da questão 01

Figura 01

Tela de inicio do Simulador mostrando as interações das partículas reagentes numa colisão bimolecular

Conclusões

Podemos considerar como fator preponderante, a maneira de aprender que se encaixa em um dos estilos de aprendizagem. Entretanto, é fundamental que o professor tenha conhecimento dos diferentes estilos, pois isso o auxiliará na escolha da abordagem didática mais apropriada. Identificamos que é possível estabelecer uma ligação entre Tecnologias Digitais e Estilos de Aprendizagem, ou seja, o uso de tecnologia auxilia significativamente a compreensão do conteúdo proposto na direção de uma aprendizagem significativa. No entanto, é preciso deixar claro que nem todos os questionamentos foram respondidos com exatidão no que se refere ao tema escolhido. A relação entre os diferentes estilos de aprendizagem e a utilização do software nos pareceu bem mais significativa com relação às categorias DTR e DPR e menos em relação à ND. Isso pode ser explicado pela existência de subsunçores prévios mal compreendidos, ou da falta de familiaridade no uso de softwares ou ainda da exploração de todos os seus recursos. Consideramos que a Aprendizagem Significativa é a interface de apoio entre Tecnologias Digitais e os Estilos de Aprendizagem. A mesma tem fundamental importância para que a tecnologia e os estilos de aprendizagem se tornem instrumentos fundamentais no processo de aprendizagem, uma vez que aprender significativamente tem a ver com a ampliação das ideias já existentes na estrutura mental dos alunos, fazendo-os capazes de relacionar, articular e acessar novos conteúdos. Assim, esta pesquisa procurou contribuir com os estudos sobre a utilização de Tecnologias Digitais e o conhecimento sobre os Estilos de Aprendizagem. Em particular, procurando encontrar as relações possíveis entre as duas propostas, sem perder de vista a crescente demanda pela uso das tecnologias no ensino de Ciências/Química, em situações reais de sala de aula.

Agradecimentos

Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Estadual de Londrina, e sua linha de pesquisa em Tecnologia Educacional, pelo apoio financeiro e suporte logístico.

Referências

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