Autores
Domingues, C.A.P. (COLEGIO OBJETIVO ARUJÁ) ; Miranda, R.L. (COLEGIO OBJETIVO ARUJÁ) ; Cavlac, N.M. (COLEGIO OBJETIVO ARUJÁ) ; Moreira, L.N. (COLEGIO OBJETIVO ARUJÁ)
Resumo
O presente trabalho propõe uma alternativa às aulas de química experimental, no qual utiliza-se um produto cosmético de uso difundido (esmalte) modificado pela adição de corantes naturais. Como material base foi empregado esmaltes das principais marcas comerciais e como fonte de pigmentação, utilizou-se o urucum (bixa orellana) e o abacate manteiga (persea americana). Para a preparação dos esmaltes, foram triturados a semente de urucum e o pericarpo do abacate (este passou por um processo posterior de secagem, em estufa). Em seguida realizou a dissolução em esmaltes comerciais (branco e/ou incolor). Os produtos obtidos apresentaram tonalidades semelhantes aos industrializados. Portanto pode ser uma alternativa na abordagem de temas relacionados à química experimental, fitoquímica, etc.
Palavras chaves
Urucum ; Experimental; Cosméticos
Introdução
A Química é fundamental para o desenvolvimento tecnológico, no avanço da visão crítica e na formação escolar dos indivíduos, pois seus estudos estão intrinsecamente conectados às diversas áreas da vida humana (CARDOSO e COLINVAUX, 2000). No ambiente escolar, o envolvimento dos alunos com essa ciência tem se mostrado pequeno, apesar de ser uma matéria relevante. Alguns fatores contribuem para o desinteresse, tais como: uso esporádico de bibliotecas e recursos multimidia; excesso de aulas expositivas/poucas atividades interativas; ausência de laboratórios e aulas práticas; para citar apenas alguns dos exemplos (CARVALHO; LIMA; RIBEIRO, 2007). Em resumo, a baixa diversificação de metodologias de ensino se mostra um fator que colabora para desmotivar os alunos com o estudo da Química. Dentre os fatores supramencionados, a realização periódica de atividades experimentais também enfrenta barreiras econômicas, uma vez que necessita de espaços físicos adaptados (laboratórios com bancadas, pias, extintores, entre outros) e aquisição de reagentes e vidrarias, o que representa um alto custo (SÁ, 2014). Isso faz com que, para muitas instituições de ensino, a realização de aulas experimentais ocorra de maneira esporádica, prejudicando o processo de ensino-aprendizagem. Uma vez que as atividades experimentais ajudam a “promover interações sociais que tornam as explicações mais acessíveis e eficientes” (GASPAR, 2009), este tipo de aula deve ocorrer concomitantemente às aulas teóricas. Um importante passo para a regularidade de aulas práticas é a diminuição dos custos. O presente trabalho se propõe a apresentar uma sugestão de atividade experimental envolvendo materiais do cotidiano. Desta forma aproximando o dia-a-dia dos alunos aos conceitos da química com custo reduzido.
Material e métodos
Material: Abacate manteiga (persea americana), sementes de urucum (bixa orellana) , mixer (Oster®), placa de petri, esmalte Colorama ® (incolor), esmalte Risque ® (branco), espátula, estufa. Método: Processo 1 - Separou-se o pericarpo (caroço) do abacate de sua polpa – que foi desprezada. Após lavagem, o caroço foi fatiado em pequenos cubos e triturado (utilizando um mixer) até a obtenção de uma pasta. A pasta obtida foi acondicionada em placas de petri e deixadas em estufa, à 50 °C, até completa secagem (24 h). Após o tempo de secagem e resfriamento à temperatura ambiente, o pericarpo encontrava-se como um pó. Recolheu-se uma ponta de espátula do material obtido e adicionou-se ao esmalte branco, misturando até a obtenção de uma coloração homogênea. O esmalte obtido foi deixado em repouso por 24 horas. Processo 2 – Com o auxilio de uma faca, cortou-se o urucum ao meio e retirou as sementes. Com auxílio de um mixer, triturou até a obtenção de um pó. Recolheu-se uma ponta de espátula do pó obtido e adicionou-se ao esmalte branco e ao esmalte incolor, misturando até a obtenção de uma coloração homogênea. Os esmaltes obtidos foram deixados em repouso por 24 horas.
Resultado e discussão
Testes preliminares de solubilidade se mostraram ineficientes para a
dissolução da pasta do (pericarpo) abacate. A dificuldade de dissolução pode
ser explicada pelo elevado teor de água no caroço. Segundo TANGO e
colaboradores (TANGO et al, 2004) são encontrados valores entre 53,6 a 73,9
% de umidade para as variações mais comuns de abacate. Como os esmaltes são
misturas de substancias orgânicas, a presença de agentes polares (água)
dificulta a solubilização dos agentes de coloração.
Para retirada da água, a pasta foi mantida em estufa. Para não degradar as
moléculas orgânicas responsáveis pela coloração, a temperatura foi ajustada
para 50°C e por um tempo prolongado, assim garantindo a evaporação da água
sem comprometer a qualidade das moléculas orgânicas do vegetal.
Os esmaltes utilizam substancias pouco polares como agente diluente. Desta
forma, as moléculas lipofílicas presente no urucum (Bixina) são facilmente
solubilizadas. O produto obtido após a mistura mostrou-se homogêneo,
conforme ilustrado abaixo (FIGURA 1):
Um resultado satisfatório também foi observado (FIGURA 2) quando preparado a
partir do caroço do abacate. Assim como no urucum, as moléculas que conferem
cor no abacate (Flavonóides e Antocianina) também são pouco polares.
Esmalte obtido pela solubilização das sementes de urucum em esmalte branco.
Produto obtido pela solubilização do pericarpo do abacate em pó, em esmalte incolor.
Conclusões
Por apresentar coloração intensa e fácil interação em solventes apolares, a bixina - extraído do urucum - pode ser utilizada como agente de cor para cosméticos e outras aplicações com baixa toxicidade. As mesmas propriedades podem ser atribuídas aos compostos obtidos no pericarpo do abacate (flavonoides e antocianinas). De simples execução e com resultados expressivos, o presente trabalho permite a realização de uma atividade prática envolvendo produtos do cotidiano com baixo risco de contaminação e custo reduzido, podendo ser uma alternativa a realização de experimentos no ambiente escolar.
Agradecimentos
Agradecemos a nossa escola pelo patrocínio e espaço cedido, e ao nosso professor Carlos Domingues que além de nos instruir, muito nos incentivou e umas às outras pelo apoio.
Referências
CARDOSO, S. P.; COLINVAUX, D. Explorando a motivação para estudar química. Química Nova, v. 23, n. 3, p. 401-404, 2000.
CARVALHO, H. W. P.; LIMA, B. A. P.; RIBEIRO, C. M. Ensino e aprendizado de química na perspectiva dinâmico-interativa. Revista Ensino de Ciências, v. 2, n.3, 2007.
GASPAR, Alberto. Experiências de Ciências para o Ensino Fundamental. São Paulo: Ática, 2009.
SÁ, A. M. A implantação de laboratórios de ciências com materiais de baixo custo, é possível?. 2014. 41 f. Monografia (Especialização em Fundamentos de Educação: práticas pedagógicas interdisciplinares)- Universidade Estadual da Paraíba, João Pessoa, 2014.
TANGO, J. S.; CARVALHO, C. R. L.; SOARES, N. B. Caracterização física e química de frutos de abacate visando a seu potencial para extração de óleo. Revista Brasileira Fruticultura, Jaboticabal, v. 26, n. 1, abr. 2004.