Autores

Valente (fm), M.A. (COLÉGIO PEDRO II - CPII) ; Braga (fm), J.S. (COLÉGIO PEDRO II - CPII)

Resumo

O objetivo deste trabalho é oportunizar a aprendizagem de alunos com deficiência visual nas classes de Química no Ensino Médio por meio do jogo didático “Quebra-cabeça 3D do Diagrama de Linus Pauling”. O jogo é composto por uma estrutura de madeira que abriga cubos de isopor. Cada cubo apresenta os subníveis eletrônicos identificados de forma que tanto o aluno vidente, quanto o aluno com deficiência visual, podem identificá-los. O jogo promoveu um ambiente inclusivo, na medida em que todos os alunos puderam interagir, estimulou a aprendizagem dos conteúdos propostos e o desenvolvimento de habilidades, como resolução de problemas e trabalho em equipe. O jogo permitiu um processo de ensino-aprendizagem mais lúdico e a efetiva inclusão de alunos com deficiência visual na sala de aula.

Palavras chaves

Inclusão; Jogos Didáticos; Ensino de Química

Introdução

No relatório do Censo Escolar da Educação Básica elaborado 2016, das 8,1 milhões de matrículas no Ensino Médio, aproximadamente 74 mil eram de alunos com deficiência considerados incluídos em turmas regulares, sendo 68.892 na rede pública de ensino (1.299 em instituições federais, 67.022 em instituições estaduais e 571 em instituições municipais). Mas, como sabemos, a inclusão não se concretiza simplesmente com a inserção desse aluno em classes regulares, sendo necessário um movimento de promoção da acessibilidade no ambiente escolar: acessibilidade aos espaços físicos, aos materiais pedagógicos, aos equipamentos tecnológicos, entre outros. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é oportunizar a aprendizagem de alunos cegos e/ou com baixa-visão nas classes de Química no Ensino Médio por meio da produção do jogo didático “Quebra-cabeça 3D do Diagrama de Linus Pauling”. O jogo foi concebido nas aulas de Atendimento Educacional Especializado (AEE) que aconteceram no Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) do Colégio Pedro II, Campus Niterói. Em sala de aula, o jogo foi utilizado nas turmas de 1º série do Ensino Médio, onde há alunos com diferentes graus de comprometimento visual. Vale ressaltar que o conteúdo acerca dos modelos atômicos e distribuição eletrônica são abordados já no primeiro trimestre do ano letivo, dada a importância deste conteúdo para todo o programa de Química, na medida em que os modelos atômicos tentam explicar como a matéria é construída e organizada, para que possamos entender melhor como ocorrem os fenômenos da natureza.

Material e métodos

Elaborado na modalidade quebra-cabeça, o jogo é composto por uma estrutura de madeira que abriga cubos de isopor. As placas de madeira (compensado) tem 2 cm de espessura e a estrutura feita de forma que apresente a distribuição espacial referente ao Diagrama de Linus Pauling. As medidas de cada compartimento do diagrama correspondem a 8 cm de altura, por 8 cm de largura, por 6 cm de profundidade. Cada cubo de isopor foi revestido com contact branco e foram aplicadas miçangas adesivas que permitem a leitura do diagrama da forma correta (em diagonal). Cada subnível teve a sua escrita feita de forma impressa, na fonte MV Boli, tamanho 75, e recoberta com contact transparente para proteger, e em braile (figura 1). Para possibilitar o acesso pelos alunos com baixa-visão foram usadas cores contrastantes, como o branco, o amarelo e o preto, para a pintura da estrutura (figura 2). Para que seja feita a leitura e distribuição dos elétrons em cada subnível foi feito um sistema, semelhante a um ábaco, usando fio de alumínio fixado em pregos (do tipo bate-prego, com as cabeças protegidas) e miçangas na cor laranja (figura 1).

Resultado e discussão

O material foi testado, inicialmente, com os alunos com baixa visão e com o aluno cego do Colégio Pedro II, campus Niterói. Os alunos relataram que o material permitiu a compreensão do conteúdo apresentado pelo professor em sala e a interação com os colegas, uma vez que o diagrama foi construído com um quebra-cabeça. A busca pela interação se justifica na medida em que nosso trabalho se baseia na teoria do sociointeracionista formulada por Vygotsky (1996), que tem como principal conceito a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Este conceito postula que a aprendizagem acontece no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Em outras palavras, a ZDP seria a distância existente entre o que o sujeito já sabe e aquilo que ele tem potencialidade de aprender. Uma vez que o Diagrama de Linus Pauling que desenvolvemos contém o princípio do ábaco (dispositivo utilizado por pessoas cegas para realizar cálculos) e a ideia do quebra-cabeça, conseguimos diminuir a ZDP, permitindo a construção do conhecimento pelo aluno. Vale lembrar que Vygotsky também é reconhecido por enfatizar o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo, principalmente com relação ao papel fundamental da mediação no processo educativo, conforme afirmam Rabello e Passos (2018): “A aquisição de conhecimentos se dá pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico [Vygotsky], o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.” De fato, a interação dos alunos com deficiência visual com os demais colegas e com o professor na construção do diagrama exemplifica esse aspecto da teoria de aprendizagem de Vygotsky.

Figura 1



Figura 2



Conclusões

Este jogo promoveu um ambiente escolar efetivamente inclusivo, estimulando a aprendizagem e desenvolvendo habilidades específicas, como resolução de problemas e trabalho em equipe, o que facilitou, inclusive, uma das etapas do processo de avaliação, já que foi possível analisar a participação e iniciativa dos alunos durante a interação com jogo. Concluímos, assim, que jogos didáticos acessíveis se configuram como uma ferramenta importante para o processo educativo, pois concebe o processo de ensino-aprendizagem de forma lúdica e possibilita a inclusão de alunos com deficiência visual na escola

Agradecimentos

Ao amigo marceneiro Hugo Valim pelo auxílio e dedicação. A Ricardo Rabelo, Vítor Viana e Yan da Silva que nos ajudam, todos os dias, a enxergar o mundo de outra forma

Referências

BUENO, D. S. Ábaco de Linus Pauling Adaptado. Disponível em: Orbital: The Electronic Journal of Chemistry (e-ISSN 1984-6428), Vol. 8, nº 2 em 2016. Acessado em: 26 de março de 2018.
BRASIL. Ministério da Educação; Censo Escolar da Educação Básica, 2016. Notas Estatísticas. Brasília: INEP, fevereiro de 2017.
BRASIL. Lei 13.146, de 06 de julho de 2015 (Estatuto da pessoa com deficiência).
RABELLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Disponível em <http://www.josesilveira.com> no dia 08 de janeiro de 2018.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes,
1996.