Autores

Martins, H.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Silva, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Mesquita, L.G.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Balado, B.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Chacon, E.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Borges, M.N. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

O movimento hippie, cujo auge foi entre as décadas de 1960 e 1970, ficou marcado pela contracultura, como forma de manifestação política. Em busca de um estilo de vida alternativo, os hippies confeccionavam ou estilizavam roupas, fazendo entre outras, técnicas de descoloração. O objetivo desse trabalho foi ensinar o conteúdo de cinética química através da descoloração de camisetas inspiradas na moda hippie para integrar saberes em torno de um contexto histórico de enfrentamento da hegemonia cultural. A proposta foi realizada em uma escola pública localizada em Niterói com 23 alunos do segundo ano do ensino médio. Os resultados mostraram que os alunos tiveram uma participação mais ativa e crítica nas aulas, sendo possível perceber e sanar as principais dúvidas conceituais.

Palavras chaves

moda hippie; cinética; ensino de química

Introdução

Desde a Revolução Industrial no final do século XVIII, o mundo nunca mais foi o mesmo. Se por um lado, a indústria têxtil, liderou um caminho de inovação e incorporação tecnológica que ampliou as diferenças entre os países industrializados e não industrializados, também mudou para sempre as formas de resistências produzidas por movimentos sociais. Quase dois séculos depois, desencantados com a hegemonia da cultura dominante, surgiu o movimento hippie, que através da contracultura, inovou, entre outras coisas o modo de se vestir como uma forma de contestação social (GONÇALVES, 2007). Em busca de um estilo de vida menos consumista, muitas pessoas confeccionavam ou estilizavam roupas e acessórios. Para dar efeitos de cores e imagens psicodélicas, era necessário submeter os tecidos a técnicas de pintura e descoramento, que tem como base o modo como os pigmentos aderem aos tecidos em função da diferença dos tipos de fibras. Esses processos envolvem saberes, que são herdados e compartilhados por culturas ancestrais não acadêmicos, mas que envolvem vários conceitos químicos. Na busca por abordar os conhecimentos químicos, de maneira que façam sentido dentro um contexto, é que propomos dentro do estudo de reações químicas, a ênfase na concentração como fator que influencia a cinética, em torno do tema gerador moda hippie. Entendemos que tal estratégia de abordagem propicia a interação do conteúdo químico com o cotidiano dentro de um contexto histórico e cultural bem marcante de uma época, possibilitando a problematização (RODRIGUES, 2003) e a formação do cidadão crítico (SANTOS e SCHNETZLER, 2003) que respeite a multiculturalidade humana (MOREIRA, 2001).

Material e métodos

Esse projeto foi realizado no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), no subprojeto de Química da Universidade Federal Fluminense (UFF). A ação se deu numa escola pública parceira do PIBID localizada em Niterói, que funciona em horário integral, com 23 alunos de 2 turmas do segundo ano do Ensino Médio em duas aulas de 50 minutos. Visando uma aprendizagem significativa e ativa, cada aula teve um objetivo educacional diferenciado, sendo usadas, portanto, duas estratégias distintas. A primeira aula foi expositiva dialogada, iniciada por questionamentos sobre o tema, que depois foi apresentado e problematizado, e foi apresentada a proposta de num segundo momento: customizar tecidos, interpretando quais conhecimentos químicos seriam necessários para viabilizar tal procedimento. Assim, a segunda aula foi experimental, dentro da escola, mas fora da sala, onde os alunos manusearam os materiais na medida do possível, por conta dos riscos envolvendo os reagentes. Essa aula visou colocar os alunos numa condição mais ativa de aprendizagem dando a oportunidade de uma vivência prático-teórica. A aula experimental teve como desafio descolorir e customizar tecidos e camisetas velhas usando soluções de concentrações diferentes de hipoclorito de sódio (água sanitária) para que os alunos percebessem que a concentração era um fator que influenciava na velocidade do descoramento. Juntando esses parâmetros com a criatividade, a aula experimental retomou as discussões sobre diferentes modos de se apropriar do conhecimento, que trazem consigo outras leituras de mundo, como fizeram os hippies, ao optarem por um modo de viver em que se resgatavam conhecimentos tradicionais de antigos artesãos.

Resultado e discussão

A formação docente foi priorizada buscando-se evitar um ensino centrado no conteúdo e descontextualizado. Procuramos integrar o conhecimento químico a outros saberes, de modo a proporcionar uma mudança da visão de uma ciência pronta, estática e indiferente ao contexto social e histórico. O tema gerador “moda hippie” foi selecionado para o estudo dos fatores que influenciam a cinética das reações químicas, pois permitiu problematizar e levar para a sala de aula, o contexto vivenciado por jovens dos anos 1960 a 1970, que vivenciaram um momento histórico bem emblemático, como a guerra fria, a corrida espacial e armamentista e a guerra do Vietnã. Na aula inicial, a história do movimento hippie e o festival de Woodstock foram discutidos e quais conhecimentos químicos necessários para customizar roupas. A aula experimental procurou motivar e colocar os alunos numa atitude mais ativa na aula. Embora não tivessem manuseado diretamente a solução de água sanitária, por questões de segurança, os alunos se mostraram propositivos e se envolveram no trabalho prático, anotando os resultados em cada situação experimental utilizada, para confrontar os resultados com os conceitos de cinética de reações. O acompanhamento da transformação química empolgou os alunos, que nesse espaço mais descontraído, verbalizaram suas dúvidas e perceberam que o conhecimento científico não estava dissociado da vida cotidiana. A atividade experimental realizada em grupo mostrou que resultados poderiam ser direcionados em função do conhecimento e da manipulação de diferentes variáveis ou condições de experimentação. A avaliação foi processual e mediada pelos bolsistas PIBID, que instigaram as reflexões e promoveram a articulação entre a teoria e a prática.

Conclusões

O tema gerador moda hippie, foi inciativa dos bolsistas PIBID e foi aprovado pelo grupo em função da sua relevância social, cultural e histórica, além da pertinência pedagógica. A experimentação, usada como estratégia didática, atingiu ao propósito de oportunizar para os estudantes a vivência de uma prática, que estimulou uma leitura crítica de mundo, associada ao conteúdo de cinética ensinado. Assim, foi possível desconstruir a ideia de que Química está desvinculada da vivência diária e das diferentes experiências culturais.

Agradecimentos

Aos alunos do Colégio Estadual Brigadeiro Castrioto (CEBRIC); CAPES/PIBID.

Referências

BARRETO, N., M., B. Temas geradores utilizados no Ensino de Química. http://www.eneq2016.ufsc.br/anais/resumos/R1302-1.pdf. Acessado em 05 de junho de 2018.
DELLANI, M. P.; DE MORAES, D. N. M.; Inclusão: Caminhos, Encontros e Descobertas. Revista de Educação do IDEAU, Rio Grande do Sul, v. 7, n. 15, jan-jun 2012.
GONÇALVES, D. O. Avesso e direto: movimento hippie e o mercado cultural da moda. Tese (mestrado).2007. Universidade Federal de Uberlândia. https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/16534/1/DOGoncalvesDISPRT.pdf
MOREIRA, A. F. B. A recente produção científica sobre currículo e multiculturalismo no Brasil (1995-2000): avanços, desafios e tensões. Revista Brasileira de Educação, no 14, 65-81, 2001.
SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química. 3. ed. Ijuí: Unijuí, 2003