Autores

da Silva, P.C.A. (UFPA) ; Costa, F.L.P. (UFG) ; Mota, G.V.S. (UFPA)

Resumo

Durante a experiência de monitoria do curso de Licenciatura em Ciências Naturais, percebeu-se que o tema “distribuição eletrônica de elétrons” ainda é um constante desafio para alunos como um todo, e torna-se um desafio maior quando o aluno é portadores de transtorno do espectro autismo. Este desafio, torna-se ainda maior devido ao modelo tradicional de ensino, que ainda é predominante, e a falta de materiais adaptados que possa auxiliar o professor, que em muitos casos tem pouca experiência em se trabalhar com alunos com autismo. A partir de um modelo adaptado para se trabalhar o tema, foi possível alcançar resultados no processo de aprendizagem no ensino de química.

Palavras chaves

autismo; ensino de química; ensino de ciências

Introdução

No ensino fundamental, vislumbrar a possibilidade de uma alfabetização científica de alunos autistas representa um constante desafio em sala de aula. As dificuldades aumentam quando o aluno ingressa no fundamental maior, onde o mesmo precisa construir significados e saberes por meio das conexões entre as vivências do dia-a-dia. A alfabetização científica possibilita uma melhor socialização e conscientização no meio o qual está inserido, contribuindo na autonomia por parte do aluno portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo Chassot (2003), a alfabetização científica é uma possibilidade, também, para a inclusão social, uma vez que o processo de apreensão de conhecimentos científicos facilita a vivência no ambiente que o cerca. Porém, metodologias de ensino apropriadas e a produção de materiais adaptados são uma das várias barreiras no processo de ensino-aprendizagem para os alunos autistas. Mantoan (2003) comenta o processo de inclusão como sendo: “[...] condições que contribuem para que as escolas se tornem espaços vivos de acolhimento e de formação para todos os alunos e de como transformá-las em ambientes educacionais verdadeiramente inclusivos”. Nesta pesquisa mostramos como o uso de um material adaptado possibilita a aprendizagem do aluno autista, e minimiza algumas dificuldades encontradas pelos professores, frente ao processo da alfabetização científica, dada a importância de ensinar conteúdos escolares no ensino regular de ciências e promover a inclusão destes alunos. Possibilitar que o aluno compreenda a distribuição eletrônica, facilitará seu entendimento nas ciências químicas de um modo geral, como por exemplo, em processo de formação de íons, no tipo de ligações entre elementos, além de outras informações.

Material e métodos

O desenvolvimento deste trabalho deu-se no 9° ano da escola de ensino fundamental e médio Salesiana do Trabalho em Belém do Pará, no qual a metodologia de aprendizagem se baseou na utilização de uma atividade adaptada para o ensino de distribuição eletrônica de elétrons nos elementos químicos. O aluno participante deste trabalho apresenta um grau moderado de TEA, com pequenas desordens do desenvolvimento intelectual, sem comprometimento da linguagem funcional, porém demanda maior tempo para assimilação do conteúdo e faz-se necessário o uso de materiais adaptados, assim como, o acompanhamento para realização de algumas atividades. Para avaliar o processo de aprendizagem, foi solicitado que o aluno realizasse a distribuição de oito elementos. No primeiro momento para o Lítio (Li), Carbono (C), Silício (Si), Gálio (Ba), e em um segundo momento para o Cálcio (Ca), Potássio (K), Cloro (Cl) e Oxigênio (O). No primeiro momento, todos os alunos, incluindo o portador de TEA assistiram as explicações seguindo o processo tradicional de ensino, onde o professor será o agente ativo e o aluno o agente passivo. Em um segundo momento, mostrou-se ao aluno o processo de distribuição no qual usamos um quadrado dividido ao meio para serem preenchidos, pelo spin up e o spin down dos elétrons associando as cores azul e vermelha, respectivamente. Cada subnível é dividido com o número de elétron que o mesmo comporta, devendo primeiro ter seus espaços preenchidos pela cor azul e a outra metade pela cor vermelha. Essa foi uma estratégia para facilitar os estímulos, pois as cores chamam a atenção do aluno, fazendo com que ele possa, de forma independente, chegar a solução do problema.

Resultado e discussão

As aulas foram apresentadas seguindo o modelo padrão de ensino, onde todas as explicações seguiram os exemplos mostrados no livro texto. Neste conteúdo são expostos a importância de entender-se as distribuições para que possamos compreender melhor a formação de moléculas. No primeiro momento, todos os alunos (de 34 alunos) realizaram as atividades para a distribuição de quatro elementos (Li, C, Si e Ba), onde 64% dos alunos acertaram até no máximo duas questões. Na realização desta atividade foi preciso, em vários momentos, auxiliar o aluno autista. Nesta atividade, foi necessário um tempo maior para que o mesmo completasse todas as distribuições eletrônicas e seu aproveitamento limitou-se ao acerto de apenas dois itens. Claramente, diante da pressão para a resolução das questões, observou-se um aumento da sudorese e um decrescimento de suas capacidades psicomotoras. No segundo momento, fez-se uso de dois lápis de cor (um azul e outro vermelho) ao lado de cada orbital foram colocados quadrados em correspondência ao número de elétron comportado por estes, ou seja, para o subnível s temos dois quadrados, onde o quadrado do lado esquerdo deve ser pintado de azul (spin up) e o direito deve ser pintado de vermelho (spin down). Na realização da atividade após criação de material adaptado, foi possível observar uma mudança no comportamento do aluno autista e no tempo de realização da atividade. Nesta atividade, todas as questões foram adaptadas e o preenchimento dos subníveis foi feito utilizando, ainda, pintura dos quadrados, mas com a transcrição das cores para algarismos. Os elementos utilizados neste momento foram Ca, K, Cl e O, onde o aluno autista teve 100% de aproveitamento, mesmo em um período maior para realização da atividade do que seus colegas de classe.

Conclusões

Foi possível constatar que muitos alunos apresentam uma grande dificuldade, não somente nas propriedades dos elementos, mas em todo o ensino de química. No que diz respeito à distribuição eletrônica, fica claro a dificuldade para se montar uma distribuição sem o auxilio de um material adaptado. O aluno autista pode participar da classe regular e ter uma alfabetização científica, porém faz-se necessário o uso desse recurso auxiliar que acompanhe os livros texto , de modo que contemple a realidade do aluno autista.

Agradecimentos

Agradecemos a E. E.F.M. Salesiana do Trabalho/PA e a UFPA pela realização deste trabalho.

Referências

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar : o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 22, p. 89-100, 2003.