Autores
Monteiro, A.J.P.S. (UFPA- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Pereira, R.Y.R. (UFPA- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Lima, M.H.S. (UFPA- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ) ; Nunes, J.B.M. (UFPA- UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ)
Resumo
Este estudo de caráter qualitativo objetiva discutir sobre o ensino de Soluções por meio do enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) e a abordagem investigativa. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola da rede pública do município de Belém por meio do estágio do PIBID, onde os dados foram obtidos a partir de relatos feito por sete estudantes sobre o conteúdo dos rótulos de refrigerantes. As análises estão organizadas em categorias a partir dos argumentos apresentados pelos educandos com relação à presença ou não de açúcar nos refrigerantes, as consequências dessa bebida ao organismo quando ingerido e a influência das propagandas para o seu consumo. Tais estratégias de ensino permite criar situações de aprendizagem e de desenvolvimento de habilidades e argumentos nos estudantes.
Palavras chaves
Ciência-Tecnologia-Socied; Abordagem investigativa; Estratégias de ensino
Introdução
Hoje o açúcar está acessível à maior parte da população, sendo utilizados para adoçar alimentos, bebidas e entre outros. Sabe-se que o refrigerante é o sexto alimento mais consumido pelos adolescentes brasileiros e que o mesmo pode causar sobrepeso, obesidade, diabetes e outras complicações devido a quantidade de açúcar presente no refrigerante (LABOISSIÈRE, 2016). Mediante a isso, acredita-se que é importante tentar alertar crianças e adolescentes sobre os riscos que a quantidade de açúcar presente nessa bebida pode ocasionar. Por isso, esta pesquisa objetiva discutir sobre o ensino de Soluções por meio do enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) junto com o ensino investigativo, como possibilidade de discussões mais abrangentes de relações sociais, tecnológicas e científicas por meio de problemas geradores (questionamentos). De acordo com Firme e Amaral (2008, p. 252), “o movimento CTS propõe, para o ensino de Ciências, uma nova estruturação de conteúdos e procedimentos de ensino”. As autoras argumentam que precisa-se de uma base curricular que vise essa educação científica e tecnológica para que seja desenvolvido nos educandos o senso crítico e ativo na sociedade, ou seja, uma postura cidadã. Com isso, não adianta pensar em um desenvolvimento crítico dos educandos sem antes refletir sobre a formação docente, pois se o professor não compreende, ou melhor, se no âmbito da formação não teve contato com estratégias de ensino, dificilmente poderá utilizá-las em sala de aula, ou pode acabar acreditando, equivocadamente, que faz uma educação com enfoque CTS, sem ao menos saber os termos que o caracteriza, ou seja, ele pode pensar que está proporcionando condições para que o estudante desenvolva sua cidadania enquanto apenas transmite informações, reduzindo o enfoque CTS a mera “curiosidade” sem a devida contextualização. Outra situação é quando o professor entende o enfoque CTS, porém é adepto ao tradicionalismo, apresentando comportamento e manejo em sala de aula centrado nas influências de um ensino tradicional, onde há uma verticalização da relação aluno-professor e/ou professor-aluno fundamentado em um modelo estático e fechado (PARENTE, 2012). Nesse sentido, a influência do ensino tradicional dificulta a utilização de diferentes estratégia metodológica, ou pode fazer o professor utiliza-la de de maneira expositiva, dificultando o envolvimento do estudante no seu próprio processo de ensino- aprendizagem. O conhecimento envolvendo ciência-tecnologia-sociedade deve ser construído, tendo em vista que as inovações tecnológicas e os avanços científicos alteram o modo de vida de uma sociedade, e estas percepções devem ser estabelecidas pelos professores, assim como, a construção do conhecimento pelos educandos (FIRME; AMARAL, 2008). O professor, consciente disso poderá propor uma forma de ensinar baseada na proposição de um problema e na mediação de debates por meio de problematizações de cunho social para estabelecer relações entre a ciência e a tecnologia, visando solucionar um problema social em foco. No entanto, deve-se repensar os conceitos de problemas e de problematizações, pois seria inviável propor a solução de um problema pronto e acabado, já que a capacidade crítica do educando não será estimulada abrindo margens para a decoração da resolução. Ou seja, o problema não pode ser uma uma questão qualquer, mas sim algo que esteja presente no contexto social do aprendiz para que eles não se espantem, mas se interessem na busca de meios para resolver o problema em questão, permitindo que os mesmos exponham os seus conhecimentos adquiridos anteriormente (espontaneamente ou já estruturado) recorrente ao tema (CARVALHO, 2012). Nesse sentido, a problematização surge por meio de temas que instiguem e fomentem a atenção do educando, para que no processo investigativo destaquem seus conhecimentos prévios, fazendo as devidas considerações e construindo as atividades de acordo com as necessidades visualizadas pelo educador em sala de aula. Nessa direção, Sasseron e Machado (2017, p 27) diz que as atividades investigativas “devem ser posteriores à colocação de situações problematizadoras” e para que os aprendizes se envolvam no na investigação é preciso que o problema não seja do “professor ou do livro didático, mas deve ser percebido e assimilado por eles mesmos. Engajados, os alunos buscam novos procedimentos e conhecimentos com a ajuda do professor e dos colegas. Essa é uma participação ativa do aluno em seu próprio processo”. Nesse processo, é bom entender que o estudante não vai para a sala de aula com a mente vazia (SCHNETZLER, 1992), pois está em um contexto social e possui uma cultura que foi desenvolvida desde seu primeiro contato familiar e a sociedade, e não considerar os conhecimento deles é transmitir uma visão de Ciência sem diálogo com os conhecimentos e pode incentivar o educando a pensar que os conhecimentos “aprendidos” são infalíveis, prontos e acabados.
Material e métodos
Esta pesquisa é de caráter qualitativo, sobre uma aula planejada para a turma do segundo ano do Ensino Médio, da Escola Estadual de Ensino Médio situada no município de Belém/PA. A aula foi desenvolvida pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Participaram da aula 40 estudantes, porém para análise foi selecionado sete estudantes que fizeram relatos e respostas mais significativas. Para manter o sigilo da identidade, eles são chamados nesta pesquisa pelos nomes fictícios de Tiago, João, Daniel, Lana, Joana, Jéssica e Felipe. O planejamento da aula buscava sensibilizar os educandos por meio da utilização de abordagem CTS e ensino investigativo sobre Soluções que utilizava como subsunçor os rótulos do refrigerante. As atividades da aula foram dividas em três momentos, e em cada momento utilizou-se um instrumentos pedagógicos, como: a prática experimental, os recortes de documentários e a utilização de propagandas de várias marcas de refrigerante. A prática experimental Inicialmente os educandos falaram sobre ao consumo de refrigerante e depois foi apresentado duas latas de 350 mL da bebida de cola gaseificada (uma com quantidade normal de açúcar e outra com zero açúcar) e questionados sobre o rótulo “para que ele serve e que tipo de informação ele traz?”, após as reflexões a turma foi dividida em cinco grupos e cada grupo ficou com as duas latas de bebida para fazerem as comparações e discutirem as diferença entre os rótulos. Foi questionado como comprovar que as bebida de cola gaseificada realmente tinha uma quantidade zero de açúcar. Com as sugestões das equipes, os professores forneceram Kits para a realização do experimento, essa prática experimental consistia na evaporação da bebida açucarada, ao final da prática os estudantes discutiram sobre o resultado obtido. A relação entre a abordagem e o conteúdo foi promovida pela análise dos rótulos e o conceitos de solubilidade (massa, volume e concentração). No final dessa atividade foi solicitado que os estudantes construíssem um relato sobre o abordado na aula, respondendo três perguntas: O que fizemos? Como fizemos? Porque fizemos? Recortes de documentários Neste momento foram apresentados recortes de um documentário que tratava das consequências de doenças ocasionadas pela ingestão em excesso de bebidas industrializadas açucaradas, onde os educandos foram instigados a argumentar mediante as questões elencadas no vídeo e a alguns questionamentos que surgiram no decorrer do momento. Propagandas de refrigerantes As discussões geradas neste momento consistiam na sensibilização dos educandos visando a reflexão mediante a potencialização do consumo de refrigerante influenciado pelas propagandas. Para isso, foi utilizado propagandas das principais empresas que fabricam este tipo de bebida, seguido de um debate entre os pares, onde foram fomentadas questões políticas e socioeconômicas.
Resultado e discussão
Nesta pesquisa é discutido sobre as abordagens CTS e investigação,
entrelaçadas nas opiniões estudantes que emergiram nas discussões
recorrentes no momento da aula e nos seus relatos produziram na aula, sobre
o olhar do “O que fizemos”; “Como fizemos”; “Por que fizemos?” e de “Sua
opinião sobre a aula e sobre o que foi discutido”.
As análises possibilitou a construção de três categorias de discussões, são
elas: a presença ou não de açúcar no “refrigerantes zero”; as consequências
do excesso de refrigerante no organismo e as propagandas e as questões
políticas, econômicas e sociais, como a seguir.
A presença ou não de açúcar no “refrigerante zero”
No desenvolvimento inicial se observou por meio dos relatos tanto orais como
escritos que alguns estudantes ficaram inquietos com a presença ou ausência
de açúcar nos refrigerantes que no rótulo indicavam ‘zero açúcar’; a maioria
afirmava que tinham dúvidas da veracidade da descrição. Essa inquietação
possibilitou a realização do experimento para verificarmos a autenticidade
do rótulo do refrigerante.
Referente a este momento pode-se destacar alguns trechos, como o de Tiago
que relata sobre o refrigerante ‘zero açúcar’ afirmando que “tem açúcar em
menor quantidade e xarope”. Isso porque, após a fervura do refrigerante, foi
observado pelos estudantes a presença de uma mancha de coloração marrom no
fundo da panela utilizada, ao qual foi considerada o xarope indicando na
concepção dele a presença de açúcar. Tal observação dos educandos se fez
importante, pois puderam identificar que nem sempre os rótulos, pelo menos
de refrigerante, contém a devida quantidade que deveria estar no produto.
A percepção dos educandos quanto às substâncias contidas nos rótulos
pode ser evidenciada no relato de João: “(...) muita das vezes as pessoas
compram as coisas, mas não olham e nem fazem o favor de ler o que contém no
produto, se pode fazer mal ou se pode causar doença ou não”. É interessante
destacarmos que neste trecho da resposta do estudante é ressaltado uma
opinião voltada à importância da leitura e interpretação de rótulos, ao qual
tece críticas acerca de um problema social, ou seja, ele faz um movimento
entre o que se aprendeu durante a investigação e o que é encontrado no seu
cotidiano.
No processo pode-se identificar alguma lacunas sobre a compreensão de
conceitos básicos de solubilidade, onde os estudantes não conseguiam
identificar a diferença entre massa e volume, assim como, a dificuldade de
compreensão do conceito de proporcionalidade por meio da regra de três e o
mais preocupante era que o assunto já havia sido abordado pela docente da
própria escola, indicando que o conteúdo tinha passado despercebido sem que
houvesse uma aprendizagem efetiva. Ao perceber essa dificuldade dos
estudantes foi utilizar os dados contidos no rótulo da lata de refrigerante
na tentativa possibilitar aos estudantes uma melhor compreensão dos
conceitos de solubilidade e concentração além de trabalhar a realização de
cálculos por regra de três.
As consequências do excesso de refrigerante no organismo
O desenvolvimento dessa abordagem CTS com a Investigativa possibilitou
perceber como os estudantes relacionaram as discussões que foram fomentadas
no primeiro momento sobre a quantidade de açúcar contida no refrigerante de
cola com as consequências ocasionadas pelo consumo em excesso dessas bebidas
industrializadas que foram incitadas no recorte do documentário.
No decorrer do vídeo foram levantados alguns questionamentos para estimular
o debate entre os educandos e nesse processo é importante a mediação do
professor para que os educandos tenham posicionamentos críticos referentes à
temática e refletindo sobre as questões levantadas, tudo isso foi possível
perceber na aula em estudo. É possível perceber isso no trecho escrito por
Lana: “percebi que o consumo de açúcar em excesso é perigoso ele faz mal
como se fosse drogas” assim como no de Jéssica ao dizer que “muitas doenças
como a obesidade pode levar a morte”.
As propagandas e as questões políticas, econômicas e sociais
Também foi perceptível o envolvimento dos estudantes com relação a
discussão sobre as propagandas, onde eles conseguiram perceber que as
propagandas apresentadas possuem o intuito de influenciar principalmente o
público jovem para o consumo dessas bebidas. Como destaca Felipe em seu
relato de aula: “vimos que hoje em dia a quantidade de gente obesa é muito e
continua a crescer, pois as propagandas continuam a induzir os jovens a
tomar refrigerantes (...)”. Nesse trecho podemos observar que o educando
ressalta que as propagandas impulsionam no aumento do consumo dessas bebidas
gaseificadas, de modo a assumir algumas ideias que foram discutidas entre os
pares no momento da abordagem, mostrando que Felipe refletiu mediante a sua
realidade e se sensibilizou com o fato investigado, pois o educando afirma
que o público alvo são os jovens e por isso as propagandas são feitas e
direcionadas a esse público.
Consideramos relevante ressaltar as justificativas escritas por alguns
estudantes em seus relatos em relação a pergunta “Porque fizemos?”, eles
procuram expressar a importância da abordagem e das discussões entre os
pares geradas em sala, como descreve Lana: “para que todos aprendam uns com
os outros e para que possamos debater sobre o assunto”. Daniel também faz
considerações sobre isso ao dizer que: “ (...) essa foi uma forma diferente
de nos fazer entender o assunto (...). São efetivos esses métodos e boa a
ideia de nos conscientizar sobre os efeitos do açúcar no organismo”. Podemos
observar também no trecho escrito por Joana quando diz: “para nos deixar
atentos com o que compramos, comemos e bebemos, também serve para nos deixar
informados sobre o assunto”.
Conclusões
A partir dos textos escritos e pelo comportamento apresentado pela maioria dos educandos podemos ressaltar que os encontros com a turma propiciou uma sensibilização da maioria dos estudantes mediante a temática proposta, mostrando que o desenvolvimento da problemática por meio da utilização de problemas geradores em sintonia com enfoque da abordagem CTS e investigação em sala são muito significativos nesse processo. No âmbito de tentar relacionar o enfoque CTS com atividades investigativas, é importante ressaltar que não temos o intuito de ditar uma maneira de se ensinar química, mas que pode ser uma proposta que pode ser desenvolvida em sala de aula, favorecendo uma aprendizagem efetiva. Não é incomum observar que a química se apresenta como o “terror” de muitos indivíduos no ensino médio, no entanto, entendemos que a maneira pelo qual se aborda essa ciência influencia diretamente a maneira como o educando aprenderá. Para isso, é essencial que o professor se permita ousar e diferenciar o ensino com novas abordagens didáticas, bem como a própria utilização de uma experimentação na qual faça o educando ser o agente ativo em seu próprio desenvolvimento. O movimento que se estabelece entre os diversos conhecimentos poderá ajudar na aprendizagem do educando entendendo que a Ciência não é neutra e nem fragmentada, uma vez que problemas de cunho social podem estar incutidos com outros do tipo científico, econômico, político. Alguns dos educandos podem não ter essa percepção; e é neste sentido que o papel do professor orientador e mediador passa a fazer mais sentido, pois as problematizações poderão guiá-los a tecer novas relações do que acontece na sociedade, e em uma realidade mais próxima, no próprio bairro e/ou comunidade.
Agradecimentos
Agradecemos aos estudantes que participaram desta atividade, pois de certa forma contribuíram para a realização deste estudo. Ao nosso orientador pelo apoio e contrib
Referências
CARVALHO, A. M. P. O ensino de Ciências e a proposição de sequências de ensino investigativa. Joinville-SC, 2012.
FIRME, Ruth do Nascimento; AMARAL, Edenia Maria Ribeiro do. Concepções de professores de química sobre ciência, tecnologia, sociedade e suas inter-relações: um estudo preliminar para o desenvolvimento de abordagens CTS em sala de aula. Ciência & Educação (Bauru), v. 14, n. 2, 2008.
PARENTE, A. G. L.:Práticas de investigação no ensino de ciências : percursos de formação de professores. 2012. 234 f. Tese (Doutorado em educação)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru.
SASSERON, L. H.; MACHADO, V. F. Alfabetização científica na prática: inovando a forma de ensinar. 1º ed. Editora Livraria de Física. São Paulo, 2017.
SCHNETZLER, R.P. Construção do conhecimento e ensino de ciências. In. Em aberto, Brasília, ano 11, n° 55, jul./set. 1992.